Versão Inglês

Ano:  1952  Vol. 20   Ed. 3  - Maio - Junho - ()

Seção: Notas Clínicas

Páginas: 78 a 85

 

OSTEOMA DO SEIO MAXILAR E DO OSSO MALAR

Autor(es): FABIO BARRETO MATHEUS
JOÃO DANIEL LOPES

Os osteomas são tumores benignos de origem mesodermica. Podem ser encontrados em todos os ossos do esqueleto, sendo relativamente raros nos maxilares. Nos seios paranasais se localisam, em ordem de frequencia, primeiramente nos frontais, depois nos etmoides e a seguir nos maxilares. No maxilar a localisação pode ser central ou periferica.
Acomete mais as pessoas jovens. Alguns autores acham que constituem 50% dos tumores benignos do nariz e seios para nasais; no entanto parece-nos que esta cifra é exagerada visto como a experiencia nos mostra uma incidencia muito menor.

Childray, citado por Eggston e Wolff fazendo um estudo radiografico de 3.510 craneos, encontrou osteomas nos seios para nasais em 0,42% dos casos.

Carmody, ainda citado pelos mesmos autores considera como sendo tumores raros nessa localisação e mostra a maior frequencia nos seios frontais.

Negri e Leon fazendo revisão bibliografica até 1949, coletaram perto de 350 casos.

Ward e Hendrick em 1946 casos de tumores do maxilar tiveram 17 casos de osteomas: 4 do maxilar superior e 13 do maxilar inferior.

Do exposto pode-se concluir que a maioria dos autores obteve cifras bem inferiores áquela dos 50%.

ETIOLOGIA

As teorias, de um modo geral, podem ser reunidas em 3 grupos: Traumatica, inflamatoria e embriologica.

Para Eggston e Wolff o fator mais importante seria o traumatico, associado provavelmente a disturbios metabolicos ou nutricionais.

Rockitansky admite como originarios de restos embrionarios aberrantes e Moembius de restos periostais embrionarios.

Thoma admite como originarios do periosteo pré formado ou de celulas cartilaginosas do condro-esqueleto embrionario.

Ás vezes, na historia pregressa dos doentes, encontramos um fator traumatico, e, não raro, os seios paranasais encontram-se infestados nos casos de osteomas dessas cavidades. Isto nos faz pensar que realmente estes 2 ultimos fatores podem exercer alguma influencia no desenvolvimento tumoral.

ANATOMIA PATOLOGICA

Macroscopicamente os osteomas podem ser sesseis ou pediculados.

Quanto á sua estrutura dividem-se em:

a - compactos ou eburneos, pobres ou sem canais de Havers.
b - esponjosos, com trabeculas osseas, e ricos em canais de Havers.

As áreas vasculares neoformadas são raras mas podem existir. Algumas vezes entre o trabeculado osseo encontramos gordura.

c - Comumente o tipo encontrado é o mixto; isto é, externamente constituido por osso laminado denso e internamente por osso esponjoso.

Algumas vezes nos osteomas eburneos pediculados, o pediculo é constituido por osso esponjoso. Os osteomas podem sofrer trocas degenerativas como calcificação, necrose, degeneração cistica.

Por vezes é dificil diferenciar da exostose de origem inflamatoria.

SINTOMATOLOGIA

De inicio não dão sintomas e constituem achado radiologico. Este periodo assistomatico, chamado de latencia por alguns, é por vezes longo, visto como o crescimento é muito lento.

Numa segunda fase - fase sintomatica - aparecem os sintomas que dependem naturalmente da localisação e tamanho do osteoma.

Surgem, então, dores e quando grandes podem determinar deformação da face, invadir regiões visinhas (periodo de invasão) determinando então sintomas relacionados com a região invadida.

Nos osteomas do seio frontal podem invadir o globo ocular e o endocraneo. Nos do seio maxilar, a boca, fossas nasais e a fossa perigo maxilar.

TRATAMENTO

É sempre cirurgico. Os pequenos podem ser seccionados junto ao osso normal. Os grandes necessitam ressecções muito grandes, sendo necessarios processos plásticos ou proteticos posteriores.

Ultimamente tivemos oportunidades de verificar 2 casos de osteom em doentes do Hospital Nossa Senhora Aparecida (Serviço de ORL. chefiado pelo Dr. J. E. de Paula Assis).

OBSERVAÇÃO I

A. S. branco, brasileiro, solteiro, operario, com 29 anos e residente nesta Capital. Conta que há 5 anos vem tendo dores supra orbitarias á esquerda, e ao nivel da fossa canina desse lado. Há 2 meses essas dores pioraram, a ponto de impedi-lo De trabalhar. Obstrução e secreção nasal. Há 1 ano extraiu os dentes da arcada superior tendo se formado uma fistula ao nivel do l º pré violar superior esquerdo que dava saida de pus.

EXAME:

Boca e faringe: Ausencia de dentes na arcada superior enquanto que os da arcada inferior encontram-se em máu t estado.

Secreção catarral aderente à parede posterior da faringe.

Rinoscopia : Fossas nasais estreitas, cheias de secreção esverdeada, ressequida e fetida. Após limpeza verificamos congestão generalisada da mucosa. Dor à pressão ao nivel da fossa canina esquerda.

Wasserman - após reativação - negativa.

Radiografia das cavidades para nasaís: Velamento dos seios frontais e do maxilar esquerdo. No assoalho do seio maxilar esquerdo e fazendo corpo tambem com quasi toda a parede nasal do seio, nota-se imagem arredondada de condensação ossea. (Fig. 1 e 2).


Fig. 1



Fig. 2


Em 13-8-51 o paciente foi operado. Anestesia local. Técnica de Caldwell Luc logo ampliada para a de Denker; pois após a trepanação da parede anterior deparamos com o tumor sessil, completamente fixado na parede nasal. O seio estava cheio de substancia gelatinosa, clara, inodora.

O tumor foi retirado juntamente com a parede nasal. Apresentava forma irregular medindo 2,5 x 2 x 1,5 (fig. 3).

A peça enviada a exame anotomo-patologico mostrou tratar-se de osteoma esponjoso sem vestigios de degeneração maligna (Dr. H. Cerruti). O post operatorio decorreu normal. Foram feitas algumas lavagens e penicilinoterapia. O paciente obteve alta curado um mês após a intervenção.


Fig. 3



Fig. 4


OBSERVAÇÃO II

A. B., branca, brasileira, solteira, domestica, com 16 anos.

Conta que há 6 meses vem notando uma tumefação dura, indolor, ao nivel da proeminencia malar D. Procurou o serviço unicamente por causa da deformacão.

Ao exame constatamos:

Boca e faringe: Amigdalas com inflamação cronica.
Rinoscopia: Hipertrofia das conchas inferiores. Pela palpação nota-se tumoraçãa dura, lisa, indolor, localisada ao nivel do rebordo malar D ; e se extendendo um pouco para a parede anterior do seio maxilar.

Radiografia: Na posição mento vasa chapa nota-se hipotransparencia dos seios maxilares. O seio maxilar direito apresenta um septo transversal mediano. Do rebordo superior do malar até a porção media e externa da face anterior do seio maxilar nota-se imagem radio opaca - (Fig. 4 e 5).


Fig. 5


Indicamos a operação. Nosso intento foi o de praticarmos a incisão de Hautant; porem a paciente se recusou a permitir toda e qualquer operação que deixasse cicatriz. Contornamos a situação intervindo pela face vestibular. A exiguidade do campo operatorio nos dificultou muito a operação, porem o resultado final foi bom. Aproveitamos e trepanamos o seio maxilar, encontrando a septação mostrada na radiografia. A tumoração foi retirada com goiva e martelo em pequenos pedaços. O osso apresentava-se bastante poroso e hemorragico.

O exame histo patologico revelou osteoma esponjoso mostrando focos hemorragicos ao lado de áreas de esclerose. Ausencia de sinais de carater blastomatoso. Post operatorio - Lavagens, penicilinoterapia. Alta em boas condições quasi sem deformidade.

RESUMO

Os autores apresentam 2 casos de osteoma. Um deles, do seio maxilar direito, sessil, aderente ao assoalho e á parede nasal do seio, estando este infectado.

O outro, do osso malar se extendia até a parede anterior do antro maxilar direito, sendo este septado. Operados, os resultados foram bons. O exame histo patologico de ambos os casos revelou osteoma do tipo esponjoso, sendo que um deles apresentava focos hemorragicos e de esclerose.

Chamam a atenção para a raridade da localisação, fazendo revisão bibliografia e estudo da etiopatogenia e sintomatologia.

SUMMARY

The authors present two cases of "osteoma". One of them situated on the right maxillary sinus, was sessil, attached to the sinus floor and nasal wall ; there was also, sinus infection.

The other case was of the malar bone, spreading out as far as the maxillary antrum anterior wall. In the antrum there was some repta.

Both cases have been operated with good results.

The histopathological examination gave the diagnosis: "spongious osteoma; one of them presented haemorrhagie and sclerose spots.

The authors point, out the rarety of those localisations.

They made also a bibliograpbic revision of the subject and they study too the ethiopatogeny and sintomathology of the descase.

BIBLIOGRAFIA

1 - CUTIN MOYSÉS - Melaragno - Complicações cerebrais do osteoma frontal - Comumicação verbal na secção de ORL da APM- em 19-2-51.
2 - DUCLOS, K. - CORCUERA E. - Osteotna etmoído maxilar - Revista de ORL do Chile. Vol. V - n. 3 - Set. 1945.
3 - EGGSTON A. - WOLLF D. - Histopathology of the ear nose and throat. Baltimore, 1947.
4 - LINHARES FERNANDO - Osteoma do seio frontal E. Revista Brasil de ORL. - Vol. VIII - 1941.
5 - MATHEUS FABIO B. - BARBOSA JORGE F. - Osteoma frontal - A proposito de 5 casos - Rev. Brasil de ORL. - ns. 3 e 4 - vol. XIX - 1951.
6 - NEGRI R. L. - LEON O. - Algumas considerações sobre osteomas do seio frontal - II Congresso Pan Americano de ORL - Tomo 1 - 1950.
7 - OLIVA ROBERTO - Turvo, nasal simulando osteoma. Rev. Oto-Laringologica de S. Paulo. Vol. IV - 3.º parte - 1936.
8 - PARSELL LOUIS - Osteoma do seio frontal - Archives of Oto Laringology - Vol. XVI - Dez. 1932.
9 - RAWLINS A. J. - Osteoma of maxilary sinus - Report of a Case - Archives of Oto-Laringology - Vol. 32 - n. 3 - 1940.
10 - SAES PAULO - Osteoma do maxilar superior - Rev. Brasil. ORE. - Vol. VII - 1950.
11 - WARD GRANT - Hendrick James - Tumors of the head and neck-Baltimore - 1950.

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