Versão Inglês

Ano:  1982  Vol. 48   Ed. 1  - Janeiro - Março - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 29 a 32

 

PATOLOGIA DO "HYDROPS" ENDOLINFATICO

Autor(es): JUAN CARLOS M. ANTÚNEZ 1
AZIZ BELAL 2

Resumo:
O estudo histopatológico de 703 ossos temporais da coleção de ossos temporais do Ear Research Institute de Los Angeles mostrou a presença de hydrops endolinfático em 57 dos mesmos. Várias etiologias foram constatadas. Alguns casos, porém, não apresentaram nenhuma doença otológica. Trinta e nove (39) ossos temporais tinham história clínica completa. O grau ou severidade da hipertensão endolinfática, o lado ou lados afetados e a localização do hydrops dentro do sistema endolinfático foram correlacionados com os sintomas clínicos apresentados pelos pacientes. Conclui-se que somente1/3 dos casos com sintomatologia clinica sugestiva de hydrops endolinfático apresentou hipertensão endolinfática histológica.

PATOLOGIA DO "HYDROPS" ENDOLINFATICO

O termo "Hydrops Endolinfático" significa aumento do volume da endolinfa. Histologicamente ele se apresenta como uma distensão do sistema endolinfático: a membrana de Reissner aparece abaulada podendo chegar a contatar com a parede óssea da rampa vestibular.

O sáculo, também distendido, pode chegar até a entrar em contato com a superfície interna do estribo.
As paredes do utrículo e canais semicirculares, porém, são menos propensas a distensão devido estarem firmemente presas ao endósteo.

O diagnóstico histológico do hydrops endolinfático é específico. Portanto, o termo não deve ser usado como sinônimo de doença de Ménière; Schuknecht (3) descreveu dois tipos de hydrops endolinfáticos: o "progressivo", devido a um desequilíbrio permanente entre secreção e reabsorção da endolinfa; e o "não progressivo", que ocorre em resposta a um agente tóxico ou traumático que atuaria sobre o labirinto, por períodos de curta duração.

A tabela I mostra as diferentes etiologias do hydrops endolinfático.

Este trabalho mostra a incidência do hydrops endolinfático em diferentes casos otológicos e correlaciona a
severidade ou grau do hydrops com os sintomas clínicos.


TABELA I - ETIOLOGIAS DO "HYDROPS ENDOLINFATIGO" (SCHUKNECHT)

1 - Não-Progressivo
- Otite média aguda
- Otite média crõnica
- Trauma acústico
- Fenestração canal lateral
- Estapedectomia
- Otoscterose
- Doença de Paget
- Labirintite por vírus

II - Progressivo
- Sífilis congénita
- Doença deMénière
- Fratura ossotemporal
- Estapedectomia
- Surdez súbita
- Surdez congénita
- Labirintite bacteriana
- Caxumba


Material e Método

Foram examinados 703 ossos temporais correspondentes a 357 pacientes, conjunto que compõe a coleção de ossos temporais do Ear Research Institute, de Los Angeles.

As idades dos pacientes variaram desde um feto de nove semanas até os 98 anos.

A coleção foi examinada para determinar a incidência do hydrops endolinfático.

Este estudo define o hydrops endolinfático como a distensão difusa do dueto coclear, mostrado o deslocamento da membrana de Reissner em direção à rampa vestibular, e o abaulamento das membranas do sáculo em direção à platina do estribo.

O grau do hydrops foi arbitarriamente dividido em minimo, moderado e severo, segundo o grau de distenção da membrana de Reissner e do sáculo (fig I)



Figura 1



A relação entre os achados histopatológicos e a severidade dos sintomas foi estudada.

Nos casos em que mais de uma patologia estava presente, foi feito um diagnóstico principal na base da história clinica e do quadro histopatológico.

ACHADOS HISTOPATOLOGICOS

O hydrops endolinfático estava presente em 57 ouvidos (ou 9°ó), incluindo: ouvidos normais, pós-estapedectomia, pós-cirurgia de neuroma e em ouvidos com diagnóstico primário de: doença de Ménière, sífilis congênita, otite média crônica e outras doenças (Tabela II). Dois ossos temporais de duas pacientes que faleceram pouco tempo após o parto mostraram um hydrops endolinfático classificado como mínimo.

Dez ossos temporais mostraram o hydrops localizado só no dueto coclear, ou seja, "hydrops coclear", associado com Sáculo normal.

Os casos de hydrops coclear incluíram: ouvidos normais, pós-estapedectomia, otite crônica e presbiacusia.

Trinta e nove casos de hydrops endolinfático possuíam história clínica e avaliação otoneurológica completa. O grau de severidade, a localização, o lado e a causa do hydrops destes 39 casos foram correlacionados com a severidade dos sintomas clínicos (Tabelas III - IV - V - VI).


TABELA II - Grau e distribuição do hydrops em diferentes doenças etiológicas.



TABELA III - Correlação entre etiologia do hydrops e sintomas clinicos. (N-39)



TABELA IV - Correlação entre o lado do hydrops e sintomas clinicos. (N-39)



TABELA V - Correlação entre grau do hydrops e sintomas clinicos. (N-39)



TABELA VI - Correlação entre localização do hydrops e sintomas clinicos. (N-39)



COMENTARIOS

E muito fácil obter sinais clínicos objetivos e evidentes para o diagnóstico do hydrops endolinfático (1).
Os fatores clínicos que normalmente sugerem o diagnóstico são: audição flutuante, zumbidos auriculares, sensação de pressão intra-auricular e vertigem.

Os resultados dos testes audiométricos e vestibulares podem ajudar na suspeita do diagnóstico.

Porém, este quadro clínico característico nem sempre está presente.

O "hydrops coclear" está caracterizado pela presença de diminuição da audição com audição flutuante, tinnitus e sensação de pressão intra-auricular ou de "ouvido cheio". Falta a vertigem.

O "hydrops vestibular" produz vertigem, tinnitus e sensação de pressão intra-auricular, mas não dá disacusia.

A associação de duas ou mais patologias complicam ainda mais o quadro clínico. Por exemplo: a presbiacusia ou o trauma acústico freqüentemente se associam com o hydrops endolinfático ou com outras causas de vertigem.

Neste trabalho, a vertigem apareceu em 65% dos casos que apresentavam hydrops endolinfático na sua histologia.

A vertigem episódica ou em surtos esteve presente só em 25% deste total.

A incidência de pressão intra-auricular e tinnitus foi de 35 e,65% respectivamente, Todos os casos (menos um) com hydrops coclear tinham disacusia sensório-neural. A audição flutuante só foi vista em 25% dos casos.

A figura 2 mostra estes sintomas clínicos.



Figura 2



De todo o exposto se conclui que: o quadro clínico característico e completo do hydrops endolinfático só esteve presente em 1/3 dos casos com hydrops histopatologicamente provados.

Este complexo sindromático ocorreu em casos que apresentavam hydrops endolinfático Cócleo-sacular severo e bilateral.

O hydrops endolinfático progressivo, nos casos de doença de Ménière e sífilis congênita, foi visto associado com o complexo síntomatológico em aproximadamente 75% dos casos.

A diferenciação clínica entre hydrops ,progressivo e não-progressivo é muito importante desde que a sintomatologia clínica parece depender mais da doença causando a progressão, do que da simples presença do hydrops.
Se faz necessário, portanto, achar um teste clínico seguro para determinar a presença do hydrops.

Klocknoff e Londblom (2) em 1966 propuseram o teste do glicerol para diagnosticar o hydrops. Um resultado positivo indicaria a sua presença mas o resultado negativo não excluiria o mesmo.
Porém, fatores psicológicos foram recentemente demonstrados como causas de erros (4).

Desde que o hydrops endolinfático é um diagnóstico inespecífico que aparece em grande variedade de distúrbios otológicos, consideramos que uma completa avaliação otoneurológica é absolutamente necessária e está indicada em todos os casos clínicos em que se suspeite o hydrops endolinfático, para determinar as causas especificas.


SUMMARY

The histopathological study of 703 temporal bones at the Ear Research Institute, in Los Angeles, showed the presence of endolymphatic hydrops in 57 (or 9%).

Diferent etiologias were found responsable for it. Thirty nine (39) of these 57 temporal bones had a complete clinical history.

The relationship of histological findings to the severity of the clinical symptoms was also studied. We concluded that only 1/3 of all the cases with clinical syntomatology of endolymphatic hydrops had histopathological correlation.

REFERENCIAS

1 . BERKOWITZ, W.P.; SESSIONS, D.C., STROUD, M.H., 1974-Annals of Otology. Rhinology and Laryngology 83, 555.
2. KLOCKHOFF, L, LINDBLOM, U., 1966 -Acta Otorrinolaringologica 61, 459.
3 . SCHUCKNECHT, H., 1977 - Endolymphatic HydropsAn Proceedings of the Shambaugh fifth International Worshop on Middle ear surgery and Fluctuant hearing loss. The Strode Pub., Inc., Alabama.
4. THOMSEN, J., VESTERHAUGE, S., 1979 - Clinical Otolaryngology 8,145.




* Trabalho realizado no Ear Research Institute, Los Angeles, 1979.

1 Professor Assistente das Universidades Federal e Estadual do Rio de Janeiro, Serviço de Otorrinolaringologia (Prol: Helio Hungria). Mestre em Otologia pela University of Southern California (USA)
2 Professor Assistente do Serviço de ORL da Universidade de Alexandria, Egito.

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