Versão Inglês

Ano:  1993  Vol. 59   Ed. 4  - Outubro - Dezembro - (13º)

Seção: Relato de Casos

Páginas: 289 a 291

 

Glioma nasal. Relato de caso.

Nasal glioma. Case report.

Autor(es): Flávio Carvalho Santos*,
Bismarck Lima de Aguiar**

Palavras-chave: glioma, tumor, malformação congênita

Keywords: glioma, tumour, congenital malformations

Resumo:
Os autores apresentam o caso de um paciente portador de glioma nasal. Discutem a necessidade de ser feito um diagnóstico diferencial adequado e suas dificuldades, utilizando-se da história clínica, exame físico e radiológico. Enfatizam à importância do diagnóstico precoce e da necessidade de uma avaliação pré-operatória cuidadosa, visando delimitar bem a expressão e o grau de comprometimento do tumor.

Abstract:
The authors present one patient diagnosed as nasal glioma. Discuss the diferencial diagnostic and the necessity of clinical history, fisical and radiologic exams for patients management. The objective of this report was to alert to the necessity of precocious diagnostic. Surgery was the treatment of choice.

INTRODUÇÃO

Glioma nasal é um tumor resultante de alterações no desenvolvimento embrionário normal. É mais comumente encontrado no nascimento e têm uma certa predominância pelo sexo masculino1. Foi mencionado na literatura pela primeira vez por Berger2, em 1980, sendo utilizado o termo "encefaloma".

Anatomicamente está dividido em três tipos1, 3, 4: extranasal (60%), intranasal (30%) e misto (10%). Clinicamente se apresenta com uma sintomatologia compatível com uma massa nasal. É um tumor usualmente unilateral, entretanto em raras ocasiões pode ser bilateral.

Histologicamente apresenta-se como células astrocíticas neurogliais, interlaçadas com tecido conectivo fibroso e vascular2, 4, 5, 6, 7.

Acredita-se que seja uma encefalocele que ao longo do desenvolvimento embrionário perdeu sua conexão intracranianal.

RELATO DO CASO

F.S.L., 1 ano e 8 meses, branca, natural de Caxias (MA), acompanhada da mãe veio ao nosso serviço com queixas de respiração bucal, roncos, sialorréia e tumor na fossa nasal direita há aproximadamente 7 meses.

Ao exame físico apresentava cavidade oral, pescoço e ouvidos normais. A inspeção do nariz, pirâmide nasal conservada. Ao exame especular observou-se massa tumoral avermelhada, com aspecto polipóide, indolor, ocluindo a luz da fossa nasal direita com desvio do septo para a esquerda, "Glatzel" impermeável à direita e diminuído à esquerda.

A tomografia computadorizada (fig. 1 e 2) mostra um espessamento mucoso concêntrico em ambos os seios maxilares, mais evidente a esquerda e em células etmoidais direitas. Células etmoidais esquerdas íntegras. Opacidade completa da fossa nasal direita, por lesão sólida, com densidade de partes moles (12 U.H.), homogênea, de contornos regulares, tipo polipóide, medindo 2,6 x 1,0 cm com infiltração dos componentes ósseos do septo nasal e dos cornetos médio e inferior direitos, sem comunicação com a cavidade craniana. Cavidade nasal esquerda sem alterações tomográficas.

A paciente foi encaminhada para cirurgia, ande foi abordada pela técnica de "De-gloving" devido à facilidade de realização e o excelente campo cirúrgico que proporciona. A tumoração se localizava no corneto médio, de fora pediculada, com superfície lisa, se projetando para e região anterior da fossa nasal direita. Retiramos a tumoração usando alça-fria, houve um discreto sangramento que foi controlado com eletrocoagulação. Não foi necessário a colocação de tampão nasal. O estudo histopatológico confirmou o diagnóstico de glioma nasal.

DISCUSSÃO

O glioma nasal é uma tumoração de caráter congênito, cujo substrato patogênico mais aceito é de uma encefalocele que perdeu sua conexão intracranial. Contudo, pode estar conectado ao encéfalo em 15-25% dos casos4, 8, 9. Nunca contém cavidades preenchidas por líquido em comunicação com o ventrículo ou com espaço subaracnóideo.

O diagnóstico diferencial com tumores de origem neuroectodérmica: cisto dermóide, e mesodérmica: hengiomas, se faz necessário10. Um tumor astrocítico verdadeiro pode em raras oportunidades apresentar-se como pólipo nasal6, principalmente em pacientes idosos.

Quando há suspeita de conexão intracranial, a remoção da massa extracranial deve ser precedida por uma exploração neurocirúrgica da fossa anterior do cérebro3, e tendo-se o cuidado de, na existência, contra-indicarmos a biópsia, devido ao risco de encefalite10. A incisão cirúrgica é o tratamento de escolha para o Gloma nasal, estes tumores não são sensíveis ao tratamento radioterápico. Há abordagens diferentes à respeito da melhor forma de intervenção cirúrgica, visto que existe a possibilidade de conexão intracranial. Alguns autores preconizam a ressecção isolado do glioma. Outros acreditam que a melhor abordagem é através de uma craniotomia exploradora. A terapêutica cirúrgica deve ser feita o mais precocemente possível, para que possamos evitar os efeitos deformantes que a tumoração pode acarretar na estrutura ósseo-cartilaginosa facial do paciente.



 
FIGURA 1 e 2 - Cortes tomográficos dos seios da face, realizados nos planos coronal e axial, mostram espessamento mucoso concêntrico, opacidade completa da fossa nasal direita, por lesão sólida, tipo polipóide.



FIGURA 3 - Células da glia proliferadas e típicas, inclusas em um estroma frouxo, fibrilar. (HE-100x).



FIGURA 4 - Detalhes das células da glia arredondadas, típicas e do estroma fibrilar. (HE-400x).




O tumor tende a apresentar um crescimento proporcional ao do tecido neural normal. A lesão intranasal tende a surgir na área do corneto médio, eventualmente podendo surgir no septo nasal.

Uma avaliação pré-operatória cuidadosa é necessária para que possamos fazer um planejamento cirúrgico adequado e para conseguirmos diminuir a taxa de recorrência.

A confirmação diagnóstica é feita com o exame histopatológico, onde é encontrado um quadro dominante de proliferação neuroglial, se observa vasos sangüíneos, formações epiteliais ependimarias, fibras nervosas mielizadas, proliferação conectiva de tecido fibroso formando uma espécie de cápsula.

CONCLUSÃO

Na avaliação de um paciente portador de uma massa tumoral, deve-se fazer um estudo clínico e de exame complementares adequados visando a avaliação do comprometimento, para podermos fazer um plano terapêutico, com uma abordagem cirúrgica mais confiável. Deve ser feito um diagnóstico diferencial acurado, observando-se suas características clínicas, de imagens e histológicas.

O diagnóstico deve ser feito o mais cedo possível, pois apesar de não ter sido reportado malignidade à lesão, os seus efeitos compressivos podem levar a malformações importantes da estrutura nasal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. HENDRICKSON, M.; PETERSEN, O.F.; JOHNSON, D.G.: Cystic and solid heterotopic brain in the face and neck: a review and report of an usual case. J. Pediatr Surg., 25: 766-68, 1990.
2. GRANATO, L.; FILHO, I.B.: Congenital malformations of the nose. F. Méd. 100: 63-74, 1990.
3. PUPPALA, B.; MANGURTEN, H.H.; FADDEN, J.; LYGIZOS, N.; TAXY, J.; PELLETTIERE, E.: Nasal glioma. Cli Pediatr. 29:49-52,1990.
4. FECHENER, R.E.: Resident's page. Arch Otolaryngo1 Head Neck Surg. 115:1384-86, 1989.
5. THEAKER, J.M.; FLETCHER, C.D.M.: Heterotopic glial nodules: a light microscopic and immunohistochemical study, Histopathology. 18.255-59, 1991.
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7. CHAN, J.K.C.; LAU, W.H.: Nasal astrocytoma or nasal glial heterotopia. Arch Pathol. Lab. Med, 113: 943-45, 1989.
8. MORGAN, D.W.; EVANS, J.N.G.: Developmental nasal anomalies. J Laryngol Otol, 104: 394-403, 1990.
9. BARKOVICH, A.J.; VANDERMARCK, P.: EDWARDS, M.S.B.; COGEN, P.H.: Congenital nasal masses: t and mr imaging fratures in 16 cases. American Journal of Neuroradio logy., 12: 105-116, 1991.
10. NIEDINA, A.O.; PONS, S.: Glioma nasal. Arch. Argent. Dermat., 3:181-84,1981.




* Otorrinolaringologista.
** Interno do Curso de graduação em Medicina da Universidade Federal do Piauí.

Endereço: Clínica Dr.: Flávio Santos - Rua Paissandu, 2240 - Centro Teresina - Piauí - CEP 64000

Trabalho realizado: Hospital São Marcos (Sociedade Piauiense de combate ao câncer)

Rua Olavo Bilac, 2330 - Centro - Teresina Piauí - CEP 64000
Local apresentado: Congresso Norte-Nordeste de Otorrinolaringologia Maceió, 1992

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