Versão Inglês

Ano:  1982  Vol. 48   Ed. 2  - Abril - Junho - ()

Seção: Síntese

Páginas: 41 a 42

 

Recent developments in pediatric otolaryngology (The Semon Lecture) Pracy, R.; Journ. Laryng. & Otolog. 95: 1097-1108,1981.

Autor(es): Roberto Martinho da Rocha

Recent developments in pediatric otolaryngology (The Semon Lecture) Pracy, R.; Journ. Laryng. & Otolog. 95: 1097-1108,1981.

O trabalho representa conferência proferida pelo autor inglês em homenagem à memória do conhecido especialista do passado, Sir Felix Semon.

Os jovens otorrinolaringologistas de hoje não têm muito tempo para estudar a história de sua profissão.
Semon nasceu na Alemanha em 1849, filho de judeu. Estudou Medicina em Heidelberg, onde bateu-se em duelo três vezes. Teve aulas com Virchow. Serviu ao exército na guerra franco-prussiana.

Diplomado em Medicina, estudou otorrino com Morrell Mackenzie, em Londres, e com Politzer, em Viena. Tornou-se destacado especialista, lotado no St. Thomas Hospital, tendo na sua clientela a família real e figuras proeminentes do país e do exterior.

Foi feito cavaleiro, Sir Felix Semon, por Eduardo VII, com quem caçava e jogava bridge como seu amigo pessoal.

Desenvolveu pesquisas com Victor Horsley, o que o levou a elaborar a lei de Semon. Lia com voracidade e escreveu amplamente tanto em inglês como em alemão. Era autoridade em patologia da laringe.

Casou-se com cantora talentosa, que acompanhava ao piano. Foi amigo de Brahms e de Liszt. Semon faleceu em 1921. Pessoas como ele são excepcionais em qualquer época e poucos podem almejar ombrear com sua trajetória.

No passado o otorrinolaringologista considerava a criança apenas como um pequeno ser humano, frágil, amedrontado, requerendo atendimento delicado. Os conceitos de então ignoravam as diferenças entre maduro e imaturo; entre crescido e em crescimento. Do crescimento à decadência há um processo dinâmico integrado. Quando o indivíduo se torna adulto a degeneração já está adiantada em alguns aspectos.

Há um calendário de eventos na Otorrinolaringologia Pediátrica, tanto para o diagnóstico como para o tratamento. Assim é que a remoção das amígdalas e adenóides previne contra ataques de amigdalite, mas a remoção precoce tem efeitos adversos quanto às funções das amígdalas. No campo da amigdalectomia destaca-se a hipertrofia exagerada, produzindo obstrução respiratória, dilatação cardíaca e cor pulmonale, com indicação cirúrgica que supera possíveis reflexos negativos da cirurgia precoce.

Na infância a relação médico-doente tem características próprias, começando pelo fato de o paciente ser levado ao médico pelos pais e não por vontade própria.

Nos defeitos congênitos os pais são atormentados por complexo de culpa, que afeta a criança. Se há necessidade de internação, o afastamento da mãe abala o vínculo mãe/filho.

Nos últimos anos traqueotomias são praticadas por obstrução respiratória causada por
anomalias congênitas, tanto na laringe como no sistema nervoso. A participação da mãe nos cuidados do traqueotomizado, no hospital e em casa, sela elo importante para a criança defeituosa.

A Otorrinolaringologia já se constitui em prática exclusiva de alguns médicos. Uma especialidade prospera com base na necessidade, possibilidade de sucesso profissional e entusiasmo. Necessidade de sucesso amplia-se em razão de tecnologia aperfeiçoada desde a segunda guerra mundial. Assistimos ao desenvolvimento dos antibióticos, anti-bistamínicos e corticosteróides, com papel relevante nos processos inflamatórios. Evoluiu a anestesiologia para os pequenos pacientes. Com a guerra vimos o progresso da indústria eletrônica.

Aparelhos para surdez eram pesados e exigiam grandes baterias, por isso eram incômodos e inconvenientes.

Surgiu o transistor, capaz de amplificar som sem distorção, em aparelhos pequenos, ocasionalmente usados em ambos ouvidos. Agora temos computadores acoplados a audiômetros, proporcionando audiometria objetiva.
Apareceu a eletrococleograffa, importante avanço para a criança surda. Hoje o audiologista é capaz de seguir um sinal da cóclea, através do tronco cerebral, até a córtex cerebral. Estamos na era da investigação e tratamento audiológicos e talvez, em futuro breve, se torne viável o uso proveitoso de implantes cocleares rotineiramente em casos selecionados.

Registros acurados de nossas fichas médicas proporcionam comparação de resultados nossos com a experiência do que se passa em outros países.

A fotografia e á cinematografia nos permitem fixar o que observamos. Podemos converter nossa visão para o video-tape e transportar imagens para outras partes do mundo. Os instrumentos com que tais recursos evoluem são produto da revolução tecnológica do após-guerra.

A chegada de novas drogas e de novos materiais é abençoada. Cada inovação deve, porém, ser recebida com entusiasmo reservado.

Nos últimos 10 anos temos os raios laser, com diversas aplicações, especialmente na papilomatose juvenil e outras lesões laríngeas.

Avanço numa área tem conseqüências em outras. A operação de amígdalas e adenóides era a resposta a quase todos os problemas da infância: inapetência, otite média, cáries dentárias e também amigdalites.

Não se duvida do valor da cirurgia, mas é preciso evitá-la por motivos levianos. Operação em crianças com deficiências imunológicas pode produzir resultados desastrosos.

Antibióticos têm modificado o curso das inflamações. Nos últimos anos assistimos à preocupação dos pais com a enorme quantidade de drogas prescritas para seus filhos, nem sempre com critério adequado.

Hoje um dos problemas freqüentes na infância é a presença de secreções no ouvido médio. Exsudatos e transudatos retidos na caixa do tímpano já eram descritos nos livros do passado. O problema não é novo mas há aumento da incidência de 'otite média sero-mucosa. A atenção concentrada para o tratamento da otite, sem cuidar das infecções de vizinhança, facilita a evolução de inflamações subagudas e da otite denominada glue ear. As opiniões se dividem quanto à causa e melhor tratamento do glue ear.

Neste fim de século XX estamos deixando de lado o empirismo e tentando tratar os clientes de forma mais racional. Tecnologia nos leva a corrigir atresia do meato acústico externo e microtia para dar à criança ouvido funcionaste e de boa aparência. Sabemos da limitação do ganho auditivo possível e por isso a cirurgia funcional deve ser reservada de início a um só lado, eventualmente complementada com prótese.

O futuro da Medicina depende da genialidade criativa. A mente humana tem potencial imenso e a Otorrinolaringologia Pediátrica acompanha o trabalho de pesquisadores entusiastas, de bom senso e de ampla experiência dos especialistas. Precisamos conhecer mais o que se passa no nosso campo e buscar soluções melhores para seus problemas.

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