Ano: 1972 Vol. 38 Ed. 2 - Maio - Agosto - (11º)
Seção: Relato de Casos
Páginas: 154 a 158
SEPTO NASAL - SISTEMATIZAÇÃO TOPO-DIAGNÓSTICA
Autor(es): Antonio Cyrillo Gomes*
Introdução
A terapêutica cirúrgica do septo nasal, tem apresentado nestes últimos vinte e cinco anos progressos notáveis. As inovações técnicas e táticas têm sido constantes, graças ao trabalho de renomados autores como Metsembaum(1) Cottle(2), Jost(3) e outros, que inclusive chegaram a modificar completamente as suas bases anátomo-cirúrgicas(4). Entretanto, infelizmente não podemos dizer o mesmo no que diz respeito à precisão topográfica no diagnóstico das deformidades, lesões ou tumores localizados ao nível da parede septal. E clássico anotar-se a localização de toda a patologia septal nos segmentos anterior ou posterior, separados por linha convencional de sentido vertical que liga a sutura nasofrontal a espinha nasal anterior(5), (fig. 1 - linha GH) ou, como querem outros autores, linha convencional de sentido também vertical que vai da borda inferior dos ossos próprios até á espinha nasal(6), (fig. 2 - linha IJ). Ambas, dividem a parede septal em anterior e posterior, mas se observarmos com atenção, verificaremos que estas linhas fazem uma divisão excessivamente assimétrica, tornando o segmento anterior menor em relação ao posterior. podemos perceber ainda, que estas linhas convencionais, dividem a cartilagem quadrangular em duas partes, colocando-a ao mesmo tempo no segmento anterior e no posterior, o que a nosso ver constitue obstáculo para precisão topo-diagnóstica, dificulta a anotação da área da patologia septal e o planejamento tático-cirúrgico. A cartilagem quadrangular reveste-se de capital, importância nos métodos cirúrgicos modernos, e pensamos dever mantê-la individualizada, evitando a todo custo dividi-ia topograficamente. Na sistemática apresentada, corrigimos este inconveniente, dividindo a parede septal nos setores cartilaginoso (cartilagem quadrangular e cartilagem de Jacobson) e ósseo (crista nasal, vômer e lâmina perpendicular do etmóide).
FIG. 1
FIG. 2
Método
Para localizar um ponto lesado no septo nasal, sob o ponto de vista topográfico, estamos procedendo da seguinte forma: dividimos a parede septal em duas partes, de acordo com os elementos anatômicos: a porção cartilaginosa, que abrange as cartilagens quadrangular e a de Jacobson, e a óssea constituída pela crista nasal, vômer e lâmina perpendicular do etmóide. Para maior precisão, dividimos ainda a porção cartilaginosa em anterior e posterior, através a Linha convencional clássica de sentido vertical, que partindo da sutura nasofrontal dirige-se à espinha nasal, denominando a porção anterior de condro-anterior e a posterior de condro-posterior (fig. 3 - linha GH). Ainda no setor cartilaginoso, realizamos nova divisão no sentido antero-posterior através linha também convencional que vai do ângulo antero-inferior da cartilagem quadrangular, ao ângulo postero-superior da mesma (fig. 4 - linha LM) denominando-se a porção superior de condro-superior e a inferior de condro-inferior. No setor ósseo, procedemos da mesma forma dividindo inicialmente o septo ósseo em duas partes, superior e inferior por linha convencional de sentido diagonal, que vai da espinha nasal anterior até a parede anterior do seio esfenoidal (com direção mais ou menos paralela à articulação vômero-etmoidiana), denominando a parte superior de ósteo-superior e a inferior de ósteo-inferior (fig. 5 - linha NO). Em seguida, dividimos ainda o septo ósseo em anterior e posterior através linha reta convencional de sentido vertical que tocando o ângulo postero-superior da cartilagem quadrangular, dirige-se do assoalho ao teto da fossa nasal (fig. 6). Nesta sistematização, a superfície septal anterior à cartilagem quadrangular, é denominada de sub-septo e as anotações patológicas nos diversos segmentos devem assinalar a fossa nasal correspondente (esquerda ou direita).
FIG. 3
1: Condro - Anterior
2: Condro - Posterior.
FIG. 4
3: Condro - Superior, 4: Condro - Inferior, (a) Ângulo ântero-superior, (h) Angulo postero-superior, (c) Angulo antero-inferior, (d) Angulo postero-inferior.
FIG. 5
5: Ósteo - Superior
6: Ósteo - Inferior.
FIG. 6
7: Ósteo - Anterior
8: Ósteo - Posterior.
Discussão
A localização de toda a patologia do septo nasal e apenas dois segmentos: anterior e posterior, já não satisfaz no que concerne à precisão e esquematização tático-cirúrgica. Na época em que as deformidades septais são corrigidas dentro de princípios anatômicos conservadores, e em que as articulações condro-condral, condro-óssea ou ósteo-óssea, adquirem importância transcendental, é evidente que a precisão topográfica rigorosa torna-se necessária e imprescindível. Hodiernamente, não devemos admitir divisão da cartilagem quadrangular em duas partes apenas, dando pouca importância às articulações (de um lado os condro-condrais e do outro a condro-óssea) prejudicando desta forma a individualidade cartilaginosa e óssea. Além disto, devemos também levar em consideração o fato de que a anotação das localizações, patológicas necessitam maior rigor, principalmente as pequenas lesões, os pequenos tumores e as perfurações. A sistematização topográfica apresentada neste trabalho, preserva a individualização cartilaginosa e óssea, cada uma dividida em quatro partes por intermédio de linhas convencionais, onde qualquer ponto do septo nasal pode ser identificado com facilidade e precisão.
Conclusão
Como acabamos de ver, a metodização adotada apresenta lógica, pois proporciona independência dos setores cartilaginoso e ósseo permitindo maior rigor na identificação topo-diagnóstica. Salientamos ainda que o setor ósseo, com sua divisão em superior e inferior identifica, perfeitamente, a superfície correspondente ao vômer e à lâmina perpendicular do etmoide, facilitando sobremaneira, anotações regionais. Desta forma, as deformidades, lesões, tumorações ou perfurações na parede septal poderão ser assinaladas de tal modo, que uma simples leitura evidencia o local assinalado. Dentro dos princípios apresentados, poderemos ter vários segmentos na parede septal, em vez de dois (anterior e posterior). Entre os principais, assinalamos: sub-septo, condro-anterior, condro-posterior, condro-superior, condro-inferior, condro-antero-superior, condro-antero-inferior, condro-postero-superior, condro-postero-inferior, condro-ósseo (corresponde à porção cartilaginosa posterior-inferior e óssea anterior), ósteo-superior, ósteo-inferior, ósteo-anterior, ósteo-posterior, ósteo-supero-anterior, ósteo-supero-posterior, ósteo-infero-anterior e ósteo-infero-posterior, como se pode verificar, com facilidade, nas figuras nº 3, 4, 5 e 6.
Resumo
As dificuldades que oferecem o diagnóstico das deformidades, dos processos inflama tórios, ulcerativos, tumorosos, etc, do septo nasal, no que concerne a localização segundo o divisão clásicã simplista do septo em segmentos anterior e posterior, levaram o autor ã. fixai-o diagnóstico topográfico de acordo com a área cartilaginosa ou óssea da parede septal. Desta forma, divide a patologia situada no âmbito cartilaginoso em quatro segmentos (anterior, posterior, superior e inferior) e do ósseo, também em quatro segmentos (superior, inferior, anterior e posterior). Com esta classificação, possibilita maior precisão topográfica aos diagnósticos.
Summary
The classical and simple division of nasal septum according to anterior or posterior location is responsible for the difficulties concerning the topographic diagnosis of deformities, inflamations, ulcerations and tumors of the nasal septum. The author makes his diagnosis according to the involved area of cartilaginous septum or bone wall of nasal septum. He proposes a division to be made in four parts (anterior, posterior, superior an inferior) in relation to the pathology located in the cartrtilaginoss septum when the condition is related to the area of septum bone (superior, inferior, anterior and posterior). He divides in the same way.
Author believes that these classifications will colaborate to a precise topographic diagnosis of these septum lesions.
Referências Bibliográficas
1. Afonso, Justo M. et alii - Tratado de Oto-rino-laringologia y bronco-esofagologia. vol. 2. Madrid, Paz Montalvo, 1964 p. 1211.
2. Schwartzman, José - Progressos en la Cirurgia del Tabique Nasal Unificacion de la Nomenclatura Anatomica, Revista brasileira de otorrinolaringologia. 37 (3) : 316-21, 1971.
3. Jost, G. et alii - Fixation de l'angle antéro inférieur de la cloison dans les repositions de cloison. Ann. Oto-Laryng, 81, (10-11) : 685-6, 1964.
4. Viladiu, J. M. Monserrat - Nuevos conceptos de anatomofisiologia nasal. Anales de Medicina, Barcelona, 50 (2) : 136-42 Tercera epoca, 1964.
5. Berendes, J. et alii - Tratado de Otorrinolaringologia. Barcelona, Cientifico-Medica, 1969, p. 311.
6. Aubry, M. et alii - Chirurgie Cervico-Faciale et Oto-rhino-laryngologique. Paris, Masson, 1966, p. 295.
* Docente-livre da otorrinolaringologia da U.E.G. - Responsável pelo Setor de Rinologia do Serviço do Prof. Hélio Hungria, no Hospital de Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas de Universidade do Estado da Guanabara.