Versão Inglês

Ano:  1977  Vol. 43   Ed. 3  - Setembro - Dezembro - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 258 a 263

 

SÍNDROME CERVICAL: A PROPóSITO DE 166 CASOS

Autor(es): * Oscar Maudonnet

O fator cervical como causa de distúrbios cócleo-vestibulares, é hoje bastante conhecido e aceito pelos autores, graças aos trabalhos de BARRÉ1, LIÉOU8, DENNY-BROWN5 e PHILIPSZOON,9, entre outros.

BOSCH3 considera três fatores como importantes no diagnóstico desta síndrome: o grau de isquemia, o fator etiológico que a determina e a localização do fator de isquemia no sistema arterial.
FASEKAS6 classifica a insuficiência vértebro-basilar em 6 tipos: formas latentes, formas isquêmicas transitórias sem seqüelas, formas isquêmicas transitórias com seqüelas, acidentes duráveis regressáveis, acidentes duráveis estacionários e causa de óbito. Os dois primeiros, felizmente, parecem ser os mais freqüentes.

BASSERESZ divide a insuficiência vértebro-basilar em dois tipos: fatores hemodinâmicos e fatores cervicais, admitindo que esse último é muito mais importante e mais freqüente.

Nesta pesquisa estudamos os principais sintomas e sinais dessa síndrome e tentamos correlacioná-los.

METODOLOGIA

Estudamos 166 pacientes com diagnóstico de Síndrome Cervical, entre aqueles que nos procuraram nos últimos dois anos com queixas cóclea vestibulares.

Todos os pacientes foram submetidos a exame Oto neurológico completo afim de se estabelecer o diagnóstico; para tal utilizamos a metodologia determinada por GREINER, CONRAUX e COLLARD7 e MANGABEIRAALBERNAZ e GANANÇA.

Não nos detivemos no estudo do nistagmo de posição, uma vez que ele já foi muito bem estudado por outros autores, sendo bastante conhecida a sua alta incidência nessa síndrome.

Afim de facilitar a análise dos resultados quantitativos na prova rotatória sinusoidal amortecida, classificamos os gráficos do nistagmograma de freqüência em 6 tipos, segundo o estabelecido por STEBLER11.




Quanto às alterações qualitativas, usamos também a classificação de STEBLER11 adaptada à nossa casuística, assim:

A - normal
B - pequena escritura
C - dismetria
D - escadinha
E - buquê
F - outras

O nistagmo de origem cervical foi classificado em 4 tipos, segundo o estabelecido por COLLARD, CONRALIX e EBER4: tipo 0 - ausência de Nistagmo de origem cervical, tipo 1, tipo 2, e tipo 3. Os resultados radiológicos foram por nós classificados arbitrariamente em 4 tipos: tipo 0 - ausência de lesões, tipo 1 - alterações discretas, tipo 2 - alterações moderadas e tipo 3 - alterações intensas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos 166 pacientes estudados, houve uma predominância do sexo feminino sobre o masculino (quadro 1).


quadro 1 - distribuição dos pacientes segundo o sexo



Com relação à idade, observamos que essa moléstia compromete também adultos jovens (4%), apesar de ser mais freqüente na 4' década. Ao contrário do que se poderia imaginar, os indivíduos idosos não são os mais atingidos (11 %), (quadro 2).


quadro 2 - distribuição dos pacientes segundo a idade



Quanto à sintomatologia, analisamos os resultados em dois grupos: o primeiro relativo às tonturas e o segundo relativo aos zumbidos, surdez e queixas cervicais.

Entre as tonturas, notamos uma grande prevalência das rotatórias, geralmente posturais (56%), enquanto que a concomitância dos dois tipos de tonturas se fez presente em pequeno número (9%) e a ausência de tonturas também foi rara (9%) (quadro 3).


quadro 3 - distribuição dos pacientes segundo a queixa de tonturas



Analisando os resultados do aparelho coclear, a queixa de zumbidos foi a mais freqüente (45%), a de surdez foi de (35%), enquanto que em mais de 55% dos casos nenhum desses sintomas esteve presente. (quadro 4). Coclear


quadro 4 - distribuição dos pacientes segundo as queixas do aparelho



Em relação às queixas de patologia da coluna cervical dor ou peso na nuca, estalos à movimentação do pescoço, hipersensibilidade do couro cabeludo, braquialgias, etc.) na maioria dos pacientes (63%) esses sintomas estavam presentes, isolados ou em conjunto (quadro 5).


quadro 5 - distribuição dos pacientes segundo as queixas da coluna cervical.



Estudando as alterações quantitativas da prova rotatória sinusóidal amortecida, observamos que não houve preferência pelo lado lesado. Dos resultados, o mais freqüente foi a normorreflexia (33%), seguida pela hiporreflexia (26%) (limiar elevado com diminuição das respostas às grandes estimulações), seguida da curva com queda abrupta (15%) (ouadro 6).


quadro 6 - distribuição das respostas no nistagmograma de freqüência.



Em relação às alterações qualitativas, a escrita nistágmica normal foi a mais freqüente (81%), seguida pela pequena escritura (12%) e dismetria (quadro 7).


quadro 7 - distribuição das alterações qualitativas.



O nistagmo de origem cervical esteve ausente em somente 6 casos e o tipo 2 foi o mais freqüente (47%) (quadro 8).


quadro 8 - distribuição do nistagmo de origem cervical



Dentro dos achados radiológicos somente 5 casos foram normais (3%), sendo as alterações moderadas as mais freqüentes (40%). (quadro 9). Somente dois casos foram submetidos a arteriografia vertebral (possuíam sintomatologia típica de lesão central) que mostrou alterações na rotação da cabeça.


quadro 9 - distribuição das alterações radiológicas



Procurando correlacionar o nistagmo de origem cervical com os achados radiológicos, observamos uma relação discreta entre eles, assim o nistagmo do tipo 1 correspondeu em sua maioria às alterações radiológicas do tipo 1 ou 2.0 nistagmo do tipo 2 correspondeu em sua maior parte às alterações do tipo 2. Já o do tipo 3 teve relação,com as alterações do tipo 2 e 3.

As alterações vestibulares do tipo central (pequena escritura, dismetrias, etc.) corresponderam em sua quase totalidade ao nistagmo de origem cervical do tipo 3. Os dois casos submetidos a arteriografia apresentaram nistagmo do tipo 3.

CONCLUSÕES

Do exposto acreditamos que podemos concluir:

1 - A síndrome cervical tem preferência pelo sexo feminino.

2 - A idade mais atingida é a quarta década

3 - As tonturas são as queixas mais freqüentes.

4 - Mais de 1 / 3 dos pacientes não apresentavam queixas cervicais.

5 - A normorreflexia é a resposta mais freqüente na prova rotatória sinusoidal amortecida.

6 - As alterações qualitativas não são freqüentes, sendo a pequena escritura a que mais se faz presente.

7 - 0 nistagmo de origem cervical e as alterações radiológicas estão quase sempre presentes.

RESUMO

The author has studied the most important symptoms and signals of 166 patients with Cervical Syndrome. The analyzis of the results are presented and discussed.

BIBLIOGRAFIA

1. BARRÉ, M. - Sur un syndrome sympatique cervical posterieur et sa cause fréquent: 1) arthrite cervicale. Rev. Neun; 33, 1246, 1926.
2. GREINER, G.;CONRAUX,C. et COLLARD, M. - Vestibulométrie Clinique. Ed. Doin, Paris, 1969.
3. BASSERES, F. - Insuffisance circulatoire vertebro-basilaire. Rev. O.N.O.; 48, 3121, 1976.
4. BOSCH, J. - Etude électronystagmographique de 1'insuffisance vértebro-basilaire. Acta Belg. OtoRhino-Laryng.; 24, 418, 1970.
5. LIÉOU, Y. - Syndrome sympatique cervical posterieur et arthrite chronique de Ia collone cervicale. Thése, STRASBOUNG, 1928.
6. MANGABEIRA-ALBERNAZ, P. e GANANÇA, M. - Vertigem, Ed. Moderna, São paulo, 1976.
7. COLLARD, M.; CONRAUX, C. et EBER, A. - Le nystagmus d'origine cervicale. Rev. O.N.O.; 48, 313, 1976.
8. DENNY-BROWN, D. - Basilar artery syndromes. Bul. New England Med. Cen.; 15, 63, 1953.
9. PHILIPSZOON, A. - Vertige d'origine cervicale, Rev. Belg. Oto-Rhino-Laryng.; 24, 370, 1970
10. STEBLER, S. - Exploration Fonctionnelle de I'appareil vestibulaire. Thése, STRASBOURG, 1975.




Instituto Penido Burnier
Andrade Neves, 611
13100 - Campinas/SP.

* Otoneurologista do Instituto Penido Burnier - Campinas - SP.

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