Versão Inglês

Ano:  1989  Vol. 55   Ed. 2  - Abril - Junho - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 88 a 90

 

Amigdalite crônica: estudo imunohistoquímico e histológico

Cronic tonsihtis: imnunohistochenúcal and histologic study

Autor(es): Otacilio Lopes 1
Igor Mumica 2
Roberto A. Pinto Paes 3
Licia J. Mimica 4
Paulo Roberto Lazarini 5
Estelita Teixeira Betti 6
José Luiz da Costa Pereira 7
José Leidson de Almeida Holanda 7

Resumo:
Um estudo histológico e imunohistoquímico, foi realizado em 35 amígdalas, provenientes de cirurgias em crianças de ambos os sexos com idade de 2 a 12 anos. Em todos os 35 pacientes havia indicação para a cirurgia. No estudo histológico deu-se imortância à presença de folículos infóides, centros germinativos, preença ou não de fibrose, necrose e resença ou não de neutrófilos nas riptas. Segundo estes padrões e de acordo com a classificação proposta por LOPES e MIMICA em 1982, foram encontradas 22 classificáveis no grupo I e 13 no tipo II. Do ponto de vista imunológico, fez-se a análise imunohistoqufmica do tecido amigdaliano, obedecendose a uma avaliação quantitativa em campos histológicos e quantificadas as imunoglobulinas segundo a sua positividade em 100 células por campo, de uma cruz (+) a quatro cruzes. Em todas amígdalas estudadas houve um predomínio no encontro de IgG sobre a IgA, confirmando achados anteriores de FIOIZEITI (1974). Nossos achados sugerem a existência de um quadro histológico e imunohistoqufmico característico, na amigdalite crónica infantil.

Introdução

Em recente publicação, LOPES F. e col(') escrevem, baseados em estudos anatomopatológicos, quatro tipos fundamentais de alterações histológicas encontradas em amígdalas operadas e de acordo com as características dos folículos linfóides e centros germinativos, portanto expressando melhor a atividade imunológica deste tecido.

Tipo I: Caracteriza-se histologicamente pela presença de numerosos folículos linfóides e centros germinativos, entremeados por fibrose em graus variáveis. Nas criptas, podem ser observados acúmulos de neutrófilos, com ausência de necrose.

Tipo II: Apresenta mesmas características do tipo I, porém com necrose nas criptas amigdalianas.

Tipo III: Histologicamente estas amígdalas apresentam intensa fibrose com presença de necrose nas criptas, escassos centros germinativos e folículos linfóides muito raros ou inexistentes.

Tipo IV: Neste tipo predomina a fibrose no tecido amigdaliano. Não se observa a presença de necrose nas criptas. Os centros germinativos e folículos linfóides são escassos ou mesmo ausentes.

Os tipos I e II são encontrados na criança, geralmente com amígdalas hiperplásicas, e os tipo III e IV são quase que exclusivas do adulto com amígdalas atróficas e fibrosadas. Em crianças, onde há maior atividade imunitária, o tipo descrito coincide com a presença de atividade intensa de centros germinativos associados ou não de infecção aguda ou crônica. Já nos adultos predominou a tipo histopatológico, onde havia escassez dos mesmos centros.

Embora os aspectos histológicos já tenham sido bastante bem estudados, os aspectos imunológicos das amigdalites crônicas ainda são ricos de incertezas. FIORETTI(2), num estudo de 10 anos, encontrou os seguintes elementos:

a) demonstrou a existência de imunocomplexos na região justa capsular das amígdalas;

b) demonstrou a existência de inunocomplexos na região perivascular extra-nodular e conseqüentemente no tecido intersticial (vasculite intersticial?), havendo um predomínio da imunoglobulina G sobre a A. Na amígdala normal, seriam de se esperar níveis mais altos de IgA.

O autor sugere, baseado em seus estudos, um novo teste para o diagnóstico objetivo da amigdalite crônica: a biópsia amigdaliana. Num fragmento muito pequeno de amígdala, é realizado estudo imunohistoquímìco (imunofluorescência) qualitativo das alterações na amígdala, onde o predomínio de IgG significaria a presença de infecção crônica.

Material e Métodos

Estudamos um grupo de 40 pacientes, crianças (na faixa etária de 2 a 12 anos) portadoras de infecções repetidas do anel linfático de Waldeyer. Os pacientes foram submetidos a amigdalectomia e as amígdalas enviadas para estudo histológico e imunohistoquímico.

a) Métodos histológicos: inclusão dos fragmentos de amígdala em blocos de parafina após processamento habitual de fixação e desidratação. Cortes de 4 mitras. Colorações histológicas empregadas: Hematoxilinaeosina, Giemsa, Verde de Metila, Pironina e impregnação pela prata para reticulina.

b) Métodos imunohistoquímicos: identificação de Imunoglubulina citoplasmática (IgG, IgA, IgM) pelo método de PAP (peroxidase antiperoxidase), utilizando-se anticorpos para imunoglobulinas humanas produzidas em coelhos, como anticorpos primários; como anticorpos secundários utilizou-se soro de porco anticoelho; reação com PAP e revelação com aminoetilcarbazol.

Paralelamente procedeu-se também a identificação de Imunoglobulinas intracelular, pelo método de imunofluorescência indireta, utilizando-se anticorpos anti-imunoglobulinas humanas produzidos em coelhos.

Os critérios para a avaliação da intensidade das reações imunchistoquímicas foram:

A) nos cortes seriados procurou-se sempre analisar campos correspondentes com contagem de 100 células por campo. À presença de até 10 células positivas por campos foi convencionado quantificar uma cruz

- até 20 células, duas cruzes (++);
- até 30 células, 3 cruzes (+++);
- acima de 30 células, 4 cruzes


Resultados

Histologia

O exame histológico demonstrou, em todos os casos, hiperplasia folicular das amígdalas, com centros germinativos exuberantes, apresentando grande atividade mitótica e macrofágica; halos foliculares densos e espessos. Plasmocitose moderada e hiperplasia histiocitária difusa. A reticulina apresentava-se com distribuição frouxa compatível com a normalidade.

Na periferia dos folículos podemse observar, com maior freqüência, células pironifilicas em grande número.

Este aspecto é compatível com o tipo I (LOPES F. e col.l') descrito anteriormente e foi encontrado em praticamente todos os casos.

Tipo I: 22 pacientes

Tipo II: 13 pacientes

Nota: Não conseguimos resultado em 4 pacientes.

Imunohistoquímica

Os resultados dos exames imunohistoquímicos, com as dosagens das imunoglubulinas IgA, IgG e IgM no tecido amigdaliano, foram os descritos abaixo:

Imunoglobulinas / Número de Amígdalas
IgG + 0
IgG ++ 3
IgG +++ 11
IgG ++++ 21
IgA + 11
IgA ++ 19
IgA +++ 4
IgA ++++ 1
IgM + 28
IgM ++ 7
IgM +++ 0
IgM ++++ 0

Discussão

Nossos resultados são semelhantes àqueles observados por FIORETTI(2). Em todos os casos analisados é evidente o predomínio de células imunologicamente competentes produtoras de IgG.

Sabe-se que os tecidos linfóides localizados na mucosa da orofaringe, rinofaringe e tubo digestivo, são em ocasiões não excepcionais grandes produtores de IgA. O fato de nestes casos haver maior produção de IgG atesta que estes tecidos foram equipados, nesse processo reativo, para produzir uma Imunoglobulina mais eficaz no processo de defesa à infecção bacteriana. Estes dados estão também de acordo com aqueles obtidos por FIORETTI(2).

Todos os nossos casos apresentaram amígdalas histologicamente reativas, com atividade mitótica e pironinofilia compatíveis com esse papel de defesa imunológica. Este aspecto histológico está incluído tanto no tipo I dos padrões anteriormente descritos, como no tipo II.

É possível que a presença de casos com tipo histológico II seja relacionada com tempo maior de infecção, com maior atividade reacional, formação de imunocomplexos no local e alterações teciduaís próprias desta reação.

Conclusões

Consideramos que todos os casos estudados demonstraram alterações histológicas compatíveis com amígdalas hiperplásicas, reativas, sem indícios de alterações regressivas, atestando sua capacidade de se envolver efetivamente na reação de defesa tecidual.

Os resultados imunohistoquímicos são a mais insofismável confirmação desta conclusão, ao demonstrar a capacidade funcional do órgão na produção e imunoglobulinas que aparecem nos momentos mais específicos de uma fase crônica da inflamação.

Summary

A histologic and inmunohistochemical study was carried out on 35 palatine tonsils, obtained by surgical performed on children, of both sexes, between 2 and 12 years agge.

For all the 35 patients, there was a defnite indication for sugery.

In the histologic study, great importance was given to: the presente of lynphoid follicles, germinal centers, presente or absence q f f brosis, necrosis and of neutrophils in the crypts. According to such standards and the classification put forward by LOPES e MIMICA in 1982, 22 tonsils were found to be classified i group 1 and 13 in the type II.

From the inmunological point o view, an inmunohistochemical analysis of the tonsillar tissue was carried out, by making a quantitativel evaluation in histologic fieids, in that inmunoglobulines were quantified according to their positivity, ranging from 1 cross (+) to 4 crosses (++++), in 100 cells per field.

In all the tonsil examined, there was a predominace of IgG over IgA, which confirmed FIOREITT S (1974) previous discoveries.

Our findings suggests the existence of a characteristic histologic and inmunohistochemical picture in chronic tonsillitis in childhood.

Referências Bibliográficas

1. LOPES F., O. e col: A lincomicina no tecido amigdaliano. Seus níveis séricos e tissulares. Correlação clínica, bacteriológica e histopatológica. Arquivos Médicos dos Hosp. e Fac. C.M.S.C.S.P., vol. 11, 24-27, janifev, 1982.

2. FIORRETTI, A. - Review of the imunological tonsilar problem in. In: Procedings of the X World Congress, Venice, May (21-25): pág. 633. Amer. Elsevier Publ. Co. Inc., N. York, 1974.




1 - Professor Titular e Diretor de Departamento de Otorrino-Oftalmologia e Cirurgia de TraumatoloBuco-Maxilo-Facial da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
2 - Professor Titular de Microbiologia e Bacteriologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa de São Paulo
3 - Professor Associado do Departamento de Patologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa de São Paulo e Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de S. Pauto
4 - Professora Assistente da Disciplina de Bacteriologia e Imunologia da Faculdade de Ciências Méas da Santa Casa de São Paulo
5 - Segundo Assistente da Clínica de Otorrinolaringologia da Irmandade da Santa Casa de Miserikdia de S. Paulo e Professor Instrutor da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de CiênMédicas da Santa Casa de S. Paulo
6 - Assistente da Clínica de Otorrinolaringologia da Irmandade da Santa Casa de Milente de São Professora Instrutora da Disciplina de Otomnolaringologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
7 - Ex-Residentes da Clinica de Otorrinolaringologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórde São Paulo.

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