Versão Inglês

Ano:  1976  Vol. 42   Ed. 2  - Maio - Agosto - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 101 a 104

 

TIMPANOMETRIA E BRUXISMO

Autor(es): * Nicanor Letti

Resumo:
Estudamos 12 casos de pacientes com bruxismo com Impedanciometria e verificamos que em 7 casos existiam alterações da curva timpanométrica quando o paciente se mantinha com a musculatura relaxada ou em bruxismo. O bruxismo na maioria dos pacientes normaliza as curvas timpanométricas anormais.

A contração espasmódica da musculatura mastigadora ocasiona o desgaste das cúspides dentárias, altera a dinâmica da mordida normal e disfunciona o mecanismo das articulações têm poro-mandibulares. Inúmeros pacientes com bruxismo queixam-se de otalgia, pressões nos ouvidos, zumbidos, perda auditiva e cefaléias. A explicação para os fenômenos otológicos que acompanham o bruxismo tem sido variada, mas não tem correspondido no sentido de instituir uma terapêutica eficaz, principalmente devido ao desconhecimento do mecanismo exato de como uma alteração da musculatura mastigatória, pela sua tensão continuada ou intermitente, possa ocasionar alterações no ouvido médio.

A presente comunicação apresenta o resultado do estudo de um grupo de pacientes portadores de bruxismo que foram estudados impedanciometricamente e procura correlacionar os dados timpanométricos com as queixas dos pacientes.

MATERIAL E MÉTODO

Estudamos 12 pacientes com idades que variaram de 19 a 38 anos, todos bruxistas há muitos anos, alguns desde a infância. Eram 7 indivíduos do sexo masculino e 5 do feminino. As queixas comuns a todos eram: sensação de pressão nos ouvidos, abertura e fechamento intermitente dos ouvidos, semelhante ao que ocorre quando subiam rapidamente uma serra: ou na ascenção dos aviões, e com os movimentos deglutitórios não abriam facilmente. Zumbidos de vários tipos que surgiam nestes momentos, dores nos ouvidos, cefaléias têmporo-parietais, perda de audição e ocasionalmente tonturas imprecisas. Após exame otorrinolaringoiógico de rotina, com microscopia da membrana timpânica, estudo de sua mobilidade com manobras de Valsalva e Toynbee, palpação e escuta das articulações têmporo-mandibulares no abrir e fechar a boca, os pacientes foram submetidos a audiometria tonal aérea e óssea com aparelho Maico MA-17 (ANSI1969) em câmara especial e exame Impedanciométrico com Madsen-ZO-72 com a seguinte técnica: 1) obtenção da curva timpanómétrica com relaxamento da musculatura mastigadora e 2) repetição da timpanometria com bruxismo forçado.

RESULTADOS

No exame otoscópico e com microscopia da membrana timpânica e pesquisa da mobilidade com as manobras clássicas de Valsalva e Toynbee somente em 1 caso havia uma excessiva movimentação da membrana que parecia uma -vela de veleiro. ao se arejar, produzindo um estalido característico ao penetrar o ar na caixa durante a deglutição. Este paciente relatava que ao contrair a musculatura mastigatória melhorava a pressão nos ouvidos. A Audiometria de todos os casos foi normal. A curva timpanométrica foi classificada segundo o critério de Jerger e col (1). No bruxismo e em atitude de relaxamento apresentaram os seguintes resultados: Em 7 pacientes (4 do sexo masculino e 3 do feminino) a complacência máxima do sistema de transmissão estava na pressão negativa quando eles permaneciam em relaxamento mastigatório e voltava ao normal no momento que entravam em bruxismo franco (Fig. nç) 1,2). Nos demais pacientes tanto em relaxamento como em bruxismo as curvas timpanométricas mantinham-se normais, isto é, com o máximo de complacência no ponto zero, portanto no equilíbrio das pressões do Impedanciômetro. A complacência estática 'não estava alterada em nenhum dos casos, o reflexo estapédico apresentava-se idiminuido em três pacientes e normais nos demais. No exame radiológico da rinofaringe somente em dois casos havia sinais radiológicos de rinofaringite com espessamento da parede posterior e da úvula, mas estes dois casos, apesar de bruxistas, não apresentavam alterações impedanciométricas.



Fig. 1 - Curvas timpanométricas de um dos pacientes em relaxamento mastigatório e a outra em bruxismo franco. A Curva A representa uma complacência normal do sistema de transmissão e o paciente estava em bruxismo, em B uma diminuição acentuada da-complacência e o paciente estava em relaxamento muscular.



Fig. 2 - Na curva A o paciente se mantinha em bruxismo franco havendo normalizado a curva timpanométrica, enquanto que em B, a complacência máxima está nos limiares pressionais negativos, mostrando uma nítida anormalidade nos mecanismos de transmissão da orelha média.



DISCUSSÃO

A disfunção das articulações têmporo-mandibulares devida aos efeitos mastigatórios, falhos dentárias e correções protéticas foram sempre consideradas as causas das artrites e otalgias ocasionadas junto a esta articulação. Não explicam entretanto, sob o ponto de vista anátomo-funcional as alterações do arejamento da caixa timpânica e de seu mecanismo de transmissão que produzem a sensação de perda auditiva e de pressão nos ouvidos.

O estudo dos casos aqui apresentados pelo registro da variabilidade da pressão sobre a orelha média através da modificação positiva e negativa junto aos mecanismos de transmissão do som, permite avaliar adequadamente se ela está alterada durante os movimentos contráteis dos bruxistas.

Vemos que em 7 casos a transmissão correta, com a devida complacência, só se realizava quando o indivíduo contraía a musculatura mastigatória, produzindo o clássico - ranger de dentes. Quando relaxava a musculatura a timpanometria mostrava o máximo de complacência do sistema de transmissão nas pressões negativas, parecendo mesmo que a atividade brúxica era para readaptar a função normal dos mecanismos da caixa timpânica, o que se constitui em fato não descrito até o momento. Tal achado e explicação só podem ser constatadas e registradas através do exame impedanciométrico.

Será que os indivíduos se tornam bruxistas no sentido de melhorar o equilíbrio dos mecanismos da caixa timpânica? Face estes resultados esta pergunta é uma hipótese viável e significativa.

A explicação mais plausível é a correlação anatômica dos feixes do pterigoídeo externo com as porções membranosas da tuba auditiva, alguns anatomistas creem em sua existência outros não a mencionam. Mas as contrações intermitentes ou espasmódicas do pterigoídeo externo teriam ação sobre o mecanismo tubário. Não cremos em mecanismos diretos da articulação tëmporo-mandibular sobre.A orelha média que não existem a não ser em fase embriológica. Este relacionamento explica a otalgia reflexa e a artrite da própria ATM, mas não as alterações timpanométricas durante o bruxismo como nos casos descritos.


SUMMARY

We studied 12 patients under treatment carriering bruxism with Impedanciometer and we faind out that were alteration of the tympanometer curve in 7 pátients when they had the muscles in relax or in bruxism. The Bruxism normalizes in most patients the abnormal tympanometer curves.


BIBLIOGRAFIA
1. Jerger, I., Diagnostic Audiometry - pg. 75-115,




ENDEREÇO DO AUTOR:
Lopo Gonçalves, 511.
90.000 - Porto Alegre - RS.

* Professor Adjunto de Otorrinolaringologia de Fac. Med. da UFRGS.

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