Versão Inglês

Ano:  1982  Vol. 48   Ed. 2  - Abril - Junho - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 19 a 26

 

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA FOSSA PTERIGOPALATINA

Autor(es): JOÃO ADOLFO CALDAS NAVARRO 1
NEIVO LUIZ ZORZETTO 2
JOÃO LOPES TOLEDO-FILHO 3

Resumo:
Face às divergências observadas na literatura, relacionadas a diferentes técnicas de acesso nas cirurgias da fossa pterigopalatina, particularmente do nervo pterigoideu (vidiano), os autores consideram oportuna a revisão dos dados anatômicos sobre a forma e relações da fossa, realizando, para isso, moldagens da mesma, com material à base de silicona, reconstruindo assim toda a sua conformação e comunicações, com o forame esfenopalatino, os canais redondo, pterigoideu, palatinos, além de parte das fissuras orbitárias superior e inferior. Nos moldes foram efetuadas medidas das distâncias entre os forames redondo e pterigoideu, relacionando-as com os tipos crãnicos e sexo.

INTRODUÇÃO



Fig. 1 - Vista anterior do crânio, com a fissura orbital inferior vedada com cera.



A descrição da fossa pterigopalatina, com sua forma piramidal e seu complexo conteúdo, é encontrada na maior parte dos tratados anatômicos (Aprile et al (1), Chiarugi (4), Cunningham (5), Gardiner et al (6), Gardner & Osburn (7), Hollinshead (11), Lockhart (13), OrtsIlorca (14) Scott & Dixon (18), Sicher & Tandler (20), Testut & Latarjet (21).

As variações dos locais de abertura dos diferentes canais ósseos na fossa pterigopalatina e a disposição complicada de seu conteúdo são responsáveis pelas eventuais dificuldades encontradas nos acessos cirúrgicos, principalmente aos nervos pterigoideu e pterigopalatino e também à artéria maxilar. Isto levou os autores a preconizarem as diferentes vias de acesso, como a transpalatina (Chandra3), a transmaxilar (Golding-Woodg), e a nasal (Guillen & Chabro19).

Através do estudo em moldagens da fossa pterigopalatina, propomo-nos a estudar a localização dos forames esfenopalatíno, redondo e pterigoideu, relacionando-os aos tipos crânicos e ao sexo, observando, também, a conformação e disposição da fossa pterigopalatina, com o objetivo de melhor situar os referidos acidentes anatômicos e, conseqüentemente, as estruturas que por eles transitam em direção à fossa.


TABELA I - Médias das distâncias, em milímetros, entre as aberturas dos canais redondo e pterigoideu, na fossa pterigopalatina.



MATERIAL E MÉTODO

Foram utilizados 13 crânios do museu osteológico da Escola Paulista de Medicina, já classificados segundo os tipos crânicos e sexo, por Lima (12).

Para as moldagens, as comunicações maiores da fossa pterigopalatina, como a fissura orbital inferior (Fig. 1), forames esfenopalatino e redondo, foram selados pelos lados orbital, nasal e endocraniano, respectivamente, com cera utilidade.

O material de moldagem utilizado foi o Flexil, à base de silicona, preparado conforme as indicações do fabricante, e introduzido nas fossas direita e esquerda, pelas aberturas laterais (fissura esfenomaxilar), conforme a fig. 2.

Obtidas as moldagens, com um paquímetro, nelas realizamos as medidas das distâncias entre os forames redondo e pterigoideu, segundo o esquema da fig. 5.



Fig. 2 - Vista lateral do crânio, com o material de moldagem introduzido na fossa pterigopalatina.



Numa hemicabeça fixada e desmineralizada, foi efetuada a remoção das paredes ósseas da fossa, para evidenciar sua conformação e comunicações.

RESULTADOS

A descrição da fossa pterigopalatina, por analogia à pirâmide de base quadrangular (Fig. 6), pode ser feita com relativa facilidade através dos modelos obtidos, inserindo-os nas respectivas formas geométricas (Figs. 3 e 4).

As localizações das aberturas dos canais redondo e pterigoideu na fossa apresentaram-se conforme os modelos da literatura clássica, isto é, o primeiro sempre acima e lateralmente ao segundo. No esquema da fig. 5 estão representadas as localizações dessas aberturas em relação aos planos horizontal e vertical. As medidas obtidas das distâncias entre os forames, em suas médias, encontram-se na tabela 1.

Num caso, observamos as duas aberturas num mesmo plano horizontal, distanciadas a pouco mais de 1 mm. Em dois casos encontramos uma lâmina óssea saliente entre as duas aberturas, disposta verticalmente.

À mesma altura, mas medialmente ao forame pterigoideu, encontra-se o forame pterigopalatino, que se prolonga em canal na direção póstero-medial.

Os calibres dos forames e respectivos canais apresentaram-se sempre na seguinte ordem decrescente: redondo, pterigoideu e pterigopalatino.

Devido à dificuldade para se delimitarem as faces ou paredes da fossa e o espaço ocupado pela mesma, realizamos o preparo da fig. 7, que pode ser comparado ao molde da fossa (Figs.3 e 4).


 
Fig 3 - Vista póstero-lateral do molde (A) da fossa pterigopalatina e sua representação sob a forma geométrica piramidal (B): fissura orbital superior (S), canal redondo (R), canal pterigoideu (PT), canal pterigopalatino (PP), canal palatino menor (PE), canal palatino maior (PV).


 
Fig. 4 - Vista ántero-medial do molde (A) da jóssa pterigopalatina e sua representação sob a forma geométrica piramidal (B): fissura orbital superior (S), canal redondo (R), canal pterigoideu (PT), canal pterigopalatino (PP), canal palatino menor (PE), canal palatino maior (PM), forame esfenoplatino (E).



Fig. 5 - Representação esquemática das distâncias horizontal (H), vertical (V) e direta (D), entre as aberturas dos canais redondo (R) e pterigoideu (PT), na fossa pterigopalatina.


DISCUSSÃO

Considerando-se os limites da fossa pterigopalatina como a tuberosidade da maxila, lâmina vertical do palatino e processo pterigoideu do esfenóide, sua denominação de fossa pterigo-palato-maxilar (Radoievitch 16, Augier2) é mais conveniente que pterigo maxilar (Aprile et al. 1, Testut & Latarjet 21, Lockhart 13, Orts-Llorcal4, Hollinsheadl 1, Scott & Dixon18); ou pterigo-palatina (Cunningham5, Gardner et a16, Gardner & Osburn7 Gray101 Sicher & Tandler20, Sicher & Dubrull9). Nós somos pela denominação de fossa pterigo-maxilo-palatina, por expressar os elementos ósseos que a delimitam. Porém, a Nomina Anatômica determina o uso de fossa pterigopalatina.

A denominação de canal redondo (Radoievitch & Joyanovith15), com suas aberturas exo e endocranianas, é a mais correta.

Quanto ao canal palatino maior ou posterior, principal ou pterigopalatino (Aprile et al.1, Gardner et a16, Rouviérel7, Sicher & Dubrull9, pelas mesmas razões apresentadas para a fossa, poderia ser chamado de pterigo-maxilo-palatino, deixando a úenominação de pterigo palatino para o canal faringeu (de Bock).

Verificamos que o local de abertura do canal pterigoideu na fossa coincide com aquele descrito por Lockhart et al. (13) e Sicher & Tandler (20), ou seja, à medial e abaixo do forame redondo.



Fig. 6 - Vista ântero-medial dos limites ósseos da fossa pterigopalatina; seio maxilar (SM), processo pterigoideu (P), forame esfenopalatino (E), lâmina vertical do palatino (L V).



Radoievitch & Joyanovitch (15) observaram que "a abertura do canal pterigoideu ocorre na parte superior e interna do fundo da fossa pterigomaxilar". Estes autores consideram ainda que a forma de funil da aberura desse canal serviria para alojar a porção posterior do gânglio esfenopalatino (fosseta do gânglio), limitada lateralmente pelas raízes dos processos pterigoideus e, superiormente, pela parte inferior do corpo do esfenóide ou pela célula etmoidal posterior. Quanto à abertura do canal redondo, estaria situada sobre a face esfenomaxilar da grande asa do esfenóide. Todas essas afirmativas foram confirmadas em nossas observações. Ainda, segundo os mesmos autores, aquelas aberturas estariam separadas por um espaço de 5 e 7 mm, em média, podendo variar de 3 a 12mm, no máximo. Essas variações seriam maiores nos casos em que ocorre a pneumatização da raiz externa do processo pterigoideu (recesso pterigoideu lateral do seio esfenoidal). Os valores citados por esses autores referem-se certamente a medidas diretas entre as aberturas, que corresponderiam à nossa distância direta (Fig. 5 e tabela 1). Não observamos diferenças consideráveis segundo os tipos crãnicos e sexos. Nossos resultados situaram-se entre os de Radoievitch & Joyanovitch (15), porém, bastante próximos aos valores mínimos citados pelos mesmos.



Fig. 7 - Fossa pterigopalatina e comunicações com o respectivo evonvoltório perióstico: canal redondo (R), canal pterigoideu (PT), canal pterigopalatina (PP) e forame esfenopalatino (E) com mucosa nasofaríngea, limite posterior da fossa (LP), limite medial da fossa (M), limite anterior da fossa (A), seio maxilar (SM), fissura orbital superior (S), seio esfenoidal (SE).



No caso em que observamos as aberturas dos canais redondo e pterigoideu no mesmo plano horizontal, eles guardaram entre si a relação clássca de lateralidade.

O forame esfenopalatino apresentou-se sempre na junção da parede posterior da fossa com
seu teto (Fig. 6).


SUMMARY

In view of the divergêncas found in the literature to the different technics of approach to surgeries of pterygomaxillopalatine fosse, specifically of the pterygoid nerve, the autores decided to review the anatomic data as to the content of this fossa, aiming through impression and dirett observations to study the positions of the oppennings of the canais in it, and of their communications through forames and foramina. It were used 13 skulls catalogued and classified as to the cranium types and sexes. The distânces between the oppenings of the round and pterygoid canais were measured on the mouldings obtained from right and left fossae, and it was tried to determine precisely the oppenning of the pterygopalatine canal in the fosse and sphenopalatine foramen.

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1 - Professor Livre-Docente, Departamento de Morfologia, Disciplina de Anatomia, Faculdade de Odontologia de Bauru-USP.
2 - Professor Titular, Departamento de Morfologia, Disciplina de Anatomia Humana, Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu-UNESP.
3 - Professor Assistente Doutor, Departamento de Morfologia, Disciplina de Anatomia, Faculdade de Odontologiade Bauru-USP.

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