Versão Inglês

Ano:  1995  Vol. 61   Ed. 5  - Setembro - Outubro - (10º)

Seção: Como eu trato

Páginas: 418 a 418

 

ESTOMATITE AFTÓIDE RECIDIVANTE

Autor(es): Ivan Dieb Miziara*

A estomatite aftóide recidivante (EAR) é doença caracterizada por úlceras orais recorrentes que, via de regra, têm início na infância ou adolescência. A lesão aftóide típica é pequena, redonda ou ovóide, com margens circunscritas, Balo eritematoso e fundo cinzento ou amarelado. O que diferencia o quadro de nina afta isolada da LAR é a peridiocidade que cerca este último evento. O paciente apresenta intervalos de remissão curtos, irregulares, mas, do geral, de unia ou duas semanas apenas.

Nos casos clássicos de LAR, tanto o número de aftas, quanto a sua duração são variáveis. O formato, bem como o tamanho das lesões, também não obedece regras fixas. As afiras podem ser tio tipo minor (Úlceras de Mikulicz) em 80% dos casos, major (Úlcera de Sutton) ou herpetiforme.

A etiologia desta doença é incerta. Muitos casos aparecem como tira defeito menor da imunorregulação. Em cerca de 1/3 dos pacientes, encontra-se história familiar, acompanhada de aumento na freqüência dos antígenos de histocompatibilidade HLA-A2, .A11, B12 E DR-2, embasando as bases genéticas de suscetibilidade de alguns portadores de EAR.

Há que se ressaltar ainda a presença de alguns fatores predisponentes (ou concomitantes) aos surtos tio aftas orais, a saber:

1) 10 a 20% dos pacientes portadores de EAR apresentara baixos níveis séricos de ferro ou ferritina, deficiência de folatos ou de vitamina B12;

2) O estresse emocional, assim como o trauma sobre a mucosa oral, parecem ser fatores adjuvantes de importância no recrudescimento dos surtos de EAR;

3) Parar de fumar, embora o mecanismo seja incerto, também é capaz de precipitar as ulcerações orais em alguns pacientes;

4) Algumas pacientes apresentam LAR em associação com o ciclo menstrual;

5) São referidas ainda alergia alimentar, pH bucal ácido e, mais recentemente, infecção pelo HIV, como fatores predisponentes à EAR.

Vale notar que não há evidência de que a EAR seja doença auto-imune clássica, porque não se. conhece a sua associação com nenhuma lias doenças auto-imunes sistêmicas. Além disso, nenhum dos auto-anticorpos comuns saio encontrados nestes pacientes e a LAR tende a resolver-se ou melhorar espontaneamente com a idade.

Por outro lado, ainda que o título das imunoglobulinas séricas seja usualmente normal, é possível que os títulos sanguíneo de IgA c IgG estejam aumentados e. imunecomplexos circulantes possam ser encontrados.

É preciso mencionar também chie. mecanismos imunológicos mediados por células (mononucleares, T-cells e natural-killer cells) parecem estar envolvidos e há evidências de que ocorra reação citotóxica tecidual anticorpo-dependente, durante os surtos de EAR.

Tentativas de implicar vários microorganismos na etiologia da EAR não obtiveram sucesso, finas pode haver reações cruzadas entre antígenos da mucosa oral e bactérias como "Streptococus sanguis" ou forma L, além do vírus do herpes simplex.

Partindo-se desses pressupostos, o tratamento da EAR deve obedecer os seguintes critérios:

1) Excluir envolvimento sistêmico, como a doença the Behcet, doenças dermatológicas e reumatológicas, ou do trato gastrointestinal (colite ulcerativa, doença celíaca etc);

2) Tratar os fatores predisponentes, corrigindo a anemia, as alterações do pH bucal, bem corno aquelas relacionadas ao ciclo menstrual;

3) Promover a higiene mental do paciente, evitando o estresse emocional ou solicitando a ajuda especializada no tratamento de distúrbios de natureza psicológica;

4) Promover a adequada higiene bucal, através do uso de .soluções tópicas para bochecho, corno o gluconato aquoso de clorhexedine a 0,2%;

5) Facilitar a alimentação do paciente, lançando não de substâncias tópicas que protejam a mucosa oral, como as pomadas de acetoniltriamcinolona a 1 mg, em preparados de orabase, para recobrir as aftas antes das refeições; e, tópico à parte;

6) Uso ele medicação sistêmica.

Em relação às drogas de uso sistêmico, as mais efetivas que se conhece atualmente são:

A) Dapsona (diaminodifenilsulfona): usada na dosagem de 100 mg/dia. Apresenta como efeito colateral principal a metaliemoglobinemia, que. é, reversível com a suspensão da droga;

B) Colchicina: utilizada na dose de 3 mg/dia. O principal efeito colateral é a diarréia;

C) Talidomida: doso de 100 a 300mg/dia. Absolutamente proibida para mulheres em idade fértil; e

D) Prednisona: na dosagem ele 20 mg/dia, por período curto e com retirada progressiva. É reservada aos casos mais rebeldes.




* Assistente Doutor da Divisão de Clínica ORL do Hospital das Clínicas da FMUSP Médico responsável pelo Grupo de Estomatologia da Clínica ORL do HCFMUSP.

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