Versão Inglês

Ano:  1935  Vol. 3   Ed. 3  - Maio - Junho - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 257 a 268

 

ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS

Autor(es): -

SECÇÃO DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
Sessão de 18 de Março de 1935

Presidida pelo Dr. Roberto Oliva e secretariada pelos Drs. Mattos Barreto e Silvio Ognibene, realisou-se no dia 18 de Março a terceira sessão ordinaria da Secção de Oto-rino-laringología da Associação Paulista de Medicina.

ORDEM DO DIA:

1.º) DR. BRAZILINO VAZ DE LIMA (S. Paulo) - "Considerações sobre o novo emprego do bismuto nas anginas".

Resumo: O A. apresenta as observações de 27 casos que empregou o bismuto em anginas agúdas, sendo que em 25 obteve ótimos resultados.

Apresenta tambem, como nota prévia, 20 outros casos em que empregou o bismuto como preventivo dos estados infecciosos gripais, com 100 % de bons resultados, razão porque chama a atenção dos colegas para que incluam o bismuto no ról dos medicamentos preconisados como preventivos da gripe.

DISCUSSÃO:

Dr. Schmidt Sarmento: Diz não poder fazer maiores considerações a respeito do emprego do bismuto nas anginas, porque a pratica que tem sobre essa medicação ainda é pequena; tem casos felizes e tambem infelizes.

Quér o Dr. Brazilino um esclarecimento: na interpretação dada á ação do bismuto, disse que este ataca de preferencia os estreptococos e os estafilococos. Mas como acha que o bismuto tem preferencia pelos espirilos, como os da sifilis, não tendo o Dr. Brazilino citado na sua comunicação a angina Fuso-espirilar ou de Plaut-Vincent, quér saber se foi por esquecimento ou se propositalmente não citou essa angina.

Dr. Silvio Ognibene: Acha que deve haver restrinção no emprego do bismuto em creanças, pois observou um caso em que o medico assistente, tratando-o como angina comum, aplicou 0,3 de Oxiobi, tendo o pequeno apenas um ano de idade. Percebendo depois o aparecimento de tiragem, removeu-o para o Hospital de Isolamento, como sendo difteria. O especialista que então examinou a creança, não encontrou pseudo-membranas, mas apenas edemas da uvula e do pilar.

Dr. Brazilino Vaz de Lima (perguntando) : Não foram feitos exames bacteriologicos?

Dr. Silvio Ognibene (respondendo ao Dr. Brazilino): Diz não ter havido tempo para fazê-los, pois a creança veio a falecer; mas acha que...

Dr. Brazilino Vaz de Lima (aparteando): Sem os exames bacteriologicos, não se pode precisar o diagnostico. Tambem não se pode afirmar ou infirmar se foi o bismuto o causador do edema. Não empregou esse medicamento em creança abaixo de um ano, de modo que não tem experiencia para poder lhe atribuir tal complicação. Entretanto, acredita que deve haver exagero na sua aplicação.

Dr. Silvio Ognibene (continuando) : ... eliminando-se o bismuto pelas mucosas, poderia ser, talvez, o causador desses edemas.

Dr. Roberto Oliva: Diz que infelizmente não tem tido bons resultados com o emprego do bismuto nas anginas, tanto em seus casos como em outros que tem conhecimento. Observou nos seus casos, após injeção de bismuto, que as anginas proseguiam na sua marcha ciclica normal. Cita um caso de creança de sete anos, que com uma unica injeção de bismuto, apresentára-se com uma orla de gengivite toxica. Em outro doente, apesar de três injeções de bismuto, a angina, evoluiu até abcesso periamigdaliano, que incisado, deu saída a grande quantidade de pús fétido. Não incrimina o bismuto por estes resultados, mas cita os casos apenas como curiosidade. Conhece ainda mais dois casos de colegas que tiveram angina, tratada com bismuto sem resultado. Um deles teve uma crise de anuria, agitação nocturna, que liga á aplicação do bismuto. Estes fátos, se não vão contra a aplicação do bismuto nas anginas, não são entretanto muito animadores quanto a sua aplicação. É de opinião ser a angina, como disse antes, uma molestia ciclica, que tem de seguir sua marcha normal.

Dr. Brazilino Vazz de Lima (encerrando a discussão) : Diz ao Dr. Sarmento, que se não citou casos de angina de Plaut-Vincent, é porque todos os casos que apresentou, eram de angina agúda pultacea.

Diz que o Dr. Oliva citou casos seus e de colegas, nos quais o bismuto não deu resultado; entretanto na sua clinica, dos 27 casos tratados, apenas dous não aproveitaram a ação do bismuto. Discorda, em parte, da afirmação do Dr. Oliva, considerando a angina uma molestia ciclica e acha que o bismuto impede essa evolução, como teve ocasião de observar nos seus doentes.

2.º) DR. ROBERTO OLIVA (S. Paulo) - "Estudo anatomo-clinico do rochedo. Em torno de alguns casos de petrosite". (Este trabalho saíu publicado in extenso no numero 2 (1935) desta revista).

DISCUSSÃO:

Dr. Schmidt Sarmento: Felicita o Dr. Oliva pela sua interessante comunicação, que é um "mise au point" sobre o assunto. Espera que outros estudiosos imitem o Dr. Oliva, para que aproveitem os que assistem e o que expõe.

Dr. Mattos Barreto: Quér apenas frizar alguns detalhes sobre a sintomatología da petrosite, que constitue um assunto que se pode chamar de momentoso e daí a felicidade de sua escolha pelo Dr. Oliva. Diz que o sindrome de Gradenigo perdeu hoje, em parte, o seu valor diagnostico. Para a maioria dos autores italianos, norte-americanos e alemães, esse síndrome não significa senão um reflexo de um estado toxico-infeccioso, não tendo ligação intima, como até agora se pensava, com a afecção da ponta do rochedo, como entidade clinica.

Acha que um dos trabalhos mais completos sobre petrosites, é o de Kopetzky, que ha varios anos se ocupa desse assunto e procura pôr a limpo a questão da osteite da ponta do rochedo. Esse autôr friza que toda otite operada, na qual, após o tempo normal da evolução post-operatoria, ainda continuar uma supuração abundante, deve-se pensar na inflamação do rochedo. Além desse sintoma, é de grande importancia a oftalmalgía, de preferencia retro-bulbar, que se segue após antrotomía. Ramadier tambem insiste sobre esse sintoma. Essa oftalmalgía pode ser seguida de otorréa abundante, que estava suspensa depois da antrotomía; outras vezes a otorréa não sofre grande mudança com a antrotomía. As vezes ha uma fase de quiescencia, em que ha remitencia até da dor, que Kopetzky atribue a uma septicemia de ligeiro grau, e já observou um doente que permaneceu nessa fase durante sete meses.

Chama depois a atenção sobre os sintomas complementares para o lado do trigemio, para o lado do labirinto (vomitos, vertigens) e finalmente sobre a meningite. Kopetzky mostra como é interessante, no ponto de vista do prognostico, o emprego do lipiodol logo após a operação de petrosite: quando circunscreve uma pequena loja na ponta do rochedo, indica bom prognostico, mas se difunde por toda base do craneo, é desfavoravel ou mau.

Dr. Roberto Oliva (encerrando a discussão): Discorda do Dr. Mattos Barreto, quando afirma ter o sindrome de Gradenigo perdido, em parte, o seu valor diagnostico. Acha que ha uma verdadeira barafunda nessa questão e cada um tem o direito de seguir a teoria que quizer. Nos Estados Unidos, muitos autores se insurgem contra a operação preconizada por Kopetzky nas petrosites.

3.º) DR. GABRIEL PORTO (Campinas) - a) Epitelioma espiro-celular do véo do paladar; b) Sobre um caso de cisto dentifero; c) Linfo-sarcoma da amígdala. (Estes trabalhos serão publicados sucessivamente nas "Notas clinicas").

4.º) DR. FRIEDRICH MÜLLER (S. Paulo) - "Algo sobre o inventor do otoscópio".

É, sem duvida, de grande interesse para todos nós, sabermos quem, como primeiro teve a feliz idéa de tornar transparente o centro de um espelho esferico e de examinar através do orificio assim formado, o conduto auditivo externo, iluminando-o com luz natural refletida pelo espelho já mencionado.

Tal gloria não cabe a Helmholz, mas a Fritz Hofmann, filho de um arquitéto ducal de Friedberg, em Hessen. Nasceu em 1806 e teve por irmão o celebre quimico A. W. Hofmann, inventor das côres de anilina. Parece que o genio constituía qualidade inerente á familia.

Sabe-se que o desenvolvimento da oto-rino-laringología ficára retardado por falta de meios de iluminação convenientes.

Fazendo um dia a barba, lembrou-se Hofmann de remover o mercurio do centro do espelho e de projetar a luz do dia, por meio dele, no conduto auditivo externo e examiná-lo, olhando pelo centro transparente do refletôr. Grande foi a sua surpreza, ao perceber com nitidez, os diversos detalhes do conduto.

Publicou essa descoberta na "Wochenschrift für gesamte Heilkunde", em 1841, como "Contribuição ao exame do conduto auditivo externo". Nesse artigo diz ele, alem de outras coisas, o seguinte: "Todos os aparelhos de iluminação têm a desvantagem de não permitir; ao olho aproximar-se a tal ponto do ouvido a ser examinado, de modo que fique bem em frente do interior do conduto e do timpano. Existe um metodo muito simples para remover qualquer obstaculo desse genero. Basta lançar, por meio de um refletôr perfurado, um raio solar no conduto auditivo e olhar pelo orificio. Deste modo o examinador poderá aproximar o olho a uma distancia minima e nada lhe escapará.

E' interessante lembrar que Hofmann partilhou á sorte da mór parte dos homens de genio: ninguem se importou com as suas publicações. Sofreu como Semmelweis, descobridor da febre puerperal, como Schleich, inventor famoso da anestesía local, e como muitos outros.

Com o otoscópio, Hofmann descobrira o principio do oftalmoscópio. Parece entretanto, que não chegou a examinar o olho com o seu refletôr. Tal prioridade cabe a Helmholz, que não utilisou um simples espelho, mas uma combinação especial de lentes e laminas, semelhantes ás que se usam em medicina, como ele mesmo refere. Esse espelho era de dificil emprego.

O verdadeiro oftalmoscópio que ainda hoje se usa, foi inventado pelo oculista Rüthe de Gottingen, em 1852, um ano após a publicação do espelho de Helmholz.

Em 1862, portanto, 21 anos mais tarde, von Troeltsch inventou, independentemente de Hofmann, o mesmo espelho. Notou depois, como ele mesmo escreve em 1855, ter Hofmann publicado sobre um espelho igual, em 1841, dando desse modo a Hofmann a prioridade na invenção.

A aplicação de um metodo de exame tão simples e genial chegára a constituir um dever de todos os otologistas da epoca. Engana-se, no entanto quem julga ter assim sucedido. Houve otologistas afamados que deram seu véto á invenção, escrevendo um deles, em 1873, que nada conseguia ver com o refletôr de von Troeltsch. Respondeu este que a culpa não era do espelho.

O resentimento de Hofmann ao ver-se tão mal compreendido foi enorme. Faleceu em 24 de Fevereiro de 1860, em Burgsteinfurt. O seu tumulo mostra-nos a seguinte inscrição: "Era amigo da luz e, como primeiro, tornou-a util ao diagnostico", frase composta pelo proprio Hofmann com o fim de salvar a sua honra.

Considerar uma ciencia tambem sob o seu ponto de vista historico, é aumentar o interesse que ela em nos disperta. O desconhecimento do valôr da invenção de von Hofmann pela sua época torna-se menos grave, si levarmos em conta os atrazos que sofreu a ciencia com a ruina da antiga cultura grega, cultura de alto grau de perfeição e cujo desaparecimento equivale a um regresso de 1700 anos.

E' este o destino do genio da humanidade. Diz Schiller: "O grande homem marcha adiante de sua epoca" e nesse facto achamos a explicação para o fim geralmente tragico dós representantes do genio humano.


Sessão de 22 de Abril de 1936

Presidida pelo Dr. Roberto Oliva e secretariada pelos Drs. Mattos Barreto e Silvio Ognibene, realisou-se no dia 22 de Abril ultimo, a quarta sessão ordinaria da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.

No expediente é lido um oficio da Secção de Tisiología, propondo um estudo de conjunto das duas secções sobre "Tuberculóse". O Presidente nomeia o Dr. Francisco Hartung representante desta secção junto á de Tisiología.

ORDEM DO DIA

1.º) DR. FRANCISCO HARTUNG (S. Paulo) - "Sobre a amigdalectomía na tuberculóse". (Este trabalho sae na integra em outra secção desta revista).

DISCUSSÃO:

Dr. Mangabeira Albernaz: Diz que teve ocasião de ler uma publicação que tem um capitulo que trata da amigdala e tuberculóse, e no qual são estudados varios assuntos referentes a questão. O Dr. Hartung, encara a questão sob o ponto de vista de verificar qual o resultado da operação da amigdala em um tuberculoso; este ponto de vista não foi encarado no trabalho citado. Esse trabalho tem valor porque seus autores ouviram a opinião de cerca de 800 medicos do mundo inteiro, entre os quais pediatras, laringologistas etc. A questão da tuberculóse primitiva da amigdala é muito controvertida: os pediatras acham incomum esta lesão tuberculosa da amigdala. Operando-se uma amigdala pode-se verificar a explosão de uma tuberculóse existente em estado latente e explodir em virtude de um desequilibrio de imunidade resultante do choque operatorio ou ser o resultado de uma invasão do organismo por germes, por abertura de vasos sanguineos e linfaticos verificada na intervenção; poderiam esses germes já existir nas amigdalas.

A tuberculóse pode se apresentar sob a forma de uma granulía ou por uma tuberculóse pulmonar agúda ou o doente pode ser atingido por uma meningite tuberculosa violenta. São as três hipoteses que podem ocorrer. Rist acha uma temeridade a intervenção nos casos em que o doente apresenta manifestações tuberculosas, pois nesses casos o especialista é sempre mal sucedido na operação. Por outro lado Mac Clear, nos Estados Unidos, cita 140 casos em que foram encontrados lesões tuberculosas nas amigdalas, tendo os doentes sido operados com anestesía geral e nenhum ficou tuberculoso após a operação, a-pesar das lesões tuberculosas histologicamente encontradas em pleno parenquima amigdaliano. A questão é pois controvertida e muito se complica. O trabalho acima citado, foi publicado em 1934 e é o melhor estudo sobre esta questão. Si a tuberculóse póde penetrar pela amigdala, não é questão discutida mais, em virtude de estudos italianos feitos em cães: atritando de um lado, amigdalas de cães, com cultura de bacilos de Koch e de outro lado atritando a loja vazia pela extirpação da amigdala, com a mesma cultura, verificaram-se lesões tuberculosas somente nos cães que tinham amigdalas, e nos outros não. Em sua clinica, em Campinas, diz proceder do seguinte modo: faz uma anamnese rigorosa a respeito dos antecedentes tuberculosos; si houver tuberculóse evolutiva, envia o doente ao tisiologo e só opera quando este achar o dito doente em condições. Acha que a amigdalectomía pode trazer vantagem nos casos de tuberculóse aberta, por retirar um fóco de infecção, melhorando as condições organicas do doente. Ha casos em que é impossivel saber se ha tuberculóse latente, mesmo com as reacções de Von Pirquet-Mantona; nestes casos a tuberculóse pode explodir após amigdalectomía.

Dr. Roberto Oliva: Acha que a questão deve ser encarada sob um prisma um tanto nacionalista, pois certas intervenções que em outros paizes apresentam certa gravidade, entre nós não acontece o mesmo. A tuberculóse, após amigdalectomía, não apresenta essa gravidade extrema que se nota em outros paizes. Embora se saiba que um doente seja tuberculoso em forma não evolutiva, si ele sofrer de amigdalites recidivantes, deve-se operá-lo com certa reserva, pois as recidivas constantes das anginas é causa de depauperamento; deve-se ouvir o tisiologo e se possivel operar, o que muito beneficiará o doente.

Dr. Francisco Hartung (encerrando a discussão): Diz que aceita sob reservas a estatistica americana citada pelo Dr. Mangabeira Albernaz, pois apresentando os alemães numeros tão baixos, como podem os americanos apresentar numeros tão elevados de casos? Concorda com a anamnése rigorosa e a consulta ao tisiologo. Ha casos em que é possivel a operação, mas devem ser guiados pelo exame clinico e radiologico praticado pelo tisiologo. Em alguns casos fica-se sem saber como agir.

2.º) DR. MANGABEIRA ALBERNAZ (Campinas) - "Sobre o tratamento da angina de Plaut-Vincent pelo cianêto de mercurio" (Nota prévia).

Resumo: Era sua intensão apresentar esse seu trabalho como nota prévia, mas foi informado pelo Dr. Homero Cordeiro, que em recente trabalho publicado pelo Dr. Salem, especialista do Rio de Janeiro, o mesmo refere-se á alguns casos de angina de Plaut-Vincent, tratados pelo cianêto de mercurio, com bons resultados. Confessa que absolutamente desconhecia tal publicação.

Baseado na observação de Maurcou-Mutzner, que observou uma ação curativa rapida do cianêto de mercurio nas estomatites ulcero-membranosas, e nos estudos de Lebourg e Prunet, corroborando o mesmo efeito do sal ora referido, nas estomatites bismuticas, o A. resolveu experimentar a mesma terapeutica num caso de angina de Plaut-Vincent. As melhoras foram rapidas e com duas injeções intravenosas de dois centigramos, a cura foi obtida.

DISCUSSÃO:

Dr. Homero Cordeiro: Diz que a-pesar-de acompanhar com interesse as novas terapeuticas empregadas, ainda não perdeu o entusiasmo pelo acido crômico no tratamento da angina de Plaut-Vincent. Ainda recentemente conseguiu cura rapida de um caso grave, com tendencia destructiva alarmante, apenas com toques locais, duas vezes ao dia, com a solução de acido crômico a 3 %.

Dr. Roberto Oliva: Está de pleno acôrdo com o Dr. Cordeiro quanto ao emprego do acido crômico em tais anginas. Tambem tem tido bons resultados usando localmente o novo preparado "Arscolloid" (solução concentrada de arseno-benzol-prata coloidal), assim como o bismuto, em injeções ou localmente. O cianêto de mercurio tem a desvantagem de poder produzir estomatites mercuriais.

Dr. Mangabeira Albernaz( encerrando a discussão) : Diz que deve-se empregar o cianeto de mercurio nos casos em que falharem os meios terapeuticos usuais, como aconteceu com o primeiro caso em que empregou o bismuto.

Sessão de 17 de Maio de 1935

Presidida pelo Dr. Roberto Oliva e secretariada pelos Drs. Mattos Barreto e Otoniel Bueno Galvão (ad hoc, na ausencia do 2.º Secretario), realisou-se no dia 17 de Maio a quinta sessão ordinaria da Secção de Oto-rino-laringología da Associação Paulista de Medicina.

No expediente pediu a palavra o Dr. Homero Cordeiro, que fez o necrologio do Professor Guglielmo Bilancioni, catedratico da Clinica Oto-rino-laringologica na Faculdade de Medicina da Universidade de Roma e terminou pedindo que se consignasse na áta um voto de pesar pelo seu falecimento, o que foi unanimente aprovado.

ORDEM DO DIA:

1.º) DR. MARIO OTTONI DE REZENDE (S. Paulo) -"Sobre a questão da cura cirurgica radical das sinusites frontais cronicas. Como evitar os resultados decepcionantes (Conferencia). (Este trabalho será publicado na integra no proximo numero).

Dr. Homero Cordeiro: Como bem frisou o Dr. Maio Ottoni na sua bela conferencia, a obliteração precóce do canal fronto-nasal é a causa principal das recidivas, tão desagradaveis ao doente como ao cirurgião. Seifert, seu antigo mestre na Charité, de Berlim e atual professor catedratico de O. R. L. em Kiel, em publicação não muito recente, diz ter conseguido evitar esse inconveniente, deixando como dreno nesse canal, um tubo de borracha de chupeta de creança cortada na sua ponta, ficando presa dentro do seio, a parte dilatada correspondente a argola. Esse dreno deverá ficar in loco, de 3 a 6 meses, até completa cicatrisação da mucosa. Para Seifert, os resultados foram bastante satisfatorios.

Dr. Gabriel Porto: Pede a palavra para felicitar o Dr. Ottoni pela sua brilhante exposição, verdadeiro "mise-au-point" da questão da cura cirurgica das sinusites frontais.

Dr. Mattos Barreto: Deseja frizar a questão da associação do processo externo com o endonasal, nos casos de sinusite cronica. Acha que os processos endonasais satisfazem plenamente em mais da metade dos casos e hoje em dia ninguem deixa de fazer o esvasiamento do etmoide e o alargamento do canal fronto-nasal na cura radical da sinusite frontal cronica. Cada caso tem que ser individualisado e não se pode ter um unico processo para todos os casos.

2.º) DR. MATIAS ROXO NOBRE (S. Paulo) - "Tratamento dos portadores de bacilos diftericos pelos Raios X".

Resumo: O A., depois de se referir ás indicações da Roentgenterapia no campo oto-rino-laringologico, mostra as possibilidades do tratamento pelos raios X nos processos infecciosos.

Apresenta o resultado dos seis primeiros casos de transmissores de germens da diftería que teve ocasião de tratar. Mostra a grande vantagem da divulgação de um meio eficiente de esterilização da garganta e do nariz de creanças e adultos, que tendo tido uma difteria, continuam a manter os germens, sofrendo a ação das toxinas que estas produzem, e, alem disso servem de elemento de propagação de tão grave molestia, principalmente quando da forma crupal.

Documenta a benignidade do meio de cura, com a verificação dos casos que tratou e com as estatisticas do mesmo tratamento feito no estrangeiro, alem da grande experiencia que já existe da irradiação das amigdalas, indicando a roentgenterapia como tratamento não só para as infecções diftericas, mas tambem nas demais infecções amigdalianas, em casos que apresentam contra-indicação ao tratamento cirurgico.

DISCUSSÃO:

Dr. Mario Ottoni de Rezende: Pergunta como se deve interpretar os dois termos empregados pelo Dr. Rôxo Nobre: transmissores e portadores de germens.

Dr. Matias Rôxo Nobre (respondendo) : Transmissores são os individuos que tiveram diftería em estado agúdo e que depois de curados continuam apresentar germens, e portadores são os individuos, que sem ter tido a molestia, apresentam os germens na cavidade nasal e na faringe.

Dr. Mario Ottoni de Rezende (continuando): Diz que o estudo apresentado é indiscutivelmente de real valôr, pelo facto da dificuldade de medicação nos individuos portadores de germens na cavidade nasal e faringe, pela terapeutica usual. E interessante o que se faz na Russia, aplicando a radioterapía em casos de difteria. Acha que esse tratamento deve ser feito com muito cuidado, principalmente em creanças de tenra idade, pois é sabido a grande sensibilidade do tímo aos raios X. Quanto as irradiações sobre as amigdalas, precisa-se ter cuidado com as glandulas salivares, para não prejudicar suas funcções.

Pede ao Dr. Rôxo Nobre para continuar nos seus estudos e observações sobre esse novo processo terapeutico apresentado, para que se possa ter um meio de diminuir a hospitalisação dos doentes de diftería, tornando-os mais economico.

Dr. Gabriel Porto: Considera o estudo interessante sob o ponto de vista terapeutico e cientifico. Quanto ao ponto de vista profilatico, julga não ter muito valôr pratico, porque a profilaxía hoje em dia, visa mais a defeza individual do que em massa. A esterilização dos portadores de germens de diftería pelas irradiações seria dificil e carissima; o mais pratico seria a vacinação (ana-toxina de Ramon) que não dá reacção e é muito vantajosa.

Dr. Francisco Hartung: Acha interessante o trabalho principalmente pela possibilidade que oferece para se resolver certos casos clinico, como por exemplo nos que ha contra-indicação da amigdalectomía (tuberculóse, nefrite etc.) Nesses casos pode-se fazer irradiação das amigdalas.

Dr. Roberto Oliva: Diz que não são excecionais os casos de portadores e transmissores de germens, nos quais não se consegue esterilisar o nasofaringe pelos metodos comuns. De modo que o processo relatado pelo Dr. Rôxo Nobre, deve ser aplicado nesses casos e deve ser de uso mais corrente na especialidade.

Dr. Matias Rôxo Nobre (encerrando a discussão): Diz que exitou em apresentar sua comunicação com uma documentação tão pequena, com numero de casos tão limitado, mas assim procedeu porque este era o unico meio de divulgação desse processo de estrilisação do naso-faringe dos portadores e transmissores de germens da difteria. Quanto a tecnica empregada, irradiou as amigdalas de um lado e de outro, irradiando em todos os casos o nariz. Na irradiação das amigdalas empregou a tecnica usada para os casos de tonsilete cronica, tendo o cuidado de não lesar as glandulas salivares; para isso, limita sempre o campo de irradiação.

Quanto aos acidentes de ordem geral, não pode dizer nada pessoalmente; mas os americanos dizem que não ha constatação de caso algum mau em consequencia da irradiação das amigdalas.

Respondendo ao Dr. Porto, diz que reconhece na vacinação, desde que praticada em grande escala, um recurso de grande valôr na pratica; mas pode-se perfeitamente empregar a vacinação nos que não tiveram ainda a doença e irradiar os que já tiveram a difteria, agredindo assim o problema pelos dois lados com melhores resultados.

Quanto á irradiação das amigdalas em casos de tuberculóse, só terá possibilidade de tentá-la, quando o processo tiver maior divulgação entre nós.

3.º) DR. EURICO BASTOS (S. Paulo) - "Fistulas medianas do pescoço". (Este artigo sae na integra em outra secção desta revista).

DISCUSSÃO:

Dr. Mario Ottoni de Rezende: Salienta que casos de cistos poem em jogo a paciencia do doente e do medico, tendo que se repetir a operação varias vezes. O Dr. Bastos provando com a sua comunicação que não existe um canal ligando o cisto á base da lingua, mostrou que esses casos são mais facilmente curaveis do que geralmente se pensa, a-pesar-de nem sempre ser facil a intervenção.

Dr. Roberto Oliva: Deseja frizar que o Dr. Bastos foi feliz nos seus casos, que não deram recidiva. A extirpação dessas fistulas é, ás vezes, impossivel, pois podem ter um orificio interno a grande distancia, no esofago e faringe.

SOCIEDADE RIOPLATENSE DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA

IX.º REUNIÃO ANUAL, EM MONTEVIDÉO, NOS DIAS 11, 12 E 13 DE JANEIRO DE 1935.

Sob a presidencia dos Professores Antonio R. Zambrini e Justo Alonso, realisou a Sociedade Rio Platense de Oto-Rino-Laringología a sua IX.° Reunião anual nos dias 11, 12 e 13 de Janeiro ultimo, na cidade de Montevidéo.

Foram apresentados os seguintes trabalhos:

DR. J. M. TATO - "Sindrome de Gradenigo".
R. PODESTÁ - "Sobre algumas relações anatomicas importantes da ponta da piramide do osso temporal".
PROF. E. SEGURA - "Criterio com que se deve tratar a mucosa dos seios paranasais nas intervenções por sinusites cronicas".
PROF. J. ALONSO - "Monocordites".
PROF. ZAMBRINI E DR. CASTERÁN - "Algumas considerações sobre os nodulos das cordas vocais".
DRS. A. SANTORO E R. PIETRA - "Contribuição ao tratamento das complicações orbitarias das sinusites".
PROF. R. V. BECCO E DR. C. CINI - "A anestesía pelo Eucodal combinado em Oto-rino-laringología".
DRS. J. C. MUNYO E R. CURBELO - "Evipan sodico em creanças menores de 10 anos".
DR. R. PODESTÁ - "Lesões experimentais da capsula óssea laberintica mediante o emprego de fortes doses de Vigantol".
PROF. J. MARINHO E DR. A. MONTEIRO - "Do tratamento curativa do bismuto nas anginas agúdas".
DR. H. BISI - "Os abcessos para-tonsilares hemorragiperos".
DR. J. M..LOPEZ - "Comprovação experimental da migração retro-esti-liana do abcesso peri-amigdaliano".
PROF. E. M. CLAVEAUX - "Tratamento local da difteria. Fundamentos, tecnica e resultados da Antivirusterapía".
DR. M. G. LOZAS - "Contribuição ao diagnostico do cancer pulmonar.
Broncografía contrastada e endoscopía oral".
PROF. S. L. ARÁUZ E DR. J. DEL SEL - Resultados obtidos com os diversos instrumentos para endoscopía oral no serviço do hospital Rawson (Buenos Aires)".
DR. J. C. MUNYO - "Um caso para diagnostico".
PROF. P. REGULES - "Considerações sobre o tratamento da rinite purulenta crônica".
DR. E. NATTINO - "Tuberculóse do ouvido medio".
PROF. P. ERRECART - "Reflexo nasal, leococitos e equilibrio acido-basico".
DRS. R. BERGARA E J. I. DEL PIANO - "A chamada paralisia facial á frigore".
DRS. H. BISI E R. WERNICKE - "Os bocios aberrantes da base da lingua; seu diagnostico e tratamento".
DR. A. RIQUEBOURG - "A amigdala lingual".
DRS. N. CAUBARRERE E H. CANESSA - "A radiografia contrastada da parotida".
PROF. C. BERGARA E DR. R. BERGARA - "Resecção do nervo maxilar superior por via transmaxilar nos casos de nevralgía facial essencial".
PROF. C. BERGARA E DR. R. BERGARA - "Relações do ouvido medio com a ponta do rochedo no recem-nascido".

A' esse certamen cientifico compareceram inumeros especialistas argentinos e uruguaios. Os relatores brasileiros, Prof. J. Marinho e Dr. Aristides Monteiro, por motivo de força maior, não puderam vir á Montevidéo, sendo aos mesmos enviado uma moção, aprovada unanimemente, na qual era expressa o pesar da assembléa de não ter podido contá-los em seu seio.

Os trabalhos apresentados serão publicados "in extenso", parte nos "Anales de Oto-Rino-Laringología del Uruguay" e parte na "Revista Argentina de Oto-Rino-Laringología".

Os oto-rino-laringologistas brasileiros, especialmente convidados, por motivos varios e imprevistos de ultima hora, não puderam, infelizmente, aceder a tão gentil convite, mas esperam nas proximas reuniões ter o agradavel prazer de figurar entre os seus distintos colegas platinos.

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