Versão Inglês

Ano:  1952  Vol. 20   Ed. 4  - Julho - Agosto - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 120 a 141

 

RELAÇÃO ENTRE A OTORRINOLARINGOLOGIA E A ENDOCRINOLOGIA ATRAVÉS DO DESGOVERNO CAPILAR(*) - PARTE 2

Autor(es): DR. J. G. WHITAKER

Sinusites e rinites vasomotoras ocupam o segundo e terceiro lugar, com 28 e 15 casos respectivamente, dentre as 83 submetidas a doseamento, havendo, ainda, quatro casos de ozena e um de gagueira.

Nos 28 casos de sinusite, em pacientes de 18 a 44 anos, 26 apresentavam desequilíbrio glandular, predominando diminuição de gonadotrofina e de estrógenos. Das 28 pacientes, 17 beneficiaram-se consideravelmente com o tratamento hormonal, de acôrdo com a sintomatologia especial por nós descrita. Três pacientes não melhoraram com tratamento hormonal. Com o tratamento cirúrgico curam-se duas; e, com o estimulo local da fagocitose, uma. Cinco não chegaram a usar hormônios porque sararam com tratamento pelo estímulo local da fagocitose. Uma, somente, não melhorou com tratamento algum.

Todos os quinze casos de rinite vasomotora (8 a 39 anos) apresentavam sinais clínicos de desequilíbrio hormonal. O doseamento confirmou o diagnóstico em treze, alcançando, Pitressin e Proluton, os melhores resultados. Duas pacientes, com doseamento normal, sararam com vitaminas C e P.

Os quatro, casos de ozena (de 17 a 32 anos) apresentavam sinais de desequilibrio glandular. Em tôdas as pacientes, havia diminuição de gonadotrofina e estrógeno, sendo normais os andrógenos; três não fizeram doseamento de corpo amarelo, e em uma se verificara grande queda dêsse hormônio. Das quatro, três melhoraram com estrógeno e uma com lobo anterior.

Com gagueira apresentaram-se apenas uma paciente, com sinais clínicos diminutos de desequilíbrio glandular; nela o doseamento de hormônios mostrou diminuição das gonadotrofinas, do estrógeno e do corpo amarelo, sendo normais os andrógenos. Sua cura deu-se com Progynon e Pitressin, persistindo quando a vimos um ano depois.

A administração de hormônio, quando há deficiência, elimina rapidamente os sintomas, dentro de uma ou duas, horas, subsistindo o efeito por vários dias, exceto nos casos de rouquidão e ozena. A dose é de 1 mg para o estrógeno e 10 mg para o corpo amarelo em instilações nasais ou, mais eficientemente ainda, em nebulizações traqueais jamais usamos injeções intramusculares.

Os hormônios sexuais empregados foram o Progynon de 1 mg, o Proluton de 10 mg e o Testoviron de 10 mg fabricados pela"Schering". O hormônio do lobo anterior tem sido, desde alguns anos, o Pregny1 de 500 U. 1. (Gonadotrofinas coriônica), preparado de urina de mulheres grávidas, do laboratório "Organon", sendo substituído por água destilada o solvente que o acompanha e que irrita a mucosa nasal por conter fenol. Anos atrás usamos a Gonadotrofinas hipofisária "Squibb" e, sobretudo, a Foluteina "Squibb" (Gonadotrofinas Coriônica), de 5.000 Unidades.

Não é demasiado lembrar, nestes relatos clínicos, que nosso tratamento não foi EXCLUSIVAMENTE hormonal. Tratando-se de observações "in anima nobile", era impossível o estabelecimento de grupos experimentais, rigidamente separados e controlados por "testemunhas". Houve tratamento acessório das inflamações de nariz e garganta, pelo estimulo local das defesas naturais, as quais, aliás, em ultima análise, envolvem também os capilares (nossa Tese de 1947). O tratamento hormonal, entretanto, nos casos que apresentamos a seguir, constituiu o fator decisivo da cura.

Observação n.º 9 - O. de M., 7-1-15148, branca, 32 anos, brasileira. Ha 18 meses com fortes dores do lado esquerdo do rosto e região occipital do mesmo lado, piorando nos resfriados. Em Lisboa, onde reside atualmente, disseram-lhe não se tratar de sinusite, mas de nevralgia. Diagnóstico: Etmoido-esfenoidite crónica; desgovêrno capilar (hipófise, ovário, alma). Enquanto se aguardava a colheita de urina para o doseamento de hormônios, foram feitos três tratamentos de estimulo local da fagocitose para o nariz, com resultados bons, mas fugazes. O uso de Pitressin trouxe logo melhoras para a sede e, sobretudo, para o sono. O Proluton de 5 mg, instilado no nariz, determinou melhora acentuada da nevralgia, que parecia ser devida à sinusite. No espaço de três meses, a paciente fez treze tratamentos: Pitressin e corpo amarelo isoladamente, ou em conjunto, conforme a sintomatologia do momento, eram instilados no nariz e ionizados durante 15 minutos (os hormônios, mesmo em pó, instilados no nariz, são ionisaveís conforme resultados que verificamos em alguns casos). Tendo feito, nesse período, curta permanência no interior do Estado, usou, então, o Proluton em comprimidos, com bons resultados, sobretudo quando as nevralgias ameaçavam voltar. Quatro meses depois, havendo regressado à Europa, escreveu-nos relatando que, tendo voltado as dores, e à vista do bom resultado do uso de hormônios, proctirara na Espanha, o Prof. G. Maranõn. Este conhecido endocrinologista declarou por escrito que, "a mi juicio sus molestias se deben a un estado de insuficiencia pre-hipofisaria". Permitiu-lhe comer de tudo, e bastante, recomendando especialmente alimentos "tos mas salados possible" Prescreveu ainda o seguinte tratamento: Durante uma semana três injeções de Proluton; na semana seguinte, um comprimido de tireóide diariamente, e, em jejum, ou, depois das refeições, uma colher de complexo B; na terceira semana, três injeções, em dias alternados, de Percorton; na quarta semana, de novo, tireóide e complexo B. A medicação devia ser repetida na mesma ordem durante seis meses, suspendendo-se nos dias de incômodo. Em dezembro de 1950, procurou-nos por causa das; amígdalas, contando, então, ter passado bem, sobretudo no período de uma gestação que no intervalo ocorrera; entretanto, não pudera suportar a tireóide prescrita por Maranõn, e, de suas outras indicações, fez uso apenas do Proluton, aliás, em grande quantidade.

Observação n.° 10 - 24 de Maio de 1944. G. C:; branca, 24 anos. Queixava-se de dores de cabeça, nariz obstruido, espirros, expelindo às vezes do rinofaringe um catarro grosso cor de chocolate. Por esse motivo, em 1937, foi operada de sinusite maxilar e frontal (endonasal) lado esquerdo, tendo-lhe sido dito, então, que, no sinus maxilar nada fora encontrado, ao passo que do frontal fôra retirado um pólipo. Radiografias feitas três dias, depois da consulta revelaram opacidade do sinus maxilar esquerdo, por espessamento da mucosa, e diminuição da transparência dos sinus esfenoidais A paciente apresentava evidente manifestações de desgoverno capilar: falta de sono, unhas frágeis, discreto edema geral, um pouco mais acentuado no rosto, e que fazia com que os anéis e as digas das meias deixassem impressões nos dedos da mão e nas coxas; sensibilidade exagerada da pele, bastando a barra da saia tocar as panturrilhas para causar dores, que por vezes a retinham em casa; era chamariz de pulgas e piolhos, nos cinemas e nos cabeleireiros (o tal "sangue doce" da expressão popular) . Além disso queixava-se de secura na pele do rosto e nos, cabelos, e de frio nos pés e nas mãos, o que nós acostumamos a encontrar na deficiência de estrógeno. O doseamento de hormônios mostrou grande diminuição de estrógeno e de gonadotrofina, e, em menor escala, dos andrógenos. O tratamento foi iniciado com Pitressin, que a própria paciente aplicava sôbre o clitóris, 3 gotas, três vezes por dia, pois que a instilação nasal provocava forte reação, com muitos espirros, obstrução e dores locais. Voltou um mês depois, desinchada e parecendo até mais moça, queixando-se, porém, de que e Pitressin lhe provocava dores de cabeça e aumentava a sêde, em lugar de diminuí-la, fato único em nossas observações. Algumas pitadas de sal sobre a lingua (vêr adiante) removeram êsse inconveniente. O dietilestilhestrol foi tentado, mas, mesmo na dose de um comprimido por dia, ao cabo de três dias, provocara grande intolerância: fortes tonturas, antecipação do incômodo e pela primeira vez etílica ovariana. Não foi feita outra medicação para a deficiência estrogênica. Cinco meses depois do tratamento com Pitressin, a paciente apresentou negativas as radiografias tiradas para controle das sinusites. Melhorou de todos os sintomas de desgovêrno capilar, mesmo dos que pareciam decorrer da deficiência em estrógeno. A medição de sua pressão arterial feita especialmente em atenção à quantidade de Pitressin usada, demonstrou a maxima de 10 e a mínima de 7. A paciente referiu que um lipoma (lobinho), que tinha na cabeça, parára de crescer. Os espirros manifestavam-se então somente por ocasião do incômodo.

Observação nº 11 - Y.S.C. (26), branca. Em setembro de 1937, contando 22 anos, vemo-la pela primeira vez com uma otite média aguda, que supurava à esquerda. Voltou em março de 1943, com dores no mesmo ouvido esquerdo, cefaléias e tonturas, audição dêsse lado reduzida a 10 cms., para voz murmurada, sem nistagmo espontâneo. Como na primeira vez, a causa da otite era uma etmoido-esfenoidite supurava. Tratada por estimulo local da fagocitose, experimentou melhora imediata no ouvido. Em outubro do mesmo ano, sete meses depois, apresentou-se novamente com cefaléias, fortes vertigens rotatórias, e vômito.Não havia nistagmo espontâneo, nem abaulamento da parede posterior-superior do conduto auditivo externo, nem sintoma de fístula. O diagnóstico foi, entretanto, labirintite serosa. Sarou, ainda desta vez, com o mesmo tratamento da antiga etmoido-esfenoidite, que persistia por causa do abuso de hidratos de carbono na alimentação. As melhoras foram rápidas, mas, uma semana depois, tendo lavado a cabeça, voltaram vertigens e cefaléias, que, todavia, no dia seguinte desapareceram com o mesmo tratamento. Em junho e setembro de 1944, repetiram-se exatamente os mesmos fatos pelas mesmas causas, sendo a paciente advertida, outra vez, acerca de sua orientação no comer. Valeu por tempo bastante longo esta advertência, mas pouco antes de junho de 1946, voltou a ter tonturas muito fortes e dores na região mastóidea esquerda. Verificamos então a existência de um colesteatonia supurado; havia, alem disso, três furúnculos no couro tabelado. Tratamento exclusivamente de sulfas, foi igualmente rápido nos efeitos. Em março de 1947, manífestou-se supuração intensa e com sangue do ouvido esquerdo, dores na mastóide e em tôda a metade esquerda da cabeça, vertigens fortes. Estas manifestações datavam de varios dias, não tendo a paciente vindo antes pela relutância em confessar ter desobedecido completamente nossas instruções profiláticas, de cuja eficiência estava agora convencida. Desta vez aconselhamos operar a mastóide, ao que recusou-se por ter perdido um irmão em conseqüência de intervenção idêntica. Em setembro de 1949, decidiu-se, porque recomeçara a ter tonturas, embora sem cefaléias e sem supuração do ouvido. O ouvido, porém, estava sêco, não havendo vestígio do colesteatoma, de modo que perdera razão a indicação operatória. Suas vertigens não eram produzidas por labirintite serosa, como das outras vezes. Encontravam-se agora sinais acentuados de desgovêrno capilar - gengivite e inflamação do palato mole, também do lado esquerdo, insônia, fragilidade das unhas da mão. Nebulisação traqueal de cálcio (uma ampola de 5 cm3, a 10%) adicionado de 10 gotas de Ptressin, deu-lhe, no próprio consultório, bem estar imediato, Fez mais cinco tratamentos, com intervalos de três dias, tempo que duravam as melhoras. Numa das vezes queixou-se de secura na pele das mãos e do roto e de frio exagerado nos pés; além do cálcio e Pitressin, fez nesse dia nebulização traqueal de uma ampola de Progynon de 1 mg, com o que, passando o frio e desaparecendo a secura, sentiu-se tão bem que chegou em casa "assobiando". Em fevereiro de 1950, a bordo de um avião, teve um desmaio, encontrando-se nos dias seguintes deprimida, com acessos de choro: Pitressin e Proluton restabeleceram o bem estar. Em outubro do mesmo ano sentiu tonturas fortes, sem supuração do ouvido e sem cefaléias, mas seu médico internista, consultado, julgou tratar-se do labirinto. Nesta vez, porém, havia carência dos hormônios hipofisários, como o demonstrou ó êxito imediato da instilação nasal de Pregnyl e Pitressin Durante o ano teve várias crises de desânimo, choradeira, frio excessivo, procurando-nos com freqüência e obtendo sempre alívio imediato com Progynon e Proluton. Em março de 1951 extraiu um dente, sentindo logo após fortes vertigens uma só instilação nasal de Pitressin e uma nebulização traqueal de Proluton puzeram-na boa no mesmo dia. Este caso é elucidativo da importância do conhecimento dos sintomas do desgoverno capilar, permitindo distingui-los com segurança d'aqueles que são provocados por infecções perto do cérebro. Foi, portanto, evitada uma operação grave, livrando-sé ao mesmo tempo a paciente de inúmeros pequenos sofrimento; peculiares ao seu sexo.

Observação n.º 12 - M.E.R., branca, portuguesa, 31 anos de idade. 5-IX-1944. Má muitos anos queixava-se de obstrução nasal, tendo sido operada sem resultado; e, também, de dores no globo ocular direito, assaduras, falta de sono, lobinhos (lipomas) no antebraço esquerdo e nas costas, depósito adiposo acentuado na barriga e nas ancas, sensibilidade cutânea excessiva e tão aguda que sentia doloridas as coxas, quando faziam saltar ao colo o mais novo de seus quatro filhos, que tinha então nove meses. Incômodos atrasados e com cólicas. Diagnóstico: sinusite crônica maxilar-etmoídal e desgoverno capilar. O tratamento consistiu em estímulo local da fagocitose, para a sinusite, e Pitressin para o desgoverno capilar. Duas semanas depois, havia-se desinfiltrado, o bastante, não somente para sentir que as roupas se haviam tornado largas, como para clamar a atenção das pessoas de suas relações. Ocorrendo, porém, duas recidivas de sinusite, com fortes dores reumáticas nas mãos e nos joelhos, em uma delas aconselhamos a operação endonasal. Em 5-11-1945, foi operada de Mickulicz-Krause, no maxilar direito (nas duas recidivas tivera sinais de sinusite maxilar), sendo o etmoide e esfenoide direitos operados por via endonasal pelo método de Hajek. O decurso pós-operatório foi normal, mas, nove dias depois, reapareceram dores intensas no lado direito do rosto. Não melhoraram com AR analgésicos habituais, mas a instilação nasal de Pitressin, teve sucesso imediato. Dois dias depois voltaram as mesmas dores, desta vez irradiando-se do segundo pré-molar superior direito. Esse dente vinha atormentando a paciente há algum tempo, sem que clínica ou radiológicamente, se apurasse a causa. A ionisação com KI 20% (nossa Tese de 1947), tendo trazido alívio imediato, decidiu-se o dentista a extraí-lo. No meio tempo revelou o doseamento de hormônios forte diminuição de estrógeno: embora a paciente não apresentasse os sinais que descrevemos, foi feita instilação desse hormônio no nariz. O efeito, porém, foi inesperado, pois apareceu forte rinite purulenta. Instilado hormônio masculino, estancou a secreção purulenta, provocando, porém, atrofia da mucosa e forte mau cheiro no nariz, por três dias, ao cabo dos quais restabeleceu-se o equilíbrio. Os hormônios sexuais foram suspensos, o Pitressin foi empregado ainda cerca de três vezes e a paciente teve alta. Seis anos depois, continuava otimamente, sem obstrução nasal, resfriados, ou dores de cabeça, nem tão pouco atraso e cólicas na menstruação, assaduras e hipersensibilidade nas coxas. Haviam-lhe nascido mais dois filhinhos. Este caso é interessante pelos efeitos do tratamento hormonal; que perduraram por seis anos, e pela influencia inesperadamente desfavorável, embora fugaz, dos hormônios sexuais sobre a mucosa nasal. Foi, aliás, o único caso em que verificamos tais efeitos.

Observação n.° 13 - E.P.B., branca, 16 anos de idade, apresentando-se, em 26-IV-1934, com rinite vasomotora, colheu proveito com a galvano-cauterisação da mucosa das conchas inferiores. Cinco anos depois voltou a ter obstrução nasal e cefaléias. A radiografia revelou sinusite no lado direito. Fez uso de penicilina, em injeções e pelo aerosol, sem resultado. De estatura média, com o panículo adiposo normal, e pele seca obrigando o uso constante, de pomadas; queixava-se de frio nas mãos e nos pés, que tinha "gelados" mesmo no verão; os cabelos rachavam nas pontas, caindo, algumas vezes, em abundância; incômodos durante quatro dias, acompanhados de fortes cólicas e irritabilidade nervosa; em certos meses, crises de choro e grande depressão, com dores de "cadeiras" irradiando pelas pernas, obstruindo-se o nariz. Freqüentemente tinha dificuldade em adormecer, muita séde e fragilidade das unhas, da mão. Com administração de Pitressin, Progynon e Proluton, experimentou rápidas melhoras, que perduraram cêrca de um mês. Ao aproximar-se o incômodo sentiu-se novamente irritadiça, com secura na boca e na pele, secreção nasal aquosa, seios doloridos e aumentados. A nebulisação de uma ampola de Progynon restabeleceu a normalidade, dentro de uma hora. Alguns dias depois o incômodo apareceu sem cólicas e a paciente sentia-se eufórica, tendo desaparecido todos os pequenos males dependentes da disfunção ovariana e que eram cortejo das cefaléias. Quatro meses mais tarde, de volta de uma viagem aos EE. UU., onde apanhara um resfriado, aliás rapidamente curado, continuava passando muito bem.

Observação n.° 14 - E.G.B. (27), branca, 6-IV-1950, austríaca, 30 anos de idade. Exemplo interessante da influencia de estados de alma. Desde a infância tivera eczema em ambos os ouvidos, tendo sido tratada em Viena pelos Profs. Alexander e Neumann, e por um deles operada de amígdalas e adenoides. Em São Paulo, estava em tratamento há mais de um ano. Queixava-se de fortes dores no ouvido direito, com coceira em ambos os ouvidos e corrimento de líquido amarelado e fétido. Em ambos apresentava eczema crônico, exacerbado. Havia sinais clínicos de etmoidite crônica. Sendo o eczema uma das manifestações de desgovêrno capilar (O. Müller), pesquisamos outras, encontrando-as de ordem hormônal e psíquica. For conta de hipofunção do lobo anterior deviam correr as frieiras entre os dedos do pé e também entre os da mão, e junto ao valo ungueal; bem Como os engasgos, os dentes abalados, as gengivites, de que antes padecera. Por conta da insuficiência do lobo posterior corriam - mau sono, "sangue doce" atraindo parasitos, unhas fracas, e habitos de roê-las. De estrógeno insuficiente provinham - frio exagerado nos pés, secara acentuada na pele do rosto e também nos cabelos, com quéda abundante em certas temporadas, e, finalmente, irritabilidade agressiva sobretudo nos incômodos. A deficiência em corpo amarelo determinava forte corrimento vaginal nos intervalos. Operada do útero, teve as tropelias ligadas, há cerca de um ano, tornando-se, desde então, mais irritadiça. As circunstâncias seguintes ligavam-se ao estado de alma: Desde pequena fôra teimosia desagradável, segundo informava a mãe; aos 16 anos atirou-se ao Danúbio, sendo salva com dificuldade; e até hoje sente, nos seus desânimos, desejos de suicídio. Frigidez sexual e repulsa física pelo marido. Nas desavenças domésticas o eczema piora e tapa-se o nariz. Seu modo materialista, quasi pagão, de encarar a vida, estava em permanente conflito com a religião que ostensivamente professava. O tratamento hormonal e o psíquico foram decisivos na sua cura. O Progynon foi de grande utilidade para o eczema, em nebulisações traqueais e dirétamente no conduto auditivo. Para a coceira do eczema a mistura adrenérgica (cocaina, atropina, adrenalina, conforme nossa Tese de 1947), aplicada em casa, sempre me trouxe alívio. O tratamento psicoterápico, consistindo na crítica de sua atitude conjugal e da contradição de sua vida com o espírito de sua religião, fez-lhe forte impressão. Um mês depois, enviou-nos pequena lembrança, com um cartãozinho em que se refería á surpresa que tivera "com a franqueza do diagnóstico e a eficiência do tratamento". Decorrido outro mês apresentou-se para que verificássemos o desaparecimento do eczema dos dois ouvidos e dos seus pequenos transtornos hormonais. Passado um ano, o eczema não voltara e considerava-se boa "de tudo", significando com isso que colhera bons resultados no esforço que fizera para melhorar a vida intima.

Observação n.º 15 - L.S.V.C., branca, 32 anos de idade, outubro de 1949. Sujeita a catarros e obstrução de nariz, não tendo tido alívio com a operação de septo e das amígdalas e nem com o uso de vacinas anti-catarrais. Bem constituída fisicamente, mas já de cabeça branca, o que nos levou a pesquisar sinais de desgoverno capilar, encontrando-os poucos e esparsos. Dormia pouco e confessava-se nervosa. Em passado remoto tivera urticária c púrpura. O doseamento de hormônio; revelou queda do gonadotrofinas, e de estrógenos. Pitressin trouxe-lhe em poucos dias, melhor sono e diminuição do catarro retro-nasal, que antes não cedera ao estímulo local da fagocitose. Voltou em janeiro de 1951 com otite média aguda bilateral e sinusite posterior subaguda; e também desta vez o estímulo local da fagocitose não teve efeito. Acusando, então, a paciente sensação de secura nas mãos e na garganta, foi instilada no nariz 1/2 ampola de 1 mg de Progynon, aplicando-se em seguida banho de luz com o caixote de Brütnings. O tratamento foi repetido no dia seguinte, com melhora nos ouvidos e na secura da garganta e das mãos e sensação geral de alívio. Alguns dias depois em véspera de incômodo, teve coriza, espirros e uma dor forte na região peitoral direita, sem encaroçamento, sintoma, aliás, que, anos antes, alarmou seu pai, que é cirurgião, pela suspeita, felizmente não confirmada, de um câncer mamário. Progynon foi nebulizado na traquéia (1 ampola de 1 mg) e administrado um comprimido de antihistaminico Coristina. Cinco dias depois voltou para informar que a rinite tinha desaparecido e a dor axilar diminuido. O incômodo, porém, atrazara e a paciente sentir-se desanimada, com vontade de chorar. Uma ampola de Proluton 10 mg fez cessar esses sintomas, descendo o encomodo dois dias depois. Voltando na menstruação seguinte, verificamos não necessitar de tratamento algum, o que se confirmou nas duas menstruações subseqüentes.

Observação n.º16 - M.C.C.A. Realça, atualmente com 42 anos de idade, residente no estrangeiro. Sofre de sinusite desde 1934 e tem sido nossa cliente nas suas estadas em São Paulo. Desde 1947 vinha tendo na época do incomodo um caroço dolorido no seio esquerdo, tendo-se pensado em biópsia. Sofria de corrimento vaginal que provocava irritação acentuada no penis do esposo. A dor no seio e o caroço desapareceram com o Progynon nebulizado na traquéia sendo êsse tratamento repetido nas três estadas que fez em São Paulo. O corrimento vaginal também foi tratado na mesma ocasião, cedendo com Proluton nebulizado na traquéia. Com êsse tratamento a paciente passou grande temporada bem disposta, animando-se à fazer com sua família uma excursão ao estrangeiro, durante a qual engravidou, após intervalo de 9 anos. As cefaléias desapareceram. Além disso, o depósito de gordura na parte lateral das coxas diminuiu bastante com Pitressin em instilações nasais.

Outro caso de "caroço", em ambos os seios, foi o de uma senhora solteira de 46 anos, operada em 1947 e 1949 pelo receio de câncer, revelando o exame histo-patologico dos dois "caroços", maiores que nozes, tratar-se de fibro-adenoma intracanalicular benigno. Em Novembro de 1951 procurou-nos com uma sinusite fronto-maxilar direita. Apresentava, ao mesmo tempo, calculose biliar, desgoverno capilar e estafa moral, agravada péla volta dos caroços. Além do estimulo local da fagocitose, fez uso, por via intratraqueal, de Cortexon (3 ampls. de 5 mg) Testoviron (5 ampls. de 10 mg), Proluton (1 ampl. de 10 mg) e Progynon (28) (3 ampl. de l mg), aliviando-se logo a dor de cabeça e desaparecendo os "caroços" ao cabo de um mês. Continua em observação (março 1952), devendo ser operada da vesícula biliar.

2-b) NO HOMEM

No homem adulto, como já fizermos notar, as manifestações de desgoverno capilar são menos freqüentes e menos intensas do que na mulher. Sintomas mais encontradiços são as frieiras, suor nos pés, sono deficiente, lobinhos, unhas frágeis, tendência ao "doublé menton". Lembremos que frieiras, aftas, "doublé menton", lobinhos, estomatites dependem de hipofunção do lobo anterior; sono deficiente, ou insonia, sêde exagerada, unhas frágeis, de insuficiência do lobo posterior. Esses sintomas são pronunciados nos "tipos feminoides", normais em sua conduta e caráter, mas apresentando certos característicos femininos, como pele alva, boca pequena, cílios desenvolvidas, devotamentos exagerados, antipatias desarrazoadas, espírito vingativo e desagradavel, inclinação por afazeres domésticos. Sob o ponto de vista estritamente otorrinolaringológico, são freqüentes as inflamações de nariz, garganta e traquéia, desacompanhadas de sintomas graves.

Observação n.º 17 - Orador sacro, 37 anos de idade, branco, 26-1-1950. Voz irregular, ora grave, ora aguda, cansando facilmente quando em pregação. Sofrendo de uma "pelada" no queixo, aconselhou-lhe o dermatologista a pesquisa de fócos no nariz, garganta, ou dentes. Tem frieiras, sangram-lhe as gengivas, que, por vezes, se retraem. Na família, há vários casos de disfunção glandular; ele mesmo sentia frigidez sexual e anos atrás teve espermatorréia. Apresentando amigdalite e sinusite posterior cronica, foi tratado pelo estimulo local da fagocitose, e mais dez gotas de Pregnyl de 500 U. e cinco gotas de Pitressin, instilada no nariz, nebulização traquéa de uma ampola 10 mg de Testoviron, três vezes na semana. Em um mês o dermatologista: verificou melhora na pelada, com crescimento de pelos novos. Com mais um mês a vóz normalizou-se. Voltou ao especialista de pele, que considerou maravilhoso o resultado obtido, dando-o por curado da pelada. Partiu para a Europa, de onde voltou em março de 1951, livre da pelada, com a voz normal, podendo pregar por quatro horas seguidas, sem cansaço.

Observação n.º 18 - Sacerdote de 29 anos de idade, branco, 25-III-1947, forçado, por uma rouquidão de 9 anos, a abandonar a pregação. Mutação de vóz retardada. Na corda vocal direita, um pólipo pequeno mostrou-se irredutível e teve de ser operado. Continuou, porém, rouco. Referiu sofrer há quatro anos de dermatite na genitália e no anus. O doseamento de hormônios revelou diminuição acentuada de gonadotrofina e, muito acentuada; de andrógenos; mas, os estrógenos estavam normais. Testoviron de 10 mg, cada três dias e exercícios foniátricos, permitiam em dois meses melhorar da vóz que não mais enlouquece e não demonstra fadiga, ao pregar; passou o eczema, sente-se bem disposto; melhorou também das poluções noturnas, a que, aliás, antes não se referira. Em 20-VI-1951, fomos informados que sarara da vóz e da dermatite.

Observação n.º 19 - Sacerdote, branco, 34 anos de idade, em 27-XI-1944. Tipo pícnico, robusto, aparentando, porém, mais idade. Há 3 anos sofria da vista direita, onde teve derrame, descolamento da retina e perda da visão. Ameaçado, também, o olho esquerdo, o oculista, não encontrando etiologia, mandou pesquisar focos infecciosos. Verificamos etmoido-esfenoidite discreta. Tinha muitas assaduras, entre os glúteos, fortes tonturas, sobretudo ao celebrar. No Röentgen os sinus revelaram-se normais, havendo, porém, suspeita de tumor cerebral, que não se justificou posteriormente. O doseamento de hormônios revelou grande diminuição de gonadotrofina, grande aumento de estrógeno, e pequeno aumento de andrógenos. O paciente referiu, então, que, dentre os oculistas consultados, apenas um suspeitou de desequilíbrio hormonal, mas prescreveu hormônio heterogênico, com o qual piorou. Instilação nasal de Pitressin, e nebulização traqueal com Testoviron, 10 mg. Em nove tratamentos nada, mais sentia nos olhos; nem no rinofaringe. Em 1951, soubemos ter partido para a Europa, aparentemente curado.

Observação n.º 20 - R. C., branco, 29 anos de idade, 17-IV-1950. Sofria de gagueira desde os 6 anos de idade, após um susto. Forte, embora gordo, sobretudo na barriga. Muita sede; tontura ao abaixar-se; suor forte na cabeça e nos pés; frieiras; temperamento variavel; fraqueza genital. Tinha sinusite posterior e amigdalite crônica, não infecciosa. Instilações nasais de Pitressin e Pregnyl, por provocarem espirros e obstruem nasal por mais de 24 horas, foram substituidas pelas nebulizações traqueais, em dias alternados, durante dois meses, diminuindo a gagueira a ponto de chamar a atenção de seus companheiros na oficina mecânica onde trabalha. Tornou-se mais esbelto, e passou a sentir menos necessidade de beber agua. Em quatro meses de tratamento, acentuavam-se as melhoras da gagueira, desaparecendo tambem as tonturas, o suor nos pés. A virilidade tornou-se normal. As melhoras permaneciam em maio de 1951, quando o vimos pela ultima vez.

Observação n.º 21 - F. D. branco, engenheiro, em 1931 com 24 anos de idade. Após uma série de tratamentos médicos-cirúrgicos de sinusite, melhorou a ponto de resultarem negativas varias radiografias, embora subsistisse uma rinite. Em janeiro de 1945, queixando-se de vertigens, nauseas, suores, pés e mãos constantemente frios, rosto quente, sensação de cansaço e impotência genital, consultou vários médicos e seguiu vários tratamentos sem resultado. Não acusando focos nos dentes, nas amígdalas, nos sinais e no intestino, pedimos doseamento de hormônios, que revelou baixa acentuada de gonadotrofinas; andrógenos e estrógeno. Pitressin e Testoviron de 10 mg, e Cortexon 5mg, instilados no nariz e em seguida ionizados, trouxeram melhoras em poucos dias. Espaçando o tratamento, dois meses depois sentiu-se perfeitamente bem. Passados outros dois meses de simples expectativa, teve alta. As tonturas e a impotência não mais se haviam manifestado até novembro de 1951. Atualmente é ainda sujeito a alguns resfriados nasais com cefaléias frontais, aparecendo então frieiras, sêde e falta de sono. O uso de Pitressin e o estimulo local da fagocitose demonstravam-se eficazes quase com um só tratamento.

Observação n.º 22 - N. R., branco, 19 anos de idade, 17-I-1944. Secreção purulenta e fétida no nariz; atrofia da mucosa nasal à direita. As radiografias mostraram diminuição da luminosidade dos maxilares e etmoidais, sobretudo à direita. O estímulo local da fagocitose foi sem resultado. Tendo o paciente alguns pequenos sintis de desgoverno capilar, suor fétido nos pés, aftas e pouca atração sexual, usamos o lobo interior, (Foluteina 500 U.) em instalações nasais. Verificando alguma melhora, encaminhamo-lo um endocrinologista, que prescreveu o mesmo hormônio, em injeções. Posteriormente, o paciente de motu proprio voltou a usá-lo pelo nariz, pois sentia que o efeito era melhor. Poucos meses depois procurou-nos e encontrámos a mucosa nasal com aspecto normal. Referiu não ter tido mais secreção nem mau cheiro no nariz; não suava nos pés e, quanto ao libido, tornaram-se normal. Em abril de 1951, quando o operamos das amígdalas, pudermos verificar a estabilidade da cura do nariz.

Observação n.º 23 - L.R.R., de 19 anos de idade, branco. Desde os seis anos de idade sofria do nariz, de onde, há cerca de três colos, vinha expelindo constantemente e com abundância uma secreção espessa de côr amarelada, às vezes com máu cheiro, razão por que lhe foi recentemente aconselhada a sinusectomia. A rinoscopia anterior mostrou desvio do septo nasal, com esporão para à direita assim como alguma secreção amarela, em ambos os lados, mas sobretudo à direita, onde a murcosa na concha inferior, e, na média, se apresentava consideravelmente atrofiada. Nos dois meatos médios havia pequena quantidade de secreção sêca e amarela, e a respectiva mucosa apresentava-se lévemente edemacia. A rinoscopia posterior revelava também secreção amarela abundante e aderente ao teto e paredes laterais da rinofaringe. A suspeita de uma etmoidite foi confirmada pelas radiografias que revelaram, além disso, opaxidade de ambos os sinus maxilares. A observação feita por Ferreri (29) de que nos abstinentes, por insuficiência da função sexual, é freqüente a rinite atrófica, induziu-nos a interrogar a êsse respeito o jovem paciente, que confirmou sentir impotência completa desde poucos meses atrás. Não fizemos exame da genitália, mas encontrámos alguns sinais clínicos de hipofunção hipofisária: apresentava às vezes ligeira gagueira, sentia às vezes dentes abalados, frieiras, espinhas no rosto. O tratamento das sinusites consistiu apenas no estímulo local na fagocitose, e trouxe melhora logo na primeira vez, tendo sido repetido mais seis vezes no espaço de um mês. Desaparecidos os sintomas de que se queixava, foi-lhe dada alta, sendo normal sua virilidade. Não tendo sido empregado hormônio algum, êste caso é particularmente interessante por este ultimo efeito, logo após a melhora do foco nasal.

Observação n.º 24 - A.B., 48 anos de idade, branco. Em julho de 1945 procurou-nos queixando-se de forte flor, ao engolir, no lado direito da garganta, e também de um gânglio palpavel no ângulo maxilar direito, que receiava ser câncer. Três anos antes fôra operado do septo nasal e das amígdalas, sem resultado para o catarro nasal e as dores lombares, de que também sofria. Encontrámos levemente hipertrofiado e hiperermiado o tecido linfóide da base da língua, do lado direito. A ionização direta com Nitrato de Prata a 30%, acompanhada de ionisação externa com KI a 20% do gânglio linfático trouxe-lhe imediato alívio. Nos anos subsequentes repetiram-se por três vezes, as mesmas queixas com o mesmo receio de tumor maligno. Idêntico tratamento pelo estímulo local da fagocitose teve igual êxito. Em março de 1950 procurou-nos, por fortes tonturas, que não haviam melhorado com 18 injeções de vitamina B1 forte, prescritas por seu médica otimista, o qual as atribuía ao labirinto. Nada encontrando no ouvido interno e tendo observado, nos tratamentos anteriores, ser o paciente, apesar de negociante bem sucedido, de tipo feminoides, indagamos dos sinais clínicos de desgoverno capilar. Contou então um pouco antes do aparecimento das tonturas sentia-se inteiramente impotente e que, além disso, tinham-lhe aparecido assaduras, frieiras e fragilidade nas unhas das mãos e pés. Instilações nasais dos hormônios anterior (Pregnyl) e posterior (Pitressin) da hipófise trouxeram-lhe melhora imediata das tonturas, as quais, porém, voltaram no dia seguinte. O tratamento continuou, a princípio diariamente, e, depois, em dias alternados, tendo sido também administrado em nebulização traqueal o Testoviron (10 mg), a vitamina C (500 mg) e a vitamina B6. Em três semanas o paciente sentia-se bem, contente, sobretudo, com a reaparição da potência. Em março de 1951 procurou-nos para a remoção de cerumen dos condutos auditivos externos, dizendo continuar passando bem.

Observação n.° 25 - O.P.G., branco, 48 anos de idade, procurou-nos em outubro de 1947, porque havia cêrca de 2 meses vinha tendo sensação de pressão, acompanhada de leve tontura, na região fronto-parietal, irradiando-se às vezes para a nuca, mais freqüentemente no lado esquerdo. O paciente passava as noites jogando, dormindo, por isso, até o meio dia. Há três anos apareceu-lhe cório-retinite à esquerda, havendo somente agora suspeita de que fôsse devido a algum fóco infeccioso. O paciente nada revelava à rinoscopia, tanto anterior como posterior, mas na sua anamnése constavam o pigarro retro-nasal, a remela nos olhos, sobretudo à esquerda, alguma preguiça mental e dor na articulação atlanto-occipital (sinal de Cardarelli para o reumatismo). Amigdalas de cor vinhosa sem sintomas focais. Estatura pequena, cílios longos, boca pequena, ventre pronunciado, acusando, no todo, tipo feminoide. Gabava-se, porem, alem de seu exito na profissão comercial, de potência sexual. Diagnóstico: Sinusite posterior com I. F. discreta. Amigdalite crônica sem I.F. Tipo feminoide. Os dois primeiros tratamentos, que consistiram no estímulo local da fagocitose para a sinusite posterior, e instilação naulal de Pitressin (1/3 ampl.) e de Testoviron (10 mg 1/2 ampl.) trouxeram, imediatamente, bem estar consideravel e foram repetidos mais duas vezes. Prescrevemos Testoviron 10 mg para uso intramuscular uma vez por semana. Em fevereiro de 1948 voltou dizendo estar há dias, novamente, com peso no lado esquerdo da cabeça, revelando a radiografia léve diminuição na transparência do sinus maxilar e células etmoidais anteriores do lado esquerdo. Indicação eventual de sinusectomia, sobretudo se o oculista opinasse ser a sinusite a causa de sua moléstia no olho, esquerdo. O paciente, porém, manífestou-se logo contra a operação. Voltou-nos sómente em dezembro de 1950, com a mesma queixa: peso no lado esquerdo da cabeça, sensação de mau estar. Disse ter passado bem, mesmo durante rigoroso início de inverno nos Estados Unidos, de onde voltara havia poucos dias. Aproveitando sua estadia naquele país submetera-se a minucioso exame clínico no The Vincent Astor Diagnostic Service, do New York Hospital. No longo relatório que trouxe havia positivação de lues tardia, que foi lá tratada adequadamente. No olho esquerdo foi encontrada coroidite central com atrofia secundária do nervo ótico e suspeita de policitemia. Eletrocardiograma mostrou provável hipertrofia do ventrículo esquerdo e suspeita de doença nas coronarias. Cultura do muco retirado do olho direito revelou estafilococos albus, sendo prescrita pomada oftálmica de aureomicina e streptomicina diariamente, por um mês. Os sinus paranasais foram encontrados radiológicamente normais, atribuindo-se as cefaléias à tensão nervosa, tendo-lhe sido dito que uma flebotomia de, 500 cm3 cada dois ou três meses poderia trazer alívio. Atendendo a ter sido encontrado o estafilococo no rouco do olho, e a ter o paciente melhorado sempre de sua conjuntivite com o tratamento nasal, empregamos o bacteriófago antiestafilocócico, como trilha nasal para as ionizações bi-temporais com KI 20%. Foram usados, em instilação nasal, Pitressin e Padutina, a última em atenção ao eletrocardiograma de New York. Após tais tratamentos em número de dez, espaçados progressivamente, o paciente declarou sentir-se bem, como há muito não se sentira, nem mesmo durante as viagens ao estrangeiro. Quinze dias depois, voltando do Rio, teve pequena recaída da sensação de peso no lado esquerdo. Foi-lhe aplicado o estimulo local da fagocitose para os etmoidais e nebulização traqueal de Testoviron 10 mg e vitamina C de 500 mg, com 1 cm3 de Padutina. Passou bem outros dez dias, voltando-lhe a dor de cabeça numa conferência de negócios, melhorando, porém, de novo, com o mesmo tratamento. O paciente, apesar de instado por duas vezes, não se resolveu a fazer doseamento doe hormônios.

O doseamento de hormônios foi feito em 29 clientes do sexo masculino. Catorze dêles eram do tipo feminoides, apresentando, clinicamente, sinais de desequilíbrio glandular, confirmados, em treze, pelo doseamento na urina. Entre êsse catorze, treze eram sujeitos a inflamações catarrais, pequenas e repetidas, de nariz e garganta, e, em dez deles, havia diminuição de andrógenos. O décimo quarto, era nosso colega, sujeito, há muito, a epistaxis e tendo sido tratado anteriormente de várias maneiras. Curou-se com a administração apenas, de hormônios, feita por endocrinologista baseado em nosso diagnóstico, estando há três anos (1950) livre das hemorragias nasais. Em outro grupo de oito pacientes com sinusite (etmoido-esfenoidal em sete), o doseamento de hormônios revelou, em três, quantidades normais; nos seis outros, leve desequilíbrio, alterando-se as gonadotrofina com mais freqüência. Cinco curaram-se com Pitressin, mas em um deles foi empregado também o Testoviron; os outros três sararam apenas, com o estímulo local da fagocitóse, seta emprego de hormônios. Houve um caso de gagueira, em que os andrógenos apresentavam-se diminuídos, mas o paciente não fez tratamento algum. O único caso de rinite vasomotora revelou, pelo doseamento, diminuição de andrógenos, operando-se a cura pela administração de Testoviron.

Do sexo masculino, três pacientes, apenas, apresentaram-se com a mesma espécie de rouquidão, justamente no mesmo período em que nos procuraram as trinta e três doentes de sexo feminino a que nos referimos. Sua idade ia de 22 a 39 anos, e nenhum deles era cantor ou profissional da voz. Dois tinham desequilíbrio hormonal; um, não fez tratamento; o único a apresentar calo vocal sarou com o hormônio masculino associado ao corpo amarelo.

3) DIVERSOS

Sintoma curioso, desagradável pela intensidade e que, nos dois sexos, sómente temos visto em casos de desgoverno capilar, é o aparecimento brusco de dor intensa na região do canal anal, com característicos de cãibra, que fazem supor a participação do poderoso músculo elevador do anus. Tais cãibras manifestam-se a qualquer hora, ora despertando o paciente, ora obrigando-o a parar quando caminhe, e têm duração variável, raramente longa. A instilação nasal do lobo anterior da hipófise trás alívio, tanto mais rápido quanto mais cedo for aplicada. A ação do hormônio tanto é preventiva, como curativa, como pudemos nos certificar sobretudo no caso de uma cliente, quinquagenaria, que durante dez anos viveu no temor secreto de um câncer do reto, evitando exames locais com receio de confirmação. Nessa paciente os acessos dolorosos, sobrevindos cada duas ou três semanas, cessavam imediatamente com a instilação nasal de duas a quatro gotas de Pregnyl de 500 U. Havendo falta de sono e edema, ligeiro, no rosto, e, mais pronunciado, nas pernas, aconselhamos a instilação bissemanal da Pitressin no nariz associado ao Pregnyl. Após 16 meses os espasmos dolorosos foram progressivamente rareando e perdendo intensidade, tendo desaparecido há alguns meses. O sono e a sêde normalizaram-se. A desinfiltração acentuada dos tecidos, sobretudo no rosto, trouxe visível rejuvenescimento, demonstrando a paciente, além disso, bem estar e aumento de capacidade empreendedora (30). Nada tendo perdido no peso, foi, entretanto, obrigada a estreitar de 5 centímetros suas saias. Além disso, uma antiga sinusite posterior, que resistira a tratamento anterior e a Penicilina administrada em grande quantidade, de motu proprio deixou de incomoda-la há mais de um ano (março 1952).

Temos verificado que o hormônio gonadotrófico contrabalança rapidamente a retenção de água provocada pelo uso do hormônio masculino. Em 1948, em um jovem de 23 anos, em quem, por ter de viajar, não foi feita nebulização traqueal, três dias após a segunda injeção intramuscular de Testoviron, de 10 mg, como coadjuvante no tratamento de suas freqüentes rino-tráqueo-bronquites, intumesceram o nariz e as mãos de modo a lhe emprestar o facies de adolescentes, manifestando-se também edema na mucosa nasal com bastante obstrução. Não usamos a gonadotrofina, suspendemos o hormônio masculino e prescrevemos pequena quantidade de cocaína-privina para a desobstrução do nariz. Mais interessante foi o caso de uma rapazinho de treze anos, com desgoverno capilar, que, em fevereiro de 1949, nos foi enviado pela mãe, com o recado telefônico de que a voz fanhosa e o entupimento nasal não tinham cedido com dois banhos de luz na cabeça pelo caixote de Brünings. Apesar de forte congestão da mucosa do nariz e do rinofaringe, o rapazinho dizia nada sentir, mas seu ar cansado, seu nariz e suas mãos discretamente entumecidos, revelavam excesso de hormônio masculino na circulação, fazendo suspeitar de onanismo. Descongestionada a mucosa nasal, foi instilada a gonadotrofina e feita a ionização bitemporal com Cálcio-Piramidon. No dia seguinte apresentava grandes melhoras, e, repetido o tratamento, no quarto dia tinha o nariz livre, com melhora da fisionomia. Sob a pressão paterna, confessou que praticara realmente pela primeira vez o onanismo, ficando profundamente impressionado com o diagnóstico e com o resultado do tratamento, circunstância que muito pêso deu a conselhos ulteriores.

A retenção de agua é normal no desgoverno capilar (O. Müller, ob. citada, vol. 1, pag. 253) e muitas vezes revéla-se por ligeiro edema sob a pálpebra inferior (31) é na maçã do rosto, acentuando o sulco naso labial, e determinando, pouco acima, e paralelamente, o aparecimento de outra depressão linear mais apagada mas perfeitamente visível, estendendo-se do canto interno da pálpebra inferior à região zigomática inferior. E o "rosto cansado" ou "caído", com quatro sulcos, que nos vasoneuróticos, adultos ou crianças, sobrevém também a esforços físicos, exposição demorada ao sol emoções intensas. O hormônio gonadotrófico, instilado no nariz, corrige o rosto caído "agudo", com a rapidez habitual da hormoterapia, isto é, dentro da primeira hora.

A existência, sobretudo no sexo feminino, de calosidades nos pés, anormais pela localização, sensibilidade e quantidade, é indício de insuficiência do lobo anterior da hipófise, e está associada a outras manifestações dessa insuficiência. A instilação nasal de três a quatro gotas de Pregnyl de 500 Unidades, faz desaparecer em poucos minutos o dolorido, às vezes pelo espaço de três dias. Nossas observações a êsse respeito são poucas, pois apenas três casos pudemos acompanhar durante quatro meses. Ocorreram em mulheres de 18 a 23 anos, apresentando deficiência pronunciada de foliculina e focos infecciosos nos sinus posteriores e nas amígdalas. Uma dessas clientes voltando após dez meses, por causa das amígdalas, contou que os calos não mais a incomodavam nem sequer quando pizados, e não mais cresciam dispensando as raspagens que antes eram freqüentes.

Temos também observado que dores simétricas nos ossos da face são indicio, em geral isolado, da mesma insuficiência epifisária anterior, cedendo rapidamente à gonadotrofina no nariz. Aliás alterações simétricas nas mucosas e na péle, pela nossa experiência, indicam endocrinopatia. Cáries freqüentes e fulminantes no colo dos dentes temos visto, também, na insuficiência do lobo anterior.

A tendência para acumular gordura nas ancas é freqüente em mulheres com desgoverno capilar, e poderá ser corrigida em duas a três semanas com o uso intranasal de Pitressin em dias alternados, diminuindo, também, as banhas na barriga. Freqüentemente o rosto torna-se menos balofo. Em meados de 1948 o Dr. Cyro C. Nogueira, comunicou-nos ter tambem verificado os bons efeitos do Pitressin sobre o depósito de gordura na parte superior e externa das coxas. No ano seguinte chamou-nos a atenção para o fato de ter sido essa observação registrada muito antes, por Blotner. Realmente, no seu livro "Obesity an Leaness" (Lea and Febiger, Philadelphia, 1940), Hugo R. Rony, afirma que as injeções de Pituitrina, em pequena quantidade, diminuem de 20 a 30% os lípides no sangue, mobilizando os depósitos de gorduras para o fígado, onde é oxidada. E, a proposito, cita (pag. 242) os trabalhos de Blotner (Arch. Int. Med. - 55, 121 - 1935), que confirmaram diminuição de peso, em regime dietético sem restrição, com injeções ou instilações nasais de Pituitrina. O uso endonasal do Pitressin foi nova surpresa, convindo, entretanto, ponderar que ao trabalho de Blotner, fala controle clínico adequado.

Unhas encravadas, torcicolo, luxações reincidentes, dores provenientes de suposto "mau jeito" por ocasião de movimentos musculares bruscos, ou violentos, manifestam-se também no desgoverno capilar. Não temos entretanto indicações terapêuticas para êsses sintomas; mas, num caso, um torcicolo incipiente cedeu com ionização de 20 minutos de Cálcio no ponto doloroso do trapézio, seguida de nebulização traqueal de urna ampl. de 100 mg, de vitamina B 1 adicionada de 4 gotas de Pregnyl de 500 U. e meia ampl. de Pitressin. Em outro tivemos o mesmo resultado com ionização, apenas, com KI sobre o ponto doloroso do trapézio, e em outro com o tratamento de uma esfenoidites aguda.

Em mulheres louras, ou de sutis clara, o bico dos seios pode vir a ser séde de pequenas rachaduras, tão incomodam como as frieiras entre os dedos do pé. O dolorido desaparece em poucos instantes dom aplicação local de uma a duas gotas de Gonadotrofina, cicatrizando-se as gretas no dia seguinte.

Nas pretas, observam-se com freqüência extensas rachaduras na pele grossa dos calcanhares. Numa delas, em quem sangravam com facilidade e eram doloridas, e que padecia, tambem, de engasgos, sêde exagerada e dificuldade em adormecer, fizemos instilações nasais de Pregnyl e Pitressin (três gotas do primeiro e cinco do segundo) três vezes em dias alternados e mais duas medicações mais espaçadas. As rachaduras deixaram de ser doloridas, logo com o primeiro tratamento, fechando-se afinal. Decorridos seis meses (maio 1952) não tinha havido recidiva, nem das rachaduras, nem dos outros sintomas. Essa mesma paciente, nunca tinha tido frieiras entre os dedos dos pés, afirmando-nos não ter noticia de urticária, asma, ou rinite vasomotora em pretos, mas tão somente em mulatos seus conhecidos, o que será talvez campo de observações curiosas a fazer.

No glaucoma primário, manifestação de desgoverno capilar, o aumento da pressão intraocular, provém, em grande parte, de um edema local, tal como se vê na úlcera do estomago, no edema de Quincke e na doença de Ménière (vêr pag. 9) (32). Temos verificado que a instilação nasal de Pitressin suprime em poucos minutos a dor glaucomatosa. Em vários casos de dor provocada, ou exacerbada, pela pressão dos dedos sôbre o globo ocular, o Pitressin teve o mesmo efeito, sem que, possamos afirmar, porem, tratar-se de glaucoma. Entretanto, nas sinusites e nas avitaminoses nunca encontrámos essa dor, que se exacerba com pressão sôbre o olho. Temos, por exemplo, o caso de dois irmãos, de idade próxima a quarenta anos, enviados em 1945 por seu oculista, para pesquisa de focos infecciosos que explicassem a conjuntivite de que ambos sofriam. Ambos apresentavam plurisinusite crônica, cujo tratamento, que em um deles teve de ser cirúrgico, diminuiu a sensação de areia e a secreção mucosa dos olhos. A dor, porem, e a congestão da conjuntiva cederam sómente à instilação nasal de Pitressin. Não tardaram ambos a perceber que as melhoras eram anuladas pelo efeito vasodilatador dos banhos de vapor prescritos por seu médico oculista, que negava positivamente tratar-se de glaucoma. Suspensos estes, as melhoras totais persistiam na última visita que nos fizeram, Em abril de 1952, prezado colega oculista consultou-nos acerca de orientação a seguir em uma sua cliente de 81 anos de idade, diabética, e na qual havia indicação de mais outro oculista para a alcoolização retrobulbar do nervo ótico; a fim de alivia-la das dores torturantes de um glaucoma no olho direito. A instilação nasal de Pitressin trouxe grande alivio 20 minutos depois, desaparecendo completamente a dor com a segunda instilação feita duas horas mais tarde. A paciente fez, ao todo, 14 instalações nasais de Pitressin, com intervalos de duas horas; e seis dias depois, quando voltou ao oculista, verificou êste que a hiperemia ciliar, o edema da córnea e as dores haviam desaparecida e que a pressão ocular estava próxima do normal; um mês depois e sem mais fazer uso do, Pitressin, a pressão intraocular normalizara-se, persistindo as outras melhoras. Na enfermaria da Clínica Oftalmológica da Faculdade de Medicina da U. de São Paulo, Hospital das Clinicas, três casos de glaucoma tratados com instilações nasais de Pitressin, tiveram a pressão intraocular consideravelmente diminuída, quase normalizada, conforme comunicação verbal do Dr. Paulo Magalhães primeiro Assistente (maio 1952). O glaucoma, como a enxaqueca, é influenciado pelo vento quente chamado "noroeste", pelas elevações grandes de temperatura e pela umidade pronunciada (33).

Combater a enurese noturna com o Pitressin, foi idéia que nos ocorreu, não pelas qualidades antidiuréticas atribuídas ao lobo posterior da hipófise, (34) mas pela consideração de poder ser a permeabilidade, anormalmente aumentada, dos capilares vasoneuróticos a principal causa daquele mal. Entre os sintomas de desgoverno capilar, menciona O. Müller irritação da bexiga com tendência a polaquiuria, a Urina Spastica, e anomalias na vascularização da mucosa da bexiga análoga à cutis marmorata (35) - sintomas de tonus capilar instável. Entretanto, outra explicação dos bons efeitos conseguidos com o Pitressin poderá ser a de sua ação simpaticomimética, uma vez que a musculatura lisa da bexiga e da uretra tem inervação exclusivamente parassimpático (36). Tivemos mesmo o caso de uma senhora, de cêrca de 45 anos, com cefaléias e vertigens, datando de longo tempo, e que sentiu melhoras acentuadas com o Pitressin, usado por cêrca de dois anos, com o curioso resultado colateral do aumento da quantidade de urina emitida de 250 cm3 a 700 cm3, em 24 horas, conforme nos relatou o marido.

Mencionamos à pag. 33, observação n.º 8, o excelente resultado obtido com o Pitressin num caso de colapso periférico infeccioso. Quando a palidez, na criancinha, evidencia participação do ouvido médio, ou quando esta apresenta-se "largadinha", graus menos pronunciados de colapso do que o da observação n.º 8, o Pitressin tem provado bem inumeras vezes. Nos pequenos choques, infectuosos ou cirúrgicos, comuns em nossa especialidade, o mesmo hormônio é, sempre de ação segura. No desgoverno capilar, como vimos, os capilares são hipersensíveis às toxinas microbianas, havendo, portanto, predisposição para o colapso infeccioso, que consiste num afrouxamento dos capilares, acompanhado de aumento anormal de sua permeabilidade, permitindo extravasamento do elemento líquido e da albumina do sangue para os tecidos (dando espessamento de sangue). O Pitressin, hormônio do tonus capilar, tonificando os capilares, reconduz, ao mesmo tempo, a sua permeabilidade, ao normal, sendo esta a sua ação no colapso. Medicamentos existem dotados, tambem, da propriedade de diminuir a permeabilidade capilar e que podem ser empregados com o mesmo fim: Cardiazol, Veritol (sobretudo êste), Adrenalina, os derivados pirazolónicos (Novalgina, Piramidon, Gardan), citados por O. Müller (37), o qual, curiosamente referiu, apenas "en passant", o emprêgo da hipófise (com o Hypophysin") (38). A vitamina C, que age reforçando a substância cimentante entre as paredes dos capilares, e a vitamina P (a vitamina da permeabilidade), têm sido indicadas no colapso infeccioso; na nossa experiência os resultados foram desfavoráveis, sobretudo na comparação com o Pitressin.

Sob o ponto de vista clínico, choque e colapso são quase sinônimos, abstraindo o chamado colapso adrenalínico e o estado resultante de traumatismos muito fortes, nos quais há, inicialmente, forte contração capilar logo sucedida por perigosa dilatação secundária, a que se poderia reservar a designação de choque.

Em compensação, é de interêsse pratico verificar, sem perda de tempo, se o colapso é central ou periférico, sem esperar pelos resultados do laboratório. Eppinger nos ofereceu a solução mandando que se atenda para o estado das veias cutâneas: se, mesmo em decúbito horizontal, não são visíveis, e se a seringa não aspira sangue algum, é provável tratar-se de um colapso periférico; estando, pelo contrario, cheias as veias, demonstrando pressão alta, é provável ser o colapso devido a máu funcionamento do coração, não havendo então diminuição da quantidade do sangue em circulação, como acontece no colapso periférico (39) . São varias as causas de colapso, interessando-nos particularmente os de origem infecciosa, como mencionamos, e os de origem tóxica, como os provenientes de ação de anestésicos, e os de origem toxico-infecciosa, ou ainda os resultantes de infecções focais nas amígdalas, nos sinus posteriores e nos dentes, que se traduzem por acessos fortes de máu estar e vertigens. Os vasoneuróticos, com a sua hipersensibilidade característica, podem reagir ao calor intenso, às dores e aos traumatismos físicos e morais, com colapso de intensidade diferente, de simples máu estar passageiro à perda de sentidos. Em todos esses estados de choque - o Pitressin nos tem valido. Mesmo no choque hemorrágico, no qual os capilares não entram em linha de conta, como fatôr etiológico, o Pitressin produz bom efeito. Ocorreu-nos, há anos, em uma paciente operada de amígdalas, a maior hemorragia que tivemos de enfrentar em tôda nossa vida profissional; e uma só ampola de Pitressin, instilada aos poucos no nariz, restabeleceu bem estar à paciente, sem suores frios e sem queda de temperatura, até que urna transfusão restituísse parte do sangue que fôra perdida. Aliás, o efeito hemostático, que se observa com freqüência na transfusão de sangue, é devido á ação impermeabilizante do sôro sôbre as paredes capilares (40).

Falar em colapso, leva-nos ao terreno do chamado "sindrome de adaptação" de Selye, devido a causas físicas ou psíquicas (stress), provocando reações inespecificos no sistema neuro-vegetativos e sôbre a cadeia hormônios hipófise-supra-renal.

Esse sindrome, tambem chamado "reação de alarme", aparece nas moléstias infecciosas, demonstrando a importância dos hormônios nos métodos de defesa natural do organismo, principalmente os hormônios da suprarenal, segundo Selye. A verificação, em animais, de exaurimento nas supra-renais, em infecções graves provocadas, leva à conclusão de que essas infecções podem ser curadas ou evitadas com a administração de extratos supra-renais. Há em O. Müller referência à ação do hormônio das supra-renais sôbre os capilares: animais, aos quais se extirpam as glândulas supra-renais, sucumbem à forte transudação através das paredes dos capilares quando não se lhes fornecem sem demora, hormônios corticais (41) . Empregando a supra-renal, não sòmente em casos de infecção, como nos colapsos e nos estados de permeabilidade anormalmente aumentada, rinite vasomotora, Ménière, urticária, não obtivemos entretanto resultados satisfatórios. A glândula supra-renal produz vários hormônios, entre os quais, a desoxicorticosterona, a cortisona e os 17 Ketoesterois, que têm atividades sexuais masculinas. Estudos recentes demonstram que os desoxicorticoesterona do comércio (Cortexon, Doca), aumentam a fagocitose (42), o que explica sua eficiência nas infecções, e aumentam a permeabilidade dos capilares (43), o que explica o insucesso que observámos com seu emprêgo na rinite vasomotora, na urticária. A Cortisona, tambem oriunda da cortex supra-renal, tem efeito oposto sôbre a fagocitose e sôbre a permeabilidade capilar (44), mas não a empregamos ainda; contentando-nos por enquanto com o Pitressin, o hormônio do tonus dos capilares.

No caso de duas senhoras vasoneuróticos com sinusite, vimos, uma, dispensar durante 2 anos o uso de óculos de miopia e, outra, melhorar consideravelmente dêsse mesmo defeito, com o uso de Pitressin.

Segundo temos observado, traumatismos fortes na cabeça pódem desencadear depois de vários meses, uma vasoneurose, em estado até então latente (45). Na anamnése de nossos doentes com desgoverno capilar, não são raras as referências a traumatismos; mas apenas em dois casos pudemos nos certificar de que as manifestações vaso-neuróticas tinham começado a se manifestar meses após violento traumatismo na cabeça. Tratava-se de duas pessoas do sexo feminino, de cutis muito clara, louras ambas, e uma delas mencionada na observação de calosidades nos pés, das pag. í34. tinham ambas focos infecciosos nos sinus posteriores e nas amígdalas, e, cada vez que se resfriavam, reapareciam quase invariavelmente manifestações de desgoverno capilar, características de insuficiência do lobo anterior da hipófise. Apresentavam, igualmente, deficiência de foliculina e de corpo amarelo, dando-se bem com a administração nasal ou traqueal dos hormônios de que apresentavam carência no momento, protelando, por isso, o tratamento cirúrgico dos focos infecciosos.

Num caso, em uma menina atualmente com onze anos, pensamos poder atribuir o desgoverno capilar ao traumatismo do forceps na ocasião do nascimento, traumatismo que deixou-lhe pequena cicatriz, visível ainda no canto externo do olho esquerdo.

A rotatividade dos sintomas do desgoverno capilar, fácil de perceber nas criancinhas (pags. 110 e 111 ), exige, na idade adulta, anamnése cuidadosa, que revelará temporadas de eczema, de urticárias, de tonturas, de enxaquecas, que o doente, naturalmente, não poderá supor relacionadas entre si, ou com as afecções de nariz e garganta. Até mesmo a agravação de tais manifestações no período menstrual raramente desperta a idéia de correlação.

Manifestações vaso-neuróticas, como o edema de Quincke, podem ser desencadeadas por um foco infectuoso (nas amígdalas, por exemplo), opor causas psíquicas (grande irritação, grande susto), que, segundo O. Muller, têm eficiência semelhante à dos agentes físicos ou químicos. A mesma etiologia poderá ser verificada nas enxaquecas, na síndrome de Ménière e nas rinites vaso-motoras, estados alérgicos aparentados ao edema de Quincke. Na mulher, dada a hipersensibilidade do seu complexo corpo-alma (46), aquelas três manifestações são mais freqüentes. Nos homens, pelo que temos observado, são os tipos feminoides os mais atingidos. Rinite vasomotora, síndrome de Ménière, edema de Quincke, enxaqueca, sintomas freqüentes na prática Otorrinolaringológica, são índices de desgoverno capilar, e obrigam a uma pesquisa minuciosa de outras manifestações daquela diátese, por se achar envolvido, por via de regra, todo o complexo corpo-alma. Deverão ser pesquisadas as pequenas deficiências endócrinas, como foi exposto neste trabalho, os sinais clinicos de infecção foçal e os sinais de carência em vitaminas, como o mostrámos em nossa Tese de, 1947, e por fim, com a maior prudência, o estado de alma, freqüentemente perturbado.

Em nossa Tese de 1947 mostrámos que a rinite vasomótora (acessos de espirros, coceira nó nariz ou no céu da boca, acompanhada de corrimento nasal aquoso) pode ter causas extermas, como; por exemplo, o abuso do acido cítrico, não somente o que se encontra nas frutas, como o que entra geralmente na fabricação das balas de chupar e mascar (drops), e das bebidas que contêm CO2 (Tese, pag. 96). A vitamina C é de bom efeito na rinite vasomotora (3 g por via oral, por dia); os hormônios sexuais também dão bons resultados, dependendo sua escolha de outros sintomas de deficiência atrás expostos, o hormônio masculino (Testoviron), entretanto sendo mais eficiente até mesmo quando foliculina e corpo amarelo estão em deficiência. A vitamina P (designada por tal letra por se lhe atribuir a qualidade de vitamina da permeabilidade capilar), tal como se encontra no comércio é quase sempre de resultado negativo no tratamento da rinite vasomotora e do edema de Quincke. É que a síntese da vitamina P não foi ainda conseguida, pouco ou nenhuma influencia exercendo na permeabilidade capilar os preparados comerciais ostentando o seu nome (47). Estudos :de laboratório, porém, são concordes em concluir .que, tanto em animais como no homem, há regimens alimentares culpados da fragilidade capilar (por exemplo os que inclúem nabo, que anula a vitamina P),,regimens êsses que podem ser corrigidos com determinadas frutas, como a laranja e o limão (excetuando a grapefruit e a laranja amarga, de Sevilha), que contêm, tanto na casca como no interior a substância reguladora da permeabilidade capilar, a que se dá o nome de vitamina P.

A casca do limão nos tem trazido bons sucessos na rinite vasomotora e nas pequenas equimoses da pele (48). O preparo é fácil. Cascas de limão (galego ou outro) são conservadas na água por 24 horas, em geladeira, ou fervidas durante 10 minutos, adoçandose com mel, ou melaço de cana. Toma-se um copo por dia, às colheres de sopa. Do limão usamos apenas a casca, por causa do ácido cítrico contido na polpa do fruto.

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