Versão Inglês

Ano:  1977  Vol. 43   Ed. 3  - Setembro - Dezembro - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 200 a 214

 

APARELHO DE AMPLIFICAÇÃO SONORA INDIVIDUAL

Autor(es): ** Ney Penteado de Castro Junior
*** Marína Stela Figueiredo
**** Iêda Chaves Pacheco Russo
***** Teresa Maria Momensohn

Resumo:
Os Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (A.A.S.I) devem ser considerados como parte integrante do processo de reabilitação auditiva do deficiente auditivo. Por esta razão, a indicação e seleção dos A.A.S.I. devem ser de responsabilidade do médico O.R.L. O presente trabalho faz uma revisão sobre as características dos A.A.S.I., seus métodos de indicação e seleção. Esta primeira parte aborda aspectos relacionados com as características eletroacústicas dos A.A.S.I.

I - DEFINIÇÃO

Denomina-se Aparelho de Amplificação Sonora Individual (A.A.S.I.) aquele destinado a amplificar o som, facilitando a audição de indivíduos com deficiência auditiva. Um A.A.S.I. é qualquer instrumento que transmite mais efetivamente, o estímulo sonoro para o ouvido do indivíduo. Ele deve captar a energia sonora do meio ambiente evitando a dispersão do som durante a transmissão; pode ainda, provar energia adicional, usualmente através de um sistema de amplificação. O primeiro objetivo de um A.A.S.I. é tornar a recepção da fala inteligível para o deficiente auditivo. O A.A.S.I, é também chamado incorretamente de prótese auditiva, uma vez que o mesmo não substitui a função auditiva.

II - HISTÓRICO

A necessidade de amplificar o som para deficientes auditivos é remota desde a palma da mão em concha até cornetas, tubos, placas dentárias e mesmo leques, que foram alguns dos objetos utilizados pelo homem por muitos séculos, com esta finalidade. Entretanto, com o passar do tempo e com o progresso da ciência, esses objetos foram sendo ultrapassados pois além de sua amplificação ser pequena, em torno de 15 dB, não se adaptavam à necessidade do homem de esconder sua deficiência, preferindo muitas vezes permanecer "surdo" a usar um desses incômodos e deselegantes objetos.

Com o aparecimento da energia elétrica, foi produzido em Viena, por Alt, no início deste século, o primeiro aparelho auditivo elétrico chamado de micro-telefone, constituído de um amplificador e um microfone de carvão. Embora fosse de grande auxílio nas perdas condutivas, suas grandes dimensões eram incômodas ao paciente (3).

Diminuiu-se um pouco o tamanho do aparelho, utilizando-se o amplificador a válvula.

Por volta de 1.930 houve a miniaturização das válvulas e foi possível produzir aparelhos menores e mais adequados às necessidades do deficiente auditivo. Com o aparecimento do transistor (1.951) finalmente foram solucionados dois problemas dos A.A.S.I.: - a de amplificar o som e esconder o aparelho, pela confecção de aparelhos menores, mais leves e que necessitavam de pouca energia para o seu funcionamento.

III - COMPONENTES

Os principais componentes de um aparelho de amplificação sonora

1 - MICROFONE - Os microfones estão no grupo dos transdutores. Um transdutor, em eletrônica, é um sistema que converte uma forma de energia em outra. No caso, o microfone transforma a energia acústica em energia elétrica. Ele fica situado no corpo do aparelho captando as ondas sonoras e modificando-as em impulsos elétricos. Isto é feito através de seus componentes básicos que são: - o diafragma, a bobina e um núcleo que pode ser constituído de diferentes materiais.

Nos A.A.S.I. mais antigos eram usados os microfones de cristal. Nos mais modernos encontramos microfones de cerâmica, de eletreto e magnéticos, que ao contrário dos de cristal, tem a vantagem de propiciar sons com maior fidelidade, além de sofrerem menor interferência pelas variações de temperatura.

Uma das desvantagens dos microfones atuais, que é a de receber melhor apenas os sons que estão em sua direção unidirecionais, está sendo superada pelo desenvolvimento dos microfones muludirecionais.

2 - AMPLIFICADOR - O amplificador constitui a parte mais complexa de um A.A.S.I., pois o seu circuito eletrônico determina as características eletroacústicas deste. Ele contem transistores, resistências, condensadores, cada um jus quais, possuindo uma função particular. A amplificação toma lupa, dos transistores. As resistências fornecem a voltagem e a intensidade de corrente corretas aos transistores. Os condensadores servem para transferir os sinais amplificados de um transistor para outro e ainda evitam a dissipação da corrente elétrica.

A fonte de energia são as baterias, que variam de forma e tamanho, de acordo com o tipo de aparelho.

3 - RECEPTOR - Sua função é exatamente oposta à do microfone, isto é, enquanto o microfone converte energia acústica em impulsos elétricos, o receptor serve de transdutor para os impulsos elétricos já amplificados, transformando-os novamente em energia acústica.

O receptor é portanto um tipo de microfone invertido e sua estrutura é quase idêntica à do microfone.

Em resumo, podemos dizer que o microfone transforma o modelo de ondas sonoras em um modelo semelhante de energia elétrico amplificador torna esses impulsos elétricos mais intensos; o receptor transforma os sinais amplificados em ondas sonoras novamente.

4 - MOLDES - A adaptação de um A.A.S.I. deve ser feita com moldes anatômicos. Todas as experiências com moldes provisórios são falhas. 0 molde é individual, assimétrico e intransferível e dependendo do caso, poderá ser fechado ou aberto. O molde de acrílico é o mais usado pois evita a retroalimentação ou o assobio.

O molde tem.duas funções principais: - orientar o estímulo sonoro para o meato acústico externo e evitar a dissipação de energia sonora, através da vedação completa do conduto auditivo externo.

IV - TIPOS DE APARELHOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA INDIVIDUAL

a) Aparelhos de Bolso Ide caixa ou convencional - São usados em contato com o corpo do indivíduo, no bolso ou em suporte especial. Apenas ò receptor é colocado no ouvido, ligado ao aparelho, através de um fio. Os aparelhos de bolso geralmente permitem maior amplificação do que os outros tipos, possuindo também maior fidelidade sonora, pois seus circuitos eletrônicos são mais complexos que os dos outros tipos de A.A.S.I.

b) Aparelhos Retro - Auriculares: - colocados atrás do pavilhão auricular, tem a vantagem de permanecer praticamente invisíveis, atendendo às exigências estéticas de maneira mais satisfatória. Possuem circuito eletrônico altamente miniaturizado, mas limitado quanto à amplificação e fidelidade sonora em relação aos A.A.S.I. de bolso.

c) Aparelhos Embutidos em Hastes de Óculos: - com as mesmas características tanto mecânicas como estéticas do aparelho retro-auricular; tais aparelhos contudo, são mais indicados para indivíduos que façam uso contínuo de óculos. Podem ser de vários tipos:

1 - CROS (Contralateral Routing of Of side Signals) - neste tipo de aparelho o som é captado pelo microfone, localizado no ouvido deficiente e levado para o amplificador e receptor localizados no ouvido normal, ao qual é adaptado um molde aberto.

2 - BICROS: - consiste de um amplificador, microfone e receptor com molde comum no ouvido melhor e um segundo microfone no lado pior. Dado que o BICROS usa dois microfones, recebe sons em ambos os lados da cabeça, os quais são levados para o ouvido melhor.

3 - IROS (Ipsilateral Routing of Signals): - aparelho e molde aberto no mesmo ouvido.

d) Aparelhos Infra-Auricu/ares: - são muito utilizados comercialmente para atrair pessoas que procuram disfarçar sua deficiência, pois tal aparelho é colocado inteiramente dentro do conduto auditivo externo. Devido ao seu tamanho muito reduzido, são sistemas de amplificação muito limitados quanto a amplificação e fidelidade sonoras.

V - CARACTERÍSTICAS ELETROACÚSTICAS DOS A.A. S.I.

1 - CURVA BÁSICA DE RESPOSTA DE FREQUÊNCIAS (CBRF).

É expressa em forma de gráfico, mostrando o ganho acústico relativo de um aparelho, em função da freqüência (fig. 1-C).



Fig. C - Curva básica de resposta de freqüências. Esta curva é obtida colocando o controle de volume em uma posição tal que um SIE a 60 dB produza um SIS a 100 dB NPS na freqüência de 1000 H; (apud manual Danavox-1976).



A CBRP deve ser comparada com o formato da curva de perda auditiva da paciente, ao se indicar um aparelho de amplificação sonora.

2 - CURVA DE GANHO MÁXIMO

Ganho é a diferença em dB entre o Sinal de Entrada (S/E) e o Sinal de Saída - (SI S) do A. A. S. I.

A Curva de Ganho Máximo determina o ganho máximo que o aparelho pode produzir em cada freqüência (fig. 1-B).



Fig. B - Curva de ganho máximo.



A curva de ganho máximo é obtida com o controle de volume do A.A.S.I. no máximo e com um S/E a 50 dB NPS;

Não se deve operar normalmente com o aparelho o máximo volume porque:
- pode causar distorção.
- ocorre maior desgaste da bateria, diminuindo a vida útil da mesmo.

a) Ganho HAIC: - A Hearing Aid Industry Conference (HAIC) estabeleceu que o ganho do aparelho deve ser expresso como a média dos ganhos nas freqüências de 500, 1000 e 2000 Hz. O grau de perda auditiva do paciente deve ser comparado com o ganho HAIC do aparelho a ser indicado.

b) Largura de Banda: - Com o objetivo de determinar o espectro de freqüência que o aparelho efetivamente amplificará, a HAIC determinou o cálculo da largura de banda. O espectro de freqüência, situado a 15 dB abaixo do ganho HAIC, corresponde à largura de banda do aparelho.

3 - CURVA DE SAIDA MÁXIMA

Aparelhos auditivos e sistemas de amplificação não continuarão a amplificar o S/ E indefinidamente. A Curva de Saída Máxima é o ponto além do qual não existe amplificação do S/ S. (fig. 1-A).



FIGURA 1: A - Curva de saída máxima. A curva de saída máxima é obtida com o controle de volume do A.A.S.I. no máximo e com um S/E que proporcione um S/S além do qual" não irá haver mais amplificação;



a) Saída Máxima HAIC -: - é a média das saídas máximas em 500, 1000 e 2000 Hz.

Há necessidade de se limitar a máxima saída, abaixo do limiar de desconforto do paciente. Na maioria dos casos esta limitação é realizada por peak clipping ou corte de crista. (3).

b) Peak Cíipping: - este processo envolve o corte das intensidades dos picos do S/S, quando excedem o limite de saída máxima (fig. 2).



FIGURA 2: Ilustração de "peak clipping".



Embora a qualidade do som seja geralmente afetada pelos cortes de crista, a inteligibilidade da faia não é comprometida. Isto é devido ao fato de que os sons vogais, que são mais intensos que os consonantais, contribuem menos para a inteligibilidade da fala (8).

c) Controle de ganho

Em certos tipos de disacusias, a utilização dos A.A.SA. de ganho linear apresenta problemas na adaptação dos mesmos. Estas dificuldades para a protetisação são conseqüências de vários fenômenos de distorção que podem ocorrer no ouvido interno, principalmente o fenômeno de recrutamento.

Nestes tipos de disacusias foram idealizados os A.A.S.I. com controle de ganho, ou seja, um circuito eletrônico que reduz automaticamente o ganho, quando o S/ E ultrapassa um nível pré-estabelecido (fig. 3-A) Este circuito eletrônico é colocado entre amplificador e receptor e funciona de modo semelhante a um mecanismo de realimentação negativa (ou feedback) do amplificador, reduzindo assim o ganho.



FIGURA 3: A - Gráfico da variação do S/S em função do S/E em um A.A.S.I. com controle de ganho. Em ordenada o S/S e em abscissa o S/E. Notar que a partir de 66 dB do S/E, a amplificação do S/S torna-se não linear.



B - Tempo de Ataque do controle de ganho.

C - Tempo de Recuperação do controle de ganho. (apud manual Danavox - 1976).

Os sistemas de controle de ganho são definidos através de suas constantes, ou seja, tempo de ataque, tempo de recuperação e fator de compressão. O tempo de ataque é o intervalo de tempo decorrido entre o S/E que ultrapassa o limiar para ativar o mecanismo de controle de ganho e a ativação do controle de ganho. O tempo de ataque pode variar de 2 a 20 msec. (5) (fig. 3-8).

O tempo de recuperação é o intervalo de tempo decorrido entre a queda do S/E abaixo do limiar para ativar o controle de ganho e a inativação do controle de ganho. O tempo de recuperação pode variar de 5 a 1000 msec. (5) (fig. 3 - C).

De acordo com os valores destas duas constantes, dos tempos de ataque e recuperação, a Academia Médica Sueca, estabeleceu os tipos de sistema de controle de ganho (5):

A. G. C (Automatic Gain Control) - Controle Automático de Ganho:
- Tempo de ataque relativamente longo.
- Tempo de recuperação acima de 150 msec.

Compressão:

- Tempo de ataque relativamente curto.
- Tempo de recuperação inferior a 150 msec.

O fator de compressão é a razão entre a variação do S/ E e a variação do S/S:

F. C. = delta S/E divido por delta S/E

Por razões audiológicas é desejável que o fator de compressão esteja situado entre os valores de 30/18 a 30/12. (5).

Os circuitos de controle de ganho, reduzindo o ganho auditivo a partir de um limiar pré-estabelecido, tornam-se dispositivos de ganho não linear; mesmo assim, os A.A.S.I. com controle de ganho mantém as características físicas do S/E no S/S, quando o mecanismo de controle de ganho é ativado (4). Entretanto, ainda são questionáveis os valores ideais das constantes do controle de ganho, ou seja, os tempos de ataque e de recuperação e o fator de compressão, para não comprometer a inteligibilidade da fala (2,7). Um outro problema nestes sistemas é que o mecanismo de controle de ganho é ativado indiferentemente com a fala e com o ruído. em um ambiente ruidoso, o sistema de controle de ganho pode ser ativado constantemente, prejudicando desta forma a inteligibilidade.

De um modo geral, os A.A.S.I. com A.G.C. são mais apropriados às disacusias pouco recrutantes e com área dinâmica da audiç3c área entre o S.R.T e o limiar de desconforto - DL.D.) relativamente grande; os A.A.SJ. com compressão, às disacusias muito recrutantes ou com área dinâmica da audição muito reduzida (5).

VI - TRANSPOSER

É um A.A.S.I. que amplifica e transpõe seletivamente o S/E para uma determinada faixa de freqüência (freqüências graves) no S/S (fig. 4).

O transposer compõe-se basicamente dos mesmos elementos que um A.A.S.I. acrescido de:
1 - Pré-amplificador: - é um estágio que amplifica o S/ E antes que o mesmo seja transmitido ao amplificador (pré-amplificação).

2 - Filtro passa alto: - é um circuito eletrônico, que se encarrega de cortar todos os sinais de baixa freqüência deixando somente os de freqüências elevadas (ex. - acima de 4000 Hz), para fornecer tal espectro de freqüência para o estágio seguinte, que é o intermodulador.

3 - intermodulador: - é um estágio que produz e amplifica a intermodulação. A intermodulação é um fenômeno de distorção sonora, caracterizado pelo aparecimento de freqüências sonoras não existentes no S/E.



FIGURA 4: Diagrama do Transposer.



Quando as chaves 1 e 2 estão abertas, o transposer age de modo semelhante a um A.A.S.I. convencional.

Ex. S/E = f1 e f2
f1 = 4000 Hz e f2 = 5000 Hz

Intermodulação:
f3 = f1 - f2
f4 = f1 + f2
f3 = 1000 Hz
f4 = 9000 Hz

4 - Filtro passa baixo: - é um estágio destinado a cortar os sinais de alta freqüência, deixando apenas os espectros sonoros com freqüência abaixo de 1500 Hz.

O transposer é utilizado desde 1955 por vários audiologistas como Johassen, Wedemberg, Lafon (5). Atualmente é indicado especificamente para disacusias severas com resíduos auditivos nas freqüências graves. O emprego deste tipo de aparelho requer uma nova codificação sonora a ser adquirida pelo paciente, através de um treinamento e reabilitação intensivos.

Um estudo feito por B. Johassen et cols (5), em 20 pacientes, protetisados com o transposer e seguidos durante um longo período, revelou como resultado:

- 2 pacientes incooperantes

- 2 pacientes sem qualquer resultados positivos

- 8 pacientes com boa aceitação do aparelho, mas com pequena melhora na inteligibilidade

- 5 pacientes com boa aceitação e com inteligibilidade (discriminação) satisfatória.

- 3 pacientes sem qualquer referência por parte do autor. Segundo os A.A. as causas prováveis dos insucessos foram:

a) Emprego do transposer em pacientes idosos, que não aceitavam nova codificação sonora.

b) Disacusias muito acentuadas com limiares muito rebaixados, mesmo nas freqüências graves, o que impedia inclusive, uma discriminação dos sons fricativos.

VII - DISTORÇÃO DOS A.A. S.L

Em princípio, nenhum sistema eletrônico de amplificação reproduz com fidelidade o S/E. A fidelidade de um sistema eletrônico depende de suas características técnicas e da qualidade técnica de seus elementos componentes.

Em um A.A.S.I. podem ocorrer dois tipos de distorção:

1 - de freqüência: - a resposta (S/S) não é linear em função do espectro de freqüência do S/ E, isto é, o sistema amplifica seletivamente determinadas freqüências (3).

Um exemplo de distorção de freqüência é a curva básica de resposta de freqüências, em que há a amplificação de modo desigual nas diversas freqüências.

2 - de amplitude:- a resposta (S/S) não é linear em função da amplitude do S/ E; ela pode ocorrer somente em algumas freqüências (3).

A distorção de amplitude pode ser de três formas:

a) Harmónica - é a reprodução no S/S de sons harmônicos, quando o S/ E é um tom puro.

Ex. S/E = f1
S/S = f1
f2 = 2.f1
f3 = 3.f1
f4 = 4.f1
fn = n.f1

b) Intermodulação: - é a reprodução no S/S de determinadas freqüências que representam a soma ou subtração do S/E constituído por 2 freqüências.

E. S/E = f1 e f2

S/S:
fi = f1 + f2
fi = f1 + f2

c) Transitória:- é a reprodução de um S/S com reverberação, quando o S/ E é um som transitório.

Todos os tipos de distorção podem influir de forma significativa na inteligibilidade. Entretanto, não existe nenhum estudo que demonstre quantitativamente a ;influência dos diversos tipos de distorção na inteligibilidade, pois são estudes e pesquisas muito complexos.

Pelo que foi exposto, nenhum A.A.S.I. é capaz de reproduzir com fidelidade o S/E; a fidelidade do sistema está relacionada 'principalmente, à qualidade dos componentes e ao desenho do circuito eletrônico.

Dentre os componentes de um A.A.S.I. os mais críticos, do ponto de vista de distorção, são: - o microfone e o receptor, por suas limitações naturais, durante a transdução do som. Entretanto, as qualidades de ambos estão melhorando com a evolução da eletrônica. No amplificador o elemento crítico é a bateria; ela deve fornecer energia ao amplificador, sem que haja grandes oscilações nos valores da corrente elétrica. Toda vez que houver uma diminuição considerável dos valores da corrente elétrica, os fenômenos de distorção, provocados pela amplificação, tornar-se-ão mais acentuados. As baterias mais adequadas são as de mercúrio e as de óxido de prata, pois estas mantém constantes os valores da corrente elétrica, até bem próxima do seu término.

VIII - ELETROACOST/CA DOS MOLDES AUDITIVOS

O molde é um sistema destinado a acoplar o receptor no conduto auditivo externo (C.A.E.) (fig. 5), e possui características eletroacústicas próprias. A acústica do molde auditivo analisa a transmissão do sinal sonoro emitido pelo receptor, à cavidade do C.A.E.



FIGURAS: Diagrama do receptor - molde convencional.
1 - receptor; 2 - diafragma do receptor; 3 - janela do molde; 4 - "nó" do receptor; 5 - membrana timpânica; 6 - cavidade do conduto auditivo externo.



1 - Material do Molde

A natureza do material que constitui o molde, não influi nas características eletroacústicas do mesmo. 0 molde adequadamente ajustado às paredes do C.A.E. é considerado um sistema de paredes rígidas, nas quais a única móvel é a membrana timpânica (M.T.) (1).

As características eletroacústicas do sistema receptor - molde - C.A.E. dependem principalmente do diâmetro interno e, do comprimento do molde assim como da presença de "janelas" ou aberturas no molde.

2 - Características eletroacústicas

As características eletroacústicas dos moldes influem basicamente em 3 pontos da curva de saída máxima (do espectro de freqüência amplificado) (6):

a) Freqüências Baixas - Abaixo de 200 Hz.

A resposta nas freqüências graves é função das constantes físicas do receptor, mais especificamente, pelas características físicas do diafragma, da presença de "janelas" no molde e do tamanho da cavidade do C.A.E. (fig. 6 - Curva B).



FIGURA 6: A - Resposta de um molde convencional



B - Atenuação das respostas de freqüências graves do mesmo molde, com uma janela.

C - Atenuação do pico primário de freqüência do mesmo molde, no qual é colocado um filtro no nó do receptor.

D - Deslocamento do pico secundário de freqüência, para as freqüências mais elevadas, do mesmo molde com modificação do diâmetro interno e ou do comprimento.

(apud Lybarger - 1972).

A presença de "janelas" pode diminuir em muito as respostas das freqüências graves. 0 molde aberto pode ser utilizado em pacientes presbiacúsicos com deficiência auditiva nas freqüências agudas e conservação das freqüências graves, sendo que a amplificação das freqüências graves, nestes casos, não é muito importante.

O ajuste perfeito do molde ao C.A.E. é imprescindível para evitar espaços entre a parede do C.A.E. e do molde que poderão atuar como "janelas", causando prejuízo na amplificação das freqüências graves. Este fato é fundamental e justifica a troca periódica que se deve fazer em moldes de crianças com perdas auditivas profundas, que possuem apenas restos auditivos nas freqüências graves, com a finalidade de evitar o aparecimento de "janelas" que contribuirão para a diminuição da amplificação nas freqüências graves.

b) Pico de Respostas Primário

E a resposta do A.A.S.I. no espectro de freqüência entre 800 Hz e 2000 Hz. O pico de respostas primário depende sobretudo das constantes físicas cio receptor, especificadas pelo fabricante, para produzir o efeito acústico desejável.

Pico primário pode ser atenuado corri permenos orifícios) que são colocados atenuação é a redução do ganho e da saída primário. (6) (fíg. 6 - Curva C) pela utilização dos filtros, discos no nó do efeito de máximaPico de Respostas Secundário

A resposta do A.A.S.I. no espectro de freqüências acima de 2000 0 diâmetro interno e o comprimento do molde influenciam a região do pico secundário deslocando-o ou para as freqüências graves ou agudas (6) (fig. 6 - Curva D).

Os filtros colocados no nó do receptor atenuam o pico de respostas secundário em uma intensidade menor que a atenuação do pico primário.

3 - Moldes abertos

Moldes abertos são os moldes providos de "janelas" ou aberturas de tamanho variado, comunicando diretamente a cavidade do C.A.E. com o meio ambiente. São geralmente utilizados em A.A.S.I. providos com controle de ganho.

Os moldes abertos possuem características eletroacústicas peculiares; as principais são: - (6).

a) O molde aberto propicia a equalização da pressão atmosférica com a pressão no interior do C.A.E. aliviando a sensação de pressão que é uma queixa comum em pacientes que estão iniciando o uso do A.A.S.I. Em pacientes com tal queixa pode-se fazer uma pequena janela no molde (transformando-o de fechado para aberto); sem prejuízo da performance do A.A.S.I..

b) O molde aberto produz o efeito do "assobio conseqüente ao fenômeno de retroalimentação. O efeito do assobio é marcante nos A.A.S.I. lineares e de alto ganho, quando se tenta a utilização de molde aberto.

c) O molde com "janela" muito pequena ocasiona uma ligeira atenuação nas freqüências abaixo de 200 Hz, não prejudicando a performance de amplificação do A.A.S.L.

d) O molde com "janela" grande ocasiona um corte nas freqüências graves; somente não produz o assobio da retro alimentação em A.A.S.I. de O eixo ganho.

4 - EFEITO DOS TUBOS DE PLÁSTICO ENTRE RECEPTOR E MOLDE

Quando um receptor é acoplado ao molde por meio de um tubo plástico, as características eletroacústicas dos A.A.S.I. sofrem transformações drásticas: (fig. 7).



FIGURA 7: A - Resposta de um molde convencional



B - Resposta de um molde acoplado a um tubo. Notar o deslocamento do pico
primário para as freqüências mais graves e o aparecimento de vários picos secundários.

(apud Lybarger - 1972)

a) O pico de respostas primário desloca-se para a região de freqüências graves.

b) Há o aparecimento de diversos picos secundários na região das freqüências elevadas.

c) Quando o tubo plástico é longo, há uma atenuação da amplificação nas freqüências acima de 2000 Hz,

Portanto estes tubos plásticos, entre o receptor e o molde devem ser abandonados, pois alteram de modo imprevisível as características eletroacústicas do A.A.S.I., em prejuízo da reabilitação auditiva do paciente.

RESUME

Ont doit considérer les audio-prothèses autant q'une pièce de Ia rèhabilitation auditive, donc leurs sélections et indications sont Ia responsabilité de le médecin ORL. Les auters ont fait une révision des les caractéristiques des audio-prothèses, leurs méthodes de sélection et indication. A cette occasion, ils procèdent à une analyse des les cara ctéristiques électro-acoustiques des audio-prothèses.

Referências Bibliogréficas

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2. Caraway. B; Carhart, R.: Influence of compressor action on speech in-telligibility. ZJ. Acoust. Soc. Amen; 41, 1424-1434; 1967.
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4. Davis, H.: Silvermen, S.R.: Hearing and deafness Holt, Rinehart and Wiston, Inc.; 317 - 320; 1960 KY.)
5. Johassen, B.; Lindbland, A.C.: The use of compression and frequency transposition in hearing aids - Scand. audiol. Suppi. 1; 68-71; 1971 (Copenhagen).
6. Lybarger, S.F.: Ear MOLDES - Handbook of clinical audiology - The Williams Er Wilkins Co; 32,602 - 623, 1972 (Baltimore)
7. Lyn, G.; Carhart, R: Influence of attack and release in compression amplification on understanding of speech by hypoacusics - J. Speech Hearing Dis.; 28, 124 - 140, 1963.
8. Sanders, D.A.: Amplification and hearing aids Aural Rehabilhation - Prentice - Hall, Inc.; VI, 132-181, - 1971 (NewJersey).




* Trabalho realizado na Disciplina de O.R.L. da Santa Casa de S. Paulo.
** Instrutor de Ensino da Disciplina de O.R.L. da Santa Casa de São Paulo.
*** Residente do 2° Ano da Discipla de O.R.L. da Santa Casa de São Paulo.
**** Fonoaudióloga Chefe do Setor de Audiologia da Disciplina de O.R.L. da Santa Casa de São Paulo.
***** Fonoaudióloga Auxiliar de Ensino do Curso de Fonoaudiólogia da P.U.C.S.P.

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