Versão Inglês

Ano:  1935  Vol. 3   Ed. 3  - Maio - Junho - (10º)

Seção: Revista das Téses

Páginas: 310 a 314

 

DR. JOSÉ DE ANDRADE MEDICIS - Esofagoscopia e corpos estranhos do esôfago - Tese apresentada á Faculdade de Medicina do Recife para livre docência da cadeira de clinica oto-rino-laringológica, (1934).

Autor(es): M. O. R.

Trabalho escrito em linguagem clara onde o A. revela-se conhecedor da materia, exímio endoscopista e possuidor de belas qualidades didaticas. Os pequenos senões que julgamos ter encontrado em nada desmerecem o valor do trabalho. Trata-se de uma tese que vem revelar o alto grau já alcançado pela cultura médica em Recife e que honra a literatura otolaringológica indigena. Deve ser lida por todos que se interessam pelo assunto.

A obra vem dividida em varios capitulos.

O primeiro trata do histórico da esofagoscopia. É um capitulo minucioso e muito instrutivo onde o A. descreve com carinho as diversas fases por que passou a história da esofagoscopia. A parte que se refere ao Brasil é muito sintetica; entre os que tem colaborado para a divulgação, entre nós, destaca com muita justiça a figura inolvidavel de Castilho Marcondes antigo assistente do Prof. J. Marinho. Não se refere, entretanto, a Guedes de Melo, illustre profissional recentemente falecido no Rio de Janeiro que julgamos ter sido o primeiro especialista que, entre nós, tentou a esofagoscopia.

O segundo capitulo cuida do instrumental e técnica da esofagoscopia. Na primeira parte dele encontra-se uma descrição clara do instrumental de esofagoscopia. O A. trabalha com o de Brünnings cujas vantagens enaltece, descreve os principais tipos de instrumental demorando-se na aparelhagem de Ch. Jackson, que acredita será mais usada em futuro não muito remoto. Na segunda parte trata da técnica da esofagoscopia. Descreve os cuidados pré-operatórios: exames do laringe, faringe e clínico geral. Julga indispensavel o exame radiológico não só para o diagnóstico como para fornecer indicações sobre os orgãos vizinhos. Chama a atenção para os doentes que chegados em caquexia, necessitam antes do exame, medicação estimulante e mesmo uma gastrostomia que permita alimentá-los. Com muito critério aborda a questão da urgência em corpos estranhos do esôfago. Descreve os cuidados que se deve ter com o instrumental. Preconisa a esofagoscopia sem anestesia nas crianças e sob loco anestesia nos adultos; combate a anestesia geral só a admitindo nos casos de volumosos corpos estranhos. Prefere a posição de Boyce para o exame do esôfago das crianças; os adultos são examinados sentados, posição que o A. julga mais cômoda para o operador. Após estudos sintéticos da anatomia do esôfago vivo o A. descreve com minucias as diversas fases da esofagoscopia, estudando as dificuldades do método. Afirma, que a presença de longos incisivos superiores impedem o exame endocoscópico e, então devemos antes extrai-los. A extração de incisivos para a realização de uma esofagoscopia não nos parece prática aconselhavel; acreditamos mesmo que hodiernamente não se encontre mais indicação para tal conduta.

O terceiro capitulo ocupa-se exaustivamente das indicações da esofagoscopia, seguindo o A. a orientação de Ch. Jackson. Volta a abordar com muito critério a questão da urgência nos corpos estranhos do esôfago, estuda da mesma maneira as contra indicações, assinalando a necessidade do adiamento da esofagoscopia nos individuos desnutridos e em caquexia até que o estado geral apresente melhoras, acentuando que, em certos casos a esofagoscopia, poderá exigir previamente urna gastrotomia.

O penultimo capitulo corpos estranhos no esôfago vem dividido em duas partes; a primeira cuida do diagnóstico dos corpos estranhos e a segunda da técnica de sua extração.

No ultimo capitulo o A. apresenta os resultados de sua experiência em esofagoscopia, relatando 30 observações muito bem feitas e intercaladas de judiciosos comentários.

As cinco primeiras observações referem-se a casos onde a esofagoscopia foi praticada com o fim de firmar o diagnóstico; pacientes que julgávam possuir corpo estranho no esôfago e em que a endoscopia revelou escoriações da mucosa. As observações 6, 7 e 8 historiam casos de moedas que se deslocaram para o estomago no áto da extração, sendo evacuadas normalmente.

O caso N.º 9 trata de um individuo de mais de 50 anos, portador de um caroço de umbú no esôfago ha um mês, impedindo a deglutição. O estado do doente era máu; estava em franca caquexia. O A. praticou uma esofagoscopia e dada a situação do paciente, não poude realizar a extração do corpo estranho, vindo o doente a falecer alguns dias depois de inanição. A conduta clinica seguida no presente caso está em desacôrdo com a aconselhada no texto da obra. Parece-nos, que era aqui indicado o adiamento da esofagoscopia até que o estado geral apresentasse melhoras, devendo-se talvês recorrer a uma gastrostomia como aconselha Medicis no capitulo referente ás indicações da esofagoscopia.

Seguem se duas observações de moedas no esôfago extraídas com o gancho de Kirmisson, citando o A. dois outros semelhantes. Deante destas observações e de muitas outras de especialistas brasileiros, somos obrigados a reformar o conceito condenatório que em 1930, em trabalho publicado na Folia Clinica e Biologica, emitimos sôbre o gancho de Kirmisson e a aceitar a opinião de Medicis que não julgando o método de Kirmisson superior a esofagoscopia, o considera capaz de dar bons resultados nas mãos de especialistas.

Seguem-se sete observações de moedas no esôfago extraidas todas com sucesso pela esofagoscopia; quatro vezes foi empregada anestesia clorofórmica e nas outras veses a extração foi feita sem anestesia.

Vem em seguida os casos, devidos a acidentes da alimentação, onde o A. apresenta três observações raras de espinhas de peixe no esôfago, magistralmente extraídas; esta variedade de corpos estranhos localizam-se com maior frequencia na hipo-faringe.

A observação 22 relata extração de um fragmento de osso no esôfago.

As de n.º 23 e 24 descrevem dois casos de bolo de carne no esôfago. Sucedeu ao A. o que já tivemos ocasião de registrar: a extração só poude ser feita em varias pegadas devido friabilidade do tecido que se desfazia ao contato das pinças.

A observação 25 é uma das mais interessantes; trata-se de uma agulha acompanhada de um fio de linha, encravada no esôfago; a extração foi feita com grande habilidade e excelente resultado.

Vem depois a observação de um cobre-lapis retirado do esôfago a 25 cm. da arcada dentária superior em criança de sete anos.

Passa depois ás dentaduras, apresentando três observações em que a extração foi feita com pleno sucesso.

Por fim relata o A. o caso que mais trabalho lhe deu: uma caixa de rouge no esôfago. A extração foi laboriosa devido a dificuldade de apreensão mas como em todos outros casos foi efetuada com habilidade, curando-se a paciente.

Ao terminar faz ainda o A. um rapido estudo sintetisando estas observações.

DR. GABRIEL PORTO

CANDIDO FONTOURA - O problema da farmacia no Brasil - Instituto Medicamenta - Estabelecimento Cientifico e Industrial. São Paulo - 1935.

Candido Fontoura, farmaceutico industrial, de São Paulo, publica neste opusculo, em traços largos e firmes, a orientação que pensa devera ter a Farmacia no Brasil, e é a da selecção dos bons profissionais e a restrição de seu numero, proporcionalmente aos nucleos de população.

Refere-se ao que existe, neste sentido, em outros Paizes que, quasi todos, adotam, este modo de vêr. Transcreve e comenta a lei italiana referente ao assunto. Fala, em seguida, com conhecimento proprio, sobre varios problemas da classe farmaceutica brasileira e dedica-se, com carinho, ao estudo das qualidades necessarias ao farmaceutico e do auxilio imenso e leal, que estes profissionais prestam aos medicos nas soluções por vezes tão dificeis da cura dos que sofrem.

Defende o comercio, anexo ao exercicio da farmacia e condizente com ela, para que o profissional possa resistirá monotonia da profissão e ás durezas da luta atual pela vida. Discorre finalmente sobre a Farmacia industrial em suas relações com as drogarias e farmacias em geral.

Prova sua admiração pelos praticos de farmacia, e demonstra a necessidade deles como auxiliares, de destaque, do farmaceutico.

Candido Fontoura sabe dizer o que quér e, acima disto, é amigo sincero de seus pares.

M. O. R.

PAULO MANGABEIRA ALBERNAZ - Oto-rino-laringologia praticar,-Segunda edição - Companhia "Editora Nacional" - 1935 - São Paulo.

É um pequeno manual, de 194 paginas em oitavo, fazendo parte da Biblioteca Médica Brasileira. Serie I, volume III, dos Manuais praticos.

Boas gravuras, algumas bem expressivas.

Mangabeira Albernaz dedica este manual á orientação do clinico no territorio da Oto-rino-laringologia. O espirito com que o A. o escreveu, aproveitando seu amplo tirocinio na especialidade, foi, naturalmente, o de suprir a deficiencia de conhecimentos especialisados dos nossos medicos praticos e que, por vezes, não deixam de trazer prejuizos irreparaveis aos doentes mal orientados em seus tratamentos.

Albernaz conseguiu, de modo facil e em linguagem clara e sugestiva, o fim a que se propoz. O medico ficará conhecendo, de modo ameno e agradavel, muita cousa que desconhecia, de facil e util apreensão, tanto para ilustração propria, quanto para beneficio de seus pacientes.

Pequenos senões, se é que existam, são supridos pela vivacidade expressiva, concisa e precisa das descrições das molestias, e pelo modo de solucionar seus tratamentos apropriados. O manual não é completo, mas contem o necessario e o util. O A., em sua bondade altruistica, atribue poderes cirurgicos excessivos aos medicos praticos e que, de nenhum modo, mesmo em beneficio dos doentes, não lhes devem competir. A tecnica cirurgica está, de fáto; ao alcance de qualquer clinico que a ela queira dedicar-se, mas a cirurgia especialisada oto-rino-laringologica, necessita, além dos conhecimentos gerais de cirurgia, um saber e habilidades que só se adquirem com longo traquejo e manuseio exclusivo da mesma. Uma paracentése, por exemplo, que nem sempre é bem feita, mesmo pelo especialista, que se dirá quando praticada por um clinico?

Albernaz diz mesmo que a cauterisação dos cornetos exige habilidades diversas e conhecimentos bem baseados de anatomia e fisiologia. Acha que um medico pratico poderá praticá-la com uma presumivel iluminação defeituosa? Penso que este deverá limitar-se a possibilidade de conhecer, descobrir a molestia e encaminhar o paciente para quem o possa tratar segundo as regras precisas da arte, intervindo, tão sómente, nos casos de extrema urgencia.

Este Manual é um magnifico livro de difusão, da oto-rino-laringologia, entre os nossos colegas e deverá ser propagado neste sentido que, creio,


é tambem o de seu autor. Com a limitação da cirurgia, que é demasiada para um medico, ficará ótimo.

Os estudantes tirarão dele o melhor proveito na sua aprendizagem, sobretudo quando Mangabeira Albernaz quizer completá-lo com as provas auditivas e labirinticas tão necessarias ao ensino.

Com a apresentação deste livro, está de parabens a oto-rino-laringologia nacional, ainda mais por ser ele o pioneiro de obra mais completa que, tenho certeza, nos dará o seu autor.

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