Versão Inglês

Ano:  1978  Vol. 44   Ed. 2  - Maio - Agosto - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 157 a 160

 

MICROFONISMO COCLEAR: sua importância

Autor(es): * Oscar Maudonnet

INTRODUÇÃO

Os estudos sobre a eletrofisiologia acústica nos mostram a existência de quatro tipos diferentes de potenciais elétricos. O primeiro ou potencial microfônico coclear (PMC), descrito pela primeira vez por WEVER & BRAY (1930), se origina na cóclea pela vibração das células ciliadas e reproduz exatamente o som que lhe deu origem, sendo ainda muito sensível a anóxia.

O segundo, também denominado potencial de somação (PS), descrito por TASAKI e col. (1954), se origina também na cóclea, mais precisamente nas células ciliadas internas e externas, aparece superposto ao potencial microfônico coclear e é pouco sensível a anóxia.

O terceiro ou potencial de ação global do nervo auditivo (PAG) apresenta resposta mono ou difásica, de acordo com a estimulação, é registrado a distância e depende da sincronização do estímulo sonoro PORTMANN & ARAN (1971).

Finalmente o quarto é na realidade constituído por dois tipos diferentes de potenciais, o do tronco e o da cortex cerebral. Eles são bastante complexos e foram estudados por GALAMBOS e dol. (1959), DAVIS & ZERLIN (1966), SOHMER e cot. (1967), JEWETT (1970), entre outros.

Todos esses diferentes potenciais elétricos vêm sendo exaustivamente estudados como demonstra a riqueza bibliográfica a esse respeito. Entretanto o potencial microfônico coclear (PMC) foi relegado a um plano secundário e hoje procura-se mesmo a sua eliminação por meio de artifícios técnicos. Assim, na eletrocócleografia costuma-se usar clics alternadamente de fases opostas, justamente para eliminar esse potencial indesejável.

Vendo que esta resposta elétrica foi relegada a um plano inferior, começamos, após os trabalhos de BEAGLEY (1974), a pesquisar a sua presença em todos os nossos exames eletrococleográficos, dos quais selecionamos um grupo cujos resultados constituem a razão do presente relato.

Queremos agradecer a inestimável colaboração da Fundação Afonso Ferreira na realização desta pesquisa.

METODOLOGIA

O presente estudo é constituído de 30 indivíduos, adultos, de ambos os sexos. Metade dessas pessoas eram "normais" que voluntariamente se submeteram aos testes. A outra metade era constituída por indivíduos portadores de hipoacusia intensa ou mesmo cofose.

Todos os pacientes foram submetidos a anamnese, exame otorrinolaringológico, testes audiométricos, impedanciometria, quando então foi firmado um diagnóstico. Após, esses mesmos pacientes foram submetidos a eletrococleografia, sob anestesia local, segundo os métodos preconizados por PORTMANN & ARAN (1971), onde estudamos o potencial de ação global (PAG) e o potencial microfônico coclear (PMC).

Para a obtenção do PAÍS e PMC utilizamos um eletrococleograma marca Rocia, de procedência francesa, modelo AR1, colocado dentro de uma cabine acústica e farádica.

Para a obtenção do PMC utilizamos a freqüência de 1.000 Hz, o número de estímulos foi de 3.000 a razão de 10 por segundo e a duração da análise foi de 10 milisegundos.





Os resultados etiológicos através de sua topografia foram confrontados com os resultados da eletrococleografia através dos dois potenciais, PAG e PMC.

RESULTADOS

Os 15 indivíduos "normais" apresentaram audiometria e impedanciometria dentro dos limites da normalidade. Nestes casos os dois potenciais, PAG e PMC, estiveram presentes em todos os casos. O limiar do PAG foi semelhante ao limiar audiométrico, enquanto que o "limiar" do PMC esteve em torno de 75 a 85 dB. Entre os casos patológicos, 8 apresentaram cofose e 7 perda auditiva de grande intensidade, com limiar médio de 95 dB.
Nos 8 casos com cofose, 4 apresentaram PAG ausente e PMC presente, enquanto que nos outros 5 nenhum desses potenciais esteve presente.

Nos 7 casos que apresentavam grande perda auditiva, em 2 o PAG esteve ausente e o PMC presente. Nos 5 restantes, tanto o PAG como o PMC estiveram ausentes.

DISCUSSÃO

Segundo os trabalhos de BEAGLEY quatro possibilidades seriam esperadas: 1 - PAG presente e PMC presente neste caso tanto as células ciliadas como as fibras do nervo coclear estariam íntegras.

2 - PAG ausente e PMC presente - este tipo de resposta sugeria lesão nas fibras do nervo auditivo com integridade das células ciliadas.

3 - PAG ausente e PMC ausente - esta resposta nos indicaria lesão tanto nas células ciliadas como nas fibras do nervo acústico.

4 - PAG presente e PMC ausente - esta resposta teoricamente não poderia ocorrer.

Como era de se esperar nos 15 indivíduos "normais" os dois potenciais estudados (PAG e PMC) estiveram presentes em todos os casos, demonstrando pois a integridade tanto da cóclea como do nervo coclear.

Nos quatro casos de cofose em que o PAG esteve ausente e o PMC presente, os diagnósticos foram respectivamente: um caso de neurinoma do acústico, dois de sequela de parotidite epidêmica e o último de seqüela de meningite. Portanto, todos esses casos apresentaram tipicamente lesão do tipo neural.

Nos outros quatro casos de cofose em que ambos os potenciais não se fizeram presente, os diagnósticos foram: doença de Ménière, pós-estapedectomia seguida de degeneração, ototoxicose (estreptomicina) e comoção labiríntica (fratura do rochedo com lesão na orelha interna). Nestes casos a lesão coclear pode ser facilmente demonstrada.

Analisando agora os 7 casos de hipoacusia intensa, observamos que nos dois casos em que o PAG esteve ausente e o PMC presente, os diagnósticos foram seqüela de sarampo e seqüela de herpes zoster do facial (síndrome de RansayHunt).

Nos últimos cinco casos em que o PAG e o PMC estiveram ausentes, os diagnósticos foram: seqüela de colesteatoma, com lesão do canal horizontal, surdez súbita, doença de Ménière, ototoxicose e labirintopatia vascular (diabetes). Nestes cinco casos, somente a surdez súbita nos deixou alguma dúvida, pois ela tanto poderia dar uma lesão coclear como neural. Nos outros casos, entretanto, o comprometimento coclear pareceu estar bastante evidente.

CONCLUSÕES

Pelo que foi exposto acima, acreditamos poder concluir: frente a uma hipoacusia profunda ou mesmo uma cofose, a presença do potencial microfônico coclear nos indica sempre uma integridade da cóclea.Se o potencial de ação global estiver.

ausente, nas condições acima descritas, a lesão neural deve ser encontrada.

SUMMARY

The author does a study of cochlear microphonic and shows its localising
value.

BIBLIOGRAFIA

1. BEAGLEY, H.A. Can we use the cochlear microphonic in electrocochleography. Rev. Laryng., 95: 531, 1974. DAVIS, H. & ZERLIN, S. Classes of auditory evoked responses. Audiology, 39: 109, 1966.
2. GALAMBOS, J.; SCHWARTZKOPF, J. & RUPERT, A. Microelectrode study of superior olivary nuclei. Amer. J. Physiol., 197: 527, 1959.
3. JEWETT, D. Volume conducted potentials in response to auditory stimuli as detected by averanging in cat. Electroenceph. Clin. Neurophysiol., 28: 609, 1970.
4. PORTMANN, M. & ARAN, J. Electrococléographie sur le nourrisson et le jeune enfant, méthode d'audiométrie objective. Acta Oto-Laryng(Stockh) 73:166,1971 .
5. PORTAMANN, M. & ARAN, J. Electrocochleography. Laryngoscope, 81: 899, 1971.
6. SOHMER, H. & FEINMESSER, M. Cochlear action potentials record from the external ear in man. Ann. Otol.. 76: 427, 1967.
7. TASAKI, H.; DAVIS, H. & ELDREDGE, D. Exploration of cochlear potentials in guinea pig with a microelectorde. J. Acoust: Soc. Amer., 26: 765, 1954.
8. WEVER, E. & BRAY, C. Auditory nerve impulses. Science, 71: 215, 1930.




Endereço do Autor:
Instituto Penido Burnier
Andrade Neves, 611 13.100 -
Campinas - SP.

* Otoneurologista do Inst. Penido Burnier e prof. assist. da Faculdade de Medicina da UNICAMP - Campinas

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