Versão Inglês

Ano:  1935  Vol. 3   Ed. 2  - Março - Abril - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 142 a 152

 

ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS

Autor(es): -

SECÇÃO DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA

Sessão de 17 de Janeiro de 1935

Sob a presidencia do Dr. Homero Cordeiro, realisou-se no dia 1 7 de Janeiro ultimo, a primeira sessão ordinaria da Secção de Oto-rino-laringología da Associação Paulista de Medicina.

Depois de lida, pelo Dr. Rubens V. de Brito, a áta da sessão de Dezembro, que foi aprovada pela casa, levantou-se o Presidente e pronunciu as seguintes palavras:

Meus senhores.

Quiz a vossa generosidade que fosse eu o escolhido para presidente desta Secção, em 1934. Agora, ao terminar o meu mandato, venho trazer-vos os meus agradecimentos, não só pela honrosa e elevada investidura, como tambem pelas provas de atenção e simpatía com que me distinguistes durante o tempo que dirigi os trabalhos desta casa.

Facil me foi o desempenho dessa missão, pois, ao par de um ambiente de cordialidade e disciplina, tive tambem ao meu lado dois ótimos secretarios, os meus prezados amigos Drs. Horacio de Paula Santos e Rubens V. de Brito, aos quais agradeço a valiosa colaboração.

Antes de passar a presidencia ao meu substituto, quero seguir a praxe adotáda pelos meus antecessores, relatando-vos rapidamente o movimento cientifico desta Secção no ano findo.

Ao todo, realisaram-se dez sessões ordinarias e foram apresentados 30 trabalhos, assim discriminados:

1.º) Sobre dois casos de papiloma recidivante do laringe, tipo juvenil - DR. MARIO OTTONI DE REZENDE.
2.º) Sobre um caso de estenóse cicatricial do laringe - DR. HOMERO CORDEIRO.
3.º) Correcção cirurgica do nariz aquilino - DR. J. REBELO NETO.
4.º) Sobre um caso de abcesso da lingua aberto pela região suprahioidéa mediana - DR. JAYME CAMPOS.
5.º) Indicações e resultados da laringectomía total - DR. GABRIEL PORTO.
6.º) A broncoscopía no diagnostico e tratamento das afecções broncopulmonares - DR. MATTOS BARRETTO.
7.º) Enxertos e inclusões na cirurgia plastica do nariz - DR. J. REBELO NETO.
8.º) Algumas indicações da radiografia em rino-laringología - DR. PAULO MANGABEIRA ALBERNAZ.
9.º) Melanoma primitivo do nariz - DRS. GUÉDES DE MÉLO F.° e PENA DE AZEVEDO.
10.º) Goma da orelha externa - DR. GUÉDES DE MÉLO F.°
11.º) Osteoma esponjoso do maxilar superior - DR. GABRIEL PORTO.
12.º) Sinusite frontal fistulisada. Cura. - DR. ROBERTO OLIVA.
13.º) Corpo estranho no nariz - DR. FRANCISCO HARTUNG.
14.º) Sobre um caso de fractura traumatica do laringe - DR. JOSÉ JULIO CANSANÇÃO.
15.º) Sobre um caso de actinomicóse da região orbitaria esquerda, com invasão endocraneana - DR. MARIO OTTONI DE REZENDE.
16.º) Processo simples e prático de anestesia para as injecções endo-traqueais - DR. PAULO MANGABEIRA ALBERNAZ.
17.º) Tumor giganto-celular do maxilar superior - DR. GABRIEL PORTO.
18.º) Temperatura post-mastoidectomía. Prova de Queckenstedt. - DR. FRANCISCO HARTUNG.
19.º) Otonéoplastica - DR. ANTONIO PRUDENTE.
20.º) Sobre um caso de reconstituição total do nariz - DR. ANTONIO PRUDENTE.
21.º) Mucocéle etmoidal - DR. GUÉDES DE MÉLO F.°
22.º) Sobre um caso autóctone de rinoescleroma em individuo de raça negra - DRS. A. MARTINS CASTRO, LUIZ DE SALLES GOMES e MARIO OTTONI DE REZENDE.
23.º) Tumores do naso-faringe - DRS. CARLOS GAMA e PAULO DE TOLEDO.
24.º) Considerações em torno de um caso de otite media agúda complicada de tromboflebite do seio lateral. Septico_pioemía. Operação e sequencia. - DRS. JOSE' RIBEIRO DOS SANTOS e HORACIO PAULA SANTOS.
25.º) Das relações entre a resonancia nasal e altura do som - DR. FRIEDRICH MULLER.
26.º) Soluto concentrado para anestesía cirurgica do timpano - DR. PAULO MANGABEIRA ALBERNAZ.
27.º) Epidermoide (colesteatoma) da região cerebelar - DR. PAULO MANGABEIRA ALBERNAZ.
28.º) Estenóse da glóte por goma. Cura cirurgica - DR. ROBERTO OLIVA.
29.º) Sobre a mutação vocal dissociada - DR. FRIEDRICH MULLER.
30.º) Sindrome dissociado alterno do oitavo par craneano - DRS. ADERBAL TOLOSA e MARIO OTTONI DE REZENDE

Deante do exposto, poderão verificar os presados colegas que o ano transcorrido continuou o ciclo de fecunda atividade cientifica, que vem caracterisando esta Secção, desde a sua fundação. O alto conceito e prestigio que vamos desfrutando, devem-se sem duvida á operosidade e dedicação ilimitada que tendes demonstrado. Reconhecendo este esforço colectivo, cumpre, entretanto, destacar o concurso dos nossos ilustres colégas campineiros, que, não medindo distancias e incomodos de locomoção, têm trazido a sua brilhante e apreciada cooperação ás nossas reuniões.

Os destinos da nossa Secção são hoje confiados aos distinctos colégas Drs. Roberto Oliva, Mattos Barretto e Silvio Ognibene. São nomes de destaque em nossa especialidade, de todos vos conhecidos e admirados pela sua capacidade cientifica e amôr á profissão.

Congratulando-me com a Secção de Oto-rino-laringología da Associação Paulista de Medicina pela feliz escolha de seus novos dirigentes, eu considero empossada a nova Mesa.e convido o Dr. Roberto Oliva para assumir a presidencia".

Em seguida o novo Presidente pronunciou o seguinte discurso:

Meus senhores.

Ecoam ainda agradavelmente em meus ouvidos, as palmas com que soubestes coroar o resultado do pleito de 17 do mês passado. A unanimidade de votos com que sufragastes meu nome, bem justifica a certeza que tenho da confiança que em mim depositais. Não sei se estais com a razão, ou se esta se estriba em fundamentos seguros. Mas estejais certos de que esforços não pouparei para continuar a trajetoria brilhante, que á nossa Secção, foi imprimida pelos meus preclaros antecessores.

Tenho como exáta a idéa de que é em nossas reuniões, que vencemos grandes passos para realisação do fim que temos em vista, qual o progresso de nossa especialidade, aliado a um salutar principio de confraternidade. Não posso mesmo compreender, como se justifique a abstenção ás nossas sessões, onde os laços de amizade mais se incrementam com a troca constante de sentimentos de coleguismo.

O sentimento de coleguismo não é mais que uma das numerosas manifestações da sociabilidade. O isolamento e o individualismo são contrarios á nossa natureza. Eles são, por justa razão, considerados como uma aberração. O individuo isolado é uma celula fóra do organismo: ela sofre desde que as relações se tornam pouco intimas; morre quando se destaca completamente.

No desenvolvimento do organismo social, os homens que trabalham para o mesmo fim, procuram-se e aproximam-se espontaneamente, naturalmente, não somente como irmãos da mesma familia humana: eles se sentem unidos por um sentimento ainda mais intimo, nascidos de tendencias, de aspirações, de necessidades, de interesses comuns.

É nas organisações deste genero, que a experiencia de todos é colocada ao alcance de todos. Qual dentre nos pode declarar que é capaz de dispensar os conselhos de um colega?

O individualismo engendra o orgulho, daí o desenvolvimento de paixões egoistas, tendendo para o perigo do charlatanismo.

Atentai, alem disso, para as vantagens cientificas que temos experimentados nestas nossas reuniões, onde têmas varios têm sido debatidos, onde. encontramos campo propicio para a pratica da dialetica.

Envidarei esforços para que neste local se estabeleça o habito de, explanações teoricas, sobre assuntos de ordem geral, verdadeiros mis-aupoint, de resultados beneficos não só para o expositor, como principalmente para os ouvintes.

As comunicações puramente praticas devem preoccupar-nos como até aqui, apreciadas por sua vantagem de aplicação mediata. Convem observar que elas poderiam ser mais numerosas, desde que desarraiguemos de nosso espirito certo sentimento de modestia, que julga pouco interessantes observações que verdadeiramente não o são. Não encontramos nos arquivos de sociedades estrangeiros, comunicações de casos que reputamos banalissimos? Gostaria que cada um de nos assumisse o compromisso formal de fazer pelo menos duas comunicações cada ano.

Sucedendo a Homero Cordeiro, a cujo talento rendo aqui minhas sinceras homenagens, mais se avoluma pelo perigo da comparação o receio que tenho de vir a desmerecer de vossa confiança.

Penso, todavia, que fostes sabios, dando-me auxiliares de escól, com auxilio dos quais as minhas deficiencias serão supridas, as asperezas do caminho aplainadas, a méta atingida com facilidade.

Se a vossa magnanimidade aprouve tirar da modestia em que vivia este vosso amigo, para colocá-lo em eminencia nunca sonhada, tenho o direito de confiar em que, juntos, trabalharemos para o progresso desta Secção, que é o progresso de nossa especialidade, para o beneficio de nossos. doentes, razão precipua de nossa profissão."

ORDEM DO DIA:

1.º) DR. EDMUNDO VASCONCELLOS (S. Paulo) - "Estenóse do esofago infranqueavel. Esofago pretoraxico.

Resumo: O A., após uma rapida dissertação sobre o diversos metodos usados para suprir a infranqueabilidade do esofago, demonstra as vantagens principalmente sociais do metodo que vae apresentar, pois permite ao paciente sentar-se na mesa com as demais pessoas, podendo portanto tomar parte nas reuniões sociais.

Entra depois a falar sobre a anatomia da região, frizando os perigos possiveis, principalmente para o ládo do nervo frenico, que na zona a seccionar, cruza com o do lado oposto.

Descreve então os tempos da operação: o primeiro, consiste na feitura do tubo epidermico. Depois deste bem cicatrizado, faz a sua implantação na faringe, e aqui friza a observação que fez da grande força propulsiva da faringe, que impele a grande distancia os liquidos ingeridos. Num terceiro tempo, implanta o tubo no estomago. Chama a atenção para o fáto de achar que o ideal seria a implantação simultanea do tubo na faringe e estomago.

Salienta que estas intervenções nem sempre são coroadas de exito na primeira vez; em alguns casos, só depois de varias operações é que se consegue cicatrização completa. Tambem é de se esperar o estreitamento do tubo nos pontos de implantação, mas esse inconveniente é removido com a passagem de sondas esofageanas.

Traz ao recinto um doente por ele operado, que deante de todos, bebe um copo de agua, tendo previamente passado uma sonda pelo esofago pre-toraxico, para demonstrar a sua perfeita franqueabilildade.

Durante a sua dissertação, apresenta o A. planchas com desenhos anatomicos e de tempos da operação muito interessantes. Pretendia tambem exibir um film cinematografico, que mostrava os varios tempos operatorios, mas, devido ao não funcionamento do aparelho de projecção ficou a sua exibição adiada para outra oportunidade.

DISCUSSÃO:

Dr. Mario Ottoni de Rezende: Diz não ser necessario acrescentar comentarios a exposição do Dr. Vasconcellos sobre como proceder para se obter um esofago pretoraxico eficiente. Como ficou claro, as maiores dificuldades existem nas duas extremidades do tubo epidermico, isto é, as ligações superior e inferior desse esofago pre-toraxico, sob o ponto de vista dos resultados posteriores. As cicatrizações da mucosa e da pele são regidas por uma fisiología diferente: a mucosa cicatriza-se de uma forma e a pele de outra. Na mucosa ha maior formação de tecido fibroso e daí a tendencia de formação de estenoses, impedindo muitas vezes a conservação de um orifício permeavel quér na passagem da faringe para o tubo cutaneo, quér na passagem do tubo para o estomago. Todos conhecem a violencia da retração cicatricial ao nivel de mucosas, onde orificios de alguns centímetros de diametro, ficam em pouco tempo reduzidos a milímetros. Era necessario contornar essas dificuldades, e lembrava de se fazer na extremidade do tubo, uma especie de funil, que pela formação da estenóse, ficaria posteriormente com o diametro necessario. Esse trabalho do Dr. Vasconcellos é de grande interesse, principalmente entre nos, onde são frequentes os casos de estenóse do esofago por ingestão de soda caustica, devido sua facil aquisição, por falta de legislação que dificulte sua venda, a-pesar-de, na "Semana Oto-Rino-Neuro-Oculistica", em 1926, ter sido enviada ao Governo uma moção nesse sentido.

Dr. Silvio Ognibene: Comenta o fato do Dr. Vasconcellos ter dito que "seria preferível a implantação do tubo na propria fistula da gastrotomía e a introdução de uma sonda no tubo epidermico para evitar seu estreitamento cicatricial". Nesse caso pergunta como poderia o paciente se alimentar nos primeiros dias?

Dr. Roberto Oliva: Acha que a operação é muito dificil, principalmente devido as relações nervosas e vasculares da região e somente um operador de classe, como o Dr. Vasconcellos, poderá realisá-la. Felizmente os casos de estenose infranqueavel são mais ou menos raros, pois na maioria dos casos pode-se com páciencia, obter dilatações por metodos mais acessiveis.

Dr. Edmundo Vasconcellos (encerrando a discussão) : Responde ao Dr. Ognibene que a sonda, naturalmente, deverá ser ôca e com calibre suficiente para que o doente possa se alimentar pela mesma.

Diz que na modificação da tecnica que aventou, ha apenas o inconveniente de, se por este ou aquele motivo, não der resultado, ficar-se sem a gastrotomia, o que é arriscado. Como até agora só operou dois casos, não se aventurou a empregar essa modificação de tecnica. Friza que um dos tempos dificeis da operação, é levar o tubo cutaneo para dentro do peritoneo, por ser perigoso e alem disso, pode-se dar a deiscencia da sutura e portanto máu resultado operatorio.

2.º) DR. JAYME CAMPOS (S. Paulo) - "Sobre um caso de corpo estranho do naso-faringe".

Resumo: Apresenta o A. uma interessante observação, sobre um caso de corpo estranho do naso-faringe, cujo diagnostico tornou-se dificil por se tratar de creança de pouca idade. Os sintomas eram todos de afecção nasal, os quais, com a retirada do tampão de algodão localizado no naso-faringe, desapareceram completamente.

DISCUSSÃO:

Dr. Rubens de Brito: Diz que esse caso passou primeiramente por suas mãos, e caracterizava-se pelo mau cheiro e secreção muco-sanguinolenta. Pensou tambem na possibilidade de ser corpo estranho mas, como não conseguira vê-lo pela rinoscopia, suspeitou então de difteria nasal. O exame bacteriologico foi negativo para Loeffler, mas repetido dias depois, acusou a presença de associação fuso-espiritlar. Como a creança não obtivesse melhoras com o tratamento instituido, entregou-a ao Dr. Jayme Campos, que então conseguiu retirar o corpo estranho do naso-faringe.

Dr. Mario Ottoni de Rezende: Acha o caso interessante pela sua raridade, só se lembrando de um outro ocorrido com o Dr. Schmidt Sarmento, que ao tocar o naso-faringe de uma creança, retirou de lá um dedal. Mais comuns nessa região são os corpos estranhos de origem alimentar, que se eliminam aos poucos pela putrefação.

Dr. Homero Cordeiro: Cita um caso ocorrido no Hospital Humberto I.°: tratava-se de uma menina de 10 anos, que apresentava mau cheiro e secreção purulenta em uma das narinas, já cerca de 5 anos. Antes, havia sido examinada em uma clinica especializada de Bucareste, que a medicaram sem resultado.

Desconfiado tratar-se de um caso de corpo estranho, fez o toque do naso-faringe e notou a presença de qualquer cousa dura encravada em uma das coarias. Deante disso fez previamente a retracção dos cornetos, com sol. cocaina-adrenalina, e após leve narcóse pela cloretila, com uma pinça nasal, conseguiu retirar uma semente muito dura, achatada como uma pequena fava. Poucos dias depois desapareciam todos os sintomas anteriores.

Dr. Roberto Oliva: Faz notar o interesse de tais casos, que muitas vezes despistam os especialistas, fazendo-os pensar em entidades morbidas varias.

Dr. Jayme Campos (encerrando a discussão) : Agradece aos colegas a atenção dispensada ao seu caso.

Sessão de 18 Fevereiro de 1935

Presidida pelo Dr. Roberto Oliva e secretariada pelos Drs. Mattos Barreto e Silvio Ognibene, realisou-se no dia 18 de Fevereiro ultimo, a segunda sessão ordinaria da Secção de Oto-rinolaringología da Associação Paulista de Medicina.

ORDEM DO DIA:

1.°) DR. SILVESTRE PASSY (S. Paulo) - "Um caso de cisto unico do antro maxilar."

Resumo: O A. apresenta um caso de cisto do maxilar e historiando o caso diz ter entregue o seu doente ao Dr. Cabelo Campos, que, primeiramente por uma radiografia simples e depois por outra com meio de contraste (lipiodol), verificou a existencia do cisto no interior do seio maxilar. Deixava de falar em detalhes da tecnica radiografica, porque o Dr. Cabelo Campos iria fazer melhor exposição, logo em seguida.

Depois de apresentar algumas radiografias, descreve o A. a operação praticada (Caldwell-Luc) : sem nenhum contra-tempo chegou até o cisto, que era pediculado e foi extraído totalmente.

Exibe a peça, conservada em alcool e lê o diagnostico anatomo-patologico.

2.°) DR. CABELO CAMPOS (S. Paulo) - "Exames radiologicos dos seios da face com meio de contraste (lipiodol) ".

Resumo: O A., após comentarios sobre as radiografias pelos meios de contraste, analisa as vantagens e inconveniencias dos varios metodos, entra em detalhes sobre o caso apresentado pelo Dr. Passy, mostrando que a radiografia simples apenas assinalava levemente a presença do cisto no seio maxilar, ao passo que a feita com contraste, revelava com grande nitidez, não só a sua presença, como tambem o seu contorno. (O A. exibe belas radiografias).

Finalisa o A. descrevendo rapidamente a tecnica de deslocamento ou de Proetz para a introdução do meio de contraste opaco (Lipiodol, iodipina, etc.) nas cavidades paranasais, achando que para o seio maxilar, ela é preferivel através a puncção diameatica. Chama atenção dos especialistas sobre a grande vantagem que esse metodo oferece no diagnostico das sinusites hiperplasticas, muitas vezes passadas desapercebidas na radiografia simples.

DISCUSSÃO:

(O Presidente põe em discussão as duas comunicações, por versarem ambas sobre o mesmo assunto).

Dr. Rubens de Brito: Diz que ha seis meses, tendo uma radiografia simples dado resultado negativo num caso suspeito de sinusite maxilar, resolveu fazer uma puncção pelo meato inferior e em seguida lavagem, que deu saída á grande quantidade de secreção purulenta. Antes de retirar o trocater, injectou lipiodol na cavidade desse seio. Pela radioscopía e depois radiografia, verificou-se nitidamente o espessamento patologico da mucosa do seio.

Dr. Mangabeira Albernaz: Ao comentar, na sessão de 17 de Dezembro, o trabalho do Dr. Paulo Toledo, chamou a atenção sobre o quási desconhecimento em que se acha entre nós o metodo de deslocamento ou de Proetz. Declarou estar elaborando um estudo de conjunto a êste respeito, estudo que seria motivo de futura comunicação a esta Secção de O. R. L.
Lendo o programa da sessão de hoje e ante o titulo da comunicação do Dr. Cabelo Campos, resolveu trazer algumas radiografias de seu arquivo para apresentar aos colegas, se para tal houvesse oportunidade.

Tem a impressão de que o Dr. Cabelo Campos acha mais segura a radiografia com substancia de contraste obtido por puncção, do que a obtida pelo metodo de deslocamento. Não concorda, porem, com esse parecer. O metodo de Proetz é sem dúvida mais inteligente, mais inocente e mais seguro do que a puncção. Alem disso pode-se dizer que o segundo não é simples para os seios frontal e esfenoidal, e é práticamente inexequivel para as celulas do etmoide. Ora o método de Proetz serve para todos os seios, embora seja mais dificil para os seios maxilar e frontal, sobretudo para esse.

Alem disso, ha uma indicação diferente para os dois processos: o de Proetz é indicado sobretudo para as sinusites hiperplasticas, ao passo que a puncção não é muito aconselhavel para esse tipo de sinusite.

Se o Proetz falha, não o faz menos a puncção. Apresenta uma chapa de um doente cujo seio frontal foi aberto pelo metodo de Citelli e em que injetou iodipina a 20%. Apesar da fluidez do meio de contraste, o seio não se encheu. Introduziu uma sonda muito flexivel, de chumbo, e esta saiu no nariz. Ainda assim a chapa apenas mostra o desenho da sonda, sem enchimento do seio, ou do conduto fronto-nasal.

Apresenta em seguida quatro radiografias em que usou do metodo de Proetz para exame das celulas etmoidais e dos seios esfenoidais, estas em posição de Hirtz.

Salienta que são suas radiografias e as do Dr. Cabelo Campos talvez as primeiras feitas pelo metodo de Proetz e apresentadas em nosso meio. Congratula-se, por isso, com o coléga, um dos nomes mais acatados da radiologia paulista, pela tentativa de divulgação de um processo semiótico de valôr indiscutivel, que julga ja dever ha muito ter entrado na pratica diaria.

Dr. Sebastião Vieira: Diz que não se deve deixar de lado a radiografia simples, que, quando tirada com bôa tecnica, dá bons resultados e por ela pode-se verificar a imagem da mucosa do seio, como mostrava o Prof. Mayer, de Viena. E' mais simples e facil, principalmente quando submental, onde se vê bem os seios.

Dr. Mario Ottoni de Rezende: No diagnostico das sinusites, acha que o exame basico é a rinoscopía, que fornece indicios seguros para que se dêva mandar o doente tirar radiografia, primeiramente simples e se houver duvida, com oleo opaco de contraste (lipiodol), para melhor esclarecimento de diagnostico.

Para se ter uma noção exáta do estado da mucosa do seio maxilar, é preciso avaliar o volume de sua cavidade, como aconselha Treer, pela injeção de lipiodol a 40%; considera-se em condições patologicas, com indicação para intervenção cirurgica, todo seio cuja capacidade variar entre 0 e 4 cc. para o liquido de contraste; entre 5 e 7 cc., pode ser normal ou patologico; entre 8 e 12 cc. absolutamente normal.

O metodo de Proetz é principalmente indicado para os seios esfenoidais e celulas etmoidais.

As vezes um seio pode apresentar-se normal pela prova de constraste, mas a sua mucosa pode estar doente, cheia de pequenos cistos infectados, não visiveis macroscopicamente, mas pelo exame anatomo-patologico. Hunt considera essas alterações microscopicas mais importantes que as grosseiras.

Alguns autores, como Warner e Mc Gregor, verificaram nos casos de asma bronquica, uma melhoría dos acéssos após retirada total da mucosa dos seios maxilares, melhoría que em alguns casos foi definitiva, e em outros, até 2 ½ anos após.

Acha que a radiografia simples dá contraste suficiente para que, em grande porcentagem de casos se possa firmar um diagnostico.

Dr. Francisco Hartung: Diz reforçar os aplausos aos colegas pelo impulso dado á radiografia, como auxiliar no diagnostico das afecções das cavidades paranasais.

Entretanto, as reservas opostas ao metodo de Proetz, explicam-se pelo fáto de se encontrarem cavidades que não são acessiveis ao meio de contraste, devido obliteração por processos outros, como, por exemplo, edema da mucosa, de acôrdo com as modernas idéas sobre alergia e anafilaxía.

A radiografia, como complemento de exame, tem valôr, mas deve-se ser sempre reservado, para evitar intervenções desnecessarias. Muitas vezes o espessamento da mucosa não é devido a uma molestia local, mas geral, e o doente não melhora com a intervenção na cavidade.

Dr. Mattos Barreto: Tambem é da opinião do Dr. Ottoni: a rinoscopía é a melhor prova, ou por outra, a mais segura no diagnostico de sinusites. E' ela que decide sobre a necessidade ou não de outros exames complementares, como a radiografia simples ou com contraste.

Quanto ao metodo de Proetz, parece a primeira vista um tanto teórico, pelo fáto de se afirmar que uma cavidade possa ser invadida pelo oleo em quasi toda sua extensão. Entretanto, na realidade dá bons resultados. Pensava que fosse isso dificil, mas pelos resultados que obteve no primeiro caso que o empregou, verificou que não oferece dificuldades; apenas para o seio frontal, é de bom aviso fazer-se vaporização prévia do canal fronto-nasal, com sol. cocaina-adrefina, para facilitar a entrada do lipiodol.

Lamenta não ter o Dr. Cabelo Campos descrito com detalhe a tecnica, na sua comunicação. Acha que o metodo de Proetz tem um valor muito maior que a que admitimos, pois não só permite o diagnostico das afecções das cavidades paranasais, como tambem o tratamento das mesmas, pela aspiração de substancias medicamentosas varias.

Conforme lembrou o Dr. Mangabeira Albernaz, de acôrdo com o tempo de eliminação, pode-se avaliar do estado da mucosa, segundo os estudos de Sicard e Forestier sobre a eliminação das mucosas do organismo.

Insiste para que tragam novas chapas e detalhes de tecnica.

Dr. Paulo Sáes: Teve a oportunidade de verificar a utilidade do meio de contraste, em um caso de sinusite frontal fistulisada, pois desejava cientificar-se se o orificio fistulisado vinha ou não do seio frontal. O Dr. Cabelo Campos empregou como meio de contraste o lipiodol, que foi injetado pela fistula. Verificou-se pela radiografia sua penetração na cavidade desse seio, demonstrando-se assim que a fistula era do frontal. Esta é mais uma utilidade do emprego do meio de contraste.

Dr. Guédes de Mélo F.°: Acha que o metodo de Proetz tem indicaçães estabelecidas, e que em síntese, constitue um complemento de diagnostico em casos duvidosos. A principal indicação do metodo de contraste se resume nos casos em que ha duvidas se existe processo patologico e qual o processo em questão. Estabelecer um paralelo entre o metodo de Proetz e o comum é difícil, mas o que se pode dizer é que o de Proetz é mais aperfeiçoado; é como a prova do tetra-iodo para as vias biliares, ou a uroselectan para o aparelho renal. Para o seio maxilar, o metodo de Proetz não pode prevalecer sobre o metodo comum: a imagem dada por ele não é tão perfeita quanta a do comum. Para os seios etmoidais e esfenoidais, o Proetz é melhor. Acha que o metodo de contraste precisa ser empregado em maior escala para se ter idéa mais segura sobre ele. O mettodo de Proetz corresponde ás idéas atuais, porque junto ao exame clinico, a prova grafica (imagem) e a prova funccional (tempo de evacuação).

Dr. Roberto Oliva: O metodo de Proetz é bom para os casos dubios dos seios posteriores, esfenoidal e etmoidais. Muitas vezes encontra-se doentes portadores de sinusite, sem que se póssa individualizar qual o seio doente; este metodo põe em evidencia quasi todos os seios, e esta é a sua vantagem.

Dr. Cabelo Campos (respondendo): Responde ao Dr. Barreto que não descreveu a tecnica empregada para não alongar muita a sua comunicação. Concorda que algumas gotas do oleo opaco sejam suficientes para se estabelecer o diagnostico. Desde que essas gotas contornem o seio e se eliminem em tempo normal, pode-se concluir que a mucosa está integra. Quanto as objecções do Dr. Hartung, concorda que não se pode separar a radiologia da clinica.

Em resposta ao Dr. Sebastião Vieira, diz que de fáto em muitos casos a radiografia simples é suficiente para o diagnostico, reservando-se a de contraste para os casos duvidosos.

Acha que o metodo de Proetz deve ser empregado nos seios posteriores e o metodo comum de contraste nos outros casos.

Agradece as palavras gentís do Dr. Mangabeira Albernaz e felicita-o pela contribuição que apresentou.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial