Versão Inglês

Ano:  1935  Vol. 3   Ed. 4  - Julho - Agosto - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 373 a 379

 

ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS

Autor(es): -

SECÇÃO DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA

Sessão de 17 de Julho de 1935

Presidida pelo Dr. Roberto Oliva e secretariada pelos Drs. Mattos Barretto e Silvio Ognibene, realisou-se no dia 1 7 de Julho de 1935, a sexta sessão ordinaria da Secção de Oto-rino-laringología da Associação Paulista de Medicina.

ORDEM DO DIA:

1.º) DR. PAULO MANCABEIRA ALBERNAZ (Campinas) - "Mudez pitiática no homem"

Resumo: Relata o A. um caso de mudez pitiática observada em um homem de 68 anos. Quando o doente lhe apareceu, a mudez era total, e datava de quatro dias. Apurou-se a integridade mental do paciente, que apresentava mimica perfeita, audição integra e escrevia com correção. Pelo exame do laringe verificou-se adução completa com tremor das cordas. No fim de dois dias, porém, instalou-se uma disfonia, e o exame revelou paresía dos constritores, pois a adução era incompleta. E' a quarta vez que o paciente fica mudo.

A cura foi obtida mediante sugestão (três injeções de sulfato de estricnina).

O A. estuda as várias causas de mudez, e chega, no caso, por exclusão, ao diagnostico de histeria.

Casos dêsse tipo foram observados, com relativa frequencia, durante a guerra europeia. Em tempo de paz são, contudo, extremamente raros, mórmente em individuos do sexo masculino.

DISCUSSÃO:

Dr. Gabriel Porto: Recorda-se de dois casos durante a guerra de 1932, de individuos que perderam a voz depois de um combate, e pela sugestão conseguiu que eles a recuperassem. Tambem lembra-se de mais um outro: tratava-se de um caso de surdo-mudez histérica, que conseguiu a cura assustando o doente com a indicação de uma intervenção cirurgica.

Dr. Roberto Oliva: Conhece um caso de uma creança de seis anos, que está acompanhando e estudando, que pretende trazer a esta secção, pois pensa tratar-se de mudez histerica.

2.º) DR. CABRIEL PORTO (Campinas) - "Razões de um diagnostico de trombo-flebite do seio cavernoso (Réplica ao Prof. Bussaca).
(Este trabalho está publicado, na integra, em outra secção desta revista).

DISCUSSÃO:

Dr. Mario Ottoni de Rezende: Pergunta ao Dr. Porto se o outro lado tambem estava afectado.

Dr. Gabriel Porto: Só de um lado.

Dr. Mario Ottoni de Rezende: A trombo-flebite do seio cavernoso começa com teperatura elevada, calefrios e uns dias depois, 2 a 3, vem o exoftalmo, que corresponde a um estado já avançado da infecção. Ha paralisia num dos olhos, dilatação da pupila, quemosis, e com a marcha da doença, em 80% dos casos o olho do lado oposto tambem é atingido. No caso do Dr. Porto poderia ter havido uma trombose parcial do seio, isto é, uma trombose não preenchendo por completo os limites desse seio, de modo que a medicação, tendo chegada em tempo, conseguiu melhorar o estado do paciente. Acha que, embora a sintomatología não seja completa, o diagnostico tem sua razão de ser.

Dr. Mangabeira Albernaz: Acha que o caso, sob o ponto de vista com que foi encarado, não merece duvidas. Concorda que não se trata de um caso tipico de trombo-flebite, mas não concorda com o Dr. Bussaca, e acha que o Dr. Porto tem toda a razão de se insurgir contra o diagnostico de celulite aventado pelo referido colega.

Dr. Roberto Oliva: Acha que o ponto de vista a discutir seria o de confirmar ou não o diagnostico de trombo-flebite do seio cavernoso. Não estando presente o Dr. Bussaca, acha que não se deve discutir o caso, com a ausencia de uma das partes.

Dr. Mangabeira Albernaz (aparteando) : No caso apresentado, não é necessario a presença das partes. Tem-se a sua descrição e pela mesma poder-se-á fazer considerações...

Dr. Roberto Oliva: Está de pleno acôrdo. Tambem acha que uma celulite orbitaria não daria fenomenos de estado geral tão alarmantes. A não ser que essa celulite progredisse para flemão, e nesse caso teria se exteriorisado e haveria necessidade de uma intervenção imediata, urgente, para evitar cegueira, que quasi sempre é a terminação do flemão orbitario. O fáto de tambem não ter havido paralisía do motor ocular externo, pode ser explicado pelo não comprometimento da bainha nervosa pelo processo de trombo-flebite. Independente disso, acha que o diagnostico está certo.

Dr. Gabriel Porto (encerrando a discussão) : O caso é de fáto bastante complexo. Durante sua evolução teve a impressão, e isso sem a menor duvida, que se tratava de trombo-flebite. Apenas ficou entusiasmado com o caso muito raro de cura, como parecia o seu. Quanto a questão da visão, existem muitos casos clássicos com a conservação integral da visão. Si fosse um caso classico de , trombo-flebite, não faria dele comunicação, mas como foi complexo, achou interessante apresentá-lo á esta secção. Quando a paralisia, não é sintoma obrigatorio.

Agradece aos colegas os comentarios que fizeram sobre o seu caso.

3.º) DR. PAULO SAÉS (S. Paulo) - "Sobre a febre ganglionar de Pfeifer".

Resumo: Faz o A. considerações sobre a febre ganglionar de Pfeifer, caracterisada por febre acompanhada de inflamação não supurada dos ganglios linfaticos, com cooparticipação do figado e do baço. Apresenta um caráter contagioso e prefere creanças de certa idade. Não são conhecidas a via de infecção e o vírus que a produz. Estuda a molestia em seus varios aspétos, fazendo comentarios sobre os seus casos.

Estuda o quadro clinico, desde o periodo de incumbação, os prodromos, para chegar aos sintomas. Estes são: 1.º) a febre sempre elevada, podendo atingir 410 e que póde ter muitos dias de duração. 2.º) o engorgitamento ganglionar, pouco perceptiveis no inicio. Ficam os ganglios dolorosos na nuca e bordo do esterno,-cleido-mastoidêo. Os das axilas, virilhas, abdomen ficam engorgitados apenas. 3.º) descreve depois o estado da garganta, com angina rebelde, sem deposito a principio, depois com falsas membranas e ulcerações. 4.º) o quadro hematologico, pouco caracteristico no inicio, é dado por uma linfocitóse, que pode ir de 50 a 90%. Faz depois o diagnostico diferencial com a gripe, diftería, com a molestia de Hodkin, com a leucemía agúda, com agranulocitóse e finalmente com a angina monocitica, que muitos consideram como forma clinica da febre ganglionar. A angina monocitica- caracterisa-se por monocitóse acentuada. Uma reação sorologica - a de Hanganatzin e Deicher - que é negativa em casos de coqueluche, sifilis, paludismo, agranulocitóse, angina de Plaut-Vincent e leucemía linfatica, e é sempre positiva na angina monocitica, isolando-a da febre ganglionar, em que a reação não é demonstrada. Estuda em detalhe a diferenciação entre as duas ultimas molestias. O prognostico da febre ganglionar é sempre bom quanto ao final, mas tem evolução muito demorada.

Temina estudando o tratamento, que pouco influe sobre a molestia, pelo que é muito variavel, conforme cada autor. Já usou iodêto de sodio em injeções endovenosas, que já foi empregado nas monocitóses, e a tripaflavina (local e injeção endovenosa) recomendada por Schlecht.

DISCUSSÃO:

Dr. Mario Ottoni de Rezende: A comunicação é bastante interessante, pois, como bem disse o Dr. Sáes, focalisa uma molestia que por vezes passa desapercebida. Pergunta se as formas jovens encontradas no exame sanguineo, não seriam mais formas iniciais que finais? No quadro hematologico descrito, ao lado de formas linfocitarias e monocitarias - linfocitos e monocitos são parentes muito proximos e por vezes dificilmente distinguiveis - diz o A. que do meio para o fim da molestia aparecem ao lado destes, formas jovens. Isto parece-lhe incongruente. A formula é para a esquerda ou é para a direita. Si é para a esquerda, a molestia está em evolução; si é para a direita, indica geralmente que o organismo vai se preparando para a defeza, tanto que seus elementos de defeza, linfocitos e monocitos, aumentam. Queria perguntar quando foram observadas estas formas jovens?

Dr. Paulo Saés (respondendo) : O que verificou foi que apareciam num primeiro tempo, ao lado dos linfocitos, formas jovens com desvio para a esquerda, sendo portanto indicio de molestia em evolução.

Dr. Mario Ottoni de Rezende (proseguindo) : Acha que as formas jovens indicam desvio para a esquerda, mas os linfocitos não. Os linfocitos indicam desvio para a direita. E' o que se nota na tuberculóse, por exemplo, onde ha linfocitóse pura, com 95% de linfocitos. Portanto, desde que haja formas jovens, é desvio para a esquerda. Fica portanto um quadro algo descombinado.

Dr. Paulo Sáes: O que observou é, que ao lado de linfocitos, apareciam essas formas jovens, nucleadas...

Dr.Mario Ottoni de Rezende: ... ou são basofilos? Então seria tudo para a direita.

Dr. Paulo Sáes: O quadro hematologjco é muito variado durante a molestia; assim a linfocitóse, em certos periodos é muito menor, em outras é mais intensa, e assim por deante.

Dr. Mangabeira Albernaz: E' realmente uma doença muito encontradiça. Em geral, quem a trata, são os pediatras. Eles observam-na com uma frequencia enorme, pelo menos é o que tem acontecido com os seus colegas da Santa Casa, de Campinas. O tratamento que parece mais rápido, é a aplicação de raios ultra-violetas. A angina, realmente, não tem caracteres definitivos. Não sabe se é facil definir estas manifestações infecciosas com modificações na serie branca. Estas cousas estão se complicando cada vez mais; diariamente estão se modificando as conclusões a esse respeito, mas é de se esperar que daqui alguns anos deva se estabelecer alguma cousa de definitivo.

Dr. Roberto Oliva: O quadro da doença não é muito tipico, e só pela angina não se pode fazer uma diferenciação. Acredita que nesses casos de molestia geral, deve haver repercussão para o sistema linfatico, daí a razão do sucesso dos raios ultra-violetas, no seu tratamento, como disse o Dr. Mangabeira. Mas o tratamento nesta doença não tem muita importancia.. .

Dr. Mangabeira Albernaz: De fáto, cura-se por si.

Dr. Paulo Sáes:... mas os paes das creanças incomodam-se muito; quando a febre atinge 41% como já teve ocasião de ver, a doença deixa de ser benigna...

VI.° CONGRESSO MEDICO PAN-AMERICANO
Secção de Oto-Rino-Laringología

Sob a presidencia do Prof. Chevalier Jackson, realisou-se de 15 a 19 de Julho ultimo, no Rio de Janeiro e em S. Paulo, o VI.° Congresso Medico Pan-Americano.

A "Secção de Oto-Rino-Laringología" desse Congresso teve real destaque, não só pelo elevado numero de especialistas estrangeiros e nacionais que dela participaram, como tambem pelo ambiente de cordialidade e simpatía que dominou todos os congressistas.

Dentre os cientistas estrangeiros que nos visitaram, cumpre-nos destacar os nomes ilustres de Chevalier Jackson, o afamado professor de Broncoscopía e Esofagoscopía na Faculdade de Medicina da Universidade de Pensilvania (Filadelfia) e do seu filho, o Dr. Chevalier Lawrence Jackson, do Dr. Wells P. Eagleton, a grande autoridade em molestias do cerebro e chefe do famoso serviço de Cirurgía Crâneana do Hospital de Newark (New Jersey), do Prof. W. E. Sauer (St. Louis), do Dr. Arthur B. Duel (New York), conhecido neuro-cirurgião, do Dr. Lee M. Hurd, presidente efetivo da Secção de O. R. L. dos Congressos Pari-Americanos, todos da delegação norte-americana.

Da delegação argentina faziam parte: os Prof. Antonio R. Zambrini e Santiago Arauz, os grandes mestres de Buenos Aires, bem como os ilustrados Drs. Eduardo Casteran, Jaime del Sel e Alfredo J. Balma (Santa Fé).

Como representantes do Mexico e Venezuela, vieram os Drs. Fernando Melendez e Julio de Aronas.

Dos especialistas nacionais, compareceram os Prof. R. David de Sanson e José Kós, Drs. Nilson de Rezende e Rubens Amarante, todos do Rio de Janeiro; Prof. Arthur de Sá e Dr. Mauricio Adler, de Pernambuco, bem como a quasi totalidade dos oto-rinolaringologistas de S. Paulo, Santos e Campinas.

No dia 18 de Julho, á noite, a "Secção de Oto-Rino-Laringología" da Associação Paulísta de Medicina realisou em sua séde, uma sessão extraordinaria para receber os nossos visitantes, sendo os mesmos saudados pelo seu atual Presidente, Dr. Roberto Oliva, que se congratulou com a casa pela presença de tão notaveis personalidades. Em nome deles, respondeu agradecendo, o Dr. Lee M. Hurd.

Conforme deliberação tomada pelo Congresso, a reunião da "Secção de Oto-Rino-Laringología" teve lugar no dia 19 de Julho, ás 9 horas da manhã, no Salão de Conferencias do Instituto de Radium, em S. Paulo, fazendo parte da mesa que dirigiu os trabalhos, os Prof. Chevalier Jackson e Antonio Zambrini, Drs. Lee M. Hurd, Afranio Amaral e Mangabeira Albernaz.

Na ordem do dia foram apresentados os seguintes trabalhos:

l.º) DR. ARTHUR DUEL (New York) - "Sobre o tratamento cirurgico da paralisia facial". (Com apresentação de films dos seus casos, mostrando as varias fases durante o tratamento e os resultados obtidos, tanto experimentais quanto clinicos).
2.º) DR. CHEVALIER LAWRENCE JACKSON (Filadelfia) - "Estudos broncograficos na bronquiectasía (Com a apresentação de um film explicativo)
3.º) PROF. S. ARAUZ e DR. J. DEL SEL (Buenos Aires) - "Abcessos encefalicos otogenicos".
4.º) PROF. R. DAVID DE SANSON (Rio de Janeiro) - "Abcesso encefalico e sua cirurgia".
5.º) PROF. JOSÉ KÓZ (Rio de Janeiro) - "Tratamento cirurgico das sinusites fronto-etmoidais".
6.º) DR. WELLS P. EAGLETON (Newark) - "Considerações sobre o estado atual do tratamento dos abcessos encefalicos e das meningites".
7.º) DR. MARIO OTTONI DE REZENDE (S. Paulo) - "Sobre a leishmania tropica, var. americana". (Com apresentação de doentes).

Terminada a reunião, dirigiram-se todos os congressistas, cêrca de 60, para a séde do Automovel Club de S, Paulo, onde lhes foi oferecido um almoço pelo Dr. Mario Ottoni de Rezende, que teve ocasião de saudar os colégas presentes, congratulando-se com todos pelo êxito alcançado pelo Congresso e fazendo votos pela aproximação cada vez maior dos intelectuais de todas as Americas. Em nome dos congressistas, agradeceu o Dr. Lee Hurd.

A delegação argentina, que só chegou em S. Paulo na manhã do dia 19, tambem foi recebida pela "Secção de Oto-Rino-Laringología" da Associação Paulista de Medicina, em sua séde, na tarde do dia 21, em sessão extraordinaria, sendo os Prof. A. Zambrini e S. Arauz convidados pelo Presidente, para fazerem parte da mesa.

Aberta a sessão, saudou-os o Dr. Roberto Oliva, dizendo que a casa sentia-se muito honrada com a presença de tão ilustres cientistas. Em seguida pediu a palavra o Dr. Mario Ottoni de Rezende, que em nome da "Revista Oto-Laringologica de S. Paulo" cumprimentou a "Revista Argentina de Oto-Rino-Laringología" nas pessoas de seus redatores presentes.

Os Prof. Zambrini e Arauz, cada um por sua vez, agradeceram as atenções e as amabilidades recebidas de seus colégas paulistas, esperando retribuí-las a todos, muito em breve, em Buenos Aires.

Finda a sessão, foi-lhes servido um aperitivo, travando-se então animada e cordial palestra.

No dia 22, a delegação argentina ofereceu aos colégas paulistas, um almoço de despedida no Hotel Esplanada, descendo logo depois para Santos, onde no dia seguinte embarcou para Buenos Aires, deixando-nos os seus componentes, a melhor das impressões, quer como acatados cientistas, quer como finos cavalheiros.

A "Revista Oto-Laringologica de S. Paulo" fará todos os esforços para publicar nos proximos numeros, os trabalhos apresentados nesse Congresso.

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