Versão Inglês

Ano:  1995  Vol. 61   Ed. 2  - Março - Abril - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 112 a 113

 

TURBINECTOMIA PARCIAL COM LASER CO2 - RELATO DE VINTE E NOVE CASOS.

Partial Turbinectomy Surgery with CO2 Laser: Report of Twenty-Nine Cases.

Autor(es): José Fernando Gobbo*,
Luís Miguel Chiriboga Arteta*,
Rosemeire Piffer Rodrigues**,
Josiane Aguiar de Andrade***.

Palavras-chave: Lasers, cirurgia a laser, cirurgia otorrinolaringológica

Keywords: Lasers, laser surgery, otorhinolaryngologic surgery

Resumo:
Veste trabalho, são relatados vinte e nove casos de pacientes submetidos a turbinectomias parciais dos cornetos inferiores com laser de CO2, sendo dezessete homens e doze mulheres, cuja faixa etária varia de nove a vinte e sete anos. Nos resultados, salienta-se o menor sangramento pós-operatório e a maio possibilidade de intervenções ambulatoriais sob anestesia local.

Abstract:
This work relates twenty-nine cases of patients, of which seventeen are men and twelve womem, with age ranging from nine to twenty-seven years, who were submitted to partial turbinectomy in which lower turbinate bones were extracted by means of CO2, laser beam. Results highlight minimal post-operatory bleeding and point to the increasing role of out patient intervention under local anesthesia.

INTRODUÇÃO

O primeiro relato da utilização de CO2 em otorrinolaringologia foi publicado por jako e Strong1, em 1972. Lenz2 foi o primeiro a reportar procedimento rinológico com laser, sendo Mitellman3 quem utilizou esse equipamento nos casos de hipertrofia dos cornetos nasais, usando a intensidade de 15 a 20 watts de potência. Simpson3 usou essa mesma variação em casos de poliposes nasais.

Dentre os trabalhos mais recentes, destacamos o de Fukutak4, publicado em 1986. Utilizando um laser de CO2 em rinologia, o autor citou cento e quarenta pacientes submetidos a turbinectomias parciais, com "follow up" de três meses a três anos, e faixa etária entre sete a cinqüenta e três anos. Nesses casos, o laser atingiu as camadas superficiais do epitélio, o periósteo e a parte óssea dos cornetos nasais.

MATERIAL E MÉTODOS

Nos casos relatados neste trabalho, usou-se o laser de CO2, fabricado em Campinas (SP), por físicos da Unicamp (Foto 1), adaptado a microscópio cirúrgico otorrinolaringológico, ao qual se acoplaram um micromanipulador e uma objetiva de 200 min. O espéculo nasal utilizado foi o autostático de Prades, com a introdução de uma ponta de aspirador fixa em seu interior, já que o vapor produzido durante o ato cirúrgico é intenso e impede a boa visualização das regiões a serem evaporadas.

Vinte e nove pacientes foram submetidos a turbinectomias parciais com laser, entre agosto de 1991 e agosto de 1992. Durante esse período, realizaram-se conjuntamente três microsseptoplastias, três septoplastias e unta amigdalectomia.

TÉCNICA CIRÚRGICA

Após prévia assepsia do nariz do paciente, o interior da cavidade nasal é preenchido com algodão embebido em vasoconstritor tópico. Algumas cirurgias são feitas com anestesia local,outras com anestesia geral, de acordo com cada caso.

A face do paciente é coberta por campo cirúrgico, à exceção do nariz,deixando a cabeça levemente inclinada para a direita, lado onde se posiciona o cirurgião com o microscópio acoplado ao laser.

Quanto ao protocolo do laser, foi seguido o de Selki5, com a diferença de não se usarem luvas cirúrgicas com proteção de algodões internos, porque é difícil encontrá-las em nosso meio. Não se deve esquecer de que ao se colocar o espéculo nasal, deve-se fazê-lo de forma a proteger as asas nasais. Só se deve disparar o feixe de luz depois de garantida boa e segura visualização do campo operatório. O pessoal de sala deve sempre usar óculos protetores.

Depois de retirados os algodões, regulada a potência (que varia de 10 a 25 watts) e direção do laser com disparo contínuo, faz-se a vaporização da hipertrofia mucosa dos cornetos inferiores do paciente. Como o laser é uma luz que vaporiza os tecidos, sua eficácia é maior em estruturas com maior concentração de água. Por isso os resultados cirúrgicos são melhores em casos de rinites alérgicas hipertróficas do que em hipertrofias ósseas dos cornetos.

O tempo cirúrgico para o tratamento de um dos cornetos nasais gira em torno de dois a três minutos. Inicia-se por um dos lados, aleatoriamente; quando há remoção total da hipertrofia mucosa, é preciso observar atentamente a possibilidade de vasos sangrantes, o que pouco ocorre nesses casos.

Encerrado o procedimento cirúrgico, não foram utilizados tamponamentos nasais. Os pacientes retornam à clínica depois de sete dias para que se limpem coágulos e restos de tecidos necrosados. Os resultados fisiológicos foram bastante satisfatórios.

Em relação às complicações, em todos os casos operados houve apenas formação de crostas residuais que tradicionalmente ocorrem nas evaporações e cauterizações dos cornetos. Limpezas periódicas com soro fisiológico aquecido removem as crostas eliminando o problema em poucos dias. De todos os casos, em cinco deles realizou-se apenas a evaporação da mucosa dos cornetos, mas, no período de dezoito meses, manifestaram-se recidivas das hipertrofias. Nos demais casos em que parte da estrutura óssea também foi removida, o resultado foi excelente. Não se registrou nenhum caso de rinite atrófica.

DISCUSSÃO

Como se pode constatar, esta é uma nova técnica incorporada ao arsenal terapêutico, que realmente facilita o ato cirúrgico.

Seria importante aprimorar o equipamento, já que os similares norte-americanos, alemães e israelitas têm dimensões menores e maior potência, o que facilita ainda mais a técnica cirúrgica.

Do exposto, conclui-se que esta técnica possibilita melhor pós-operatório, já que o laser de CO2 vaporiza os tecidos, deixando poucos resíduos na cavidade nasal. Além disso, propicia sangramento menor, o que dispensa o uso de tampões nasais. Finalmente, permite mais intervenções ambulatoriais, sob anestesia local.



Foto 1. Laser de CO2, Tecno-laser (TC-2200).



CONCLUSÃO

Dois aspectos devem ser destacados sobre o uso de laser de CO2 em turbinectomias. O primeiro refere-se ao ato cirúrgico em si. É evidente, conforme se descreveu neste trabalho, que a cirurgia torna-se simples, com menos sangramento e maior rapidez.

O segundo refere-se aos resultados. Quanto a edemas e formação de crostas, o pós-operatório imediato é muito semelhante ao de pacientes submetidos a turbinectomias convencionais. Observações a longo prazo evidenciaram o mesmo resultado funcional nos dois tipos de técnicas operatória.

O grande incoveniente da técnica seria o alto custo do equipamento para o mesmo resultado final.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1. SIMPSON, G. T.; SHAPSHAY, S. M.; VAUGHN, C. W. - Rhinologic laser surgery. Otolatyngologic clinics of North America - 16, n°4: 829-837, november 1983.
2. LENZ, H. - Endonasal laser surgery. In: Lasers in medicine. HOEBSER, H. K. (Ed.) John Wiley and Sons, New York, p. 63-73,1980.
3. SIMPSON, G. T. et alii. - Rhinologic surgery with the carbon dioxide laser. Laringoscope, 92: 412-415, april 1992.
4. FUKUTAKE, T. et alli. - Laser surgery for allergic rhinitis. Arch otolaringol. head sutg. 112: 1280-1282, april 1986.
5. SELKIN, S. G.- Pitfalls in intranasal laser surgery and how to avoid them. Arch otolaringol. head neck sufg. 112: 285-289, march 1986.




* Médico do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Vera Cruz de Campinas (SP).
** Médica-Residente do Segundo Ano de Otorrinolaringologia do Hospital Vera Cruz de Campinas (SP).
*** Médica-Residente do Primeiro Ano de Otorrinolaringologia do Hospital Vera Cruz de Campinas (SP).

Endereço dos Autores: Centro de Otorrinolaringologia Campinas S/C Ltda. - Av. Andrade Neves, 699 - 1 ° andar - Campinas - SP - Brasil - CEP 13013-161 - Telefones (0192) 31.1799 e 31.1094.

Artigo recebido em 01 de outubro de 1994.
Artigo aceito em 14 de janeiro de 1995.

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