Versão Inglês

Ano:  1995  Vol. 61   Ed. 2  - Março - Abril - (11º)

Seção: Relato de Casos

Páginas: 160 a 161

 

RINOSPORIDIOSE: A PROPÓSITO DE UM CASO.

Rhinosporidiosis: A Case Report.

Autor(es): José Fernando Gobbo*,
Luis Miguel Chiriboga Arteta*,
Rosemeire Piffer Rodrigues**,
Josiane Aguiar de Andrade***.

Palavras-chave: Rinosporidiose

Keywords: Rhinosporidiosis

Resumo:
Os autores comentam um caso de rinosporidiose, apresentando levantamento bibliográfico sobre a patologia, incidência, etiologia, quadro clínico, diagnóstico, tratamento e diagnóstico diferencial.

Abstract:
The authors comment about a case of rhinosporidiosis making bibliographic review about the patology, as well as its incidence, etiology, clinic, diagnosis, treatment and differential diagnosis.

INTRODUÇÃO

A rinosporidiose, doença crônica e rara, foi descrita pela primeira vez em 1882 por Malbram, em Buenos Aires, já tendo sido publicada uma tese sobre ela na mesma cidade, em 1900, por Guilherme Seeberi, de acordo com Krishnamporthy1.

Essa doença é causada pelo Rhinosporidium seeberi, um microorganismo classificado, nos idos de 1900, como protozoário. Porém, em 1923, Ashworth2 sugeriu que fosse um fungo pertencente a classe inferior aos ficomicetos. Atualmente, sugere-se seja bactéria ou vírus, de origem ainda desconhecida. Culturas do microorganismo têm sido experimentadas praticamente em todos os tipos de ambientes, mas sem sucesso. Todo o esforço em transmitir a doença a animais de laboratório tem falhado (Reddy3 e Takshminarayama3 1962, Karunaratne3 1964).

A doença incide mais no sexo masculino, na segunda década de vida, sendo possível sua recorrência. Tem bom prognóstico. É endêmica no Ceilão e no sul da índia, ocorrendo esporadicamente no continente africano, no Brasil, Itália e Malásia. Em 70% dos casos, manifesta-se como inflamação crônica do tipo polipóide nas cavidades nasais. Aparece também nos olhos, saco lacrimal, ouvidos, nasofaringe, seios da face, faringe, traquéia, aparelho geniturinário e pele.

CASO CLÍNICO

Em 8 de outubro de 1991, C. M., trinta e nove anos, sexo masculino e branco, esteve em nosso serviço pela primeira vez, quando relatou história de insuficiência respiratória alta. Como era de família circense, em sua infância teve contato com animais africanos. Aos dezesseis anos, o sintoma apareceu e foi diagnosticado como rinosporidiose.

A rinoscopia anterior, foi encontrada massa tumoral polipóide na fossa nasal esquerda, ocupando toda a cavidade, com aspecto vegetante. Estava implantada no terço septal superior (Foto 1).

Em 15 de outubro de 1991, foi realizada a exérese da massa tumoral e feita a cauterização da base da lesão. Em seguida, foi enviada a exame anátomo-patológico (Foto 2).



Foto 1. Massa tumoral vegetante no vestíbulo da narina esquerda.



Foto 2. Peça cirúrgica.



RESULTADO DO EXAME ANÁTOMO-PATOLÓGICO

A peça enviada foi fixada com formol e corada com HE + PAS + Grecott.

Exame macroscópico

O material enviado para exame constava de formação polipóide branco-rosada, de superfície externa com aspecto verrucoso (ou papilífero), de consistência firme e elástica. Media 4x3x2 cm, nas suas principais dimensões.

Foram efetuadas subdivisão e inclusão para cortes semi-seriados.

Exame microscópico

Os fragmentos examinados revelaram, em escassas áreas, epitélio tipo respiratório e, no restante, com metaplasia escamosa e nítida reação hiperacantótica, às vezes delimitando microabscessos. Porém, o que chamava a atenção era a presença de incontáveis corpúsculos esferóides de esporângios com caracteres peculiares ao Rhinosporidium seeberi, em diferentes estágios de maturação. As dimensões eram variadas e providas de membrana envoltória quitinóide.

No córion envolvente, havia infiltrado inflamatório redondo-celular, onde apareciam microgranulomas e focos abscedados, englobando endósporos e/ou restos de membrana quitinóide rompida.

DIAGNÓSTICO

Rinite crônica granulomatosa, do tipo rinosporidiose.

CONCLUSÃO

A rinosporidiose é doença rara em nosso meio; em 1982, completou-se um século de seu descobrimento.

Atinge predominantemente pessoas do sexo masculino, na faixa etária entre 20 e 30 anos. Não tem etiologia totalmente esclarecida. Muitos acreditavam que a transmissão se processasse através de traumatismo da mucosa, que se infectaria pelo Rhinosporidium seeberi. Estes patógenos levariam à inflamação do tecido mucocutâneo, penetrariam no tecido profundo, onde cresceriam através de divisão amitótica ou multiplicação assexuada, formando os esporos que se uniriam para formar o esporângeo3.

Essa patologia deve ser diferenciada de outras doenças mais freqüentes, como o pólipo de Killian, a polipomatose recidivante, a blastomicose sul-americana, o angiofibroma juvenil e o papiloma invertido.

O tratamento de escolha é unicamente o cirúrgico.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1. KRISHNAMPORTHY, S. etal. -Cultura of Rhinosporidium seeberi: preliminary report. The Journal of Laryngology and Otology - 103: 178 - 180, february 1989.
2. KARVITA, B.; AHLUWALIA, S.; BAHADOR - Rhinosporidiosis associated with squamous cell carcinoma in the tongue. The Journal of Laringology and Otology - 104: 648 - 650, august, 1990.
3. SAMADDAR, R. R.; SEN, M. K. - Rhinosporidiosis in bankura. The indian journal of pathology and microbiology - 33: 120 - 136, april, 1990.




* Médico do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Vera Cruz de Campinas (SP).
** Médica-residente do Segundo ano de Otorrinolaringologia do Hospital Vera Cruz de Campinas (SP).
*** Médica-residente do primeiro ano de Otorrinolaringologia do Hospital Vera Cruz de Campinas (SP).
Endereço dos autores: Centro de Otorrinolaringologia Campinas SIC Ltda. Av. Andrade Neves, 699 - 1°andar, Campinas - SP - Brasil - CEP 13013-161. Telefone (0192) 31.1799 e 31.1094.
Artigo recebido em 01 de outubro de 1994.
Artigo aceito em 19 de janeiro de 1995.

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