Ano: 1994 Vol. 60 Ed. 4 - Outubro - Dezembro - (1º)
Seção: Artigos Originais
Páginas: 255 a 259
Emissões Otoacústicas Evocadas por "Click": Achado em Indivíduos Jovens com Audição Normal.
Click Evoked Otoacoustic Emissions: Findings in Young Adults with Normal Hearing
Autor(es):
Mariza Ribeiro Feniman*,
José Alberto de Souza Freitas**,
Orozimbo Alves Costa Filho`,
Eymar Sampaio Lopes****
Palavras-chave: Audição, audiometria de resposta evocada
Keywords: Hearing, evoked response audiometry
Resumo:
O objetivo deste trabalho foi o de descrever as características dos achados das emissões otoacústicas evocadas por "click" de ambas as orelhas de 100 indivíduos com idade variando de 18 a 30 anos, sendo 50 indivíduos do sexo feminino e 50 do sexo masculino, com audição normal bilateral. Os resultados mostraram que as emissões estiveram presentes numa faixa de freqüência de 500 a 4000 Hz, com nítido declínio a partir desta última freqüência, e pico de energia ao redor de 1000 a 1500 Hz, em ambos os sexos. Diferença estatisticamente significante foi encontrada com relação ao nível de "click" e nível de emissão entre os sexos. Uma correlação não linear significante entre estas variáveis foi verificada.
Abstract:
The aim of this experiment was to describe the features of the findings of the click evoked otoacoustics emissions. The population was constitued of 100 eightheen to thirty years old normal heartng adults (50 males and 50 females). The study showed that the click evoked otoacoustics emissions were present, in both sexes, within a frequeney range from 500 to 4000 Hz, with and eneW peak around 1000 to 1500 Hz. Statistically significant differences between males and females were fouud iu relation to the level of click and emission. Significant non linear correlation these variables was found.
INTRODUÇÃO
A emissão otoacústica tem sido apontada como um promissor e importante instrumento diagnóstico à audição pela sua forma de detecção objetiva, simples, rápida e não invasiva.
Estudos mostraram que cada tipo de emissão otoacústica é definido de acordo com as diferentes condições de estimulação. A utilização de estímulo de banda larga ("click") como evocador das emissões otoacústicas foi descrita 1 e amplamente recomendada, por fornecer a mais apropriada estimulação do meato acústico externo para evocar ecos cocleares em propósitos clínicos, além de fornecer muitas informações de uma larga faixa de freqüência da cóclea 2,3,4,5.
Vários autores utilizando-se desses estímulo evocador relataram a presença das emissões otoacústicas em uma faixa de 500 a 3000 Hz, outros ainda, até 5000 Hz 8,9 com a máxima amplitude entre 1000 e 2000 Hz.
Na década de 90, experimentos 1,6,7 analisaram a energia espectral das emissões otoacústicas evocadas por "click" em bandas de freqüência. Encontraram variações de energia espectral por freqüência. Relataram que tal distribuição teve por predominância componente na faixa de freqüências médias com seu pico ao redor de 1.2 KHz. Um nítido declínio acima de 4000 Hz foi verificado e relacionado à resposta de freqüência da sonda e ao estímulo de banda larga. Este decréscimo, também foi revelado por outros pesquisadores, em vista do aumento da freqüência.
Vários estudos 1,4,9,12 mencionaram que o nível de estímulo afetou o tamanho e a forma da onda emissão, encontraram um crescimento não linear das respostas com saturação em níveis moderados de estímulo afetou o tamanho e a forma da onda emissão, encontraram um crescimento não linear das respostas com saturação em níveis moderados de estimulação.TABELA 1 - Distribuição da ocorrência das emissões otoacústicas evocadas por "click" em bandas de freqüência (Hz), para os sexos feminino e masculino, nas orelhas esquerda e direita.
TABELA 2 - Distribuição da ocorrência dos picos de amplitude máxima em dB, em bandas de freqüências (Hz), para os sexos feminino e masculino, nas orelhas esquerda e direita.
TABELA 3 - Distribuição da ocorrência do nível de "click" em dBNPS, segundo o sexo nas orelhas esquerda e direita
A intensidade da emissão otoacústica é função do volume meatal, o qual é verificado através da leitura da pressão sonora desenvolvida no meato acústico externo. Assim, um volume menor melhora o acoplamento do transdutor ao tímpano, com maior recepção de estimulação acústica 2,13.
A literatura relata que experimentos 14 encontraram nível médio das emissões otoacústicas evocadas por "click" de 12 + 3 dB para adultos (p<0,001).
Para um nível de estímulo de 82 dBNPS, vários autores encontraram um nível de resposta de 11 dBNPS. Tais valores foram obtidos a partir de 10 orelhas selecionadas ao acaso, sendo 4 homens e 6 mulheres com audição normal.
Este trabalho tem como objetivo descrever as características dos achados das emissões otoacústicas evocadas por "click" em 100 indivíduos com audição normal bilateral.
MATERIAL E MÉTODO
O material constituiu-se de ambas orelhas de 100 indivíduos adultos, sendo 50 do sexo feminino e 50 do sexo masculino, cujas idades variaram de 18 a 30 anos.
Os indivíduos referidos neste trabalho como adultos com audição normal bilateral foram submetidos às várias etapas de avaliação audiológica (otoscopia, anamnese, audiometria tonal limiar, logoaudiometria e imitância acústica) para excluir deste estudo aqueles que possuíam quaisquer alterações auditivas.
O equipamento utilizado para o estudo das características dos achados das emissões otoacústicas evocadas por "click" foi o ILO 88 OTODYNAMIC ANALISER "hardware" e "software", versão 2.9 acoplado em dBNPS).
A análise espectral da emissão teve por objetivo verificar seu espectro de freqüência, assim como sua faixa de freqüência de maior concentração de energia acústica.
As emissões obtidas foram analisadas em 12 faixas de freqüências de zero a 6 KHz. O número de emissões contendo energia espectral nestas faixas foi mostrado, bem como os picos de. amplitude máxima.
A comparação estatística entre os sexos para as variáveis nível de "click" e nível de emissão otoacústica evocada por "click" foi feita por análise de variância (modelo a três critérios parcialmente hierárquicos), teste "t" de Student e teste de qui quadrado. Foram considerados significante os resultados com a probabilidade menor que 1% sob a hipótese de nulidade. Foram determinados as correlações entre as variáveis nível de "click" (Peak) e nível de emissão otoacústica evocada por "click" (Eco) para os sexos feminino e masculino, utilizando se o coeficiente de Pearson.TABELA 4 - Distribuição da ocorrência do nível de emissão otoacústica evocada por "click", em faixas de dBNPS segundo sexo, nas orelhas esquerda e direita.
TABELA 5 - Análise de variância do nível de "click" das emissões otoacústicas evocadas por "click" em dBNPS, registrado no meato acústico externo.
TABELA 6 - Análise de variância do nível da emissão otoacústica evocada por "click" (dBNPS), registrado no meato acústico externo.
RESULTADOS
Baseados nos dados obtidos nos registros das emissões otoacústicas evocadas por "click", a tabela 1 apresenta a distribuição da ocorrência das emissões otoacústicas evocadas por "click" nas bandas de freqüência de Hertz fixadas previamente, para os sexos feminino e masculino.
A distribuição da ocorrência dos picos de amplitude máxima (maior concentração de energia acústica) em dB, em bandas de freqüência em Hz, para o sexo feminino e masculino, nas orelhas esquerda e direita é apresentada na tabela 2.
Nas tabelas 3 e 4 foi relacionada à distribuição do nível de "click" em dBNPS, assim como a distribuição do nível de emissão otoacústica evocada por "click" em dBNPS, nas orelhas esquerda e direita, respectivamente, para os sexos feminino e masculino, e o respectivo estudo estatístico, com a média e o desvio padrão.
A análise de variância apresentada nas tabelas 5 e 6, realizadas a partir dos dados referentes ao nível de "clíck" e ao nível de emissão mostrou diferença estatisticamente significante entre os sexos. Quanto às orelhas esquerda e direita, foi notada ausência de significância.
Correlações estatisticamente significantes foram encontradas para os sexos feminino e masculino, entre as variáveis nível de "click" e nível de emissão e são apresentadas na tabela 7.
DISCUSSÃO
No tocante ao espectro acústico de freqüência da emissão, o presente trabalho confirma que o espectro de freqüência típico da emissão otoacústica evocada por "click" alcança a faixa das freqüências médias, com a maioria da energia da emissão concentrada entre 1 KHz a 2 KHz. Isto está em concordância com os experimentos citados na literatura 1, 8, 9, 10, 16, 17.
Ao mencionar um decréscimo na energia espectral nas freqüências agudas, as idéias citadas por vários autores11, que o espectro da emissão otoacústica evocada por "click" é diminuído em altas freqüências (4 KHz a 6 KHz) para os adultos, e, que tal verificação seja atribuída à influência da resposta da freqüência da sonda e ao estímulo de banda larga` são sustentadas neste trabalho.
Em relação a variação do pico dos níveis do estímulo no meato acústico externo, medido pelo microfone da sonda e mostrada pelo ILO 88, ocorreu em função das características individuais de cada orelha e do local onde foi posicionada a sonda no meato acústico externo. Esta alcançou uma média de 80 dBNPS e 82 dBNPS para o sexo masculino e feminino, respectivamente.
Em concordância com os relatos de vários autores 2,13, de que a leitura da pressão sonora desenvolvida no meato acústico externo informa o volume meatal, uma explicação para a significante variação do nível de "click" encontrada entre os sexos vem a ser, provavelmente, de ordem anatômica. Atribuída ao diferente volume do meato acústico externo, menor no sexo feminino, que no sexo masculino. Semelhante justificativa pode ser atribuída à variação significante observada entre os sexos na variável nível de emissão (eco). Assim, de acordo com os autores acima citados, o nível do eco medido está em função deste. volume meatal, isto é, um volume menor aumenta o acoplamento entre o tímpano e o microfone da sonda, havendo maior recepção de estimulação acústica. Tal nível se mostrou com uma média de aproximadamente 9 dBNPS para o sexo masculino e de 12 dBNPS para o sexo feminino.
O presente trabalho evidencia a existência de correlação estatisticamente significante entre o nível de "click" e o nível de emissão, para as orelhas esquerda e direita dos sexos feminino e masculino, porém de forma não linear. Tal achado está em concordância com outros experimentos, 1,12,18, de que as respostas mudam significantemente com o nível de estimulação, e de maneira desproporcional.
Ausência de significância para as variáveis nível de "click" e nível de emissão entre as duas orelhas do mesmo indivíduo foi observada. Este achado vem acrescentar às informações citadas na literatura, que mostram também similaridades das emissões com respeito a forma da onda, à duração e à detecção do limiar nas duas orelhas do mesmo indivíduo 5,6,19. Estes resultados sustentam que um fator estrutural determina geneticamente, comum ao órgão de Corti de ambas as orelhas, está envolvido na origem das emissões otoacústicas evocadas 17.
No tocante ao nível de "click" médio, de 80 e 82 dBNPS e o nível de emissão médio, de 9 e 12 dBNPS encontrados no presente trabalho para o sexo masculino e feminino, consideração deve ser dada quando comparados os valores citados na literatura 14. Assim, o nível médio de emissão mencionado por outros autores é similar ao valor aqui referido para o sexo feminino; no entanto os autores não relataram o nível médio de emissão específico para cada um dos sexos. O mesmo foi considerado para valores mencionados em outro experimento 15, com relação ao nível de "click" e nível de emissão.TABELA 7 - Correlação (r") entre as variáveis nível de "click" (Peak) em dBNNS e o nível de emissão otoacústica evocada por "click" (Eco) em dBNPS, segundo o sexo.
CONCLUSÕES
A análise dos achados da emissão otoacústica evocada por "click", em 100 indivíduos com audição normal bilateral, permitiu observar que:
- A energia espectral da emissão variou por bandas de freqüências;
- O espectro de freqüência alcançou a faixa de 500 Hz a 4000 Hz, com nítido declínio a partir desta última freqüência (4KHz);
- O máximo de energia da emissão se concentrou nas freqüências de 1000 Hz a 1500 Hz;
- Não foram encontradas diferenças significantes, no espectro de freqüência da emissão entre os sexos, nem entre as orelhas esquerda e direita;
- Estatisticamente foram encontradas diferenças significantes nas variáveis nível de "click" e nível de emissão otoacústica entre os sexos;
- O nível de "click" médio foi de aproximadamente 82 dBNPS para o sexo feminino e de 80 dBNPS para o sexo masculino;
- O nível de emissão otoacústica médio encontrado para o sexo feminino foi de 12 dBNPS e de 9 dBNPS para o sexo masculino;
- Ausência de significância ocorreu para as variáveis nível de "click" e nível de emissão entre as duas orelhas do mesmo indivíduo;
- Ocorreu correlação estatisticamente significante entre o nível de "click" e o nível de emissão, de forma não linear para as orelhas esquerda e direita dos sexos feminino e masculino.
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* Professora Doutora do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da Universidade de São Paulo.
** Professor Titular do Departamento de Estomatologia da FOB-USP e Superintendente do Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais (HPRLLP) da USP.
*** Professor Doutor do Curso de Fonoaudiologia da FOB-USP.
**** Professor Titular do Departamento de Odontologia Social da FOB-USP. Instituição: Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais da Universidade de São Paulo.
Rua Silvio Marchione, 3-20 - Caixa Postal: 620 - CEP 17043-900 - Bauru - SP.
Artigo recebido em 9 de março de_ 1994. Artigo aceito em 10 de maio de 1994.