Versão Inglês

Ano:  1978  Vol. 44   Ed. 2  - Maio - Agosto - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 166 a 169

 

UM ANO DE USO CLÍNICO DA ELETROCOCLEOGRAFIA

Autor(es): *Oscar Maudonnet

A eletrococleografia consiste na observação, no registro e na medida das respostas elétricas médias que aparecem entre o promontório ósseo da cóclea e o lobo da orelha quando estimulações sonoras muito curtas (clics) e de fases opostas excitam a orelha examinada (Aran, 1972).

O estudo das respostas elétricas compreende dois tipos de análise: a quantitativa (latência e amplitude) e qualitativa (monofásica, bifásica, larga, etc.). Através desses dois parâmetros podemos determinar o limiar auditivo de um paciente bem como, em muitos casos, fazermos o topo diagnóstico de uma hipoacusia (sensorial, neural ou central).

O presente relatório consiste nos resultados por nós obtidos nos exames eletrococleográficos, um ano após a sua implantação na Clínica de Otorrinolaringologia do Instituto Penído Burnier, contando para tanto com a notável colaboração da Fundação Affonso Ferreira.

METODOLOGIA

Dois grupos etários de pacientes foram submetidos ao teste eletrococleográfico. No primeiro desejávamos determinar o limiar auditivo e no segundo, o nosso intuito era realizar o topodiagnóstico da hipoacusia.

Neste primeiro grupo de pacientes a grande maioria era constituída por crianças o que nos obrigou a utilizar a anestesia geral. No outro, entretanto, a sua totalidade era constituída por adultos e, por isso nos foi possível utilizar somente a anestesia local (xylocaina a 10%).

Em todos os pacientes foram realizados anteriormente, com sucesso ou não, os testes audiométricos convencionais, isto é, audiometria tonal e vocal, provas supraliminares e impedanciometria.

Utilizamos um eletrococleógrafo Racia, modelo Ari, de procedência francesa. Em relação a realização dos exames bem como as suas interpretações, utilizamos os métodos preconizados por Aran e col. (1971) e Portmann e Aran (1971).

RESULTADOS

Foram examinados 88 pacientes, sendo 31 adultos e 57 crianças. Desses 31 adultos, 13 eram indivíduos normais que voluntariamente se submeteram ao teste, afim de que pudéssemos testar o equipamento. Os demais, em número de 18, eram pacientes portadores de hipoacusia que foram submetidos ao exame eletrococleográfico afim de se tentar fazer o topodiagnóstico da lesão.

Com relação a esses adultos portadores de hipoacusia, 5 apresentaram respostas recrutantes, 4 dissociadas, 7 respostas largas e 2 não se enquadraram perfeitamente em nenhuma delas (quadro 1).


Quadro 1 - Tipos de respostas nos adultos



Com relação as 57 crianças, a suspeita fundamental em todas elas era a hipoacusia. Algumas falavam pouco, outras erradamente e outras, ainda nem falavam.

A idade dessas crianças variou de 7 meses a 9 anos, conforme o quadro 2.


Quadro 2 - Distribuição etária das crianças



Em relação a este grupo, tivemos 5 respostas normais, 7 do tipo recrutante, 5 do tipo dissociada, 2 respostas largas e nas demais não houve qualquer tipo de respostas (quadro 3).


Quadro 3 - Distribuição das respostas nas crianças



DISCUSSÃO

Em todos os nossos exames, não tivemos um único caso com complicações. Nos pacientes em que o exame foi realizado com anestesia local, não houve queixas e todos suportaram muito bem. Quanto ao seu valor, quase todos os casos tiveram suas respostas confirmadas por outros exames ou mesmo pelo acompanhamento do paciente.

Nos 13 casos normais, os resultados foram também absolutamente normais. Existiu somente uma pequena variação de 10 dB em relação ao limiar da audiometria convencional e o limiar dos clics agudos (8.000, 4.000 e 2.000 Hz), ora o limiar eletrococleográfico era melhor, ora o audiométrico, se apresentava melhor.
Dos 18 adultos portadores de hipoacusia, alguns diagnósticos foram plenamente confirmados: 3 casos de Doença de Ménière, 2 casos de Surdez Súbita, 4 de Hipoacusia após parotidite epidêmica, 2 após meningite e um caso de neuroma do acústico (pequeno). Os demais foram parcialmente confirmados pelo exame oton purológico ou pelo acompanhamento do paciente.

Examinando o grupo etário das crianças, observamos que quase 70% apresentavam idade inferior a 6 anos. Em contrapartida Portmann e col. (1974) na França, examinado 382 crianças, observou que 76% ainda não possuíam 5 anos.

Quanto ao tipo de resposta nas crianças, observamos que nossos resultados foram bastante semelhantes aos encontrados por Butugan e col. (1974).

Dessas 57 crianças, 4 que apresentaram exame normal, a suspeita de problema psicológico foi confirmada após testes com psicólogas. A outra vem sendo acompanhada e parece tratar-se de dificuldade de relacionamento familiar, pois após a orientação o menor já está começando a falar.

As 12 crianças que apresentaram respostas recrutantes ou dissociadas, foram adaptadas próteses auditivas e encaminhadas a escolas especiais, onde algumas já estão falando razoavelmente.

Nas demais, apesar de toda a orientação, os resultados ainda não são nítidos, mas temos a esperança de obter algum resultado com o passar do tempo.


CONCLUSÃO

1 - A eletrococleografia consiste num método simples e eficiente para medir a audição.
2 - Ela parece ter grande utilidade no topodiagnóstico das hipoacusias.
3 - Em nosso meio a suspeita de hipoacusia infantil parece ainda estar sendo feita tardiamente.

SUMMARY

The author studied ECoG tracings in 88 patients and shoewed this test VALUE.

BIBLIOGRAFIA:

1. ARAN, J.M. L'electrococheogramme. Cahiers de Ia C.F.A., Paris, 1972.
2. ARAN, J.M.; PELERIN, J.; LENDIR, J.; 4. PORTMANN, C.L. et CORROUZET, J. Aspects theoriques et practiques des ensigistrements electrococheogra- 5. phiques selons Ia methode etablie à Bordeaux. Rev. Laryng., 92. 601, 1971.
3. BUTUGAN, O.; MINITI, A.; PAIVA, L.J. e LEITÃO, F. A nossa experiência com a eletrococleografia no diagnós
4. tico da surdez. Rev. Bras. ORL, 40: 245, 1974.
5. PORTAMANN, M. et ARAN, J.M. Eletrocochleography. Laringoscope, 81: 899, 1971.
6. PORTMANN, M.; PORTMANN, CI. et NÈGREVERNE, M. Four years of clinical use of electrocochleography. Rev. Laryng., 95: 537, 1974.




Endereço do Autor:
Instituto Penido Burier
Andrade Neves, 611 13.100 - Campinas - SP.

* Otoneurologista do Instituto Penido Burnier - Campinas - SP

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