Versão Inglês

Ano:  1978  Vol. 44   Ed. 3  - Setembro - Dezembro - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 231 a 237

 

ANTROSCOPIA MAXILAR

Autor(es): Fernando Cordeiro Simas*

Resumo:
Com a intenção de colaborar na pesquisa e validade da antroscopia maxilar, tanto como forma de tratamento como no diagnóstico de lesões do antro de Higmore, é que julgamos serem os processos patológicos muito freqüentes em tal região.

INTRODUÇÃO

No estudo da moderna sinusologia, consideramos digna a observação das lesões do forro mucoso das cavidades maxilares pela visão endoscópica através da antroscopia.

O presente trabalho, já iniciado, tende, nos dias atuais, a ser um método preciso ao analisar e determinar regras precisas aos cirurgiões.

Vem a favor do dito acima as observações de B. Zielinski (1), que, ao estudar os tumores das cavidades maxilares, refere que os mesmos não são de início, visíveis aos Rx., e mais que os sinais característicos de reações mucosas são insuficientes para uma prévia avaliação da lesão maligna.

Já Draf (2), num exame coletivo de 301 endoscópias maxilares, comparou o resultado radiográfico com o quadro endoscópico, e chegou à conclusão real de que somente em 42% dos casos houve uma total concordância, em 36% uma moderada semelhança dos resultados - sobretudo no sentido do grau de gravidade das alterações anátomo-patológicas - e em 22% não pode ser provado nenhum grau significativo entre o diagnóstico radiológico e endoscópico, o que acentua o valor diagnóstico da sinuscopia.

Ainda Draf (3) afirma que a endoscopia dos sinus maxilares é muito útil em afecções adjacentes, e que a mesma é muito importante para a determinação de um plano terapêutico, sendo um método de análise em casos de maxilares já abordados por cirurgia, no sentido de observar a evolução pós-operatória.

Herberhold (4) chama a atenção da sinuscopia para o planejamento de qualquer cirurgia radical dos sinus maxilares.

lllum (5) relata que a sinuscopia maxilar é deveras conveniente no diagnóstico prévio do câncer maxilar e em outras condições, como tratamento conservador em maxilares com lesões mucosas capazes de recuperação.

Atualmente, lllum (5) e colaboradores usam um equipamento Storz com ótica Hopkins, cujo campo visual é de 60 graus, luz fria e uma câmara Zeiss para fotografias coloridas, sendo que sua experiência mostrou que a endoscopia maxilar é de utilidade, pois proporciona informações mais exatas das condições da mucosa antral e das estruturas adjacentes, permitindo, assim, o mais correto método de tratamento. Moesner (7) conclui que a biópsia endoscópica maxilaré muito importante para o estudo e localização de processos maxilares.

MATERIAL E MÉTODO

Foram estudados 48 casos entre crianças e adultos que estavam preparados para serem submetidos a uma amigdalectomia. Estes pacientes, já com prévia radiografia dos sinus maxilares, apresentavam imagens radiológicas variadas.

Após a realização da cirurgia em 18 casos, (os doentes ainda sob efeito da anestesia geral), executávamos uma punção das cavidades maxilares por via transmeática, em seu ponto clássico para uma endoscopia cavitária.

O material técnico usado foi o seguinte:

1. Trocarte reto de Lichtwitz;
2. Naso-faringoscópico de Broyles;
3. Pinça articulada fina para biópsia Storz;
4. Aspirador
5. Bateria Wappler à pilhas (Fig. 1).



Fig. 1



Em adultos usamos o mesmo material, somente que a via utilizada foi a fossa canina, em cuja região é feita uma locoanestesia. Posteriormente é executada uma incisão de mais ou menos 1 cm de mucosa e periósteo na região gêngivo-labial e abertura da parede anterior do antro maxilar com uma pequena broca, o suficiente para a introdução do mandril condutor.



Fig. 2



A Figura 2 mostra um crânio, com a presença do naso faringosgópico no interior da cavidade maxilar por via transmeatica, onde observa-se a nítida iluminação do soalho da órbita e igualmente da região infra-orbitária.

A norma utilizada dá uma visão excelente das cavidades, mas restrita à determinadas áreas da mucosa do antro (Fig. 2).

Quando utilizamos a via de acesso através da fossa canina, o aspecto visual do forro mucoso é bem mais nítido, inclusive para a observação "in loco" dos vários recessos, inclusive do ostium maxilar (Fig. 3).



Fig. 3



Esta técnica tem como curiosidade, além da iluminação do antro maxilar, uma luminosidade nítida do soalho da órbita, mostrando um fundo de olho bem visível, e que está sendo estudado por oftalmoscopia indireta e direta, com luz apagada para observação de possíveis lesões intra-oculares.
Normalmente a mucosa do antro maxilar mostra-se com uma coloração levemente rósea e ligeiramente brilhante, além da presença de vasos de pequeno calibre. É importante assinalar que em alguns casos foram observados uma linha fina e escura, cujo trajeto, ligeiramente tortuoso, unia o recesso maxilar ao ostium, e que julgamos seja uma via de drenagem executada pelos cílios vibráteis do revestimento mucoso. Dos casos estudados selecionamos três, para demonstrar o valor da antroscopia. O caso número 40 refere-se à menor R.B., 11 anos, sexo feminino, cor branca, residente em Curitiba. Seu registro no H.C. é de número 034.388, sendo que o Rx. faz conhecer praticamente que as cavidades maxilares estão dentro de uma interpretação de normalidade (Fig. 4).



Fig. 4



Feita uma antroscopia bi-lateral pela via transmeática, esta comprovou uma mucosa descorada, sem brilho, ligeiramente edemaciada e com alguns vasos tortuosos e aumentados em seu calibre.
Feita a biópsia da mucosa de ambos os antros maxilares, o exame histopatológico número 5.342 denunciou edema e discreto infiltrado inflamatório crônico; observa-se, igualmente, um espessamento das arteriolas com proliferação da íntima subendotelial (Fig. 5).



Fig. 5



No caso de número 28, o exame é da menor N.M.V., 4 anos, sexo feminino, cor branca, residente em Curitiba. Seu registro no H.C. é de número 02.203 e o emprego do Rx. mostra o seguinte relatório: espessamento da mucosa de ambos os antros maxilares (Fig. 6).



Fig. 6



Executamos a antroscopia bi-lateral e nossa atenção mostrou como reparos o seguinte: transiìuminação intra- sínusal, com reflexo na região infra-orbitária, com grande diminuição de transparência.

Executada a biópsia da mucosa de ambos os sinus, o histopatológico n. ° 6.435 teve como conclusão: edema da mucosa com hiperemia, infiltrado de células redondas do tipo linfocitário inespecifico, com plasmócitos e histócitos (Fig. 7).



Fig. 7



No fato relativa à M.L.X., cor branca, 25 anos e com registro no H.C. sob o número 338.990, o Rx. mostrava o sinus maxilar direito apenas com um velamento, e uma total obstrução da fossa nasal do mesmo lado, devido à uma polipose generalizada.

Realizamos a sinuscopia pela via da fossa canina, que mostrou sangramento e massas poliplóides, ausência do reflexo infra-sinusal e infra-orbitário. Nestas condições foi realizada a cirurgia radical, para a retirada dos pólipos. Outros fatos observados no presente estudo nos levam a crer que a antroscopia maxilar é uma técnica que deve ser usada para o exame detalhado das cavidades maxilares, cuja visão endoscópica pode mostrar a normalidade da mucosa antral, constituída em alguns casos de cor pérola e em outros com reflexos luminosos brilhantes.

No acontecimento de lesões da mucosa, esta pode revelar modificações que vão desde a palidez, ausência ou diminuição do reflexo luminoso, hiperemía difusa ou circunscrita, edemas, ausência ou presença de vasos sangüíneos íntegros ou alterados em seu trajeto, início de pólipos, traços de fratura, bem como o exame mais detalhado do ostium maxilar.

CONCLUSÕES

A antroscopia maxilar está indicada quando um RX. é incompleto e sem anormalidades radiográficas, masque à suspeita clínica a oriente. Nos maxilares operados para a observação do pós-operatório; nos traumatismos faciais, nas hemorragias recidivantes e inexplicáveis; nos casos em que haja dúvidas a respeito da presença de tumores. Além de ser um excelente método diagnóstico, também o é para tratamentos conservadores das cavidades.

SUMARIO

O autor preconiza o uso da antroscopia maxilar para a elucidação diagnostica de lesões do forro mucoso das cavidades antrais. Indica sua aplicação nos maxilares operados para observação do pós-operatório, nos traumatismos faciais e nos casos duvidosos pela presença de tumores, para o diagnóstico precoce e como tratamento conservador de lesões passiveis de recuperação.

SUMMARY

Tine author emphasizes tine use of tine maxiliary antroscopy, to make clear tine diagnosis of tesions on tine mucoss coat of antra cavities.

He indicates its application on operated maxi Ilars for after surgery observations, on facial traumas and on doubtful cases because of tine presence of tumors, for a prediagnosis and as treatment to preserve lesions that are subjet to recovery.

BIBLIOGRAFIA

1. B. Zielinski, M.D. - Maxillary Sinus Exploration System. Revue de Laryngologie, vol. 95, n.° 9-10, 1974.
2. W. Draf - Wert der Sinuskppie für Klinik und Praxis Z. Laryng. Rhinol. 52 (1973) 890-896 - George Thieme Verlag, Stuttgart.
3. W. Draf - Die Endoskopie der Nasennednhöhiem. Diagnostische und Therapeutische Müglichkeiten. Klinische Rhinologie, Laryng. Rhinol. 54 (1975) 209-215 - George Thieme Verlag, Stuttgart.
4. Herberhold, C. - Endoscopy of the Maxillary Sinus-125-28-J. Maxillofac. Surg. 1.º Sept. 1973.
5. Illum P. - X-Ray Examinations and Sinoscopy in Maxilary Sinus Disease - 287 - 92 - Acta Oto-Laryngologica vol. 74 - October 1972 - n .O 4.
6. Illum, P., et al Sinoscopy. Endoscopy of the Maxilary Sinus. Tecnique Commom and Rare Findings - 506 12 - Acta - Otolaryngol (Stoc.) 73, Jun 1972.
7. Moesner, J. - Sinoscopical Biopsy in Maxillary Sinusites - 113 - 7. Acta Oto-Laryngol. (Stockholm) 78 (1/2) 1974.




Endereço do Autor:
Mal. Deodoro, 503 - 3.° Andar
80.000 - Curitiba - PR.

* Professor Adjunto da Disciplina de Oto-Rino-Laringologia, a serviço do Prof. Leônidas Mocellin.
Departamento de Cirurgia do Setor de Ciências e Saúde da Universidade Federal do Paraná.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial