Versão Inglês

Ano:  1993  Vol. 59   Ed. 4  - Outubro - Dezembro - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 272 a 275

 

Citologia nasal no diagnóstico de rinite alérgica.

Cytology of the nose in the diagnosis of allergic rhinitis.

Autor(es): Denise Utsch Gonçalves *
Beatriz Fagundes Pedrosa *
Luciana de Gouvêa Viana **
Roberto Eustáquio Guimarães ***
Helena Maria Gonçalves Becker ***
Celso Gonçalves Becker ****

Palavras-chave: citologia, rinite alérgica perene

Keywords: cytology, perennial allergic rhinitis

Resumo:
Rinite Alérgica é uma das doenças que mais freqüentemente causam espirros, rinorréia, prurido e obstrução nasal. O diagnóstico, entretanto, não deve se basear somente no quadro clínico, já que rinites de causas diversas podem apresentar-se clinicamente como atopia nasal. Foram avaliados prospectivamente 91 pacientes com o objetivo de analisar o uso de citologia nasal como método diagnóstico, comparando-o ao teste cutâneo, teste padrão deste trabalho. Os resultados mostraram que baseando-se no aumento de eosinófitos do muco nasal, foram diagnosticados corretamente cerca de 70% dos casos. Os autores concluem que a citologia nasal é útil no diagnóstico de atopia em pacientes com clínica sugestiva de rinite alérgica. Contudo, não é confiável para excluir a doença devido ao baixo valor preditivo negativo (53%).

Abstract:
Allergic Rhinites frequently causes sneezing, rhinorhea, itching and nasal blockage. In spite of this, the diagnoses has not to be based only in the clintçal symptoms, because any rhinitis can resemble nasal allergy. Ninety one patients were evaluated prospectively with the purpure of analysing the use of nasal cytology as diagnostic method, comparing it with skin test, the "Gold standart" of this work The results indicated that based on nasal eosinophils it was posible to diagnose correctly about 70% of the cases. The authors conclude that citology of the nose is usefull in allergy diagnosis considering patients with clinic suggesting allergic rhinitis. However it isn't trusty to exclude the disease, because of the low preditive negative value (53%).

INTRODUÇÃO

Rinite alérgica é definida como congestão da mucosa nasal resultante de sensibilização imunológica primária a determinados alérgicos aos quais o indivíduo é exposto de forma recorrente ou contínua'. O diagnóstico é baseado na história clinica, no exame físico, na pesquisa da elevação do anticorpo IgE e na citologia nasal2, 3.

Evermann em 1927 observou que pacientes alérgicos apresentavam secreção nasal com acentuada eosinofilia4 e Murray confirmou a relação entre eosinofilia no muco nasal e atopia3. Hoje, aceita-se que o teste cutâneo é método diagnóstico de eleição para a suspeita clínica de alergia6, 7, 8. A citologia nasal, apesar disso, mantém sua validade diagnóstico: é método de execução fácil e barata, avalia muito bem a presença de infecção nasal9 e é o principal instrumento diagnóstico para avaliar doença alérgica nasal nos centros que não dispõem de material adequado para a realização de teste cutâneo.

O objetivo deste trabalho é avaliar o valor diagnóstico da citologia nasal, comparando-a ao teste cutâneo por puntura, que será o teste padrão deste estudo, em pacientes com quadro clínico sugestivo de rinite alérgica. A população também será caracterizada quanto a idade, sexo, doenças associadas e história familiar para alergia.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram avaliados prospectivamente 91 pacientes com suspeita clínica de alergia nasal, atendidos no ambulatório de otorrinolaringologia do Hospital das Clinicas da Universidade Federal de Minas Gerais, durante período de março a outubro de 1992.

Excluíram-se deste estudo pacientes que haviam utilizados drogas ante-histamínicas nos trinta dias antecedentes à consulta, visto que alteram a resposta cutânea10, 11.

Todos os pacientes fizeram teste cutâneo por puntura, conforme técnica descrita por Drebog e preconizada para trabalhos científicos10 ,11. (Bactéria de antígenos fornecida pelo laboratório farmacêutico MERCK do Brasil.)



GRÁFICO I - Distribuição dos pacientes quanto à idade.



GRÁFICO II - Distribuição dos pacientes com teste cutâneo positivo quanto à idade.



A citologia nasal foi realizada em 60 pacientes. Este procedimento não foi executado naqueles com muco nasal purulento, visto que os eosinófilos desaparecem da secreção nestas circunstâncias'. Os pacientes assoaram o muco em papel celofane, sendo preparado dois esfregaços. A secagem foi realizada ao ar, seguida de coloração por May-Grumwald-Giensa. A contagem celular à microscopia foi realizada em aumento de 500x. A lâmina foi percorrida em toda a extensão e a contagem repetida. Considerou-se eosinofilia significaste quando a contagem de eosinófilos foi maior que 25% do total de células, excluindo-se as epiteliais12, 13, 14. Todos os esfregaços foram analisados por um mesmo patologista, que não conhecia o resultado do teste cutâneo.

A interpretação dos resultados foi realizada através da avaliação da tabela binária, que possibilitou o cálculo da sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo da citologia nasal em comparação aos resultados do teste cutâneo. A significância estatística foi avaliada pelo teste de Fisher, sendo considerados significativos valores cujo intervalo de confiança foi maior que 95%.

RESULTADOS

A população estudada foi compostapor44 (48%) mulheres e47 (52%) homens. Os pacientes estão distribuídos quanto a idade e ao teste cutâneo positivo nos gráficos I e II, respectivamente. O teste cutâneo foi negativo em 30 (32%) pacientes. As respostas alérgicas aos antígenos testados estão distribuídos na Tabela I e as doenças associadas na Tabela II.



TABELA I - Distribuição dos pacientes quanto aos antígenos testados. N = 91



TABELA II - Distribuição dos pacientes quanto as doenças associadas. N = 91



TABELA III - Citologia nasal comparada ao teste cutâneo para o diagnóstico de rinite alérgica.



História familiar para alergia esteve presente em 9 (10%) dos casos.
Um paciente apresentava rinorréia profusa e prurido sempre que se medicava com aspirina. Além disso, tinha polipose nasal e teste cutâneo negativo.

A tabela III mostra a análise estatística dos dados obtidos a partir da análise da citologia nasal e do resultado do teste cutâneo. A prevalência de rinite alérgica na população deste estudo foi de 73%.

DISCUSSÃO

Pacientes com rinorréia, prurido e obstrução nasal são freqüentes nos consultórios de otorrinolaringologia. Na abordagem inicial é importante definir qual a participação de fenômenos alérgicos como causa desta manifestações clínicas, visto que rinites de causa diversas podem apresentar quadro clínico semelhante à rinite alérgica9, 14, 15, 16, 17.

A alergia pode começar em qualquer idade, mas o pico de incidência ocorre na infância e adolescência15. Os dados apresentados neste trabalho concordam com a literatura.

O teste cutâneo por puntura é exame objetivo e de valor epidemiológico. Provê delineaçâo clara entre reação positiva e negativa, além de apresentar risco mínimo para o paciente. É considerado o principal instrumento no diagnóstico de rinite alérgica. A dosagem dele por radio imuno ensaio é, por outro lado, menos sensível.

O estudo da citologia não separa doenças alérgicas de não alérgicas. Casos de polipose nasal, idiossincrasia a aspirina e síndrome eosinofílica não alérgica são doenças que se confundem clinicamente com rinite alérgica e podem apresentar eosinofilia no muco nasal14, 16, 17. Entretanto a prevalência de doenças alérgicas é muito maior12, 15, 17. Na casuística apresentada, 73% dos pacientes eram realmente atópicos. Dessa forma, a citologia nasal cresce em importância, sendo grande auxiliar para aqueles pacientes em que a suspeita de alergia é forte e não há teste cutâneo disponível. A casuística apresentada, embora ainda pequena, mostrou que o estudo da citologia tem boa acuidade quando comparado teste cutâneo. Baseando-se neste método, foram diagnosticados corretamente cerca de 70% dos pacientes. Por outro lado, a citologia nasal mostrou-se inadequada para afastar a doença, pois 47% dos pacientes definidos como não alérgicos baseando-se no número de eosinófilos do muco nasal eram, na realidade, doentes. Os resultados falso-negativo foram, pois, muito elevados.

Avaliando-se doenças associadas, observa-se que asma foi a mais freqüente. Este achado ilustra a relação entre alergia, rinite e asma, amplamente discutida na literatura17.

Idiossincrasia aspirina esteve presente em 1,1 % desta casuística. Este dado aproxima-se daquele encontrado por Chafee e Settipone, que avaliando prospectivamente 1372 pacientes com rinite perene, encontrou que reações adversas a aspirina esteve presente em 0,7% dos casos17.

A história familiar apresentou índices mais baixos que os citados pela literatura, que cita valores em torno de 30%15, 16.

CONCLUSÃO

A citologia nasal é útil no diagnóstico de alergia em populações com prevalência elevada de atopia, isto é, pacientes cora clínica sugestiva de rinite alérgica. Contudo não é confiável para excluir a doença, devida ao baixo valor preditivo negativo (53%).

AGRADECIMENTO

Dirceu Bartolomeu Greto, Professor Titular em Imunologia da Faculdade de Medicina da UFMG, pelo apoio e colaboração.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. NALEBUFF, D.J.: Allergic Rhinites: The use of RAST as an aid in diagnosis. In: Goldman, J.L. Principies and Practice of Rhinology. New York, Wiley Medicai Publications, 1987, 255-265.
2. HOWÀRTH, P.H.: Allergic Rhinits: a rational choise of treatment. Respiratory Medicine, 83: 179-188, 1988.
3. STAFFORD, C.T.: Allergic Rhinits. A useful guide to diagnosis and treatment. Postgraduate Medicine, 81: 147-157, 1987.
4. EVERMAN, C.H.: Nasal Manifestations of Allergy. Ann Otolaryng. Rhin. & Laring., 32: 808-818,1927.
5. MURRAY, A.B; ANDERSON, D.O.: The epidemiologic relationship of clinical nasal allergy to eosinophils and to globet cells in the nasal smear. The Journal of Alergy, 43.
6. NORMAN, P.S.: In vivo methods of study of Allergy: In Middleteon, E. Jr. Allergy Principies and Practice. St. Louis, The C. V. Mosby Company, 1983.295-302.
7. KNAUER, K.A.; ADKINSON, N.F.J.: Clinicai significance of IgE In: Middleton, E. Jr. Allergy Principies and Practice. St. Louis, The C. V. Mosby Company, 1983.673-699.
8. AAS, K.; BACKMAN, A.; BELIN,. L.: Standardization of allergen extracts with appropriate methods. The combined use of skin prick testing and radioallergosorbent tests. Allergy, 33: 130-137, 1978.
9. WILLIANS, R.B.; GWALTNEY, J.M. Jr.: Allergic Rhinitis or Vírus Gold7 Nasal smear eosinofilia in differencial diagnosis. An of Allergy, 30.189-194,1972.
10. DREBOG, S.: Method a for skin testing. Allergy, 44: 22-30, 1989.
11. VOOHORST, R.: Perfection of skin testing technique. Allergy, 35: 247-261, 1980.
12. HENERSON, J.A.: Cytology of the nose and paranasal sinuses. In: Goldman, J.L. Principies and Practice of Rhinology. New York, Wiley Medicai Publication, 1987. 223-232.
13. BICKMORE,J.T.; MARSHALL, M.L.: Citology ofnasalsecretions: further diagnostic help. Laringoscope, 86: 516-523, 1976.
14. JACOBS, R.L.; FREEDMAN, P.M.; BOSWELL, R.N.: Nonallergic rhinitis with eosinophilia (MARES syndrome). Clinicai and immunological presentation. J Allergy Clin. Immunol, 67:253-262,1981.
15. NACLERIO, R.M.: Allergic Rhinits. The New England Journal Of Medicine, 19: 860-867, 1991.
16. MYGING, N.; WEEKE, B.: Allergic and non allergic rhinits. In: Middleton E, Jr. -Allergy: Principies and Practice. St, Louis, C. V. Mosby Company, 1983.1101-1117.
17. CHAFEE, F.H.; E SETTIPONE, G.A.: Aspirin Intolerante. Frequence in an allergic population. J. Allergy Clin Immunol., 53: 193201,1974.
18. LOCKEY, R; BUKANTS, S.: Fatalites associated with skin testing & Imrnunology. J Allergy Clin. Immunol, 80.- 463-466.




* Residente do Serviço de Otorrinolaringologia do H.C. da UFMG.
** Residente do Serviço de Patologia Clinica da F.M. da UFMG.
*** Professor do Serviço de Otorrinolaringologia da F.M. da UFMG.
**** Professora do Serviço de Otorrinolaringologia da F.M. da UFMG.
***** Professor Adjunto e Coordenador da Residência Médica do Serviço de Otorrinolaringologia do H. C. da UFMG.

Trabalho realizado no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

Endereço para Correspondência: Departamento de Oftalmo Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da UFMG - 3° andar-Sala 2. Av. Alfredo Balena, n° 190 - CEP 30130-100 - Belo Horizonte - Minas Gerais.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial