Versão Inglês

Ano:  1989  Vol. 55   Ed. 1  - Janeiro - Março - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 11 a 21

 

Limiar de recepção da fala "Estudo sobre a relação do limiar de recepção da fala e limiares tonais das freqüências de 250Hz a 4000Hz"

Speech reception threshpld: Study about the relationship betwen the SRT and the tonal thresholds of the frequencies of 250 e 500 Hz

Autor(es): Mônica Bampa Bueno de Camargo **
Ivone Ferreira Neves**
Maria Aparecida Favaro Otacilio Lopes***
Maria do Carmo Redondo****

Resumo:
O presente trabalho foi desenvolvido no Setor de Audiologia Clínica da Clínica de Otorrinolaringologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com 229 pacientes portadores de Patologias Condutivas e Patologias Mistas predominantemente condutivas, com a finalidade de pesquisar o Limiar de Recepção da Fala (Speech Reception Threshold - SRT) em diferentes configurações audiométricas, Planas, Ascendentes e Descendentes. Este estudo foi realizado através da comparação do L.R.F com três Médias Tonais distintas: 500Hz, 1OOOHz e 2000Hz - Média normalmente utilizada na prática clínica: 250Hz, 500Hz, 1000Hz e 2000Hz - Média com fator mais grave - e 500Hz, 1000Hz 2000Hz e 4000Hz - Média com fator mais agudo. Além destas comparações, foi também pesquisada a relação do L.R.F. e o limiar tonal de cada freqüência isoladamente, de 250 a 4000Hz. Os resultados apresentados demonstraram que, nos três tipos de curvas audiométricas, o L.R.F. esteve mais próximo da Média Tonal incluindo o fator mais grave. Na comparação do L.R.F. com o limiar tonal de cada freqüência foi verificado que houve uma maior aproximação das freqüências mais graves (250, 500 e 1000Hz).

Introdução

Considerando a Logoaudiometria, no campo da Audiologia Clínica, como uma importante avaliação qualitativa da audição do indivíduo, foi realizado um estudo sobre o Limiar de Recepção da Fala (Speech Reception Threshold - SRT), um dos aspectos pesquisados nesta avaliação.

A intensidade na qual o indivíduo começa a identificar palavras é chamada de Limiar de Recepção da Fala (LRF) e tem como principais propósitos: a confirmação das respostas obtidas para tom puro nas freqüências que se relacionam com a energia dos sons da fala; o auxilio na indicação de aparelhos de amplificação sonora individual; a colaboração no diagnóstico de perdas auditivas funcionais ou de origem psicogênica (Katz, 1972) e a determinação do nível de intensidade mais favorável para a realização do teste de discriminação de palavras (Katz, 1972; Carhart APUD Santos e Russo, 1986).

O método que mais comumente é utilizado para a predição do Limiar de Recepção da Fala em Audiologia Clínica é a média dos limiares tonais das freqüências de 500, 1000 e 2000Hz (Hughson e Thompson, 1942; Harris, 1946; Engelberg, 1965; Satalloff, 1966; Katz, 1972; Jerger, 1972). A diferença estabelecida entre o Limiar de Recepção da Fala e esta média é de até 10 dB (Graham, 1960; Engelberg, 1965; Harris; 1965; Satalloff, 1966; Katz, 1972; Jerger e Jerger, 1973). Muitos autores preconizam que se esta diferença for superior a 10dB a determinação dos limiares tonais deve ser refeita (Feldman APUD Santos e Russo, 1986; Katz, 1972; Hodgson, 1980).

Através de nossa prática clínica no Setor de Audiologia Clínica da Clínica de Otorrinolaringologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, observamos que a relação entre o Limiar de Recepção da Fala e média das freqüências de 500, 1000 e 2000Hz não se verifica em casos de audiogramas heterogêneos, o que vem prejudicar a análise do exame audiológico.

Numa revisão bibliográfica, verificou-se que os estudos sobre a relação entre o Limiar de Recepção da Fala e limiares para tons puros ainda têm sido muito discutidos.

Carhart (1946) fez um estudo, através de equações de regressão, da relação da média dos limiares das freqüências de 500, 1000 e 2000Hz com o Limiar de Recepção da Fala. Observou alguns fatores que interferem nesta relação:

1) Tipo de curva: verificou que tanto em curvas audiométricas homogêneas como heterogêneas o Limiar de Recepção da Fala era equivalente à média das freqüências de 500, 1000 e 2000Hz. O mesmo não ocorrendo em perdas auditivas nas freqüências agudas, onde observou que o Limiar de Recepção da Fala era melhor que esta média.

2) Duração da perda: quanto maior o tempo de perda auditiva, pior o Limiar de Recepção da Fala em relação à média.

3) Tipo de perda: observou que em perdas auditivas do tipo condutiva e mista predominantemente condutiva o Limiar de Recepção da Fala era maior que a média das três freqüências. Em perdas mistas, mistas predominantemente sensorial e sensório-neural o Limiar de Recepção da Fala era melhor que a média das três freqüências.

Fletcher (1950) desenvolveu um estudo em 165 ouvidos incluindo dierentes tipos de perdas auditivas utilizou palavras espondaicas e balanceadas foneticamente na língua inglesa, e baseado na pesquisa de ensação de intensidade (Loudness), procurou estabelecer uma fórmula para calcular a perda auditiva para fala incluindo o limiar tonal de cada uma das freqüências. Concluiu que uma fórmula simplificada para a predição do Limiar de Recepção da Fala seria a média dos dois melhores limiares tonais dentre as freqüências de 500, 1000 e 2000Hz.

Quiggle (1957) realizou um estudo em 319 ouvidos direitos de indivíduos do sexo masculino de 20 a 29 anos, em que propôs uma equação de regressão múltipla como método de predição do Limiar de Recepção da Fala através dos limiares tonais para as várias freqüências, utilizando palavras espondaicas. Observou que dentre as várias freqüências estudadas e o Limiar de Recepção da Fala, a maior correlação foi obtida utilizando-se as freqüências de 500, 1000 e 1500Hz. Destacou que freqüências acima de 2000Hz não ínterferiam na melhora ou piora desta correlação.

Jerger et ai (1959) fizeram uma pesquisa sobre a correlação do Limiar de Recepção da Fala com a freqüência de 1000Hz em 116 indivíduos com audição normal, observando que a diferença média da de 13 dB. A diferença por eles aceita entre o Limiar de Recepção da Fala e a média das freqüências de 500, 1000 e 2000Hz era de 6 dB.

Kryter (1962) realizou um estudo entre 114 indivíduos (228 ouvidos) do sexo masculino portadores de deficiência auditiva sensório-neural com o objetivo de obter melhores dados na relação entre acuidade auditiva para tons puros e habilidade de compreender a fala.

Estabeleceu coeficientes de correlação para as freqüências de 500, 1000, 2000, 3000, 4000 e 6000Hz, em diversos métodos de testes da fala. Em sua conclusão, revelou a importância das freqüências agudas, sugerindo que as médias entre as freqüências de 1000, 2000 e 3000Hz e ainda 2000, 3000 e 4000Hz seriam medidas equivalentes e ambas adequadas na predição do Limiar de Recepção da fala. No entanto, sugere a média das freqüências de 1000, 2000 e 3000Hz como melhor regra prática. Gjalvenes (1969) pesquisou 300 ouvidos de indivíduos, de ambos os sexos, portadores de perdas condutivas e sensoriais. Desenvolveu uma equação de regressão baseada na correlação do Limiar de Recepção da fala e diferentes limiares de freqüências para tom puro, obtendo os maiores índices de correlação com as freqüências de 500, 1000 e 3000Hz.

Carhart (1971) estabeleceu uma equação de regressão considerando como freqüências mais importantes para a predição do Limiar de Recepção da Fala 500 e 1000Hz, para qualquer tipo de perda auditiva.

Assim, baseados em nossas observações e experiências da prática clínica, bem como em estudos já anteriormente realizados, alguns deles acima citados, desenvolveu-se um trabalho no Setor de Audiologia Clínica da Clínica de Otorrinolaringologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com pacientes portadores de patologias condutivas e mistas predominantemente condutivas, cuja proposta é:

- Pesquisar a relação do Limiar de Recepção da Fala com os limiares tonais em diferentes tipos de curvas audiométricas, sob dois aspectos:

I. Em relação à média dos limiares tonais das freqüências de 500, 1000 e 2000Hz ("Média padronizada em Audiologia Clínica");

Em relação à média dos limiares tonais das freqüências de 250, 500, 1000 e 2000Hz, proposta neste trabalho, para verificar a importância de freqüências graves;

Em relação à média dos limiares tonais das freqüências de 500, 1000, 2000 e 4000Hz, também proposta neste trabalho, para verificar a influência de freqüências agudas.

II. Em relação ao limiar tonal de cada freqüência isoladamente de 250 a 4000Hz.

Material e Métodos

Foram selecionados 229 audiogramas de pacientes atendidos no Setor de Audiologia Clínica da Clínica de Otorrinolaringologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, durante os anos de 1986 e 1987, sem determinação, a priori, de sexo, idade ou raça. Esses audiogramas referem-se a curvas audiométricas de patologias condutivas e mistas predominantemente condutivas, a partir dos quais observou-se apenas um dos ouvidos testados, sem distinção de lado direito ou esquerdo.

Dentro desse universo, a diferença entre os limiares tonais de via aérea e de via óssea ("gaps") considerados apresentaram um mínimo de 20dB em pelo menos duas freqüências de 250 a 4000Hz. As discriminações vocais de palavras monossilábicas, por seu turno, apresentaram em todos os casos uma performance de 88% a 100%.

As audiometrias foram realizadas em aparelhos Amplaid 300 (ANSI 1969) e cabines acusticamente isoladas. Os limiares tonais de via aérea e via óssea nas várias freqüências foram obtidos através da técnica "descendente".

O Limiar de Recepção da Fala foi obtido através da apresentação de palavras trissilábicas sem pista visual (Santos e Russo, 1986), em uma intensidade de conforto para o paciente de aproximadamente 30 a 40 dB, havendo controle da voz da examinadora ("VU METER"). Em cada nível de intensidade, uma palavra era apresentada diminuindo-se de 10 em 10 dB até que o indivíduo não mais a repetisse corretamente, ou referisse não a estar ouvindo. Então, era aumentado 5 dB e apresentadas quatro palavras, diminuía-se 5 dB e apresentava-se mais quatro palavras até se encontrar um nível de intensidade no qual o indivíduo repetisse corretamente 50% dos estímulos dados, ou melhor, duas palavras (Katz, 1972).

Foi utilizado mascaramento na pesquisa dos testes audiométricos acima citados, sempre que necessário.

De maneira geral, delimitaram-se três grupos distintos de configurações audiométricas, a saber:

1. 100 casos de curvas audiometricas do tipo "Plana" - 56 homens de 4 a 46 anos, 44 mulheres de 4 a 44 anos - em que não havia diferença maior que 10 dB entre os limiares tonais das freqüências de 250 a 4000Hz (Tabela 1).

2. 100 casos de curvas audiométricas do tipo "Ascendente" - considerados 40 homens de 5 a 66 anos e 60 mulheres de 7 a 55 anos - em que havia um maior comprometimento das freqüências graves em relação às demais, ou seja, uma diferença maior ou igual a 20 dB, entre os limiares tonais das freqüências de 250 e 500 Hz em relação aos limiares tonais das freqüências de 2000 e 4000 Hz, incluindo alguns casos em que esta diferença era também observada em relação a 1000Hz (Tabela 2).








3. 29 casos de Curvas Audiométricas do Tipo "Descendente" - considerados 18 homens de 5 a 72 anos e 11 mulheres de 13 a 70 anos - em que havia um maior comprometimento das freqüências agudas, ou seja, uma diferença maior ou igual a 20 dB entre os limiares tonais das freqüências de 2000 e 4000Hz em relação aos limiares tonais das freqüências de 250 e 500Hz, diferença essa também observada, algumas vezes, em relação ao limiar tonal de 1000Hz.

Este número reduzido de casos se deve ao fato de se tratar de audiogramas de perdas condutivas, em que há uma maior ocorrência de rigidez, ou seja, comprometimento maior das freqüências graves. (Tabela 3).

A partir das três configurações audiométricas tomadas distintamente, pesquisou-se a relação do Limiar de Recepção da Fala com cada uma das Médias Tonais e com cada um dos limiares tonais das freqüências de 250 a 4000Hz.

Quanto à primeira relação, propõem-se três Médias Tonais diferentes, a fim de verificar o desempenho do Limiar de Recepção da Fala como segue:

1. A média aritmética dos limiares tonais das freqüências de 500, 1000 e 2000Hz, freqüentemente aceita na prática clínica, simbolizada nesse trabalho por "Mp", é enfocada com o fim de averiguar se a diferença de até 10dB, obtida entre o Limiar de Recepção da Fala e essa Média, apresenta-se nos três grupos de configurações audiométricas.

2. A média aritmética dos limiares tonais das freqüências de 250, 500, 1000 e 2000Hz, apresentada como proposta desse trabalho e simbolizada por "Mg", tem a finalidade de pesquisar a influência do acréscimo de uma freqüência mais grave, 250Hz, à Média Padronizada (500, 1000 e 2000Hz) e, em conseqüência, na predição do Limiar de Recepção da Fala.

3. A média aritmética dos limiares tonais das freqüências de 500, 1000, 2000 e 4000Hz, também apresentada como proposta desse trabalho e simbolizada por "Ma", tem como fim averiguar a importância do acréscimo de uma freqüência mais aguda, 4000Hz, à Média Padronizada (500, 1000 e 2000Hz) e, em conseqüência na predição do Limiar de Recepção da Fala (Tabelas 1, 2 e 3).

Quanto à segunda relação, pesquisou-se a maior ou menor proximidade do Limiar de Recepção da Fala com os limiares tonais de cada uma das freqüências de 250 a 4000Hz.








Os dados coletados nessas relações foram analisados, utilizando-se como critério a comparação entre as diferenças do Limiar de Recepção da Fala e as Médias Tonais propostas, e entre as diferenças do Limiar de Recepção da Fala e os limiares tonais das freqüências de 250 a 4000Hz, o que está demonstrado nas Tabelas 4, 5 e 6, e 7, 8 e 9 respectivamente. Para se verificar as significâncias possíveis entre essas comparações utilizou-se testes "t de Student" com significância a 5%.


Resultados

Os resultados das relações entre o Limiar de Recepção da Fala e as Médias Tonais Propostas (Mp-500, 1000 e 2000Hz; Mg-250, 500, 1000 e 2000Hz e Ma-500, 1000, 2000 e 4000Hz), objetivo 1 do trabalho, revela-se por meio das tabelas 4, 5 e 6 e dos gráficos 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

A Tabela 4 apresenta o resultado das diferenças entre o valor do Limiar de Recepção da Fala obtido e cada uma das respectivas Médias Tonais Propostas, em Curvas Audiométricas do Tipo Plana, bem como às médias e desvios-padrões dessas diferenças.

Como resultado, verifica-se que há uma maior concentração de indivíduos cujas diferenças com o Limiar de Recepção da Fala é de 5 a 10dB, independentemente da Média Tonal utilizada.

O Gráfico 1 demonstra as diferenças do Limiar de Recepção da Fala com cada uma das Médias Tonais Propostas. Observa-se que as três curvas são praticamente sobrepostas e atingem sua maior concentração entre 5 e 10dB.

O Gráfico 2 apresentando as diferenças médias e desvios-padrões da relação entre Limiar de Recepção da Fala e cada Média Tonal, mostra que houve uma pequena variação destas diferenças médias, sendo a menor aquela obtida utilizando-se a Média Tonal com fator grave (Mg).

A Tabela 5, como no grupo anterior, mostra as porcentagens das diferenças obtidas entre o Limiar de Recepção da Fala e cada uma das Médias Tonais Propostas para o grupo de Curvas Audiométricas do Tipo "Ascendente".

Neste grupo, observa-se que estas diferenças variam conforme o tipo de Média Tonal utilizada. Em outros termos, verifica-se que se utilizando a Mp (500, 1000 e 2000Hz), a maior concentração dos indivíduos encontra-se entre 5 a 15dB. Na utilização da Média Mg (250, 500, 1000 e 2000Hz) a maior concentração está entre 0 a 10dB e no uso da Média Ma (500, 1000, 2000 e 4000Hz) a maior concentração está entre 10 a 20 dB.


O Gráfico 3 demonstra, conforme a tabela 5, as variações das diferenças encontradas entre o Limiar de Recepção da Fala e cada uma das Médias Tonais.

O Gráfico 4 apresenta a diferença média e desvios-padrões obtidos na relação do Limiar de Recepção da Fala com cada Média Tonal. Observa-se que a menor diferença média e desvios-padrões obtidos foram quando utilizada a Média Tonal com fator grave (Mg).

A Tabela 6, por sua vez, apresenta as diferenças entre o Limiar Recepção da Fala e as Médias Tonais Propostas (Mp, Mg e Ma) obtidas para o Grupo de Curvas Audiumétricas do Tipo "Descendente Nesta tabela, verifica-se que houve uma maior concentração de individuos com diferença de 0 a 10dB entre o Limiar de Recepção da Fala e as Médias Tonais: padronizada (Mp) e com fator grave (Mg). No entanto, utilizando a Média Tonal com fator agudo (Ma), ocorreu uma maior porcentagem de indivíduos com diferenças negativas, ou seja, entre -10dB a 5dB.



Gráfico 1: Diferenças entre o L.R.F. e as Médias Tonais "Mp", "Mg" e "Ma" em Curvas Audiométricas da Tipo "Plana".



Gráfico 2: Médias aritméticas e desvios - padrões das diferenças entre o L.R.F. e as Médias Tonais "Mp", "Mg" e "Ma" em Curvas Audiométricas do Tipo "Plana".



Gráfico 3: Diferenças entre o L.R.F. e as Médias Tonais "Mp", "Mg" e "Ma" em Curvas Audiométricas do Tipo "Ascendente



Gráfico 4: Médias aritméticas e desvios-padrões das diferenças entre o L.R.F. e as Médias Tonais "Mp", "Mg" e "Ma" em Curvas Audiométricas do Tipo "Ascendente".



Gráfico 5: Diferenças entre o L.R.F. e as Médias Tonais "Mp", "Mg" e "Ma" em Curvas Audiométricas do Tipo "Descendente".



Gráfico 6: Médias aritméticas e desvios-padrões das diferenças entre o L.R.F. e as Médias Tonais "Mp", "Mg" e "Ma" em Curvas Audtómétricas qüências de 250 a 4000Hz, em Curvas Audiornétricas do Tipo `Ascendente". do Tipo "Descendente".



Gráfico 7: Diferenças médias entre o L.R.F. e os lfrntares tonais das freqüências de 250 a 4000Hz, em Curvas Audiométricas do Tipo "Plana.




Gráfico 8: Diferenças médias entre o L.R.F. e os limiares tonais das frequencia de 250 a 4000Hz, em curvas Audiometricas "Ascendente"



Com o Gráfico 5 pode-se observar a discrepância obtida nas diferenças entre o Limiar de Recepção da Fala e Mp, Mg e Ma.

O Gráfico 6 apresenta as diferenças médias e desvios-padrões nas relações do Limiar de Recepção da Fala com Mp, Mg e Ma. Assim, verifica-se que a menor diferença média positiva obtida foi na diferença do Limiar de Recepção da Fala com a Média Tonal padronizada (Mp).

O resultado da relação do L.R.F,. com o Limiar Tonal de cada uma das freqüências de 250 a 4000Hz, objetivo II desse trabalho, revela-se por meio das Tabelas 7, 8 e 9 e dos Gráficos 7, 8 e 9.

A Tabela 7, refere-se às diferenças obtidas entre o valor do Limiar de Recepção da Fala e o limiar tonal de cada uma das freqüências de 250 a 4000Hz, no Grupo de Curvas Audiométricas do Tipo Plana.

O Gráfico 7 demonstra a diferença média obtida entre o Limiar de Recepção da Fala e o limiar tonal de cada uma das freqüências de 250 a 4000 Hz. Verifica-se, observando a tabela 7 e o gráfico 7, que as menores diferenças foram obtidas com o limiar tonal da freqüência de 250 Hz.

Os resultados obtidos na Tabela 8 e Gráfico 8 mostram que a menor diferença positiva ocorre entre o Limiar de Recepção da Fala e a freqüência de 1000 Hz.

Através da Tabela 9 e Gráfico 9 pode-se verificar que a menor diferença média obtida ocorre na relação entre o Limiar de Recepção da Fala e o limiar tonal da freqüência de 1000 Hz. Observa-se, também, que s diferenças obtidas entre o Limiar e Recepção da Fala e as freqüênias mais graves (250, 500 e 1000Hz) são positivas e com as freqüênias mais agudas (2000 e 4000 Hz) são negativas.






Gráfico 9: Diferenças médias entre o L.R.F. e os limiares tonais das freqüências de 250 a 4000Hz, em Curvas Audiométricas do Tipo "Descendente".



Discussão

Em relação ao objetivo 1 desse trabalho, apresenta-se uma discussão dos resultados avaliados, relacionando-os aos estudos dos autores já enfocados, como segue.

Quanto aos resultados apresentados no Grupo de Curvas Audiométricas do tipo "Plana", observou-se que o Limiar de Recepção da Fala manteve uma diferença de até 10 dB com as três Médias Tonais enfocadas neste trabalho ("Mp", "Mg" e "Ma"). Por não haver uma diferença maior que 10 dB entre os limiares tonais de via aérea neste grupo, acredita-se ser este o motivo das pequenas variações encontradas entre o Limiar de Recepção da Fala e as Médias Tonais "Mp", "Mg" e "Ma", o que possibilita a utilização de qualquer uma destas Médias, indistintamente, para a predição do Limiar de Recepção da Fala.

No entanto, pode-se também verificar que a maior aproximação do Limiar de Recepção da Fala ocorreu quando utilizada a Média Tonal com fator grave ("Mg" - 250, 500, 1000 e 2000 Hz).

Estes resultados estão de acordo com os estudos sobre métodos de predição do Limiar de Recepção da Fala, que preconizam uma diferença de até 10 dB entre o Limiar de Recepção da Fala e a média tonal, como demonstraram Graham (1960); Harris (1965); Engelberg (1965); Satalloff (1966); Katz (1972) e Jerger (1973).

Os testes de significância ("t de Student") foram aplicados comparando-se os resultados quando utilizada a Média Tonal Padronizada ("Mp") em relação aos resultados obtidos no uso das Médias: com fator grave ("Mg") e com fator agudo ("Ma"). As variações observadas, embora pequenas, foram significativas, o que demonstra que a Média com fator grave ("Mg") é a mais próxima do Limiar de Recepção da Fala, neste grupo.

Quanto ao Grupo de Curvas Audiométricas do Tipo "Ascendente", verificou-se que a menor diferença entre o Limiar de Recepção da Fala e as três Médias Tonais foi obtida quando se utilizou a Média com fator grave ("Mg"). Além dessa verificação, notou-se que apenas no uso dessa Média chegou-se a uma diferença de até 10 dB com o Limiar de Recepção da Fala, o que é defendido pela maioria dos autores.

A utilização dessa Média Tonal ("Mg"), que verifica a influência das freqüências graves, apresentou resultados que se identificam com os estudos realizados por Carhart (1971), que estabeleceu o uso de freqüências mais graves para a predição do Limiar de Recepção da Fala. Os estudos de Berger (1973), que observou uma diferença maior que 10 dB entre o Limiar de Recepção da Fala e a Média Tonal de 500, 1000 e 2000 Hz em curvas audiométricas com queda nas freqüências graves ou com queda nas freqüências agudas, também concordam com os resultados aqui apresentados.

Os testes de significância ("t de Student") demonstram diferenças discrepantes e significativas na comparação dos resultados obtidos quando utilizada a Média Tonal Padronizada ("Mp") em relação ao uso das Médias com fator grave ("Mg") e com fator agudo ("Ma").

Neste grupo, a Média Tonal com fator grave ("Mg") mostra-se a mais adequada como método de predição do Limiar de Recepção da Fala.

Quanto ao Grupo de Curvas Audiométricas do Tipo "Descendentes", verificou-se uma diferença com o Limiar de Recepção da Fala de até 10 dB tanto no uso da Média Tonal "Mp" (500, 1000 e 2000 Hz) como no uso da Média Tonal com fator grave "Mg" (250, 500, 1000 e 2000 Hz), como defende a maioria dos autores.

No entanto, nesse grupo, de maneira geral, observou-se maior ocorrência de valores negativos referentes à relação Limiar de Recepção da Fala e Médias Tonais. Isto significa uma menor intensidade do Limiar de Recepção da Fala em comparação com a Média Tonal utilizada. O mesmo foi observado por Carhart (1946) em seu estudo sobre Limiar de Recepção da Fala e Média Tonal de 500, 1000 e 2000 Hz, onde verificou que o Limiar de Recepção da Fala era sempre melhor que esta Média Tonal em perdas auditivas nas freqüências agudas.

Os estudos de Kryter (1962) e Gjalvenes (1969) ressaltam a importância das freqüências agudas na predição do L.R.F. No entanto, esta relação não foi observada nos dados obtidos nesse trabalho nos Grupos de Curvas Audiométricas dos Tipos "Ascendentes" e "Descendentes", acima discutidos.

A aplicação dos testes de significância ("t de Student") observou-se que não houve diferença significativa entre os valores encontrados com a Média Tonal "Mp" e a Média Tonal "Mg", mas somente entre "Mp" e "Ma".

Estes resultados demonstram que para este tipo de curvas audiométricas, as Médias Tonais "Mp" e "Mg" foram as mais adequadas como métodos de Predição do Limiar de Recepção da Fala.

Em relação ao objetivo II, desse trabalho, que procura verificar o comportamento das freqüências tonais frente ao L.R.F., apresentam-se os resultados analisados, como segue.

De maneira geral, no Grupo de Curvas Audiométricas do Tipo Plana, o Limiar de Recepção da Fala obteve uma menor diferença média em relação à freqüência de 250 Hz, seguida pela freqüência de 500 Hz e de 1000 Hz, o que demonstra uma maior aproximação do Limiar de Recepção da Fala com as freqüências mais graves.

A comparação dos resultados obtidos na relação entre o Limiar de Recepção da Fala com as freqüências graves (250, 500 e 1000 Hz) e freqüências agudas (2000 e 4000 Hz) não se mostrou significativa à aplicação de testes estatísticos de significância ("t de Student"). Isto é devido às pequenas variações dos limiares tonais de via aérea das freqüências de 250 a 4000 Hz, observadas neste tipo de configuração audiométrica.

Assim, no Grupo de Curvas Audiométricas do Tipo "Plana" o Limiar de Recepção da Fala manteve, estatisticamente, uma diferença não significativa, ou seja, equitativa em relação a todas as freqüências pesquisadas neste trabalho, 250 a 4000 Hz.

Quanto ao Grupo de Curvas Audiométricas do Tipo "Ascendente", observou-se que as freqüências mais graves (250, 500 e 1000 Hz) foram aquelas que apresentaram maior proximidade com o Limiar de Recepção da Fala.

No entanto, em relação às frequencias de 250 e 500 Hz, constatase uma pequena diferença negativa com o Limiar de Recepção da Fala, o que significa uma menor intensidade do Limiar de Recepção da Fala em relação aos limiares destas freqüências. Ainda assim a menor diferença positiva foi obtida com a freqüência de 1000 Hz.

Os resultados dos testes estatísticos de significância ("t de Student") mostraram-se significativos na comparação dos resultados obtidos na relação do Limiar de Recepção da Fala com freqüências graves e freqüências agudas.
Demonstrando assim a maior proximidade das freqüências graves com o Limiar de Recepção da Fala, neste grupo.

No Grupo de Curvas Audiométricas do Tipo "Descendente", verifica-se que a menor diferença com o Limiar de Recepção da Fala é obtida com a freqüência de 1000 Hz.

Observa-se também neste grupo diferenças negativas relevantes entre o Limiar de Recepção da Fala e as freqüências agudas, que representam uma menor intensidade do Limiar de Recepção da Fala em relação aos limiares tonais destas freqüências. O que significa pouca interferência destas freqüências na predição do Limiar de Recepção da Fala, neste tipo de configuração audiométrica.

Os resultados dos testes estatísticos de significância ("t de Student") mostraram-se significativos na comparação dos resultados obtidos na relação do Limiar de Recepção da Fala com as freqüências graves e freqüências agudas.

Assim, neste grupo a freqüência de 1000 Hz foi aquela que apresentou uma menor diferença com o Limiar de Recepção da Fala.

Conclusão

A partir da proposta desse trabalho de fazer um estudo sobre o Limiar de Recepção da Fala em relação à Audiometria Tonal, em três tipos de configurações audiométricas distintas (Tipo Plana, Tipo "Ascendente" e tipo "Descendente") em dois aspectos, concluiu-se que:

1 - A Média com fator grave "Mg" (250, 500, 1000 e 2000 Hz) foi o método de predição do Limiar de Recepção da Fala mais eficiente neste estudo, pois manteve uma diferença de até 10 dB com este, nos três grupos de configurações audiométricas aqui pesquisados.

A Média "Mp" (500, 1000 e 2000 Hz) mostrou resultados adequados na predição do Limiar de Recepção da Fala nos grupos de Curvas Audiométricas do Tipo Plana e "Descendente", onde apresentou diferenças de até 10 dB. No entanto, estas diferenças foram significativamente maiores que as apresentadas com a Mg".

O uso da Média "Ma" (500, 1000, 2000 e 4000 Hz) não se mostrou um bom método de predição do Limiar de Recepção da Fala, neste estudo, em nenhum dos três grupos de configurações audiométricas. Esta Média "Ma" somente apresentou uma diferença de até 10 dB com o grupo de Curva Audiométrica do Tipo Plana, sendo os seus resultados significativamente maiores que os apresentados com "Mp" e "Mg".

II - Na comparação do L.R.F. com os limiares tonais de cada frequência de 250 a 4000 Hz, isoladamente, objetivo II desse trabalho, constatou-se que nos Grupos de Curvas Audiométricas do Tipo "Descendente" e "Ascendente" as freqüências graves (250, 500 e 1000 Hz) apresentaram maior proximidade com o Limiar de Recepção da Fala.

Quanto ao Grupo de Curvas Audiométricas do Tipo Plana, estatisticamente, não houve diferenças na relação do Limiar de Recepção da Fala com as freqüências graves e com as freqüências agudas.

Os resultados deste estudo demonstraram uma importância relevante das freqüências graves na determinação do Limiar de Recepção da Fala. A determinação da Média Tonal das freqüências de 500, 1000 e 2000 Hz como método de predição do Limiar de Recepção da Fala foi feita através de inúmeros e importantes estudos de autores da Audiologica Clínica, mas que apresentavam como principal objeto de estudo a língua inglesa. Portanto, a partir dos achados deste trabalho, sugere-se estudos sobre as frequências fundamentais dos fonemas da língua portuguesa para uma melhor determinação do Limiar de Recepção da Fala.

Summary

The present study was developed at the Audiologic Clinic of the Otolaryngology Department of the Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de S.Paulo. Two hundred and twenty nine subjects with conductive pathologies and mixed pathologies predominantly conductive were tested in order to study the speech reception threshold (SRT) in diferent audiometric configurations (flat, ascending and descending).

This study was done through the comparison of SRT with three different tonal medians: 500, 1000 and 2000Hz - the common medians used in clinical practice: 250, 500, 1000 and 2000OHz - median with a cower tone factor - 500, 1000, 2000 and 4000Hz - median with a higher tone factor. In adddion, it was studíed the relationship of the SRT and the tonal threshold of each frequency individually, from 250 to 4000Hz.

The results demonstrated that in the three types of audiometric curves analyzed, the SRT was closer to the tonal median including the cower tone factor. When comparing the SRT to the tonal threshold of each frequency, it was observed that occuried a greater approximation of the cower frequencies (250, 5OO and 1000Hz).

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Endereço dos Autores:
Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paula - Departamento de Otorrinolaringologia - Rua Dr. Cesário Motta Jr. 112 - 01221 - São Paulo - SP

* - Monografia apresentada no Curso de Aperfeiçoamento em Audiologia Clínica da Cltítica de Otorrinolaringologia da Irmandade da Santa Casa de São Paulo.
** - Alunas do Curso de Aperfeiçoamento em Audiologia Clínica. Bolsistas do CNPq.
*** - Coordenador dos Cursos de Aperfeiçoamento em Audiologia Cbíxica.
**** - Responsável pelo Setor de Audiologia Clínica da Clínica de Otorrinolaringologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de S.Paulo.

Pesquisada a relação do L.R.F. e o limiar tonal de cada freqüência isoladamente, de 250 a 4000Hz.

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