Versão Inglês

Ano:  1993  Vol. 59   Ed. 2  - Abril - Junho - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 99 a 101

 

A incidência da otite média secretora em diferentes faixas etárias.

The incidence of secretory otitis media in different age groups.

Autor(es): Fernando de A. Quintanilha Ribeiro*

Palavras-chave: otite média com efusão, criança

Keywords: otitis media with effusion, child

Resumo:
O autor examinou, otoscopicamente e impedanciometricamente, 522 escolares supostamente normais, (10-14 ouvidos), em diferentes faixas etárias, e demonstra neste trabalho a evolução normal da otite média secretora e da disfunção tubária e conseqüentemente a conduta quanto a sua abordagem terapêutica.

Abstract:
The author performed otoscopic and tympanometric exams in 522 children (1044 ears), in different age groups, supposedly with no underlying abnormalities. This study shows the natural history of secretory otitis media and Eustachian tube dysfunction and also discusses their treatment.

INTRODUÇÃO

A OMS é sem dúvida a doença mais comumente encontrada nas crianças, dentre todas da área otológica. Seu diagnóstico se faz com precisão através da impedanciometria, mais precisamente através da curva timpanométrica, onde se apresenta baixa, sem a formação de um pico, sendo classificada de curva tipo B por Jerger.

Não é nossa intenção discutimos sua etiopatogenia, mas devemos lembrar que em sua evolução a OMS passa pela chamada disfunção tubária, onde o ouvido médio apresenta pressões negativas além de água, caracterizando a curva tipo C de Jerger.

Este trabalho visa comparamos duas faixas etárias diferentes entre crianças de 4 a 7 anos de idade com crianças entre 7 e 11 anos, para avaliamos as possíveis diferenças que ocorrem quanto à incidência das OMS e das disfunções tubárias.

REVISÃO DA LITERATURA

Vários autores tem se preocupado coar métodos para avaliar possíveis comprometimentos auditivos em escolares e pré-escolares. Dentre estes destacam-se os trabalhos de Brooks (1969, 1971, 1973, 1974, 1985)1, 2, 3, 4, 5 na Inglaterra, onde o autor demonstra a importância da timpanometria para o diagnóstico das afecções da tuba auditiva,entidades que mais comumente acometem esta faixa etária, sendo que em sua estatística 20% das crianças no primeiro ano da escola as apresentam, mas apenas 3% ainda as mantém aos 10 e 11 anos. Brooks chama a atenção para a importância de uma audição normal para a devida alfabetização dessas crianças, o mesmo ocorrendo nos trabalhos de Bennet (1980)6, Sak & Ruben (1981)7.

Além do problema a nível de escolaridade, o diagnóstico precoce da OMS evita possíveis complicações futuras, como colesteatomas, atelectasias (Sade & Berco, 1976)8, tinipanoscleroses (Paparella & Lim, 1967)9, (Schiff, 1980)10 e até perdas neurossensoriais futuras (Moore & Best, 1980)11.

De acordo com Paradise & Sinith (1979)12 a impedanciometria é uni teste de muito valor, mas dada a detecção de um número apreciável de OMS, precisamos ponderar adequadamente como nos comportarmos frente a estas crianças que até então se apresentavam assintomáticas. Tos (1980)13 chama a atenção em seu trabalho em pré escola, que a maioria destas crianças reavaliadas posteriormente já se apresentam impedanciometricamente normais, mesmo sem nenhum tipo de tratamento.

Em nosso país vários autores tem usado a impedanciometra como método de avaliação auditiva, destacando-se entre eles Lopes Filho (1972)14, Maudonnet & Pacal (1976)16 e Santos 1980)1. Ainda em nosso meio, Russo (1981 e 1985)17, 18 demonstra que em pré-escolares as curvas tipo B e C de Jerger (1970)19, são mais comuns nas faixas etárias mais baixas, mas independem do sexo e do nível sócio-econômico, concordando com os trabalhos de Brooks (1969), Jerger (1970), Harker & Van Wagoner (1974, 1976)2 , Renvall e cols. (1975)21, quanto a faixa etária, mas discordando do trabalho de Fay e cols. (1970)22 e Portoian & Cullinan (1984)23, quanto à classe sócio-econômica.

MATERIAL E MÉTODOS

Fora examinadas 522 crianças ou 1044 ouvidos sendo 349 crianças ou 698 ouvidos na faixa etária entre 4 a 7 anos de idade (grupo A) e 173 crianças ou 346 ouvidos na faixa etária entre 7 a 11 anos de idade (grupo B).

Foram examinados 262 meninos e 260 meninas, sendo 180 meninos e 169 meninas do grupo A e 82 meninos e 91 meninas do grupo B.

Os exames foram realizados com um impedanciometro Amplaide 702 em duas escolas freqüentadas por crianças de nível sócio-econômico semelhantes. Levamos em consideração todos os ouvidos que apresentavam na timpanometria curvas de OMS (tipo B de Jerger), ou disfunção tubária (curva tipo C). Quanto à disfunção tubária consideramos apenas aquelas compressões negativas além de -200 min de água, baseados no trabalho de Brooks (1969), que considera, frente a sua alta incidência normais, as pressões até este valor.

RESULTADOS

Como antes de fazermos a impedanciometria submetemos todas as crianças a um otoscopia, algumas se apresentaram incapacitadas para prosseguir com os testes por apresentarem algum tipo de problema, como:

Rolhas de cerumem 35
Otite média aguda 2
Perfuração timpânica 1
Tubos de ventilação 6
Timpanosclerose 1

Estas crianças foram excluídas da amostra que contou então de 999 ouvidos sendo 681 do grupo A e 318 do grupo B, onde obtivemos os seguintes resultados:






GRÁFICO 1 - Normais.



GRÁFICO 2 - OMS.



CONCLUSÕES

Devemos com este trabalho salientar que:

a) Em nossas crianças, supostamente normais, é grande a incidência de doenças relacionadas com o mal funcionamento tubário (10,8%).

b) Em várias crianças notamos problemas em ambos os ouvidos, 7 com OMS bilateral; 7 com OMS em um ouvido e DT em outro; 7 com DT em ambos os ouvido.; 14 com rolhas de cerumem em ambos, perfazendo um total de 42 crianças (8,04%) que tinham potencialmente a possibilidade de um desenvolvimento inadequado de sua escolaridade por eventual perda de audição.

c) Que é grande a diferença da presença de OMS nas faixas etárias estudadas, de 4 a 7 anos (6,9%) para a de 7 a 11 anos (0,63%), concluindo-se daí que esta doença na maioria das vezes é transitória, que tem uma cura espontânea, e que não devemos por isso servos intempestivos em seu tratamento, principalmente cirúrgico. Devemos sim serros mais pacientes, orientarmos os familiares no sentido de aguardamos para que o tempo nos auxilie na cura destas crianças, e só intervimos cirurgicamente nas hipóteses de haver unia retração timpânica importante com risco de formar um colesteatoma, ou na bilateralidade da OMS, levando a uma perda importante da audição que comprometa o desejável desenvolvimento de linguagem ou escolaridade desta criança.



GRÁFICO 3 - Difunção tubária



GRÁFICO 4 - Difunção tubária + OMS



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BROOKS, D.N.: The use of electro-acoustic impedance bridge in the assessmente of middle ear function. Int. Audiol. 8: 563,1969.
2. BROOKS, D.N.: Eletro-acoustic impedance bridge studies on normal ears of children. J. Speech Hear. Res. 14: 247-253; 1971.
3. BROOKS, D.N.: Hearing screening: A comparative study of an impedance nethod and pure tone screening. Scand. Audiol. 2: 67, 1973.
4. BROOKS, D.N.: Acoustic impedance measurements in diagnosis. Proc. Roy. Soc. Med. 6: 698-701, 1974.
5. BROOKS, D.N.: Acoustic impedance measurement as screening procedure in children: Discussion paper. J. Roy. Soc. Med. 78: 119-121, 1985.
6. BENNETT, F.C.; RUUSKA, S. H & SHERMAN, R.: Middle ear function in learning disable children. Pediatrics 66: 254-260, 1980.
7. SAK, R.J. & RUBEN, RJ.: Recurrent middle ear effusion in childhood: implication of temporary auditory deprivation for language and learning. Annals Otol., Rhinol. Laryngol. 90: 546-551, 1981.
8. SADÉ, J. & BERCO, E.: Ateleciasis and secretory otitis media. Annals Otol, Rhinol. Laryngol. 25: 66-72, 1976.
9. PAPARELLA, M.M. & LIM, D.J.: Pathogenesis and pathology of the "idiopathic" blue eardrum.Arch.Otolaryngol.85: 249, 1967.
10. SCHIFF, M.; POLIOUIN, J.F.; CATANZARO, A. & RYAN, A.F.: Tympanosclerosis: A theory of palhogenesis. Annals of Otol. Rhinol. and Laryngol. 70: 1-16, 1980.
11. MOORE, D.C. & BEST, G.F.: A sensorincural componet in chronic otitis media. Laryngoscope 90: 1360-1366, 1980.
12. PARADISE, J.L. & SMITH, C.G.: Impedance screening for preschool children. Arar. Otol. 88: 56-65, 1979.
13. TOS, M.: Spontaneous improvement of secretory otites and impedance screening. Arch. Otolaryngol. 106: 345, 1980.
14. LOPES FILHO, O.: Contribuição ao estudo da impedância acústica. Tese de doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 1972.
15. MAUDONNET, O. & PASCOAL, J.: Qual é o real valor da impedanciometria? Rev. Bras, ORL 42: 223, 1976.
16. SANTOS, T.M.M.: Estudo do reflexo acústico contralateral do músculo estapédio em bebês de 12 horas devida a 9 meses de idade. Tese de Mestrado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1980.
17. RUSSO, I.P.C.: Achados impedanciométricos em crianças de 4 a 6 anos de idade. Tese de Mestrado da Pontifícia Universidade Católica de. São Paulo, 1981.
18. RUSSO, I.P.C.: Achados impedanciométricos em pré-escolares de nível sócio-econômico baixo, médio e alto. Tese de Mestrado pela Escola Paulista de Medicina, 1985.
19. JERGER, J.: Clinical experience with impedance audiometry. Arch. Otolaryng. 92: 311-324, 1970.
20. HARKER, L.A. & VAN WAGONER, R.: Application of impedance audio metry as a screening instrument. Acta Otolaryng. 77:198-201, 1974.
21. RENVALL ET COL.: Impedance audiometry in the detection of secretory otitis media. Scan. Audiol. 4: 119, 1975.
22. FAY, T.H. ETCOL.: Audiologic and otologic screening of disadvantaged children. Arch. Otolaryng. 91: 366-369, 1970.
23. PORTOIAN, S. & CULLINAN, T.R.: Middle ear disease assessed by impedance in primary school children in south London. Lancel 19: 1111-1112, 1984.




* Professor Assistente do Departamento de ORL da Faculdade de Ciências Médicas da Santo Casa de Misericórdia de São Paulo.

Santa Casa de São Paulo - Rua Dr. Cesário Mota Jr. 112 - Pavilhão Conde Lara - 4° andar - São Paulo - Brasil.

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