Versão Inglês

Ano:  1959  Vol. 27   Ed. 1  - Janeiro - Fevereiro - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 03 a 06

 

A NOMENCLATURA ANATÔMICA OFICIAL BRASILEIRA E A OTORRINOLARINGOLOGIA

Autor(es): PAULO MANGAREIRA-ALBERNAZ
Professor da Clínica Otorrinolaringologica da Escola Paulista de Medicina (S. Paulo); professor de Anatomia da Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Campinas)

A criação de uma nomenclatura anatômica universal foi logicamente, já há muitos anos, uma idéia dominante no espírito dos anatomistas. Por ocasião do Congresso de Anatomia de Basiléia, de 1895, ficou, por fim, adotada uma nomenclatura oficial em latim, que foi designada pelo nome de Basle Nomina Anotomica ou simplesmente B.N.A.. Não vingou, entretanto, senão entre os alemães e, parcialmente apenas, na França, na Inglaterra, na Itália.

Esta terminologia permaneceu inalterada até 1935. Neste ano, no Congresso da Sociedade Alemã de Anatomia, foi apresentada uma nomenclatura atualizada, em que, não só vários erros da de Basiléia vieram a ser corrigidos, como o número de designações muito aumentado. Esta foi a Janaer Nomina Anatonuca, I.N.A., que não chegou a ser universalmente adotada, em vista de ter estalado a Segunda Grande Guerra.

Terminada, esta, trataram os anatomistas de obter uma nomenclatura oficial, a ser seguida em todo o mundo, o que veio a ser, por fim, conseguindo, no Congresso Universal de Anatomia, reunido em Paris em 1955. Já então a Sociedade Brasileira de Anatomia cogitava de organizar uma nomenclatura para o nosso idioma, se possível com o apoio de Portugal. Na 2.ª Reunião da Sociedade Brasileira de Anatomia realizada em Curitiba em 1954, devia a comissão, nomeada na 1.ª Reunião (S. Paulo, 1952), e composta dos Prof. Froes da Fonseca, Renato Locchi e Paulo Mangabeira-Albernaz, apresentar um estudo preliminar neste sentido. Ausente do país o primeiro dos componentes, em missão oficial no Paraguai, coube ao terceiro apresentar um projeto à Reunião, projeto que foi aceito por unanimidade, em suas linhas gerais. Nesta época, tendo disso conhecimento, o Prof. Johnston, do Reino Unido solicitou à Sociedade Brasileira de Anatomia que aguardasse as resoluções do Congresso Internacional de Paris, a

reunir-se no ano seguinte, para adotar, não uma nomenclatura brasileira, mas a internacional adaptada à nossa língua.

O projeto de adaptação foi ainda elaborado pelo terceiro componente da Comissão, e, uma vez terminado, reuniu-se esta por várias vêzes, para estudo em conjunto. Após êste terminado, foi o projeto enviado a tôdas as cátedras de anatomia do país, com prazo longo e determinado para serem enviadas à secretaria da Sociedade tôdas as sugestões que parecessem justas. Apenas duas ou três cátedras o fizeram.

Reunida em Pôrto-Alegre a 4.ª Reunião da Sociedade Brasileira de Anatomia, foi a nomenclatura brasileira aprovada unânimemente, e, desde o dia 31 de outubro ele 1958, possuímos enfim, uma nomenclatura anatômica brasileira oficial, baseada na internacional, era latim.

O critério adotado em Curitiba foi o de fazer a adaptação da nomenclatura portuguêsa, isto é, da língua portuguêsa, o mais próximo possível da latina. Assim, uma vez publicada a nomenclatura internacional, em latim, do Congresso de Paris, o que tivemos de fazer foi adaptá-la à lingua portuguêsa. Não vamos discutir o critério, a meu ver errado, de ser adotada, por base, em Paris, a B. N. A. de 1895, em vez da I. N. A. de 1935. Nem cabe aqui criticar a orientação dos ingleses, desprezando sistemáticamente a nomenclatura alterada e correta pelo Prof. Stieve, de Berlim, que é a mais acertada. Isto será discutido em outros congressos internacionais, e apenas representa parte do problema. O essencial era a adoção de uma nomenclatura internacional, e isso foi conseguido. Da mesma sorte, a nomenclatura em língua portuguêsa poderá ser alterada aqui ou acolá, uma vez que nas reuniões futuras da Sociedade Brasileira de Anatomia continua a existir a secção de Nomenclatura Anatômica, como secção permanente.

A Nomenclatura Anatômica Internacional veio alterar fundamente a nomenclatura usual entre nós, e a Nomenclatura Oficial Brasileira teve de acompanhá-la. No âmbito otorrinolaringológico há alterações fundamentais que merecem ser postas em evidência. Comecemos pelo aparelho auditivo. Êste será orelha, não ouvido: orelha externa, média e interna. Os adjetivos serão aural, intraural. (não endo-aural ou endaural), e não auricular, etc. Auricular significa tão somente relativo ao pavilhão da orelha (ou relativo a aurícula - cavidade cardíaca).

O pavilhão apresenta o orifício ou óstio do dueto aural. Êste orifício tem o nome de pórus na nomenclatura internacional, de sorte que será porus ou póro, na brasileira. Como ficou assentado na internacional, há formas optativas, e assim poderemos dizer pórus, como poro.

Pessoalmente, prefiro pórus deixando poro para os forames da cútis. O póros não é auditivo, mas acústico (acusticus na P. N. A.). Diremos, pois, póros acústico externo, em vez de orifício auditivo externo ou meato auditivo externo. Quanto ao ducto, designado até agora por cônduto auditivo externo, passa a ser meato acústico externo (meatus acusticus externos da P. N. A.).

A caixa do tímpano terá o nome de cavidade do tímpano com uma parede tegmentar, o recesso epitimpânico (e não ótico), a parede jugular, a parede labiríntica, a parede mastoídea, etc. A janela oval passa a ser janela do vestíbulo, como a redonda será janela da cóclea. Os ossos terão a designação geral de ossículos (e não ossinhos).

O nervo acústico ou ótico (não confundir com óptico!) passa a ser estato-acústico.

O labirinto membranoso passará a ser labirinto membranáceo.

Continua a designação canais semicirculares mas sórnente para os canais ósseos; os membranáceos serão ductos: dueto semicircular externo. A confusa terminologia canal horizontal, canal lateral, canal vertical anterior, etc., etc., é substituída por: 1)canal semicircular externo; 2) c. semicircular anterior; 3) c. semicircular posterior.

As saliências ósseas que sempre designamos por apófises, passarão a ser processos: processo mastóide, processo estilóide, processo jugular, etc.

Os adjetivos substantivados mastóide, estilóide, etc. terão como adjetivos niastoideo, estiloideo, etc. antro mastoídeo, músculos estiloídeos, espaço retro-estiloídeo, etc.

O chamado aqueduto de Falópio ou do facial tomou o nome de canal do facial. Na nomenclatura de Paris ficou definitivamente afastada a designação eponrnica isto é, por nomes próprios:
fóssula de Rosenmüller, amígdala de Luschka, aqueduto de Falópio, etc.

A trompa passa a ser tuba, e o adjetivo, tubal: óstio tubal.

O rochedo ou pirâmide do temporal terá apenas o nome de parte petrosa. A fóssula do gânglio de Gasser será designada por impressão do trigêmeo, e êste gânglio passará a ser designado por gânglio semilunar.

Passemos às fossas nasais. As saliências entre os meatos terão nome de conchas (abolidos corneto, turbinado, cartucho), de acôrdo com a P.N.A. (conchae nasales).

Quanto ao pescoço, as glândulas submaxilares passam a ser submandibulares, e tudo que se reportar ao outrora chamado maxilar inferior será mandibular. Cabe aqui pôr em evidência que o têrmo gânglio fica destinado única e exclusivamente às formações de natureza nervosa. As linfáticas (que alguns erradamente chamam linfóides) tomaram o nome de linfonodos ou linfonódios: os linfonódios cervicais, jugulares, retro-auriculares, etc. etc.

Na mandíbula, a espinha, o forame, a protuberância serão mentais (mentalis na P. N. A.) e não mentonianas, mentoneiras, etc.

Os chamados pilar anterior e pilar posterior do véu palatino são designados por arco palatoglosso e arco palatofaríngico, respectivamente. As amígdalas terão preferentemente a designação de tonsilas. A palatina ocupa uma cavidade conhecida pelo nome de fossa ou loja da amígdala que passará a chamar-se sinus ou seio tonsilar. Os duetos manterão o nome de criptas (e não lacunas).

O véu será palatino e não véu do paladar. Há o palato (paláto e não pálato!) mole e o palato duro.

O cavum ou alto da rinofaringe será o fórnix ou a abóbada faríngica. A chamada fóssula de Rosenmülller passa a ser recesso faríngico.

Na parte da faringe bucal, o seio piriforme terá o nome de recesso piriforme.

Inúmera outras modificações muito menos importantes podem ser encontradas ao consultar-se o glossário, a ser editado, dentro de pouco tempo, pela Sociedade Brasileira de Anatomia com o título "Nomenclatura Anatômica Oficial Brasileira", a ser seguida nos trabalhos científicos publicados em nosso meio.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial