Versão Inglês

Ano:  1976  Vol. 42   Ed. 3  - Setembro - Dezembro - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 223 a 227

 

QUAL É O REAL VALOR DA IMPEDANCIOMETRIA?

Autor(es): Oscar A. Q. Maudonnet*
Jorge Pascoal**

Introdução

Há dois anos, aproximadamente, introduzimos a impedanciometria na bateria de testes audiológicos da Clínica de Otorrinolaringologia do Instituto Penido Burnier em Campinas.

Chamou-nos a atenção, particularmente, casos em que o nível líquido era visível através da membrana do tímpano e casos de otosclerose com diagnóstico confirmado pelo exame radiológico, que apresentavam testes impedanciométricos normais. Esta incongruência nos levou a realizar a presente pesquisa.

Metodologia

Estudamos 234 pacientes, de ambos os sexos, cujas idades variavam de 4 a 80 anos, perfazendo um total de 436 orelhas.

Utilizando o impedanciômetro Madsen Z070, realizamos a complacência estática, a timpanometria e o estudo do reflexo estapediano, segundo o estabelecido por ALBERT l:t KRISTENSEN1 em 1970 e SHEEHY £t HUGHES5 em 1974. Utilizamos a classificação das curvas timpanométricas preconizada por JERGER2 em 1970. Os diagnósticos foram determinados e confirmados pela anamnese, otoscopia (inclusive com o espéculo de Siegle), audiometria tonal liminar e supraliminar, ducha de Politzer, punção da caixa do tímpano, estudo radiológico das mastoides e achado cirúrgico, dependendo de cada caso.


Estes diagnósticos foram confrontados com os resultados da impedanciometria, em particular, a timpanometria e o reflexo estapediano.

Resultados

Das 436 orelhas examinadas, 213 eram normais, 62 apresentavam obstrução tubaria, 96 otite serosa, 24 otosclerose e 41 tinham lesão coclear. A distribuição das freqüências das curvas timpanométricas e da presença do reflexo estapediano acham-se nos quadros de 1 a 8.



Quadro 1



Quadro 2



Quadro 3



Quadro 4



Quadro 5



Quadro 6



Quadro 7



Quadro 8



Discussão

Em 213 orelhas normais, a impedanciometria apresentou resultados normais em 198. Entretanto, em 14, houve o aparecimento de curva de rigidez (As). Em 1 caso obtivemos uma curva típica de disjunção de cadeia ou de membrana flácida, que não foi confirmada pelo exame audiométrico e pelo espéculo de Siegle.

A ausência do reflexo estapediano em 33 orelhas nos chamou particularmente a atenção, pois todos os pacientes não apresentavam lesão do órgão auditivo ou do nervo facial, como foi descrito por SWANNIE6 em 1966 e ROCK4 em 1972. Na maioria dos pacientes a ausência foi bilateral, porém em 8 ouvidos (4 pacientes) esta ausência apareceu juntamente com curva timpanométrica de rigidez (As), o que poderia indicar uma lesão de orelha média em fase de instalação.

Em orelhas com otite serosa, tivemos uma curva timpanométrica normal, e em todos, o nível líquido, visto através da membrana timpânica, não atingia a cadeia ossicular. Em 4 orelhas, a curva foi de obstrução tubária, mas, após a ducha de Politzer, notamos a presença de borbulhas, que justificou uma punção da caixa do tímpano, com saída de líquido bastante fluído. Em 1 orelha tivemos a curva de disjunção de cadeia (Ad), mas a otoscopia foi típica de otite serosa e na colocação do carretel, observamos a saída de líquido bastante espesso.

Das 11 orelhas com otite serosa em que o reflexo estapediano estava presente, em 9 o nível líquido se apresentava em posição inferior à cadeia ossicular, contrariando a opinião de ROCK.

Nos 6 casos de obstrução tubária em que a curva timpanométrica não foi congruente, o aspecto do tímpano a otoscopia nos levou a praticar a ducha de Politzer que além de normalizar a audiometria, também normalizou a timpanometria.
A presença do reflexo estapediano ocorreu desde as discretas até as grandes quedas de pressão (-400)

Nos casos de otosclerose, a curva da timpanometria normal e a presença do reflexo estapediano só ocorreu nos casos de hipoacusia discreta e moderada.

Os 41 casos com lesão coclear foram confirmados totalmente pelo reflexo estapediano, concordando com NORRIS, STELMACHOWICS & TAYLOR3 em 1974.

Conclusão

A impedanciometria é um teste de real valor, entretanto, deve ser sempre considerado como exame subsidiário, para confirmar ou não um diagnóstico clínico.

O diagnóstico de lesão coclear, pelo recrutamento objetivo, parece ser o teste com menor margem de erro.

Summary

The authors make a comparative study among the clinical diagnosis and the impedence results, showing the possibility of results do not agree with the real diagnosis.

BIBLIOGRAFIA

1. ALBERTI, P. & KRISTENSEN, R. The clinical application of impece audiometry. LARYNGOSCOPE, 80: 735-746,1970.
2. JERGER, J. Clinical experience with impedance audiometry. ARCH. OTO-LARYNG., 92: 311-324, 1970.
3. NORRIS, T. W.; STELMACHOWICS, P. G. & TAYLOR, D. J. Acoustic reflex relaxation to identify sensorineural hearing impairment. ARCH. OTO-LARYNG., 99:194-197,1974.
4. ROCK, E. H. Eletroacoustic impedance measurements in clinical otology. IMPEDANCE NEWSLETTER, 1: 1-42,1972.
5. SHEEHY, J. L. & HUGHES, R. L. The ABCX's of impedance audiometry. LARYNGOSCOPE, 84: 1935-194,1974.
6. SWANNIE, E. M. Impedance audiometry in clinical practice. PROC. ROY. SOC. MED., 59:971-974, 1966.




End. -Av. Andrade Neves, 611 13.100 - Campinas/SP

* Prof. Assistente da Fac. de Ciências Médicas- UNICAMP
** Residente (R2) de O. R. L. da Fac. Ciências Médicas- UNICAMP

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