Versão Inglês

Ano:  1972  Vol. 38   Ed. 2  - Maio - Agosto - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 111 a 113

 

ALTERAÇÕES HISTOLOGICAS E BIOQUÍMICAS GASTRICAS NA ESTENOSE CAUSTICA DO ESOFAGO

Autor(es): Carmine Carnicelli*,
Mario A. de Souza Paino**

Em nosso meio, freqüentemente as substâncias cáusticas, tanto ácidas quanto alcalis, são utilizadas para fins suicidas ou então no manuseio acidental por crianças.

Nos casos de ingestão corrosiva de qualquer etiologia costumam ocorrer lesões tanto esofagianas como gástricas.

O quadro agudo, na ingestão de corrosivos, leva a queimaduras mais ou menos extensas desde a oro-faringe até o estômago, podendo provocar hemorragias, perfurações, necrose de parede esofágica e necrose total ou parcial da parede do estômago.

Histologicamente na fase aguda ocorre ulceração, necrose de coagulação, estase vascular e marcante infiltração de polimorfonucleares.

Nosso presente trabalho visa a estabelecer as alterações crônicas provocadas pelos cáusticos alcalinos na mucosa gástrica, no seu estudo histopatológico e conseqüências quer do ponto de vista hematológico quanto ao ponto de vista bioquímico.

Material e Métodos

Esse estudo baseia-se em pacientes portadores de lesões cáusticas com um mínimo de 6 meses de prazo após a ingestão.

Foram utilizados 16 pacientes em tratamento no Serviço do Dr. Jorge Barretto Prado, disciplina de Endoscopia Peroral da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Todos os pacientes estão gastrostomizados para tratamento de estenose esofágica. Através da gastrostomia, foi efetuada biópsias da região fúndica, corpo e antro gástrico.

Concomitantemente foram colhidos material para hemograma, mielograma e secreção basal.



NR = não realizado
leuc. = leucocitose
linfop. = linfocitopenia
f. hemorrag. = focos hemorrágicos
pr. infl. cr. = processo inflamatório
cr. = crônica
eos. = eosinofilia
0 = secreção basal nula
plasm. = plasmocitose
linf. = linfocitose
leucop. = leucopenia
inf. linf.-plas. = infiltrado linfo-plasmocitário
eros. = erosiva.



Comentários

Do ponto de vista histopatológico, o material foi estudado em 16 biópsias separadamente segundo o local de colheita, isto é, fundo, corpo e antro-pilórico. Em seis casos havia comprometimento dos três locais; nos demais predominou lesão no corpo e antro. Coloração H.E. e Tricrômico de Masson.

Três casos nada revelaram além de hipersecreção de muco; num deles o material é constituído apenas por faixa superficial de mucosa gástrica.

Nos demais é representado por mucosa e margem de sub-mucosa, em extensão variável e, as lesões são representadas por proliferação conjunto fibrosa, alguns histiocitos diferenciando-se em fíbroblastos, infiltrado linfo-plasmocítários e eosinófilos teciduais; o processo inflamatório atinge às vezes sub-mucosa, com destruição da muscularis mucosae e lâmina própria da mucosa. O epitélio de revestimento desta é retalhado por septos conjuntivo-fibrosos com intensa produção de muco, estando reduzido em espessura em alguns níveis.

Do ponto de vista hematológico, nos casos estudados não foram observadas alterações de importância.

Com relação serie vermelha nenhum paciente apresentou anemia. Na série branca foi encontrada eosinofilia em 4 pacientes, leucocitose em 6 e linfocitose em outros seis. Plaquetas estão numérica e morfologicamente normais. Os mielogramas não apresentaram evidência de alteração.

Do ponto de vista bioquímico, seria de se esperar diminuição da secreção nasal, pois as lesões histológicas encontradas em 13 dos casos foram de processo inflamatório crônico. Nos doze casos em que foi dosada a secreção basal, nota-se diminuição em seis (50%), sendo que em 3 casos a secreção foi nula. Nos demais 6 casos, a secreção aumentou. Poder-se-ia tentar explicar este fato baseando-se em alguns aspectos:

1 - quantidade de células acidófilas que respondem ao estímulo;

2 - grau de agressão sofrida por estas células.

A hipersecreção é uma reação normal frente a um estímulo, seja ele normal ou patológico.

Nos 6 casos em que houve aumento da secreção, em 2 deles o histopatológico é normal. Em 4 casos houve alteração histológica e o aumento da secreção poderia se considerado discordante do achado de biópsia.

Todavia, nos 2 itens acima podemos explicar este fato: O número de células agredidas é variável de indivíduo a indivíduo e o grau de agressão sofrida também o é. Poderíamos chamar a isso de suscetibilidade ao agente corrosivo.

Por outro lado, normalmente nos casos de patologia gástrica, há inicialmente uma hipersecreção e após a cronificação do processo há queda do valor secretório para hipossecreção ou mesmo normossecreção. Sabemos ainda que quanto mais jovem é o indivíduo, maior é a secreção basal e se notarmos novamente o quadro observaremos que os 2 valores altos ocorreram em 2 crianças.

Outros aspectos que devemos levar em conta são o método de colheita e as condições psíquicas do indivíduo no momento da experimentação.

Resumo

Os autores realizaram estudo das alterações histopatológicas e bioquímicas gástricas e hematológicas em 16 pacientes portadores de estenose cáusticas do esôfago.

A biópsia gástrica foi efetuada em 3 pontos distintos (fundo, corpo e antro gástrico).

São apresentados e discutidos os resultados iniciais obtidos.

Summary

The authors realized a study of histo-pathological, biochemical gastric and hematological alterations in sixteen patients that had esophagus caustic stenosis.

The gastric biopsy was done in three different points (funus, corpus and antrum gastric).

The initial results obtained are presented and discussecd.

Bibliografia

1. Boller, R. - El estômago y sus enfermedades. 1956; pp. 69-86, 88-96, 275-287.
2. 2. Cleveland, W. W. et als. - Treatment of caustic burns of the esophagus; early esophagoscopy and adrenocortical steroids. J.A.M.A. 186:3, 262-4, oct. 19, 1963.
3. Johnson, E. - A study of corrosive esophagitis. Laryngosc. 73: 12, 1651-96, 1963.
4. Marks, C. & Zilberg, B. - Corrosive gastritis: management of a child by gastrectomy. Amer. J. Surg. 110: 3, 477-81, set. 1965.
5. Alvarez, F. M. - Diagnóstico gastroenterológico. 1958. pp. 558-94.
6. Palmer, E. D. - Gastroenterologia clínica. 1958; pp. 178-92.
7. Ritter, F. N. et als - A clinical and experimental study of corrosive burns of the stomach. Ann. Otol. Rhin. Laryng. 77: 5, 830-42, out 1968.




* Sextanista da Fac. Cien. Med. Santa Casa de São Paulo.
** Instrutor de ensino da Fac. Cien. Med. Santa Casa de São Paulo.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial