Versão Inglês

Ano:  1993  Vol. 59   Ed. 1  - Janeiro - Março - (15º)

Seção: Como eu trato

Páginas: 71 a 71

 

Lesões cancerizáveis da boca.

Autor(es): Lue. L.M. Weckx*

O câncer bucal ocupa no Brasil o terceiro lugar de ocorrência de tumores malignos no homem e o sétimo lugar na mulher, sendo que a cidade de São Paulo tem uma taxa mais elevada que a maioria das cidades do mundo. Embora o câncer da boca devesse ser um diagnóstico fácil, e portanto precoce com bom prognóstico - basta abrir a boca do paciente e visualizar a lesão - mais de 80% dos cânceres bucais, ao serem atendidos em serviços especializados pela primeira vez, encontram-se em fase avançada da doença - estádio III e IV. Cinqüenta e cinco por cento dos diagnósticos histopatológicos são firmados apenas quando o paciente chega a hospitais especializados em Oncologia.

Daí a grande batalha a nível governamental e universitário para incutir no profissional de saúde as noções básicas para o diagnóstico precoce do câncer bucal. Neste pensamento incluem-se as lesões cancerizáveis da boca, que consistem de alterações morfológicas do tecido na qual o câncer tem maior probabilidade de ocorrer, mas as quais podem também permanecer estáveis indefinidamente. Quando se fala em lesão cancerizável vem logo a mente a leucoplasia bucal, porém as lesões vermelhas são muito mais perigosas; daí numa tentativa de facilitar a conduta clínica poderíamos dividir as lesões cancerizáveis bucais em: lesões brancas, lesões vermelhas, lesões mistas e o nevo pigmentado.

As Lesões Brancas, com média de transformação maligna na literatura de 0,15 a 6%, representam na maioria das vezes um espessamento benigno, protetor (hiperqueratose, paraqueratose.) da mucosa jugal e labial, frente a uma irritação local como maloclusão dentária, fumo e álcool: esta é a forma leucoplásica. No palato pode ocorrer a Leucoceratose nicotínica do palato, caracterizada por áreas esbranquiçadas semeadas por pequenas elevações umbelicadas avermelhadas, que constituem as glândulas salivares menores inflamadas, especialmente freqüente em fumantes de cachimbo.

As Lesões Vermelhas são representadas pela Eritroplasia de Queyrat, que se apresenta como lesões vermelhas, moles, achatadas, aveludadas; em mais de 90% dos casos são lesões com atipias histológicas severas ou "carcinoma in situ" ou carcinoma evasivo.

As Lesões Mistas - brancas e vermelhas - constituem geralmente uma associação da forma leucoplásica com áreas erosivas. Existe uma forma clínica com nítida tendência a transformações maligna que é a Queilite Actínica: lábio esbranquiçado usualmente descamando, com fissuras, em indivíduos de pele clara com ocupação profissional exposta ao tempo: agricultor, pescador, marinheiro. O Líquen Plano é amplamente discutido se é ou não nina lesão cancerizável bucal.

O grande problema na conduta frente às lesões brancas, vermelhas e mistas é não existir clínica ou histológica de previsão de transformação maligna: não há ainda "marcador de transformação". Alguns métodos laboratoriais que possam avaliara possibilidade de transformação vem sendo testados, como a citoqueratina, detecção do papilomavírus humano e o AgNOR. Assim, a primeira providência é retirar ou evitar fatores irritantes presentes como fumo, álcool e prótese mal adaptadas, além de indicar o uso de protetores solares.

Se a lesão não regredir com a retirada do fator irritante, recorre-se a:

- Não lesão branca a preservação em pacientes com controle clínico mensal assegurado ou a descamando da lesão com ácido retinóico tópico uma a duas vezes ao dia pode conseguir bons resultados; nas lesões brancas com maior chance de transformação maligna, realiza-se a biópsia incisional ou excisional (lesão pequena).

- Na lesão vermelha está indicada remoção cirúrgica com margem de segurança, ou quando não for possível fulguração com eletrocautério e biópsias múltiplas.

- Na lesão mista o tratamento de escolha é a biópsia excisional ou incisional com preferência para as áreas avermelhadas, ulceradas.

Se nos dedicarmos a exerese de todas as lesões brancas de boca, provavelmente não faremos outra coisa. Daí ser necessário ternos em mente alguns sinais de perigo, ou seja, quando o nosso nível de atenção e atuação deve ser maior: lesão vermelha lesão mista lesão branca ver mucosa (placa de gesso) lesão branca homogênea (placa); lábio inferior bordas da língua assoalho bucal rebordo gengival palato mole amídalas pilares amigdalianos área retromolar (ou seja a região jugal é a de maior ocorrência de lesão branca e a de menor ocorrência de câncer bucal); leucoplasia com dor, ou não é leucoplasia ou é leucoplasia agressiva. Embora hoje o carcinoma espiro-celular da boca possa ocorrer em qualquer idade, deve chamar mais a atenção o aparecimento de uma lesão em paciente com mais de 50 anos e não fumante.

Por fim, o Nevo Pigmentado da mucosa bucal, que corresponde a popular pinta da pele, é citado como pré-existente em alguns melanomas malignos. Cumpre ressaltar que os melanomas são raros na boca, porém a conduta frente a um nevus da mucosa é a exerese do mesmo.

Cabe relembrar aos profissionais de saúde que a nível de profilaxia do câncer bucal, mais importante que o diagnóstico e a conduta adequada nas lesões cancerizáveis, é a erradicação do fumo: 90% dos cânceres bucais estão associados com o fumo; pior quando vem acompanhado do vício da cachaça e da má higiene bucal. Não fiquemos cm cima do muro como certas autoridades governamentais, que investem em belos projetos para erradicar o câncer bucal, como o Pró-Onco do Ministério da Saúde, ao mesmo tempo que angariam altos impostos com o maior fator de risco para o câncer bucal: o fumo.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial