Versão Inglês

Ano:  1983  Vol. 49   Ed. 2  - Abril - Junho - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 37 a 41

 

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA EMERGÊNCIA DO NERVO ZIGOMATICO

Autor(es): JOÃO ADOLFO CALDAS NAVARRO 1
ANGELA HASSESSIAN 2

O nervo zigomático (zigomático-orbital, orbital) tem sido descrito como originado do tronco maxilar, ainda na fossa média (Aprile et al, 1971 e Testut & Latarjet, 1959) no canal redondo (Erhart, 1962; Toldt, 1948; Debierre, 1980), no canal redondo ou na fossa média (Rouviére, 1961), na fossa pterigopalatina (Valenti, 1912; Pitres & Testut, 1925; Falcone, 1931; Fazzari, 1949; Baptista, 1944; Orts-Llorca, 1960; Hoiünshead & Gray, 1977) e ainda, no sulco ou canal infra-orbital (Barnhill, 1940; Sobotta & Becher, 1977; Sicher & Drubul, 1977 e Gardner & Osburn, 1980).

Também não são coerentes as informações quanto à trajetória do nervo zigomáfco, desde a emergência até a sua bifurcação, chegada à glândula lacrimal e também quanto ao comportamento do nervo em relação ao periósteo orbital.

O local de emergência do nervo zigomático interessa diretamente à neutofísiología, devido á sua conexão com o gânglio pterigopalatino, do qual procedem as fibras parassimpáticas pós-ganglionares, secretomotoras para a glândula lacrimal.

Porém, tem-se observado que em neurectomias do nervo vidiano (nervo do canal pterigoideu), quando se cortam, dentre outras, as vias lacrimais, nem sempre se interrompe ou mesmo se diminui o lacrimejamento.

Não poderia esse comportamento neurofisiológico estar ligado às variações neuroanatomicas?

Diante dessas considerações, propomo-nos realizar o presente trabalho, objetivando a sistematização anatómica do nervo zigomático, em sua emergência e trajetória inicial.

MATERIAL E MÉTODO

Foram dissecadas 29 hemicabeças de indivíduos brasileiros adultos, brancos e não brancos, do sexo masculino, previamente fixadas em formol a 10% e desmineralizadas em ácido nítrico a 5%.

As mesodíssecções foram efetuadas ao microscópio OPMI-1 (ZEISS), objetiva 200 mm, com acesso pelo endocrânio, através da fossa média. Foi removida a dura-máter expondo-se o tronco maxilar do nervo trigêmio, desde o gânglio trigeminal até a sua entrada no canal redondo. Ampla ostectomia foi realizada, abrangendo grande parte da asa maior do esfenóide, desde a sua porção temporal, estendendo-se em direção medial, tangenciando a borda inferior da fissura orbital superior, mais ou menos 2 mm abaixo, descendo em direção ao canal redondo, em seu limite medial. Lateralmente ao canal, à altura do seu assoalho, a ressecção óssea continuou-se paralateral, encontrando-se com aquela iniciada na face lateral da asa. Configura-se, então, numa abertura trapezoidal de base maior superior tendo, na junção de suas paredes inferior a medial, o canal redondo com seu conteúdo (Fig. 1). Todo o tecido ósseo esponjoso dessa área foi removido, até se encontrar a parede látero-posterior da órbita representada pela compacta da grande asa do esfenóide, voltada para a cavidade orbital (Fig. 2). Removida essa parede orbital óssea, o periósteo orbital, em continuidade com o da fossa pterigopalatina e fissura orbital superior, foi exposto. A partir dessa etapa, o nervo zigomático pode ser dissecado, desde a origem até seu trajeto inicial na parede orbital.

RESULTADOS

Delimitada a área de acesso endocranial (Fig. 1), após a remoção da compacta óssea da asa maior do esfenóide, o osso esponjoso aparecia ora espesso ora bastante reduzido, devido a expansão superior da fossa pterigóide, provocada pela inserção profunda do músculo pterigóideo medial. Removido esse osso trabeculado, pode-se ver a compacta da parede látero-posterior da órbita, representada pela face anterior da asa maior do esfenóide (Fig. 2). Retirada esta parede, expõe-se o periósteo da fossa pterigopalatina, da cavidade orbital e do canal redondo (Fig. 3).



Fig. 1 - Área de acesso delimitada: M, medial; L, lateral; S, superior; I, inferior; V2, nervo maxilar; AE, asa maior do esfenóide.



De modo geral, mesmo individualizado próximo ao gânglio trigeminal, o nervo zigomático acompanhou seu tronco maxilar de origem até a abertura exocranial do canal redondo.

Em 17 casos o nervo zigomático apresentou-se único desde a sua origem, no interior do canal redondo, bifurcando-se somente ao alcançar a parede lateral da órbita; em nove casos foram observados dois ramos de origem do nervo zigomático, ainda na fossa média, anastomosando-se no interior do canal redondo; finalmente, em três casos apenas, foram encontrados dois ramos do nervo zigomático, individualizados desde a sua origem, seguindo paralelos em direção à parede orbital.

Esquematicamente, a fig. 4 mostra os tipos e quantidade de nervo zigomático encontrados.



Fig. 2 - Compacta óssea da parede lateral da órbita (C) e nervo maxilar (V2) no canal redondo.



Fig. 3 - Periósteos da parede lateral da órbita (P), da fossa pterigopalatina (F) e do canal redondo (R) expostos.



Fig. 4 - Tipos e quantidade de ramos originais do nervo zigomático: A, dois ramos que permanecem individualizados; B, dois ramos que se anastomosam no canal redondo; C, um só ramo.



Fig. 5 - Representação esquemática dos locais de origem do nervo zigomático, segundo a literatura: 1, na fossa média; 2, no canal redondo 3, na fossa pterigopalatina; 4, no sulco infra-orbital; S; no canal infra-orbital.



Mg. 6 - Nervo zigomático (ZJ originado na fossa média. l



Fig. 7 - Nervo zigomdrico originado no canal redondo.)



Os locais de origem do nervo zigomático citados na literatura estão representados na fig. 5. Segundo nossas observações, a emergência do nervo zigomático na fossa média ocorreu em 13 casos (Fig. 6), enquanto no interior do canal redondo, em 15 casos (Fig. 7) e na fossa pterigopalatina, em um caso apenas (Fig. 8). Não encontramos emergências desse nervo no sulco ou no canal infra-orbitário.

Em três casos foram encontradas no interior da fossa pterigopalatina estruturas semelhantes a fascículos musculares com pequenos tendões, configurando o chamado músculo de Müller (apud Aprile et alll ), dispostas transversalmente, em duas ou três porções, convergentes para o vértice da cavidade orbital (Fig. 9).



Fig. 8 - Nervo zigornático originado na fossa pterigopalatina.



Fig. 9 - Cavidade orbital e fossa pterigopalatina: FM, conjunto fibra-muscular (músculo de Müller?); VZ, nervo maxilar; Z, nervo zigomático; ZF, ramo zigomático facial; ZT, ramo zigomático-temporal; R, ramo do nervo maxilar.



SUMMARY

Sistematic search about the zygomatic nerve wws made in 29 Brazilian adult males, through surgical microscopic dissections (ZEISS-objective 200 mm).

In its emergence the zygomatic nerve showed one branch, two individualized branches or two convergent branches.

The emergence of the zygomatic nerve was observed in 15 cases into the round canal, in 13 cases it was originated in the median cranial fossa and in 3, finto the pterigopalatine fossa.

Muscular formations similar to those observed by Müller were found in 3 nerve dissections in the pterigopalatine fossa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. APRILE, H.; FIGUN, M.E. & GARINO, R.R. -Anatomia Odontológica Orocervicofacial, 59 Edicion, El Ateneo, Buenos Aires, p. 188, 1971.
2. BARNHILL, J.F. & MELLINGER, W.J. - Surgical Anatomy of the Head and Neck, 2nd Ed. Williams & Williams, Baltirnore, p. 362 1940.
3. DEBIERRE, C.H. - Traitè Elementaire, D'Anatomie de L'Homme, Tome Premier, Felix Alcan; Paris, p. 862-67, 1980.
4. ERHART, E.A. - Neuranatomia, 29 Ed., Atheneu Editora, São Paulo, p. 115, 1962.
5. FALCONE, C. - Trattato di Anatomia Humana, vol. 3, Francesco Vallardi, Milano, 1931.
6. FAZZARI, I. - Anatomia Sistematica Dell úomo, Societa Editrice. Libraria, Milano, p. 838, 1949.
7. GARDNER, W.O. & OSBURN, W.A. - Anatomia do Corpo Humano, 29 Ed., p. 301, 1980.
8. GRAY, H. - Anatomia, 299 Ed., Guanabara Koogan, p. 752, 1977.
9. HOLLINSHEAD, H.W. - Anatomia Humana, Tomo 2, Editorial "La Médica" S.R.L., Radi T. Radeff, Córdoba 2901, Rosário, p. 447.
10. PITRES, A.& TESTI,UT, L. - Les Nerfs en Schémas, Gaston Doin, Paris, p. 105-10, 1925.
11. ORTS-LLORCA; F. - Anatomia Humana, Tomo 2, 29 Ed., Científico-Médica, Barcelona, Madrid-Valencia, p. 331, 1960.
12. ROUVIÉRE, H. - Anatomia Humana Discriptiva y Topografica, Tomo I, Cabeza y Cuello, Boully-Boulliere, S.A. Madrid, p. 236, 1961.
13. SOBOTTA, J. & BECHER, H. - Atlas de Anatomia Humana, Guanabara Koogan, 179 Ed., p. 221, 1977.
14. SICHER, H. & DUBRUL, L. - Anatomia Bucal, 69 Ed., Guanabara Koogan, p. 370, 1977.
15. TESTUT, L. & LATARJET, A - Tratado de Anatomia Humana, Salvat Editores S.A. Barcelona - Madrid, 99 Edition, Tomo 3, p. 102.
16. TOLDT, C. - An Atlas of Human Anatomy, The Macmillan Company, New York, 2nd Edition, vol. 2, p. 862, 1948.
17. VALENTI, G. - Compêndio di Anatomia Dell úomo, vol. 2, Francisco Valardi, Milano, p. 162-3, 1912.
18. BAPTISTA, B. V. - Anatomia Humana, Tomo 2, Scientifica, Rio de Janeiro, p. 146-7, 1944.




1 - Professor Adjunto, Chefe do Departamento de Morfologia da Faculdade de Odontologia de Bauru - USP.
2 - Acadêmica da Faculdade de Odontologia de Bauru - USP

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