Versão Inglês

Ano:  1989  Vol. 55   Ed. 2  - Abril - Junho - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 54 a 56

 

Estudo morfométrico da fóssula da janela oval

Morphometrie study of oval window fossa

Autor(es): Renato Roithmann**
Arnaldo Linden***
Míriam Mason****
Mário Wagner*****

Resumo:
Os autores estudaram as dimensões da fóssula da janela oval, com o intuito de constatar a existência de variações anatómicas, que podem gerar dificuldades nas técnicas cirúrgicas de reconstrução funcional do ouvido médio.

Introdução

A cirurgia da otite média crônica tem dois objetivos básicos: 1° curar a infecção, 2° restaurar a audição. Aprimoram-se as técnicas cirúrgicas, no que diz respeito às reconstruções funcionais do ouvido médio, na tentativa de recuperar cadeias ossiculares parcial ou totalmente destruídas. A técnica cirúrgica de escolha na reconstrução da cadeia ossicular está na dependência das estruturas anatômicas existentes no ouvido médio e as relações entre as mesmas (membrana timpânica, martelo, bigorna, estribo). A interposição platinamembrana timpânica (fig. 1) é a mais freqüentemente usada na reconstrução funcional do ouvido médio(1). Neste tipo de interposição, as dimensões da fóssula da janela oval devem ser conhecidas. Variações anatômicas podem gerar dificuldades cirúrgicas e influir nos resultados funcionais(2). Foram estudadas as janelas ovais de 40 ossos temporais, com achados significativos nas dimensões do menor diâmetro (transversal), que variou entre 1.4 e 2.3 mm.



Fig. 1 - Interposição platina-membrana timpánica.



Material e Métodos

O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Dissecção de Ossos Temporais do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre; foi feito um estudo morfométrìco da fóssula da janela oval em 40 ossos temporais.

Formas geométricas milimétricas, com formato de réguas, confeccionadas a partir de lâminas plásticas (utilizadas em radiografias). Para medir a dimensão das réguas, foi usado o paquímetro. Os nichos da janela oval foram adequadamente expostos no microscópio cirúrgico. Foram avaliados em cada caso: a forma, o menor diâmetro (transversal) e a altura da fóssula da janela oval, utilizando-se as réguas milimétricas confeccionadas (fig. 2 e 3). Para medir a altura da fóssula, foram realizados cortes transversais ao nível da janela oval (fig. 4).

O estudo do maior diâmetro não foi considerado no trabalho.

Estatística: foram calculadas medidas descritivas, que compreendem a média ( n- ) e o desvio padrão (s) e feita estimativa do parâmetro populacional por intervalo de confiança (t de Student - M = ;~n ± t a ; g 1 x x ÊP) : n - média t q : gl - valor crítico da tabela de t EP - erro padrão estimado.



Fig. 2 - Instrumental e material utilizado: lâmina plástica, bisturi, pinça-jacaré, réguas milimétricas, paquímetro.



Fig. 3 - Exposição da caixa timpânica, régua (R) posicionada na jóssula da janela oval.



Fig. 4 - Corte transversal ao nível da fóssula da janela oval: notar formato da fóssula (F); nervo facial (NF); martelo (M).



Fig. 5 - Variaçóes anatômicas da fóssula da janela oval.


Resultados

A Tabela I mostra os resultados obtidos nos 40 Ossos Temporais estudados. A medida do diâmetro menor (transversal) da fóssula da janela oval variou entre 1.4 e 2.3 mm, ficando a média em 1.9 mm (Tabela II).

A altura da fóssula da janela oval teve em média 3 mm. Estimativa do parâmetro populacional (diâmetro transversal): superior - 2 mm e inferior - 1.8 mm.

A forma da fóssula da janela oval não apresentou variações significativas nos ossos estudados. Em apenas um osso temporal estudado (n° 7) o diâmetro transversal da fóssula foi menor que o diâmetro da janela oval.








Discussão e Conclusão

A janela oval ocupa o fundo de uma depressão infundibiliforme, conhecida com o nome de fóssula da janela oval (nicho da janela oval). O limite superior é o canal do nervo facial e o inferior o promontório (fig. 4). Segundo Testut et al (3), a janela oval mede 1.5 mm no menor diâmetro (transversal) e 3 a 3.5 mm no maior diâmetro. Em nossos achados a medida do menor diâmetro variou entre 1.4 e 2.3 mm, com média de 1.9 mm. Nichos estreitos (menor que 1.9 mm) podem dificultar a colocação adequada de um homoenxerto (ossiculo, por exemplo) ou de uma prótese com haste de diâmetro alargado (fig.5).

Uma bigorna, por exemplo, ou uma prótese bem posicionada, tocando a platina do estribo, pode perder sua mobilidade se ficar em contato com as paredes laterais da fóssula da janela oval(4, 5). O cirurgião deve estar ciente destas variações e prevenir-se com homoenxertos e próteses, com hastes de dimensões variáveis, ou ter o instrumento cirúrgico apropriado para moldar adequadamente o material de interposição.

Abstracts

The autoors studied the dimen sions of oval window niche in order to recognize anatomical variations, which can cause surgical diculties in functional reconstruction of middle ear.

Referências Bibliográficas

1. LINDEN, A & COSTA, S.S. Reconstituição ossicular: uso de TORP e PORP com extremidade óssea. Rev. Bras. Otorrinol. 52: 31-42,1986.

2. PULEC, J.L. & SHEEHY, J.L. Tympanoplasty: Ossicular chain reconstruction - Symposium on Tympanoplasty. Laryngoscope 83(4): 448-65,1973,

3. TESTUT, L. & LATARJET, A. Organos de los sentidos - Tratado de Anatomia Humana - Vol 111. Cap V, 763-915.

4. SELLARI-FRANCESCHINI, S. et al. TORPS and PORPS: Causes of Failure. Am J. Otol. 8(6):551-2,1987.

5. SHEEHY, J.L. & BENECKE, J.E. Middle Ear Reconstruction: Current Status. In: Advances in Otolaryngology Head and Neck Surgery. Year Book Medical Publishers, Inc. Vol 1, 143-65, 1987.




Endereço dos autores
Hospital de Clinicas de Porto Alegre. Serviço de Otorrinolaringologia. Rua Ratniro Barcelos, 2350 - CEP 90210 - Porto Alegre - RS.

* Trabalho realizado no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Projeto Transplantes e Implantes para Deficientes Auditivos. Apoio CNPq. Apresentação de Tema-livre no XXIX Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e XXI Congresso Pan-Americano de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço.
** Médico Otorrinolaringologista. Bolsista do CNPq.
*** Professor Adjunto de Otorrinolaringologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Otologia.
**** Médica residente do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Clinicas de Porto Alegre.
***** Médico do Grupo de Bioestatlstica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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