Versão Inglês

Ano:  1995  Vol. 61   Ed. 3  - Maio - Junho - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 188 a 192

 

PERFIL AUDIOLÓGICO EM INDÚSTRIAS MADEREIRAS.

Audiologic Findings in Wood Industries Employies.

Autor(es): Ruysdael Zocoli*
Ana Margarida Peres Silva**

Palavras-chave: Ruído, surdez neurossensorial, surdez ocupacional

Keywords: Noise, neurossensorial deafness, professional deafness

Resumo:
Os autores apresentam trabalho feito em indústrias madereiras, com medida de intensidade de ruídos no ambiente de trabalho, audiometrias via aérea conforme NR7 da CLT e questionário respondido espontaneamente pelos funcionários destas indústrias.

Abstract:
The authors show a job made in wood's industries that measures sounds intensify presents in the working place, audiometries by airaccordingNR7 CLT and answered fquestions by themselves who work in these industries.

INTRODUÇÃO

Sabemos que existe correlação entre ruído e hipoacusia desde tempos imemoriais. O COMITÊ NACIONAL DE RUÍDO E CONSERVAÇÃO AUDITIVA definiu e caracterizou- a PAIR (PERDA AUDITIVA INDUZIDA PELO RUÍDO) em sua última reunião como sendo a perda induzida pelo ruído relacionada ao trabalha, diferentemente do trauma acústico, que é a diminuição gradual da acuidade auditiva, decorrente da exposição continuada a níveis elevados de ruído.

E como características principais:

1) A PAIR é sempre neurossensorial, em razão do dano causado às células do órgão de Corti;

2) Uma vez instalada, a PAIR é irreversível e quase sempre similar bilateralmente;

3) Raramente, leva à perda auditiva profunda pois, geralmente, não ultrapassa os 40 dBNA nas baixas freqüências e os 75 dBNA nas freqüências altas;

4) Manifesta-se, primeira e predominantemente, nas freqüências de. 6,4 ou 3 KHz e, com o agravamento da lesão, estende-se às freqüências de 8, 2, 1, 0,5 e 0,25 KHz, as quais levam mais tempo para serem comprometidas;

5) Tratando-se de patologia coclear, o portador cia PAIR pode apresentar intolerância a sons intensos, zumbido, além de ter comprometimento a inteligibilidade da fala, em prejuízo do processo de comunicação;

6) Não deverá haver progressão da PAIR uma vez cessada a exposição ao ruído intenso;

7) A instalação da PAIR é, principalmente, influenciada pelos seguintes fatores: características físicas do ruído (tipo, espectro e nível de pressão sonora), tempo de exposição e susceptibilidade individual;

8) A PAIR não torna a orelha sensível à futuras exposições a ruídos intensos. À medida que os limiares auditivos aumentam, a progressão da perda torna-se mais lenta;

9) A PAIR geralmente atinge o seu nível máximo para as freqüências de 3, 4 e 6 KHz nos primeiros 10a 15 anos de exposição sob condições estáveis de ruído.

Como em nossa militância diária prestamos serviços a algumas indústrias, sendo sua maioria madeireiras e a junta de Conciliação e Julgamento do Mistério do Trabalho, elaboramos um questionário, o qual estamos aplicando nestas indústrias, com respostas espontâneas.

MATERIAL E MÉTODOS

Fazemos levantamento de ruídos, medindo com decibelímetro Realistic, toda planta da Indústria, máquina a máquina. Antes e após medidas de enclausuramento das mesmas, quando possível, segundo orientação do engenheiro. Realizamos audiometrias de triagem via aérea em todos trabalhadores expostos a ruído acima de 85 dB e audiometria completa nos trabalhadores que apresentam queda acima de 60 dBNA nas freqüências de 3, 4 e 6 KHz; realizamos palestras nestas indústrias quanto a importância dos EPI (Equipamentos de Proteção Individual) bem como, durante a realização desta, apresentamos questionários de resposta espontânea por parte dos trabalhadores presentes.

Nosso levantamento foi de 132 (cento e trinta e dois) trabalhadores em três indústrias, perfazendo o total de 146 (cento e quarenta e seis) audiometrias e 29 (vinte e nove) questionários respondidos.

A pouca adesão à resposta dos questionários, julgamos que tenha ocorrido pela pouca motivação dos trabalhadores, semi ou analfabeto (índice alto nesta região) e temor quanto ao desemprego.

As medições realizadas nestas indústrias variaram de 78 dB à 126 dB com uma observação: esta última foi com máquina de plainar madeira com eixo quadrado em campo aberto que, após enclausuramento, apresentou medida de 96 dB ao nível do ouvido do trabalhador.

O questionário aplicado foi o seguinte, com as estatísticas das respostas:

QUESTIONÁRIO

Nome do func.:___________________________________________________
Nome da Empresa:________________________________________________
Setor:___________________________________________________________

1 - Você usa proteção auditiva no local de trabalho?
r. sim ( ) não ( )
21 responderam sim e 8 responderam não

2 - Você escuta bem?
r. sim ( ) não( )
24 responderam sim e 5 responderam não

3 - Já apresentou dor de ouvido?
r. sim ( ) não ( )
13 responderam sim e 16 responderam não

4 - Seu ouvido já vasou alguma vez?
r. sim ( ) não ( )
5 responderam sim e 24 responderam não

5 - Você tem tonturas?
r. sim ( ) não ( )
9 responderam sim e 20 responderam não

6 - Você já esteve perto de alguma explosão?
r. sim ( ) não ( )
5 responderam sim e 24 responderam não

7 - Você tem apito ou barulho nos ouvidos?
r. sim ( ) não( )
Qual ouvido? ( ) direito ( ) esquerdo ( ) ambos
12 responderam sim e 17 responderam não; não identificando qual ouvido.

8 - Existe alguém surdo na sua família?
r. sim ( ) não ( )
3 responderam sim e 26 responderam não

9 - Exerce outra atividade após o trabalho?
r. sim ( ) não ( )
Que tipo:____________________________
Nesta atividade você fica exposto a ruído?
sim ( ) não ( )
29 responderam não

10 - Você sofre de alguma doença?
r. sim ( ) não( )
Qual: ______________________________
Há quanto tempo: ____________________
10 responderam sim e, 19 responderam não, sendo gastrite 4, problemas de coluna 3, OMC 1, sinusite 1, problemas de rins 2, alergia e hipertensão 1, não quantificando o tempo.

11 - Sofreu algum acidente, tendo batido a cabeça?
r. sim ( ) não( )
8 responderam sim e 21 responderam não

12 - Você sabe que tipo de problema o ruído pode causar?
r. sim ( ) não ( )
13 responderam sim e 16 responderam não

13 - Há quanto tempo você trabalha em ambientes ruidosos?
r. _________________________________
de 0 a 5 anos 10
de 5 a 10 anos 10
de 10 a 15 anos 3
de 15 a 20 anos 3
de 20 a 25 anos 3
mais de 25 anos 3

14 - Antes de trabalhar, já possuía problemas de ouvido?
r. sim ( ) não ( )
Quais:_________________________________________
4 responderam sim e 25 responderam não; não identificando o problema.

15 - Depois que começou a trabalhar em ambientes ruidosos notou queda da audição?
r. sim ( ) não ( )
14 responderam sim e 15 responderam não

16 - Conhece protetor auditivo?
r. sim ( ) não ( )
27 responderam sim e 2 responderam não

17 - Notou alterações do equilíbrio (tonturas, náuseas, vômitos.), após trabalhar em ambientes ruidosos?
r. sim ( ) não ( )
6 responderam sim e 23 responderam não

18 - Notou tremores nas mãos, diminuição da visão, zumbidos, crises epiléticas, mudanças na percepção das cores?
r. sim ( ) não ( )
7 responderam sim e 22 responderam não

19 - Notou diminuição de memória e de produtividade?
r. sim ( ) não( )
8 responderam sim e 21 responderam não

20 - Tem tido insônia, dificuldade para adormecer, acorda freqüentemente, tem tido a sensação que dormiu pouco?
r. sim ( ) não ( )
15 responderam sim e 14 responderam não

21 - Tem apresentado irritabilidade fácil, intolerância a ruídos do lar (rádio, TV, brinquedos)?, indisposição, ansiedade, depressão?
r. sim ( ) não( )
15 responderam sim e 14 responderam não

22 - Após início do trabalho em ambientes ruidosos, notou alteração psíquica (tem estado mais nervoso)?
r. sim ( ) não ( )
não houve resposta

23 - Você sofre da pressão? é alta ou baixa?
r. alta.. sim ( ) não ( )
baixa .. sim ( ) não ( )
alta 7 respostas afirmativas.
baixa 8 respostas afirmativas.

24 - Já sofreu algum desmaio ou tonturas trabalhando?
r. sim ( ) não ( )
5 responderam sim e 24 responderam não

25 - Você apresenta alterações digestivas? (constipação crônica, diarréias freqüentes, gastrites...), e isto apareceu após trabalhar em ambientes ruidosos?
r. sim ( ) não ( )
4 responderam sim e 25 responderam não

26 - Você tem diabete? quando começou?
r. sim ( ) não ( )
( ) antes de trabalhar em ambientes ruidosos.
( ) após trabalhar em ambientes ruidosos.
29 responderam não

27 - Você notou alterações na quantidade de urina quando trabalha em ambiente ruidoso?
r. sim ( ) não ( )
e quando está em repouso?
r. SIM ( ) não ( )
4 responderam sim quando trabalhando
3 responderam sim quando em repouso

28 - Após o início do trabalho em ambientes ruidosos, notou maior facilidade de adquirir infecções, e maior dificuldade de tratá-las?
r. Sim ( ) não ( )
5 responderam sim e 24 responderam não

29 - Tem tido lesões musculares freqüentes?
r. sim ( ) não ( )
10 responderam sim e 19 responderam não

30 - Teve algum acidente de trabalho? qual? e em que situação ocorreu?
r. sim ( ) não ( )
13 responderam sim e 16 responderam não; sendo que nos membros 12 respostas afirmativas com toras ou máquinas e um acidente na cabeça com prancha.

31 - Após iniciar o trabalho em ambientes ruidosos notou diminuição no libido?
r. sim ( ) não( )
3 responderam sim e 26 responderam não

32 - Notou impotência e/ou infertilidade após trabalho cm ambientes ruidosos?
r. sim ( ) não ( )
4 responderam sim e 25 responderam não

33 - Se você é mulher notou aumento de cólicas menstruais e se já teve filhos se houve alterações no leito? (quantidade)
r. sim ( ) não( )
não houve resposta.

34 - Você, após começar a trabalhar em ambientes ruidosos, teve aborto?, seu filho nasceu perfeito?, peso e tamanho normal?
r. sim ( ) não( )
não houve resposta.

35 - Notou dificuldade de engravidar ou alterações no ciclo menstrual após trabalhar em ambientes ruidosos?
r. sim ( ) não ( )
não houve resposta.

Quanto às audiometrias, fizemos levantamento estatístico nas freqüências 3, 4, e 6 KHz e relacionamos o total das audiometrias, sendo 132 (cento e trinta e dois) pacientes e 146 (cento e quarenta e seis) audiometrias.

DISCUSSÃO

Observamos, com os dados apresentados acima, que há maior índice de perdas no ouvido esquerdo, o que nos levou a questionar este resultado. Após observarmos a posição dos trabalhadores junto às suas máquinas, notamos que os mesmos por serem em sua grande maioria destros, se posicionam com o corpo levemente de perfil esquerdo, apoiando a mão esquerda sobre a madeira e com a mão direita é que empurram a mesma. Observamos ainda a falta de fiscalização por parte do DRT, nesta região, falta de esclarecimento tanto aos trabalhadores, quanto aos empresários, falta de motivação por parte dos trabalhadores, e falta de interesse por acharem o gasto desnecessário para as empresas (por parte dos empresários).


CONCLUSÃO

Já de muito vínhamos observando a falta de atenção quanto a PAIR em nossa militância diária, bem como perito da Junta de Conciliação e Julgamento do Ministério do Trabalho, mas após termos participado do I Simpósio Brasileiro de Surdez Ocupacional é que temos nos dedicado a revisar este assunto. Apresentamos este com o objetivo de alertar os colegas quanto a este mal que assola os nossos trabalhadores e que está relegado a segundo plano, tanto por parte dos trabalhadores, como empresários, e principalmente, por parte dos otorrinolaringologistas.




* Médico Otorrinolaringologista
** Fonoaudiologa

Trabalho realizado na Policlínica Cacoal

Endereço correspondência: Av. Guaporé 2265 - Caixa Postal 305, CEP 78975-000, Cacoal - RO, Fone: (069) 441-3354 e 441-2605.

Artigo recebido em 01 de março de 1995
Artigo aceito em 23 de março de 1995.

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