Versão Inglês

Ano:  2001  Vol. 67   Ed. 4  - Julho - Agosto - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 475 a 478

 

Achados Audiométricos e Timpanométricos em Crianças Assintomáticas.

Audiometric and Tympanometric Findings in Asymptomatic Children.

Autor(es): Cécil C. Ramos*,
Renata R. Mendonça*,
Daniela M. Gualandro**,
Lucia E Van Onselen***.

Palavras-chave: crianças, audiometria, timpanometria, logoaudiometria

Keywords: children, audiometry, tympanometry, logoaudiometry

Resumo:
Introdução e objetivos: Os autores realizaram estudo retrospectivo nas audiometrias de crianças de uma escola de classe média alta, assintomáticas, aproveitando esta avaliação para análise amostral de uma determinada faixa da população, com o objetivo de determinar as principais alterações audiométricas e timpanométricas observadas. Forma do estudo: Clínico retrospectivo. Material e método: Foram analisadas 211 audiometrias de crianças assintomáticas de uma escola de classe média alta, com idade entre dois e 10 anos, em equivalência quanto ao gênero, no momento da matrícula (verão). Resultados: Observamos predomínio de alterações nos pacientes da faixa etária de quatro a seis anos. Encontramos alterações audiométricas em 31 ouvidos (7,34%), sendo 87,09% casos de hipoacusia de condução. Timpanometrias alteradas foram observadas em 52 orelhas (12,32%), sendo 44 casos com curva tipo c (84,61%) e oito casos com curva tipo b (15,38%). As logoaudiometrias se mostraram alteradas em 60 ouvidos (14,22%). Conclusões: Por se tratar de crianças assintomáticas, é possível supor que resultados semelhantes podem ser encontrados nesta faixa da população. A imitanciometria e a logoaudiometria mostraram alta sensibilidade, o que nos permite sugerir que sua solicitação deva ser reforçada na avaliação de escolares e pré-escolares.

Abstract:
Introduction and objectives: The authors carried out a retrospective study in audiometry of asymptomatic children, using the evaluation as a sampling of a specific population in order to determine the main audiometric and tympanometric alterations. Study design: Clinical retrospective. Patients ano methods: We carried out 211 audiometries in asymptomatic children, ranging in age from two to 10 years ano of both genders. Results: There was predominance of alterations in four to six year old children. We found audiometric alterations in 31 ears (7.34%), ano 87.09% were conductive hearing losses. Tympanometric alterations were observed in 52 ears (12.32%), with 44 type C curves (84.61%) ano 8 type B curves (15.38%). We found speech discrimination deficits in 60 ears (14.22%). Conclusions: It is possible to assume that similar results may be expected to be found in the same age range ano that tympanometry ano logoaudiometry should be used in this kind of evaluation.

INTRODUÇÃO

Já no fim da Idade Média, com os estudos de Eustachius, 156315, sabia-se da importância da tuba auditiva na fisiopatologia das doenças da orelha média. Estudos complementares de Valsalva, em 1704, Deleau, 1836, e Politzer, 186315, mostraram a necessidade de uma correta aeração da orelha para o seu bom funcionamento; mas, apenas neste século surgiram trabalhos mostrando a complexidade da fisiopatologia das doenças da orelha média9, 12, 13, 14. E ficou evidente a necessidade de um diagnóstico precoce11 de alterações assintomáticas nas orelhas, em especial no pequeno paciente, onde muitas vezes a queixa ou sintoma apenas se torna perceptível com o agravamento do processo. No entanto, embora se encontrem muitos trabalhos visando a uma melhor abordagem do quadro patológico já instalado3, 4, 6, encontramos poucos artigos em populações assintomáticas, que mostrem a incidência das alterações mais encontradas e quais são os exames que se mostraram mais sensíveis e específicos. Assim, através de estudo amostral, pretendemos averiguar qual a incidência de alterações em audiometrias, imitanciometrias e logoaudiometrias de crianças de classe média alta, assintomáticas, e qual desses exames se mostra mais sensível neste tipo de avaliação.

MATERIAL E MÉTODO

Foram analisados, retrospectivamente, 211 exames audiométricos de crianças, com idades entre dois e 10 anos, de uma escola de classe média alta do município de Santo André/ SP, assintomáticas - realizados no momento de suas matrículas do ano letivo de 2000. Houve anuência dos pais na realização dos exames, bem como da diretoria da escola na sua utilização. Todas as crianças foram submetidas a audiometria tonal, logoaudiometria e timpanometria. A análise estatística dos grupos foi feita pelo teste do qui-quadrado, considerando-se um p<0,05 estatisticamente significativo.

RESULTADOS

A análise concentrou-se nos exames admissionais das crianças, obtendo-se um n=422 orelhas examinadas, com equivalência quanto ao gênero. Na análise global, observamos 60 orelhas (14,22%) com alterações em pelo menos um dos exames realizados, distribuindo-se nas seguintes proporções: audiometrias tonais alteradas, 31 orelhas (7,34%); timpanometrias alteradas, 52 orelhas (12,32%); e logoaudiometrias alteradas, 60 orelhas (14,22%) (Figura 1). Nas audiometrias tonais alteradas, o achado mais constante foi a hipoacusia de condução (87,09%), seguida de hipoacusia mista (11,91%) e hipoacusia neurossensorial (1%) (Figura 2). Os exames timpanométricos alterados apresentaram predomínio de timpanogramas tipo c(84,61%), em relação a timpanogramas tipo b (15,38%) (Figura 3). A logoaudiométria mostrou-se o exame de maior sensibilidade, estando alterada em todas as orelhas com algum tipo de resposta anormal, seja audiométrica ou timpanométrica. Na análise por faixa etária, as alterações concentraram-se nas idades de quatro a seis anos, com significativa prevalência sobre as outras faixas etárias. Quanto ao sexo, observamos pequena prevalência do sexo masculino na análise global (16,51% de meninos contra 13,13% de meninas), mas a casuística mostra-se insuficiente para uma melhor conclusão estatística (Figura 4).



Figura 1. Distribuição percentual dos exames com alterações da normalidade.



Figura 2. Distribuição percentual das alterações observadas nas audiometrias tonais.



Figura 3. Distribuição percentual das alterações timpanométricas observadas.



DISCUSSÃO

Na atualidade, observa-se uma preocupação, tanto na área governamental quanto na privada, em se diagnosticarem problemas auditivos e visuais com a máxima precocidade, permitindo uma rápida atuação do profissional e minimizando futuros problemas do pequeno paciente, sendo imprescindível para esse apoio e incentivo da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia. Na literatura, encontramos trabalhos mostrando esse tipo de avaliação e sua importância no diagnóstico precoce, em especial nas crianças assintomáticas, nas quais, principalmente na semiologia armada, observamos quadros patológicos ou alterações em exames, que sugerem um quadro em evolução5, 8, 9, 11. Knijinik e colaboradores, em 19938, apresentam-nos estudo em crianças assintomáticas nas quais observaram 16,4% das imitanciometrias com timpanogramas tipo b, diferentemente de nossos achados, onde apenas 1,8% das crianças assintomáticas apresentaram este tipo de curva, podendo se explicar estas diferenças em função de distintos grupos amostrais, locais ou períodos de avaliação. Por outro lado, existe nossa concordância quanto a um grande número de crianças com alterações timpanométricas sem alterações na audiometria tonal, observação esta que se repete em outros autores5, 9, 11. Observamos ainda que, embora a audiometria tonal tenha se mostrado um exame com menor sensibilidade em relação à timpanometria, este costuma ser o exame de escolha na primeira avaliação de crianças. Já a logoaudiometria, na nossa avaliação, mostrou-se mais sensível que a audiometria tonal e a timpanometria, estando alterada em todos os casos que apresentaram alguma variação da normalidade nos outros exames.



Figura 4. Distribuição percentual dos exames alterados quanto à faixa etária e o gênero.



Outros autores, como Franche e colaboradores, em 19985, e Kontiokari e colaboradores, em 19989, realizaram estudos comparando a sensibilidade dos exames disponíveis na avaliação de crianças assintomáticas, concluindo que a timpanometria mostrou-se o exame mais sensível, embora esta não seja estatisticamente melhor que o diagnóstico por uma simples otoscopia.

CONCLUSÕES

Nosso estudo foi claro ao mostrar um significativo número de alterações nos exames pesquisados, o que nos leva a supor, por analogia, que um grande número de crianças assintomáticas desta faixa da população possa apresentar problemas auditivos passíveis de tratamento ou acompanhamento. Observamos ainda que, embora a audiometria tonal seja o exame mais utilizado na avaliação de pré-escolares, a imitanciometria e a logoaudiometria se mostraram mais sensíveis, permitindo-nos sugerir que sua utilização deva ser reforçada neste tipo de avaliação.

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* Médico Otorrinolaringologista pela FMUSP - Pós-Graduando (Doutorado) pela Faculdade de Medicina da USP.
** Aluno do 5° Ano da Faculdade de Medicina da Fundação ABC.
*** Docente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Fundação ABC.

Trabalho desenvolvido no Hospital Maternidade Cristovão da Gama - Santo André e aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da Fundação ABC.
Trabalho apresentado no 35° Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia, realizado em 18 de outubro de 2001, em Natal/ RN.
Endereço para correspondência: Cécil Cordeiro Ramos - Rua Gamboa 245 - 09190-670 Santo André /SP - Telefone: (0xx11) 4993-3794 - E-mail: cecil@canbrasnet.com.br
Artigo recebido em 15 de janeiro de 2001. Artigo aceito em 12 de abril de 2001.

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