Versão Inglês

Ano:  1972  Vol. 38   Ed. 2  - Maio - Agosto - ()

Seção: Relato de Casos

Páginas: 130 a 136

 

TUMOR MISTO DE SEPTO NASAL - RELATO DE UM CASO

Autor(es): Lídio Granato*,
Flávio Generoso**,
José Donato Próspero***

Relataremos um caso de tumor nasal:

M. R. C. - registrada na Santa Casa - SP - sob n.° 840.189 - 47 anos - fem. - solteira - parda.

Procedente do interior de Minas Gerais, onde residia em zona rural. O.D. - tumor na narina direita há 6 meses.

H.M.A. - a paciente referia que, há 6 meses mais ou menos, notou o aparecimento de uma pequena tumoração na narina D. No início era dolorosa e depois com o crescimento progressivo, somente dificultava a respiração. Referia também que há 2 meses vinha apresentando sangramento pequeno e que cedia espontaneamente.

No exame ORL - observou-se, na simples inspeção, grande deformidade da pirâmide nasal a D., por tumoração visível no vestíbulo nasal, sendo bem delimitada, de consistência dura porém friável e com rebordos regulares, obstruindo totalmente a narina D. (Foto n° 1).



FIG. 1 - Observa-se formação tumoral na narina direita pela simples inspeção.



Na rinoscopia posterior N.D.N.

Os exames subsidiários nada revelaram de anormal. As radiografias de seios da face mostraram apenas desvio de septo para a narina E., não havendo entretanto alterações ósseas das estruturas vizinhas ao tumor. (Foto nº 2).



FIG. 2 - Radiografias de seios da face não mostram lesões ósseas nas estruturas vizinhas ao tumor, apenas desvio de septo para a narina esquerda.



Com a finalidade diagnóstica foi feita uma biópsia, cujo estudo anátomo-patológico sugeria tratar-se de "TUMOR MISTO DE GLÂNDULA SALIVAR".


Com esta hipótese diagnóstica a paciente foi submetida a cirurgia sob anestesia geral. Usando-se incisão rino-latero-nasal conseguiu-se abordagem do tumor que estava fixado apenas por pedículo implantado terço médio inferior do septo nasal. O deslocamento do tumor foi fácil, com muito pouco sangramento. O tumor media 5 X 5,5 cm, friável. (Fotos de 3 a 10).



FIG. 3 - Paciente sob anestesia geral expondo o campo cirúrgico,



FIG. 4 - Incisão látero-nasal direita.



FIG. 5 - Inicia-se a exposição do tumor após afastamento de partes moles. Pode-se observar ainda resquícios da delgada parede lateral da narina direita.


 
FIGS. 6 e 7 - Exposição do tumor



FIG. 8 - Mostra a implantação do tumor no septo nasal inferiormente no seu terço médio



FIG. 9 - O tumor já foi ressecado inteiramente e pode-se ver a mucosa da parede lateral da narina direita. Integra porém seccionada. Esta mucosa foi em seguida suturada.



FIG. 10 - Mostra todo o tumor.



O pós-operatório transcorreu sem anormalidades e o anátomopatológico da peça confirmou a primeira impressão: "TUMOR MISTO MESENQUIMAL A e EPITELIAL B, cujo achado histo-patológico foi feito o seguinte: Neoplasia matura mista, constituído por tecido de aspecto mesenquimal em diversas áreas com diferenciações fibrosa em feixes, entremeados por substância fundamental mucóide, notando-se ainda áreas de aspecto cartilaginoso, adiposo e faixas hialinas. Disseminadas por diversos campos vêem-se estruturas epiteliais, formando blocos ou cordões celulares. (Fotos de 11 a 13).



FIGS. 11, 12 e 13 - Mostram no estudo histo-patológico da peça, a presença de elementos mesenquimais e epiteliais, levando assim ao diagnóstico de Tumor misto. Alguns detalhes foram referidos no texto.


À conselho do radioterapeuta a paciente recebeu 18 aplicações equivalentes a 5.400 r (dose pele). A paciente recebeu alta após uma semana em boas condições. (Fotos 14 e 15). Seis meses após, sem queixas e sem suspeita de recidiva do tumor.


 
FIGS. 14 e 15 - Aspecto da incisão uma semana após a cirurgia quando a paciente recebeu alta hospitalar



Comentários

Os tumores mistos são comuns nas glândulas salivares, em particular na parótida. Em outras localizações têm sido encontrados, nas partes altas do trato aero-digestivo, tais como: língua, assoalho da boca, bochecha, pálato duro e mole, amígdalas, faringe, laringe, etc.(3). Também nas glândulas lacrimais e na pele, presumivelmente nas glândulas sudoríparas e sebáceas, são mais raramente encontradas. Menos freqüentes ainda no septo nasal.

Baseado numa revisão bibliográfica feita por Hugh Millar, em 1967, veremos que estes tumores acometem com muita raridade o tabique mediano.

Stevenson em 1932 descreveu o 1º caso numa moça de 14 anos. Este tumor foi removido cirurgicamente, incluindo a cartilagem septal(8).

Weidlein (1936) descreveu o 2º caso, sem entretanto entrar em muitos detalhes quanto a evolução e tratamentos.

Ersner e Salzman (1944) descreveu o tumor em paciente de 19 anos e a remoção cirúrgica foi feita por uma incisão de rinotomia lateral, conservando a asa do nariz e não ressecando a cartilagem septal(6).

Ash e Raum (1949) descreveram o achado histo-patológico em 2 casos(4). Gabriel em 1952 descreveu um grande tumor de glândula salivar em septo numa paciente de 57 anos. Este foi removido pela técnica de Denker(7). Ash, Beck e Wilkes estabeleceram que apenas 6 (seis) casos de tumores mistos em septo nasal tinham sido descritos na literatura até 1964(5). Nestes últimos 5 anos encontramos mais um caso descrito, por Seltzer, localizado no dorso do nariz e removido por via endonasal(2) e outro descrito por Majed(3).

Acreditamos que deva existir um número maior de casos observados, porém não publicados. De qualquer forma é um tumor de aparecimento raro no septo nasal.

Os tumores mistos apresentam-se de aspectos polimorfos, pois em certos casos predominam a parte epitelial e outros mesenquimal.

Em nosso caso predominam as estruturas de natureza mesenquimal, mixóide, fibrosa e condroide, sendo escassos as áreas epiteliais. Estas são observadas sob a forma de pequenos blocos ou faixas irregulares mal delimitadas. (Ver fotos de 11 a 13).

Esta neoplasia tem em geral crescimento em glândulas salivares, com comportamento benigno.

Nosso caso, não apresenta estrutura histológica usual destes tipos tumorais, pois as áreas mesenquimais predominam e apresentam sinais de atipias. Portanto o comportamento do tumor não pode ser bem prognosticado apenas sob o ponto de vista histológico.

Até o presente, seis meses após a sua ressecção, não existem indícios de recidiva ou de outro aspecto de evolução.

Resumo

Os autores apresentam um caso de tumor misto tipo glândula salivar de septo nasal. O tumor foi totalmente removido por uma incisão de rinotomia lateral. A seguir o paciente recebeu tratamento radioterápico e passa bem seis meses após alta hospitalar.

Summary

The autores reported a case of salivary gland mixed tumor located in the nasal septum. The tumor was ressected after a laterel rhinotomy and them radiotherapy was prescribed to the patient.

Follow-up of 6 months shows no recurrency of the tumor.

Bibliografia

1. Millar, H. - Mixed salivary tumor of the nasal septum. Case report. Aust. New Zeal. J. Surg., 36: 249-51, 1967.
2. Seltzer, A. P. - Intranasal removal of a tumor from the dorsum of the nose. A case report. J. Nat, Med. Ass., 61:490 passin, 1969.
3. Majed, M. A. - Pleomorphic adenoma of nasal septum. J. Laryngol. Otol. 85: 975-6, 1971.
4. Ash. J. E. and Raum, M. (1949) "Otolaryngic Pathology", American Academy of Ophthal mology and Otolaryngology.
5. Beck, M. R. and Wilkes, J. D. (1964), Tumours of the Upper Respiratory Tract and Ear, Armed Forces Institute of Pathology.
6. Ersner, M. and Salzmann, M. (1944), Laryngoscope, vol. 54, page 287.
7. Gabriel, G. E. (1952), J. Laring, vol 66 page 399.
8. Stenvenson, H. N. (1932), Ann. Otol. (St. Louis), vol. 41 page 563.
9. Weidlein, J. F.. (1936), Ann. Otol. (St. -Louis), vol. 45, page 574.




* Instrutor de ensino de O.R.L. da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

** Médico voluntário do Departamento de O.R.L. da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

*** Professor Pleno e Chefe do Departamento de Patologia da Santa Casa de São Paulo.

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