Versão Inglês

Ano:  1977  Vol. 43   Ed. 1  - Janeiro - Abril - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 12 a 17

 

MENINGEOMA DO ANGULO PONTO CEREBELAR: APRESENTAÇÃO DE UM CASO

Autor(es): Dr. ANTONIO DOUGLAS MENON.
Dr. REINALDO LUIZ SALMAZO

Resumo:
Os autores fazem uma revisão suscinta da literatura concernente a este atraente capitulo da otoneurologia, apresentando um caso que simulou um neurinoma do VIII par. São comentados alguns aspectos interessantes, referentes ao diagnóstico deste tumor.

Há 1 ano e meio apresenta cefaléia occiptal diária de forte intensidade. Como antecedentes apresentava: Tuberculose na adolescência e trauma craniano há 5 anos por acidente automobilístico. Vinha sendo tratado de condrose de coluna cervical.

Submetido a exame Otoneurológico, o mesmo apresentou: um comprometimento cocleo vestibular à direita, com inexcitabilidade vestibular às provas calóricas e anacusia.

Nistagmo expontâneo visível apenas à E.N.G. com olhos fechados, nistagmo direcional para a esquerda e um nistagmo de posição do tipo li. No exame dos pares cranianos encontramos uma hipoestesia corneana à direita (V) e discreta paresia facial (VII). Apresentava ainda frusta síndrome cerebelar traduzida por leve dismetria. O exame radiológico com politomografia dos meatos acústicos internos foi normal. Um estudo neuro radiológico revelou à iodocisternografia uma parada do contraste ao nível do bulbo, que simulou durante o exame um engasgamento de amídalas cerebelares. A arteriografia da vertebral com subtração revelou umagrande massa tumoral ao nível do ângulo ponto cerebelar. Estes achados foram interpretados pelo neuroradiologista como um neurinoma do VIII par. Além do exame neurológico completo, também foi feito um exame de L.C.R. que mostrou uma dissociação albumino-citológica.

Com o diagnóstico de uma síndrome do ângulo ponto cerebelar o paciente foi submetido a cirurgia tendo sido realizada uma craneotomia posterior.

0 achado cirúrgico foi de um grande tumor do ângulo ponto cerebelar que foi parcialmente extraído, devido sua aderência do tronco cerebral. 0 estudo anatomo patológico da peça operatória resultou em Meningeoma Meningotelial.



Politomografia normal dos condutos auditivos internos.



Massa tumoral mostrada pela arteriografia com técnica de subtração.



Colesteatomas e meningeomas com 6,3% cada, seguem-se com maior raridade os gliomas com 5,9% e outros tumores com 1,6% de acordo com a classificação de Revilla, A.G. Outros autores, como Pool, House e Heuschen, confirmam esta classificação.

Os meningeomas que constituem 15 a 20% de todos os tumores cerebrais, ocorrem em aproximadamente metade dos casos na região do Seio Sagital e os restantes se encontram na fissura de Silvios nas eminencias parietais ou próximos aos seios laterais; mais raramente no Sulcus Olfatórios, tuberculos celares e região paracelar. Ocorrem em 8 a 9% dos casos, na fossa posterior. Esses tumores são originários do meningocítos que são células existentes nas vilosidades aracnóides, seios venosos maiores, menores e veias tributárias. São tumores de evolução lenta, só produzindo sintomas após a compressão do parenquima nervoso.

O quadro clínico é inteiramente variável, podendo se apresentar como sintoma inicial: diminuição da audição, zumbidos, tonturas e vertigens, hipoestesia da face, nevralgia do trigêmea, incoordenação de membros superiores, instabilidade à marcha e cefaléia. Estes sintomas representam comprometimento do V e VIII pares e cerebelo. As respostas calóricas podem estar normais pois o meningeoma comumente não envolve o VIII par logo no início. Como sintomas tardios, podemos encontrar diminuição da acuidade visual, contrações clínicas da face, dìsfagia e disartria, paralisia facial e mesmo sintomas hipotalamicos, de acordo com Revilla, A.G. em seu memorável trabalho.

Os achados de exame não são patognomonicos e em geral, os testes audiológicos mostram uma perda neuial pura com adaptação patológica, Békesy tipo III ou IV, ausência de recrutamento e discriminação pobre em relação a um bom limiar tonal.

O estudo radiológico deve incluir radiografia simples de crânio com politomografia dos temporais, iodocisternografia, pneumoencefalografia e arteriografia que no meningeoma tem grande importância devido a grande vascularização desse tumor. Esse dado associado à calcificação ou destruição óssea sugerem o diagnóstico. Atualmente tem-se usado o radioisotopo com tecnécio para auxiliar o diagnóstico. 0 liquor também deve ser rotina na bateria de exames podendo mostrar uma dissociação albumino citológica.

0 diagnóstico diferencial deve ser feito com um grande número de condições que envolvem o ângulo ponto cerebelar como neurinomas, colesteatomas; gliomas, cistos aracnóideos, tumores metastáticos, condições traumáticas, vasculares e infecciosas. (Evans e Courville)

APRESENTAÇÃO DO CASO

N.W.J.; 48 anos masculino, com queixa de zumbido no ouvido direito há 2 anos com perda progressiva da audição, tonturas tipo instabilidade, também progressiva.



Audiometria feita dois anos antes e cuja prova calórica foi interpretada como "normo-reflexia vestibular direita e uma hiper-reflexia vestibular esquerda".



Audiometria atual mostrando o grave comprometimento coclear direito. Nessa ocasião havia inexcitabi1idade vestibular direita a 44,30 e 18°C.


 
Cortes histológicos que mostram feixes celulares enovelados. As células são fusiformes. Os núcleos são vesiculosos tendo cromatina distribuída regularmente. A rede capilar intersticial é abundante e dilatada. Entre os feixes celulares fibras colágenos delgadas estão presentes.



CONCLUSÕES

Importância da evolução lenta e insidiosa do tumor cujo diagnóstico deve sempre ser considerado quando nos deparamos com um quadro cocleovestibular, principalmente unilaterais. Sintomatología pobre em relação ao tamanho do tumor que neste caso em especial era muito grande, aderido ao tronco cerebral, simulando inclusive ao exame neuro radiológico um engasgamento de amídalas cerebelares. Aspecto especial visto na arteriografia: grande vascula rização que neste caso não existia. Bom prognóstico do caso. O paciente foi submetido a radioterapia pós-operatória e vem evoluindo bem, tendo inclusive retornado a suas atividades profissionais. Importância do diagnóstico precoce que dá melhores condições cirúrgicas. Neste caso o diagnóstico poderia ter sido feito dois anos antes quando o paciente foi submetido a um exame otoneurológico que foi interpretado erroneamente.

SUMMARY

The autoors have done a briefly revision of the litterature concerning to this attractive chapter of the otoneurology and presentes a case that have simulated an VIII nerve neurinoma.

Some interesting diagnostic aspect are discussed.

BIBLIOGRAFIA:

1. EVANS, N. and COURVILLE, C.B. Pathologic Conditions Envolving the VIII Nerve and cerebello Pontine Angle. The Laryngoscope, 42: 433-61 1932.
2. PAPARELLA, M.M. and SHUMRICK, D.A. Otolaryngoiogy. Philadelphia, WB Saunders Company 1973.
3. POOL. J.L. et ais. Accoustic NerveTumors. Springfield IIlinois, Charles C. Thomas Publisher.
4.REVILLA, G.A. Differential diagnosis of tumors of cerebello pontine recess. Buli. Johns - Hopkins Hospital. 83: 187-212 1948.
5.ROBBINS, S.L. Text Book of Pathology. Philadelphia, WB Saunders Company 1964.




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