Versão Inglês

Ano:  1994  Vol. 60   Ed. 3  - Julho - Setembro - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 195 a 211

 

Avaliação Clinica e Histológica Pré e Pós-operatória na Associação da Turbinectomia com Septoplastia.

Clinical and Histological Pre and Postoperative Evaluation in Turbinectomy Associated with Septoplasty.

Autor(es): Siomara Bambirra*,
Wilma Terezinha Anselmo Lima**,
José Fernando Colafemina***,
José Antonio Apparecido de Oliveira****,
Edson G. Soares*****,
Valder R. de Melo******.

Palavras-chave: Obstrução nasal, turbinectomia, septoplastia

Keywords: Nasal obstruction, turbinectomy, septoplasty.

Resumo:
Quatorze pacientes submetidos à turbinectomia parcial do corneto inferior associada à septo ou rinosseptoplastia no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, no período de agosto de 1990 até dezembro de 1991, foram selecionados representando uma amostra de pacientes com obstrução nasal crônica causada pela associação de hipertrofia dos cornetos inferiores com desvio septal, rebeldes aos tratamentos clínicos habituais. Foram submetidos a uma avaliação clínica (anamnese e exame otorrinolaringológico) e histológica pré e pós-operatórias e excluídos os pacientes com dados incompletos. São relatados os tratamentos clínicos, sinais e sintomas pré - operatórios (obstrução nasal, prurido, cefaléia, respiração bucal de suplência, entre outros) e discutidos os resultados clínicos após um ano de turbinectomia. São descritos os achados histológicos encontrados ao nível do corneto inferior parcialmente removido na época da turbinectomia e os achados histológicos obtidos de material colhido por biópsia, ao nível da porção remanescente do corneto inferior, em área reepitelizada, após um ano da cirurgia. 0 estudo foi realizado sob microscopia óptica e mostrou que o epitélio pseudoestratificado cilíndrico chiado foi o tipo epitelial predominante, estando presente em 42,86% das amostras estudadas na fase pré operatória. Na fase pós-operatória predominou o epitélio pavimentoso estratificado, presente em 78,57% das amostras estudadas. A avaliação histológica nesta fase revelou ausência de cílios em todos os epitélios analisados, além dos sinais de atrofia dos mesmos. Concluiu-se que a associação da turbinectomia parcial do corneto inferior à septoplastia representa método cirúrgico eficaz no combate da obstrução nasal crônica por hipertrofia dos cornetos inferiores e desvio septal, não responsivos aos tratamentos clínicos habituais. Os achados histológicos pós-operatórios revelaram sinais de atrofia sem evidência clínica da mesma, o que alerta para uma indicação cirúrgica criteriosa e precisa e acompanhamento do paciente turbinectomizado para detectar esta atrofia clínica.

Abstract:
A study was conducted on 14 patients submitted to parcial turbinectomy of the inferior turbinate associated with septoplasty or rhinoseptoplasty at the Otorhinolaryngology Department of the University Hospital, Faculty of Medicine of Ribeirão Preto, University of São Paulo, from August 1990 to December 1991. This represents a sample of patients with chronic nasal obstruction caused by hipertrophy of the lower turbinates associated with septal deviation resistant to the usual clinical treatments. All patients were submitted to pre- and postoperative clinical (medical history and otorhinolaryngologic examination) and histological evaluation, and patients with incomplete data were excluded from Me study. The study reports the clinical treatments and preoperative signs and symptoms (nasal obstruction, pruritus, headache, and compensating buccal respiration, among others) and discusses the good clinical results reported by the patients one year after partial turbinectomy of the inferior turbinate. The histological findings detected at the level of the inferior turbinate parcially removed at the time of turbinectomy are described together with those obtained from a biopsy taken from the remaining portion of the inferior turbinate in a reepithelialized area one year after turbinectomy. The study was carried out under the light microscope and showed that the ciliated cylindrical pseudostratified epithelium was the predominant epithelial type, present in 42,86% of the samples studied preoperatively. In the postoperative phase there was a predominance of stratified pavement epithelium, present in 78,57% of the samples studied. Histopathological evaluation during this phase revealed the absence of cilia in all epithelia analyzed as well as signs of epithelial atrophy. Finally, it is concluded that the association of partial turbinectomy of the inferior turbinate with septoplasty represents an effective surgical method for the corretion of chronic nasal obstruction due to inferior turbinate hipertrophy and septal deviation which does not respond to habitual clinical treatment. The postoperative histopathological findings show that prolonged follow-up of turbinectomized patients and a judicious and precise surgical indication, is very important for detection of the clinical atrophy.

INTRODUÇÃO

A obstrução nasal crônica é uma queixa comum em otorrinolaringologia. Os desvios septais e as hipertrofias dos cornetos inferiores representam, muitas vezes, a causa desta disfunção. Diferentes métodos clínicos locais e sistêmicos têm sido propostos para tratamento, nem sempre com resultados satisfatórios. Apesar das descobertas nos campos da rinologia, farmacologia e imunologia, o manuseio da obstrução nasal crônica representa ainda um desafio. Estudos demonstraram que a obstrução é provocada por uma combinação de entidades patológicas e alterações anatômicas das estruturas nasais, requerendo, portanto, uma abordagem clínica e cirúrgica para sua correção adequada.

Os procedimentos cirúrgicos mais utilizados são as turbinectomias parciais dos cornetos e as septoplastias.

É grande o número de pacientes atendidos no Ambulatório de Otorrinolaringologia do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (HCPMRP-USP), com queixa de obstrução nasal. Em muitos, o exame otorrinolaringológico demonstra uma associação de desvio septal com hipertrofia dos cornetos inferiores, com rebeldia aos tratamentos clínicos habituais. A abordagem cirúrgica representa, para estes pacientes, uma alternativa terapêutica. Assim, a turbinectomia parcial dos cornetos inferiores (TPCI) vem sendo realizada, em nosso serviço, na maioria das vezes associada a uma septo ou rinosseptoplastia, seguindo a "concepção unitária" do nariz. Diferentes descrições e relatos a respeito da evolução clínica dos pacientes submetidos às turbinectomias em geral, com ou sem septoplastias, têm sido publicados 1,2,3,4,5. Poucas, porém, são as descrições histológicas da mucosa nasal de pacientes turbinectomizados. A finalidade deste trabalho é relatar os benefícios clínicos obtidos na associação da turbinectomia parcial dos cornetos inferiores com a septoplastia e descrever as alterações histológicas que se processaram ao nível da mucosa nasal com a referida intervenção cirúrgica.

PACIENTES E MÉTODOS

Participaram deste estudo 14 pacientes, sendo cinco do sexo feminino e nove do sexo masculino, com faixa etária entre 17 e 39 anos e média de 23 anos. Representaram uma amostra dos pacientes com queixa de obstrução nasal crônica rebelde aos tratamentos clínicos habituais e submetidos à turbinectomia parcial dos cornetos inferiores associada à septo ou rinosseptoplastia nesse serviço. A técnica de septoplastia utilizada foi a de Cottle.

Primeira Avaliação:

Foi realizada por época do procedimento cirúrgico (TPCI com septo ou rinosseptoplastia). Os pacientes foram submetidos a uma anamnese e exame otorrinolaringológico pré - operatórios. Os cornetos parcialmente removidos foram fixados, para posterior preparo histológico. Representaram nosso material de estudo.

Segunda Avaliação:

Foi realizada após um período mínimo de um ano do ato operatório. Os pacientes foram submetidos a uma nova avaliação clínica (anamnese, exame otorrinolaringológico) pós-operatória completa. Uma biópsia, com pinça tipo "saca - bocado", ao nível do corneto remanescente, em área reepitelizada, foi realizada após anestesia local com xilocaína spray a 10% ou através de infiltração com xilocaína 1% com adrenalina 1:100.000. O material obtido foi igualmente fixado para posterior preparo histológico adequado. Representou novo material de estudo. Obtivemos, portanto, dados para uma avaliação clínica e histológica pré e pós-operatória.

O preparo histológico consistiu na fixação em Bouin, desidratação em Etanol, clarificação em benzol e inclusão em parafina com cortes de 4 - 6 cm de espessura. A coloração foi realizada pela hematoxilina eosina e pelo tricrômico de Masson. O estudo foi feito sob microscopia óptica e as microfotografias obtidas com auxílio do fotomicroscópio Axiophot Zeiss.


TABELA I - SINTOMATOLOGIA PRÉ-OPERATÓRIA



TABELA II - ACHADOS DO EXAME FÍSICO (PRÉ-OPERATÓRIO



TABELA III - TIPOS DE TRATAMENTOS REALIZADOS (PRÉOPERATÓRIOS)



RESULTADOS

A - Clínicos:

A tabela 1 relaciona todos os sintomas apresentados pelos pacientes na fase pré - operatória com as suas respectivas incidências. Demonstra que a obstrução nasal, a respiração bucal de suplência e o prurido estiveram presentes em todos os pacientes abordados.

A tabela II, por sua vez, mostra os achados do exame físico no pré - operatório. Secreção nasal anormal e presença de desvio septal foram observados em todos os pacientes. Hipertrofia bilateral do corneto inferior esteve presente em 71,42% dos pacientes. Alterações narináreas, de válvula nasal, pólipos ou hipertrofia de amígdalas ou vegetações adenoideanas que pudessem comprometer o fluxo aéreo nasal normal não foram encontrados. Já a tabela III traz a relação de todos os tipos de tratamentos clínicos utilizados pelos pacientes no período pré - operatório. Mostra que os anti -histamínicos sistêmicos e os antialérgicos tópicos representaram os medicamentos utilizados pela maioria (92,86%) dos pacientes abordados. Curiosamente, os vasoconstritores nasais, de uso muito difundido entre a população com obstrução nasal crônica, tiveram uma baixa taxa de uso. Os tratamentos cirúrgicos utilizados estão relacionados na tabela IV, mostrando que todos os pacientes foram submetidos a uma turbinectomia parcial do corneto inferior, tendo sido feita de modo bilateral em 50% e unilateral em igualmente 50% dos pacientes. Em 78,57% dos pacientes associou-se à turbinectomia uma septoplastia.
Quanto à fase pós-operatória, tabela V, podemos dizer que os pacientes relataram melhora quanto a todos os sintomas presentes no pré - operatório. Predominou a melhora quanto à
obstrução nasal (85,72%), aos roncos noturnos (80%) e à respiração bucal de suplência (78,57%). O exame físico no pós - operatório, tabela VI, mostrou redução da secreção nasal em 71,43% e retificação do desvio septal em 78,57% dos pacientes previamente com estas alterações.

B - Histológicos:

O estudo da mucosa nasal nos cortes histológicos dos pacientes que desse trabalho participaram forneceu os seguintes dados quanto à fase pré - operatória.

1 - Epitélio

Encontramos sete tipos epiteliais nesta fase (figuras 1 A, B, C, D, E, F, G). Houve pacientes em que observamos um ou mais tipos epiteliais no mesmo corte estudado. A tabela VII traz
a classificação dos epitélios com as suas respectivas freqüências de aparecimento. Ela demonstra que o epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado predominou, estando (presente em 42,86% das amostras estudadas nesta fase.

2 - Lâmina própria

A - Células e Fibras do Tecido Conjuntivo

Os cortes histológicos obtidos mostraram a presença de tecido conjuntivo frouxo (figura 2) em 13 pacientes (92,86%) e tecido conjuntivo denso em 1 paciente (7,14%). A população celular era predominantemente monomorfonuclear, com estaque para linfócitos e plasmócitos. Os eosinófilos se mostraram presentes em 08 pacientes (57,14%), sempre de modo discreto e esparso.

B - Tecido Glandular

As glândulas se mostraram presentes em todos os cortes histológicos estudados. Formavam aglomerados focais compostos sempre de adenômeros serosos e mucosos, localizados predominantemente na porção média e profunda da lâmina própria (figura 2). Em 08 pacientes (57,14%) observamos predomínio do componente mucoso sobre o seroso.

C - Vasos

Quanto ao componente vascular observamos capilares, linfáticos e vasos sangüíneos em todas as lâminas estudadas. De corte para corte houve variação quanto à densidade e proporção morfológica e ao tamanho dos vasos (figura 3). Quanto à organização da parede dos vasos observamos paredes finas (pouco organizadas) e paredes espessas (bem organizadas) (figura 2). A vasodilatação foi achado freqüente na fase pré - operatória.

Existiu uma nítida diferença da histologia da mucosa nasal da fase pré - operatória em comparação coma fase pós-operatória. O estudo dos cortes histológicos correspondentes à fase pós - operatória mostrou-se menos rico às variações em relação aos tipos epiteliais e à população celular. Os componentes vascular e glandular também foram menos exuberantes e menos expressivos na fase pós-operatória.

Temos, portanto, os seguintes dados histológicos quanto à fase pós-operatória.

1 - Epitélio

Encontramos três tipos epiteliais nesta fase (tabela VIII). O epitélio pavimentoso estratificado predominou, estando presente em 78,57% das amostras estudadas (figura 4). Todos os epitélios da fase pós-operatória mostraram ausência de cílios.

2 - Lâmina própria

A - Células e Fibras do Tecido Conjuntivo

Observamos tecido conjuntivo denso em 13 pacientes (92,86%). A população celular foi predominantemente monomorfonuclear com destaque para os fibroblastos e fibrócitos, mostrando, assim, uma cicatriz colagênica densa com infiltrado de fibroblastos e fibrócitos.

B - Tecido Glandular

Diferentemente do que observamos em relação ao tecido glandular na fase pré - operatória, nem todos os cortes histológicos apresentaram este componente em suas lâminas próprias no pós-operatório. Além disso, percebemos uma redução significativa quanto ao número de adenômeros e quanto à sua distribuição em termos de densidade ao longo da lâmina própria. Encontramos aglomerados focais de adenômeros serosos e mucosos só em 8 pacientes (57,14%) nesta fase.

É importante salientar que não observamos diferenças estruturais ou morfológicas dos adenômeros mucosos e serosos da fase pré - operatória (figura 5). A diferença se limitou ao aspecto da representatividade.

C - Tecido Vascular

A primeira impressão que a análise dos cortes histológicos nos deu é de que houve uma redução muito importante quanto à quantidade de vasos presentes, quanto à sua extensão e organização. Ficou a idéia de que existem predominantemente vasos pequenos e alongados, finos e com paredes também pouco organizadas (figura 6). Podemos então dizer que, em relação ao tecido vascular, houve uma mudança morfológica e quantitativa, dos seus componentes do período pré - operatório para o período pós-operatório. Não se observou, nesta fase, vasodilatação.


TABELA IV - TRATAMENTOS CIRÚRGICOS



TABELA V - SINTOMATOLOGIA PÓS-OPERATÓRIA



DISCUSSÃO

Dados Clínicos

A obstrução nasal representou o motivo principal da consulta e o sintoma mais importante nos pacientes por nós avaliados. Importante não só pela presença em 100% dos pacientes avaliados, como também pela sua repercussão sobre a qualidade de vida dos pacientes, causando desconforto, comprometendo a qualidade do sono, interferindo com a acuidade olfatória, entre outros. Missaka 1relacionava as hipertrofias dos corneto inferiores, os desvios septais e as alterações orificíaís ao nível da narina, válvula ou coaria, como causas principais da obstrução nasal e dizia que na maioria das veies existe uma associação de dois ou mais destes componentes.

Na nossa casuística tivemos relato de obstrução nasal bilateral em 92,86% dos casos e só encontramos hipertrofia bilateral dos cornetos inferiores em 72,42% dos pacientes, mostrando a importância do desvio septal na origem deste sintoma. Outro fator que não deve ser negligenciado é a hipertrofia do corneto inferior ao nível de sua porção caudal, levando à obstrução nasal por bloqueio da coaria. Estes dados confirmam, assim, a origem multifatorial do ponto de vista anatômico da obstrução nasal.

O prurido foi descrito por Johnson 6 como irritação cutâneo - mucosa que produz coceira. É uma sensação conduzida por fibras amielínicas do grupo C desde os seus receptores periféricos para a área sensitiva do giro pós central do córtex. Parker 7 relacionou uma variedade de mediadores como histamina e tripsina como estimulantes destas fibras e indutoras do prurido. Cita igualmente fatores psicogênicos, drogas (aspirina, opióides) e mudanças bruscas de temperatura como causadores deste sintoma. Observamos uma melhora em 78,57% dos pacientes com este sintoma. Esta resposta pode ter sido resultado de uma menor congestão ao nível da mucosa nasal, de um aumento do limiar do prurido provocado por alterações dos seus receptores, promovidas por turbinectomia parcial do corneto inferior ou de uma desobstrução e redução da secreção na fossa nasal como menor estímulo dos seus receptores periféricos.

As glândulas seromucosas da lâmina própria e as células caliciformes do epitélio nasal produzem secreção nasal e desempenham papel importante na fisiologia nasal. TOS 8 observou aumento da secreção nasal em pacientes com processo alérgicos ou hipertróficos. Dizia que haveria neoformação de glândulas com aumento da capacidade secretória nasal (92,85%). Os desvios septais, por sua vez, impediriam uma drenagem desta secreção. Observamos melhora em 76,92% dos pacientes com esta queixa.

A respiração bucal de suplência provocada por uma obstrução nasal representa um fenômeno comum e se associa freqüentemente a alterações crânio - faciais repetidas e semelhantes, como face alongada e palato em ogiva, entre outros. Cooper9 provocou obstrução nasal completa em animais e observou aberrações no desenvolvimento orofacial, com tendência à normalização após a sua remoção. Houve, porém, observações contrastantes, como desenvolvimento orofacial normal na presença de obstrução nasal, confirmando a hipótese da ausência de efeitos ambientais no desenvolvimento orofacial, acreditando na supremacia da genética no seu desenvolvimento. Concluiu que a verdade deve ser um ponto intermediário entre estas duas posições. Para ele, a obstrução nasal determina, além de alterações esqueléticas, alterações neuromusculares. Todos os nossos pacientes apresentaram respiração bucal de suplência e a avaliação fonoaudiológica mostrou hipotonicidade da musculatura perioral e facial nestes pacientes. Observamos melhora quanto a respiração bucal de suplência em 78,57% dos nossos pacientes.

A cefaléia é outra queixa que se associa freqüentemente à obstrução nasal. Hungria 10 relacionou os desvios septais e as hipertrofias dos cornetos inferiores à obstrução dos óstios sinusais, com uma diminuição ou anulação da ventilação das cavidades sinusais, com diminuição da eliminação da secreção mucosa, acúmulo da mesma e compressão dos filetes nervosos, provocando cefaléia. Observamos cefaléia pré - operatória em 8 pacientes (57,14%). Houve melhora deste sintoma em 75% destes pacientes, podendo estar- relacionada a ventilação e drenagem facilitadas ao nível dos seios.

A hiposmia é uma queixa subjetiva e muitos pacientes não tomam consciência desta disfunção. Doty e Frye 11 sugeriram a alteração do fluxo aéreo nasal ao nível do epitélio olfatório como causadora deste sintoma. A melhora quanto a hiposmia observada nos nossos pacientes pode estar associada ao acesso facilitado dos odorantes ao receptores olfatórios.

Dados Histopatológicos:

Os epitélios pseudoestratificado cilíndrico ciliado, cúbico simples e colunar estratificado, encontrados na fase pré - operatória, são tipos epiteliais descritos como presentes na mucosa nasal normal 12,13. Os epitélios pseudoestratificado cilíndrico não ciliado e colunar estratificado também foram descritos como epitélios normais, porém de forma ciliada.

Jahnke 14, Mygind e Winther 15 citam quatro causas principais para a perda dos cílios dos microvilos e comprometimento da ciliogênese: alteração do fluxo aéreo nasal normal; destruição dos cílios por alérgenos; mudanças da quantidade e viscosidade da secreção nasal; pressão do corneto contra o septo.

No pós-operatório houve predomínio absoluto do epitélio pavimentoso estratificado (78,57%). Esteve presente em 35,71 dos cortes histológicos do pré - operatório. Mostrou-se, porém, nesta fase, mais denso, com núcleos mais próximos uns dos outros e número menor de camadas epiteliais. Representam, provavelmente, fenômenos epiteliais adaptativos à agressão (turbinectomia). Sendo atrofia diminuição do tamanho das células devido à perda de substância celular, com diminuição do órgão ou tecido (Robbins e Cotran16), então estamos diante de um processo atrófico. Mas atrofia não é sinônimo de morte celular e sim morte de sua função. Pode progredir para lesão e morte celular com substituição das células normais por células adiposas ou conjuntivas, quando o seu suprimento sangüíneo é inadequado. Neste caso teríamos perda de suas funções. Não observamos substituição do epitélio nasal por tecido adiposo ou conjuntivo. O processo de regeneração dos epitélios se inicia a partir das margens, onde as células estáveis permanecem viáveis. O tipo de epitélio que se desenvolverá depende dos estímulo externos exercidos sobre o mesmo, podendo ser o epitélio d origem ou ocorrer uma metaplasia na tentativa de sobreviver à condições adversas.

Quanto à lâmina própria, observamos tecido conjuntivo frouxo em 92,86% dos cortes histológicos da fase pré-operatóri com predomínio linfoplasmocitário. Estes achados estão em sintonia com os dados da literatura em relação às mucosa alérgicas. Já o tecido conjuntivo denso, encontrado em 100 das amostras do pós-operatório, representa um tecido cicatricial bem estabelecido nesta fase.


O tecido glandular abundante, na fase pré - operatória, explica o encontro de secreção acima do normal nos nossos pacientes. No pós-operatório ele se mostrou discreto, pouco expressivo e até ausente, estando em concordância com a diminuição da secreção nesta fase.

Cauna e Hinderer17 descreveram a importância dos vasos sangüíneos da mucosa nasal na patência nasal. Na fase pré - operatória encontramos linfálicos, capilares e vasos sangüíneos em todos os cortes estudados. A vasodilatação foi um achado freqüente, demonstrando um sistema vascular mais túrgido, sendo responsável pelos fenômenos obstrutivos. Rundcrantz 18 descreveu a anatomia e a dilatação do leito venoso na mucosa alérgica e disse que o aumento da pressão venosa pode determinar congestão e edema da mucosa nasal.

No pós-operatório predominaram vasos pequenos, pouco organizados, sem dilatação. Robbins e Cotran 16 explicaram este fato, dizendo que muitos vasos sangüíneos sofrem trombose no processo de reparo com posterior degeneração, reabsorção e digestão. O resultado final é uma cicatriz composta por fibroblastos, colágeno denso e poucos vasos.



TABELA VI - ACHADOS DO EXAME FÍSICO (PÓS-OPERATÓRIO



TABELA VII - REPRESENTATIVIDADE DOS TIPOS EPITELIAIS EM RELAÇÃO À SUA FREQÜÊNCIA NOS PACIENTES ESTUDADOS E EXPRESSA EM PORCENTAGEM.



TABELA VIII - REPRESENTATIVIDADE DOS TIPOS EPITELIAIS EM RELAÇÃO À SUA FREQÜÊNCIA NOS PACIENTES ESTUDADOS E EXPRESSA EM PORCENTAGEM.




FIGURA 1: Tipos epiteliais da fase pré - operatória:


Figura 1 A - Epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado.



Figura 1B - Epitélio pavimentoso estratificado.



Figura 1C - Epitélio colunar simples.



Figura 1D - Epitélio cúbico estratificado.



Figura 1E - Epitélio cúbico simples.



Figura 1F - Epitélio colunar estratificado ciliado.



Figura 1G - Epitélio pseudoestratificado cilíndrico não ciliado. Original 100x.



Figura 2 - Lâmina própria com tecido conjuntivo frouxo, aglomerados focais de adenômeros serosos e mucosos e vasos sangüíneos com paredes organizadas. Original 25x.



Figura 3 - Visão panorâmica das camadas da mucosa nasal. Os vasos sangüíneos apresentam formas, diâmetros e organização variados. Há vasodilatação. Original 25x.



Figura 4 - Epitélio pavimentoso estratificado correspondente à fase pós-operatória. Original 100x.



Figura 5 - Lâmina própria com aglomerado de adenômeros serosos e fibras do tecido conjuntivo denso. Original 100x.



Figura 6 - Lâmina própria com componente vascular na fase pós-operatória. Original 100x.



CONCLUSÕES

A análise dos resultados obtidos neste trabalho permite estabelecer as conclusões que seguem:

1 - A turbinectomia parcial do corneto inferior, associada à septo ou rinosseptoplastia, representa método terapêutico eficaz no combate à obstrução nasal crônica, refratária aos métodos clínicos habituais.

2 - Todos os epitélios correspondentes à fase pós-operatória se mostraram sem cílios e com sinais histológicos consistentes com o diagnóstico de processo atrófico.

3 - Não foi observado processo atrófico clínico, como secura e formação de crostas, um ano após o ato cirúrgico.

4 - Foram encontrados sinais histológicos de atrofia e ausência dos cílios nos epitélios do pós-operatório, mesmo sem evidência de atrofia clínica, após um ano da cirurgia.

5 - Indicação criteriosa da turbinectomia deve ser feita e acompanhamento clínico dos pacientes turbinectomizados, para se detectar o aparecimento de sinais clínicos de atrofia a médio e longo prazo.

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

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* Mestra em Otorrinolaringologia pelo Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, U. S. P. Pós - Graduanda da Clinica de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

** Professora Assistente da Disciplina de Otorrinolaringologia do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, U. S. P.

*** Professor Assistente Doutor da Disciplina de Otorrinolaringologia do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, U.S.P

**** Professor Titular da Disciplina de Otorrinolaringologia do Departamento Ide Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto U.S.P

*****Professor Assistente Doutor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, U. S. P.

****** Professor Assistente Doutor do Departamento de Morfologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, U. S. P.

Resumo da Dissertação apresentada ao Curso de Pós - Graduação em Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, U. S. P., para obtenção do Título de Mestre (1993), tendo como Orientador Prof. Dr. José F. Colafemina.

Trabalho apresentado no I ENCONTRO BRASILEIRO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS EM OTORRINOLARINGOLOGIA - Porto Alegre - 1993, obtendo o primeiro lugar na área de Rinologia.

Endereço para correspondência: Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP "Campus Universitário"- Monte Alegre 14049-900 - Ribeirão Preto - SP.

Suporte Financeiro: CAPES

Artigo recebido em 3 de fevereiro de 1994. Artigo aceito em 21 de fevereiro de 1994.

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