Ano: 1977 Vol. 43 Ed. 1 - Janeiro - Abril - (4º)
Seção: Artigos Originais
Páginas: 25 a 29
TRATAMENTO DA PAPILOMATOSE LARINGÉA COM RAIOS LASER
Autor(es):
* Ivo Adolpho Kuhl
** Airton Malinsky
*** José Hildo Fernandes
Resumo:
Os autores apresentam os primeiros resultados do tratamento da papilomatose laríngea com os raios C02 laser. Dos 10 casos tratados, seis vinham se arrastando com várias terapêuticas sem resultados satisfatórios. No momento em que iniciamos o tratamento com C02 laser tivemos cura aparente em cinco casos. Nos outros quatro casos em que iniciamos logo o tratamento com C02 laser tivemos cura aparente em todos.
INTRODUÇÂO
A papilomatose laríngea é uma lesão tumoral, apresentando benignidade histológica, no entanto, esta caracterizada sua tendência evasiva e recidivante.
A papilomatose juvenil é de aspecto florido, do tipo couve-flor, formando verdadeiros cachos papilomatosos. Se localizam de preferência nas cordas vocais, podendo também se localizar e ou disseminar para as regiões supra-e infra glótica. Estendendo - se as vezes a traquéia e as vias aéreas mais inferiores, podendo levar a obstrução parcial ou total. Nestes casos o prognóstico torna-se bastante grave. Quando o sítio é o vestíbulo laríngeo, a disfonia é o primeiro sinal.
Quando aumentam de volume as massas papilomatosas, diminuem cada vez mais a passagem do ar, necessitando nestes casos de maior preocupação médica levando-nos algumas vezes a indicar traqueostomia.
A papilomatose no adulto é mais rara, e quando acontece a lesão é geralmente única, do tipo verrucoso e com maior tendência a malignização.
Sua etiologia é discutida, leva-nos a crer de maior importância a causa virótica. (1)
Sua incidência é maior entre 4 e 6 anos de idade, tendo sido diagnosticada até em latentes nos primeiros meses de vida. A maioria dos autores afirmam que as curas ocorrem torno da puberdade sendo algumas até espontâneas. Ao longo de vinte e cinco anos, temos observado no Serviço de encoscopia perorai no Pavilhão Pereira Filho, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, e no Hospital de Clinicas da U.F.R.G.S., que a maior incidência desta doença se verifica entre 2 e 3 anos de idade e a regressão dos papilomas se faz entre os 6 e 7 anos. (11) Por este belíssimo fenômeno, nada sabemos explicar. Será que o novo tratamento nos trará maiores luzes?
TRATAMENTO
Tem se constituído um verdadeiro e constante desafio a medicina o seu tratamento. A luta durante tantos anos, tentando a cura dos pacientes que muito padecem, tem mais resultados negativos que positivos, dado aos fracassos terapêuticos propostos, estando a maioria deles em desuso total.
Vejamos o que se tem proposto como tratamento: (111)
QUADRO Nº I
0 que se tem feito no tratamento da papilomatose laríngea.
1) Hormonios, II) Antibioticos, 111) Corticoides, IV) Vacina antivariolica, V) Vacina autogena, VI) Causticos (N03AG-PODOFILINA-etc.rtc.), VII) Radioterapia, VIII) Ultrasom, IX) Eletrocoagulação, X) Excisão cirurgica, XI) Crioterapia, XII) Laserterapia.
Tendo como base a excisão cirúrgica em todos os casos, procuramos completar o tratamento com os seguintes meios terapêuticos sem muitos resultados: (Antibióticos) (IV) Vacina antivariólica, Vacina autogena, e Crioterapia.
Em maio de 1975, depois de observar os trabalhos M. Stuart Strong, (V) iniciamos a excisão cirúrgica com os raios C02 laser. Estes sim, tem nos brindado com resultados satisfatórios, que nos tem animado bastante. Concordamos não ser ainda a terapêutica ideal porque os raios laser não exercem influência especifica sobre as lesões. No entanto apresentam vantagens de remover os tecidos de uma maneira precisa, rápida e sobretudo hemostática. A energia calórica e absorvida pelos tecidos biológicos, sendo seus componentes aquosos vaporizados também de uma maneira precisa, rápida e hemostática. A excisão cirúrgica é muito mais eficiente e muito simplificada.
CASUISTICA E RESULTADOS
Os 10 primeiros casos de pacientes com papilomatose laríngea, tratados cirurgicamente com raios laser variaram entre 18 meses a 30 anos de idade. A preponderância acentuou-se para o sexo masculino. 0 tempo de tratamento com os raios variou entre 2 a 10 meses. 0 número de sessões endoscópicas para o desaparecimento das massas papilomatosas dependeu do tamanho das lesões, variando entre 1 a 5 intervenções.
Com os outros tipos de tratamento realizados por nos anteriormente o tempo variou entre 1 a 15 anos, com um incontável número de sessões endoscópicas. Em menos de um ano conseguimos o desaparecimento da papilomatose em cinco casos que se arrastavam em seu tratamento por vários anos. (n° 2, 3, 4, 5, 6, do quadro II)
E nos novos casos em que usamos a microcirurgia com C02 laser os curamos todos em seis meses. (n° 7, 8, 9 e 10 do quadro II)
0 número de microcirurgia do laringe para a remoção de papilomas diminuiu consideravelmente no ano de 1976. Cremos que a nenhum laringologista lhe apraz retirar papilomas de uma laringe infantil, quer pela dificuldade de realizar o ato cirúrgico, quer principalmente pelo sofrimento constante dessas crianças ante a presença do cirurgião e do anestesiologista. Portanto achamos que a terapêutica, da papilomatose laringéa com raios laser C02 é a melhor que usamos até a presente date.
SUMMARY.
The authors relate the first results in the treatment of the recurrent laryngeal papillomatosis, manegement with the C02 laser. In 10 cases, six was in treatment with microsurgery of the larynx completed with other therapies for a long time. As soon as we start with the treatment of C02 laser we had good results in five cases. In others 4 cases we started with the new treatment directly. We had good resinas in ali.QUADRO N. II
A cura que se refere o quadro acima, consiste no desaparecimento completo dos papilomas durante o período de tratamento (1 ano). Neste segundo ano ainda não observamos nenhuma reecidiva.RESUMO
BIBLIOGRAFIA:
1. BOYLE WF, RIGGS JL, OSHERO LS, et al: Electron microscope identification of papava virus in laryngeal papilloma. Laryngoscope 83:1102-110_7, 1973.
2. KUHL IA, SANTOS PL: 0 papiloma laringéo na criança. Jornal Brasileiro de Medicina vol. IX 171-176, 1965.
3. QUICK CA, BEHRENDES HW, et ai: Treatment os Papillomatosis of the Larynx with Transfer Factor. Ann Otol Rhinol Laryngology 84:607-613, 1975.
4. HOLINGER PH, JOHNSTON KC, ANISON GC: Papilloma of the larynx: A review of 109 cases with preliminary report of aureomycin therapy. Ann Otol Rhinol Laryngology 59: 547-564, 1950.
5. STRONG MS, VAUGHAN CW, et ai: Recurrent Respiratory Papillomatosis Manegement with the C02 Laser. Ann Otol Rhinol Laryngology 85: 508-546.
Endereço das Autores:
Andradas, 1727 - 6° andar
90.000 - Porto Alegre/ RS.
* Prof. Titular de ORL da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
** Médico otorrinolaringologista do Hospital de Clinicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
*** Médico estagiário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.