Ano: 1987 Vol. 53 Ed. 4 - Outubro - Dezembro - (5º)
Seção: Artigos Originais
Páginas: 124 a 126
Estudo da atividade antifúngica do tolciclato de sódio "in vitro" e em otomicoses
Autor(es):
L.Zaror**
O. Fischman**
R.G. Felipe***
F.A. Suzuki*
Resumo:
O estudo da atividade antifúngica do tolciclato "in vitro" revelou que 100% dos cultivos de A. niger, A. flavus, A. fumigatus, Aspergillus sp. e P. citrinum foram inibidos em CIM iguais ou inferiores a 0,62wglml de meio. Os cultivos de C. albicans se desenvolveram em concentrações testadas até 1 Owg da droga.
Foram tratados 13 casos de otomicoses por vários agentes, inclusive por C. albicans, com êxito completo.
O tolciclato constitui, sem dúvida, uma nova alternativa no tratamento das otomicoses.
Introdução
Entre os fármacos com atividade antimicótica, os derivados tiocarbâmicos têm demonstrado possuir boa atividade, tanto clínica-como micológica (Melloni et al, 1974).
O tolciclato é o 0(-1,2,3,4-tetrahidro 1,2-metanonaftalen-6-il)m, N-dimetil tiocarbamilato (Carneri et al, 1976). Ainda que não tenha sido empregado no tratamento das otomicoses, seu uso eventual nessa patologia foi sugerido por Wíldfeuer & Rozman (1984) e Zaror et al (1984). Os resultados da ação do tolciclato de sódio "in vitro" sobre espécies de Aspergillus, Penicillium e Candida albicans e em pacientes com otomicoses estudados em São Paulo (Brasil) são relatados na presente publicação.
Materiais e Métodos
Foi estudada a atividade do tolciclato de sódio "in vitro" sobre 48 cultivos de fungos isolados do conduto auditivo externo normal e de pacientes com otomicoses (Tabela 1).
Os cultivos se desenvolveram em ágar Sabouraud-dextrosado (BBL) a 28.°C durante 10-15 dias. O método empregado foi o de Chmel & Louria (1980) referido em detalhes por Zaror et al (1984).
Os 20 pacientes com otomicoses foram divididos em dois grupos, ao acaso, tratados respectivamente com solução de tolciclato de sódio a 1%, 3 vezes ao dia, durante 15 dias e solução de timerosal a 1 % em solução salina, uma aplicação.
Resultados
Na tabela 2 se encontram as concentrações de tolciclato de sódio (CIM) necessárias para inibir cultivos dos fungos estudados. Observa se que 80% dos cultivos de A. nige foram inibidos em iguais ou inferio res a 0,019ug/ml de meio, havend inibição total em concentrações d 0,62ug/ml. Todos os cultivos de C albicans se desenvolveram em meios contendo até 1Oug de tolciclato.
Os resultados dos tratamentos instituídos, acham-se na tabela 3. Verificou-se 100% de êxito com tolciclato de sódio. Tendo fracassado o uso de timerosal em um paciente portador de A. niger, o mesmo foi tratado com sucesso, posteriormente, com tolciclato. Não retomou, para controle, um dos pacientes com aspergilose por A. versicolor.
Discussão
Todos os cultivos de A. niger mostraram ser sensíveis ao tolciclato em concentrações iguais ou inferiores a 0,62ug/ml do meio, o que está em concordância com os achados de Zaror et al (1984) e de Wildfeuer & Rozman (1984). A. firrnigatus e A. flavus foram inibidos por CIM entre 0,156 a 0,62 ug/ml de meio diferindo dos achados de Gargani et al (1984) que verificaram o desenvol vimento de Aspergillus em CIA iguais ou superiores a 3,12ug.
Ao 3.° dia de incubação, 91,6% dos cultivos de C. albicans foram inibidos por concentrações de 2,5ug de tolciclato por ml de meio, mas ao 5° dia, todos os cultivos se desenvolveram em meios com concentrações até 1Oug da droga. Há sem dúvida uma discordância entre os achados, "in vitro" e o êxito clínico no uso do tolciclato e diferentes candidiases referidas por Battaglia et al (1982).
Seguindo os resultados prévios de Wildfeuer & Rozman (1984) e de Zaror et al (1984) foi tentado o emprego do tolciclato em pacientes com otomicoses, partindo do fato que esta droga nas doses empregadas, "in vitro" não possuiria nenhuma outra atividade farmacológica que não fosse sua ação antimicótica. Os resultados sobre toxicidade aguda ou crônica, organogênese e de mutagênese não evidenciaram nenhuma variação por esse fármaco (Melloni et al, 1974).
Um grupo de 8 pacientes foi tratado pelo esquema clássico, ou seja, aplicação única de solução de timerosal a 0,1%. Sete dos pacientes curaram. No segundo grupo formado por 12 pacientes (mais 1 do primeiro grupo - total 13) foi experimentado tolciclato que demonstrou eficácia em 100% dos casos, inclusive aqueles em que o agente era C. albicans.
Youssef & Abdou (1967) observaram 10% de recidivas com outros tratamentos. É nosso projeto seguir investigando sobre o emprego do tolciclato em otomicoses e investigar o seu eventual efeito sobre a membrana do tímpano, em esquemas de tratamentos prolongados. Se aos 13 casos da presente pesquisa, forem adicionados mais 9 de Valdivia - Chile (dados não publicados) teremos 22 pacientes tratados com sucesso.
Considerando os resultados apresentados, podemos afirmar que tolciclato, sem dúvida, constitui uma nova alternativa no tratamento das otomicoses.
Summary
The study of the antifungal activity of tolciclate ' `in vitro" has revealed that 100% of the cultures of A. niger, A. flavus, A. fumigatus, Aspergillus sp., P. citrinum were inhibited in equal or inferior MIC to 0,62ug/ml of medium. All the cultures of C. albicans developed in tested concentrations until 1Oug of drug.
There was complete success in the use of tolciclate in otomycoses, caused by various etiologia agents, including C. albicans.
Tolciclate represents, without doubt, a new alternrnative in the treatment of otomycoses.
Referências Bibliográficas
1. Carneri, L; Monti, G.; Castellino, S.; Meinardi, G. & Mandelli, V. Tolciclate against dermatophytes. ArzneDn-Forsch (Drug-Res) 26:769-772,1976.
2. Clunel, H. & Louria, D. Antifugal antibiotics: Mechanism of action, resistance, susceptibility testing and assays of activity in biological fluids. In: Lorian, V: Antibiotics in laboratory medecine. lst Ed. Williams and Wilkins Co. Baltimore, U.S.A., 1980.
3. Gargani, G.; Campis, E. & Zecchi, S. Activité du tolciclate sur díverses espèces de champignons. Bull. Soc. franç. Mycol. Méd. 12:247-251,1984.
4. Melloni, P.; Metelli, R.; Vechietti, V.; Logeman, V.; Castellino, S.; Monti, G. & Carneri, I. New antifungal agents. Eur. J. Med. Chem.9: 26-31, 1974.
5. Wildfeuer, A. & Rozman, T. Zür antimykotishen Wirkung von Tolciclat. Mykosen 27: 142-152,1984.
6. Youssef, Y & Abdou, M.H. Studies on the fungus infection of the external ear. II On the chemotherapy of otornycosis. J. 1.arlngo1. Otol. 81: 1005-1012, 1967.
7. Zaror, L.; Mutizabal, I. & Otth, L. Actividad in vitro de tolciclato (Tolmicén R) sobre 71 cepas de hongos aislados en Valdivia (Chile) Boi. Micol. (Chile) 1: 205-208, 1984.
Endereço para correspondência:
Dra. Olga Fischman Disciplina de Mitologia Escola Paulista de Medicina Rua Botucatu, 862 - 8° andar 04023 - São Paulo, SP.
* Parte da Tese de Doutorado de L. Zaror "Estudo mico16gico y terapéutico de Ias otomicosis" (São Paulo, Brasil). Trabalho realizado com o auxIIio financeiro do CNPq, FINEP, CAPES.
* * Disciplina de Micologia, Escola Paulista de Medicina, São Paulo, SP, Brasil
** Disciplina de Otorrinadaringologia, EPM