Versão Inglês

Ano:  1987  Vol. 53   Ed. 2  - Abril - Junho - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 54 a 55

 

Hemangioma ósseo de seio maxilar: relato de um caso

Autor(es): Cássio Caldini Crespo*
Ana Márcia Mendes Silva*
Carlos Alberto Caropreso*
Luiz Otávio Parias***

Resumo:
Os autores relatam um caso de hemangioma ósseo de seio maxilar e tecem comentário sobre a patologia e o seu diagnóstico.

Introdução

Hemangoms são melhor considerados como malformações vasculares ou hamartomas, devido a um desenvolvimento embrionário anómalo, do que verdadeiras neoplasiasl,2,6. São lesões relativamente freqüentes, com crescimento geralmente rápido e resolução vagarosa durante vários anos(7). Os hemanggomms originariamente de tecido ósseo são duas a três vezes mais freqüentes no sexo femi¬nino do que no masculino('. 7.8) e, diferentemente dos hemangiomas de tecido mole, que são mais comuns em criança, têm pico de incidência ao redor da 2á década de vida(1.3), embora Brackup et al considerem uma freqüência maior de hemangiomas dos ossos do crânio entre 31 e 40 anos e raramente antes dos 30(8).

O hemangioma originariamente de tecido ósseo é uma patologia rara, em torno de 1% dos casosi3-8,9,10), sendo que o acometimento dos seios da face apresenta freqüência de 0,1 %.

Relato de um caso

M.A.S., 20 anos de idade, sexo feminino, branca, natural de Sorocaba-SP, compareceu em consulta em 24/jun/85, queixando-se de dor suave e sensação de plenitude na face direita há 4 meses. O desconforto era contínuo, com períodos de acalmia pela manhã e piora vespertina. Projetava-se com maior intensidade sobre a região malar direita, com irradiação peri-orbitaria e frontal. Referia ausência de obstrução nasal, embora períodos de rinorréia aquosa fossem freqüentes. Nunca apresentou episódios de epistaxe.

No exame físico a inspeção da face revelou-se normal. Encontrou-se sensação dolorosa moderada à palpação do seio maxilar direito. Nas fossas nasais os cornetos encontravam-se hipertrofiados e com palidez da mucosa. O septo nasal apresentava desvio pequeno e não obstrutívo para a direita.

O exame radiográfico convencional revelou velamento total do seio maxilar direito, sem sinais de lise óssea.

A paciente foi tratada por 3 meses com o diagnóstico de sinusite maxilar crónica, sem apresentar melhoras clínicas ou radiológicas, sendo, então, submetida à sinusectomia maxilar direita.

Encontrou-se o seio maxilar preenchido por secreção muco-purulenta e por massa de tecido fibroso acastanhado, firmemente aderido à parede posterior do seio maxilar. A lâmina óssea da parede posterior estava friável, fraturando-se com facilidade. A massa foi removida em bloco juntamente com a lâmina óssea. A fossa ptérigo-maxilar, uma vez aberta, mostrava-se normal. O sangramento apresentado não foi excessiva, embora anormal.

O exame anatomopatológico diagnosticou hemangioma venoso nas estruturas ósseas da peça cirúrgica.

Discussão

Para o diagnóstico do hemangioma ósseo de seios da face, a história e o exame físico, geralmente, não trazem muitos subsídios, uma vez que o quadro clínico pode ser muito variáveli1.2>. Ao contrário do hemangioma de partes moles, esta patologia nem sempre é acompanhada de epistaxe(4).

O exame radiológico passa a ter grande importância. O RX simples pode revelar áreas radiolúcidas ou rarefeitas na estrutura óssea, assim como é possível encontrar radioopacidades, como foi apresentado no presente caso. Podem ainda ser visualizadas expansões ósseas ou estriações verticais ou trabeculado entremeado de áreas multicísticas, que correspondem à imagem decorrente de destruição óssea pela invasão tumoral 1,5. Esta característica se denomina "imagem em favo de mel ou "bolhas de sabão" e é fortemente sugestiva de hemangioma ósseo0.3.e,10). A tomografia computadorizada é de grande valia, e vem esclarecer as possíveis dúvidas, delineando o tumor e o grau de invasão(4.5). A natureza vascular pode ser melhor estudada com o CT contrastado com radioisótopos. Muitas vezes pode ser necessária a carotidografia para avaliar os vasos que contribuem para a formação do tumor(10).

Vale a pena ressaltar a importância da sinusoscopia com fibra óptica nos casos de patologia sinusal. Realizado pré-operatoriamente pode orientar melhor condutas cirúrgicas e evitar que diagnósticos como este sejam feitos apenas intra-operatoriamente, como ocorreu no caso apresentado. Sua fácil execução, aliado à possibilidade de realização de biópsias, levam-nos a ressaltar sua importância no diagnóstico de lesões suspeitas dos seios maxilares.

Summary

In this paper, the authors present one case of bone Hemangioma of maxilar sinus, and his incidence and diagnosis are discussed in actual balis.

Referências bibliográficas

1. AZAZ, B. and LUSTMANN, J.; Central Hemangioma of the Maxilla; Int. J. Oral Surg; 5:5: 240-244; 1976.

2. SINGH, J; GREWAL B. S.; SINGH, B; SAIGAL R. K.; Central Hemangioma of the Maxilla; J. Indian Medical Associatfon; 65:4;108-110;1975.

3. ALI, A. and CAMPBELL H.D.: Central Cavernous Haemangioma of an Edentulous Maxilla; Bridsh Jounal of Oral Surgery; 21:1;63-68;1983.

4. TSUTSUMIUSHI, K.; HASEGAWA, M.; OKUNO, H.; WATANABE, 1.; OKAYASU, 1.; SUZUKI, S.: Haemangioma of tltl Maxillary Sinus: Some Conunents on PreIIe Operative Diagnosis; ORL-Otorhinola yngol; 44:1:43-50; 1982.

5. FREEMAN, J. L.; SHEMEN, L. J.; AL BERTI, P. W.; HOLGATE, R.; PRIT KER, K. P. H.; NOYEK, A. M.: Ossifyin Capillary Hemangioma of the Maxill and Ethmoid Sinuses - A case report; Otolaryngol; 10:6:481-92; 1981.

6. FORDHAM, S.D.: Hemangioma of th Maxillary Sinus; Ear, rose and Thro Journa4 57:8:333-5;1978.

7. GARFINKLE, T. J. and HANDLER S. D Hemangiomas of the Head and Neck i Children - a guide to management; J. Oto laryngol, 9:5:439-50; 1980.

8. BRACKUP, A. H.; HALLER, M. L DANBER, M. M.: Hemangioma of th Bony Orbit; American J.Ophthabnolog 90:2:258-261;1980.

9. BRIDGER, M. W. M.: Haemangioma o the Nasal Bones; Journal of Laryngol a Otology; 90:2:191-200; 1976.

10. SPJUT HARLAN J.; DORFMAN HO WARD D.; FECHNER ROBERT E.; AC KERMAN LAUREN V.: Tumors and Tu mor - Like Lesions of Vascular Origi AFIP: Tumors ofBone and Cartflage; 5:325 329;1971.

11. MARTHOURET, M.; SAUCIER, T.; RA PHAEL, B.; PAQUIER D.: Hémangiom Caverneux des Os Propres du Nez: A propo de 2 Observations; AnnaLs Chir. Plast. 22:1:77-80;1977.




* Auxilar de Ensino da Disciplina de Otorrinolaringologia.
** Médica Residente de Otorrinolaringologia
*** Acadêmicos da Faculdade de Medicina de Sorocaba.
Centro de Ciências Médicas e Biológicas de Sorocaba -PUCSP.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial