Versão Inglês

Ano:  1940  Vol. 8   Ed. 6  - Novembro - Dezembro - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 441 a 456

 

A JOÃO MARINHO

Autor(es): FRANCISCO EIRAS (*)

1.ª TESE - AS SINUSITES SÃO CURAVEIS PELA FISIOTERAPIA
(Notas Clinicas)

2.ª TESE - DEMONSTRAÇÃO ESQUEMATICA DA DISSOCIAÇÃO VAGO-ESPINHAL
(Notas Teoricas: de aula)


1.° Tema: clinico. As sinusites são curáveis pela fisioterapia. E são mesmo. Já tratei disto num artiguete que publiquei na conceituada Revista Medicina-Cirurgia-Farmacia, em 1935. Desejo, sem maior novidade, reforçar tudo que disse, com o aproveitamento de mais cinco anos de praticagem. João Marinho é o conhecido chefe-fundador de uma das mais acreditadas escolas sul-americanas da cirurgia especializada e os que se fizeram nela são dos mais? eminentes especialistas brasileiros.

Pois foi João Marinho que, neste ano de 1940, me sugeriu enviar para o brilhante Congresso de Oto-rino-laringologia de Buenos Aires um trabalho sobre sinusites e o seu tratamento fisioterápico. Obedeço, pois, a uma intimação dele proprio. Estou que lhe serei agradavel depois do seu merecido sucesso da esplendida contribuição ao referido Congresso com a volumosa monografia "Sinusite fronto-etmoidal e o seu tratamento" em contrastar com uma atrevida e modesta referencia a uma terapeutica nova e já tão conhecida a fazer evidenciar o seu aforismos: "Nihil est novurn sub sole" - companheira e auxiliar da sua predileta cirurgia da qual acaba. de provar preciosa e longa experiencia.

O segundo tema sobre a dissociação do vago e do espinhal contem uma dupla homenagem. A primeira, uma recordação da sala bucólica em que nos revesavamos no ensino da cadeira. Foi lá sub tégmina fagi que sombreava a luz que vinha das melancólicas janelas que se estabeleceu pomposamente a Clinica Oficial da Especialidade em começos do século e que foi sagrada e consagrada pelos dois mestres ilustres Hilário de Gouvêa e João Marinho. Depois, a meu pedido, me entregaram a preciosa Clinica, trabalhando entre os meus alunos - mas na nulidade professoral do substituto - jóia de pobre que tanto estimei.

O segundo tema - a exposição dos sindromos bulbo-medulares - ainda se reporta a sindromo de Jackson cujo doente pretexto para João Marinho andar relecionando ilustradamente - foi apresentado às sociedades sábias e aos seus alunos.

1.° TEMA: pratico - (Notas de Clinica).

Sinusites tratadas pela diatermia e raios infra-vermelhos das Tampadas luminosas de forte potencial - de 500 a 1.000 Watts - com filtro azul.

Foveau de Courmelles e Risler demonstraram - escrevia eu - que os raios infra-vermelhos têm uma penetração de cinco centímetros nos tecidos organicos. E' util compreender que a qualidade da lampada tem importancia capital. As lâmpadas obscuras, as lâmpadas de pequeno potencial, as de 600 velas - modelos de mesa não servem quasi porque de poder terapeutico pouco profundo desiludem os doentes que não podem usufruir a intensidade curativa das grandes lâmpadas luminosas. E as infecções agudas precisam de grande potencial luminoso que se transforma em calor penetrante dentro dos seios fronto-maxilares. Este aviso é básico do metodo. E mais o tempo da aplicação e a repetição dos efeitos actinicos. São fatores indispensaveis do metodo sine qua non. Posso, honestamente, afirmar que doente disciplinado de sinusite aguda nunca tive sem cura-lo completamente. Os casos cronicos demandam maior cuidado e prognostico de cura notavel ao lado de outros que deixam a desejar.

A diatermia medica alem da ação fortemente descongestionante, possue uma outra ação que é a hipotensiva, beneficiando imediatamente as sinusites agudas que costumam incomodar pelo vacuo que se forma na cavidade dos antros fechados pela tumefação da mucosa infiltrada dos orifícios respectivos. E a enorme pressão que acompanha as dôres sinusais dos empiémas decai sobrevindo grande alivio. Contudo, preciso é previnir-se contra o possivel aumento da dôr durante pequeno espaço de tempo, em raros casos, logo após a aplicação, devido justamente ao extraordinario poder calorífico trazendo o afluxo de sangue beneficiador. A grande regra, porem, é a anestesia da ação poderosamente analgésica da alta frequencia, um dos melhores anestesicos locaes na opinião de Berndt e Preyss. Roucayrol demonstrou a esterilidade das placas de Petri sujas de pús, uma vez feita a passagem das ondas diatérmicas. Reforçando tudo isso, aprecia-se o efeito expulsivo de micróbios das profundezas das mucosas e fundos de saco glandulares. O poder bactericida, especie de mecanismo dos eletro coloidais, é local e geral verdadeira descarga eliminatória a constatar-se pelo exame de urina. Resumindo o efeito fisiologico de uma corrente diatermica na sinusite, notamos a descongestão dos tecidos, a hipotensão das cavidades tensas pela inflamação, a analgesia sobre os nervos irritados, a ação bactericida sobre as colônias microbianas e sedação sobre o sistema nervoso do doente que logo se anima, dorme e se alimenta. D'Arsonval escreveu textualmente: "fiquei espantado (frappé) com os resultados terapeuticos obtidos em oto-rino-laringologia - região composta de orgãos sensoriais ricamente inervada pelo simpatico ... terreno de eleição de aplicações da alta frequencia em particular e dos agentes fisicos em geral". Entretanto, é indispensabilissimo estabelecer o axioma de Bucky: "... se Ben que seja necessaria a base diagnostica e anatomica da afecção em tratamento fisioterápico (o que quer dizer - digo eu - que cada especialista só se deve manter dentro dos limites da sua especialidade onde bem conhece) os eletrodos mal aplicados não podem dar efeitos senão mãos e tem-me acontecido (diz Bucky - e a mim tambem digo eu) curar em poucas sessões, doentes que estavam desanimados desse tratamento entregues a mãos ignorantes de onde provinham os resultados ineficazes que sómente podiam aparecer". Buscarei nas minhas fichas as mais convincentes rabiscando leve silhueta do caso clinico. Ao envéz de longa exposição darei autenticidade ao resultado. O quadro sintomatico é o mesmo, o mesmo tambem o tratamento, variando a tecnica das aplicações em cada caso, mas considerados em conjunto - todos eles são a repetição um dos outros. O efeito do calor desenvolvido pelos raios infra-vermelhos somado à ação térmica da diatermia (não falo em ondas curtas) é surpreendente até mesmo nos abcessos dentários, nas dacriocistes e estados inflamatorios agudos que ficam na visinhança dos orgãos da Oto-rino e por isso mesmo tiram essas afecções resultados magníficos de aplicações que foram indicadas para outras. Para os casos, porem, que ficam fóra do meu âmbito quotidiano de conhecimentos especialisados não devo opinar pelas razões expostas acima.

São as considerações que venho aqui fazendo uma síntese do que escrevi na Revista citada em começo - tendo querido dessa forma confirmar as minhas primeiras palavras de que apenas preciso amplia-Ias. Para isso apresentarei em proveito delas o que observei no decurso diário de mais cinco anos de faina no tratamento fisioterápico de sinusites agudas e cronicas.

OBSERVAÇÕES

TODAS INÉDITAS

Observação n.° 1 - Jonas D. de Souza, matricula n.° 3.145, livro 13. Entrada em 1-4-936.

Pan-sinusite direita. Nevralgias supra-orbitarias: corrimento profuso: 9 lenços por dia. Fôra operado três vezes. Duas em uma clinica do Rio pelo seu eminente chefe. Duas intervenções no maxilar, duas no frontal, esta ultima deixou, por perda da parede inferior do frontal, uma fistula aberta sob os tegumentos da orbita. Comprimindo a região o piás descia pela fossa nasal. Fôra operado a terceira vez no Ceará. Veiu do sertão a mim indicado pelo Dr. Deuadedit de Vasconcellos, antigo discípulo (disse-me ele) que lá clinicava. Submetido ao tratamento fisioterápico, em tempo Record de dois mezes incompletos, a supuração havia cessado - as nevralgias tambem. Neguei a alta achando muito rapida a cura. Trouxesse, porem, radiografia convincente e retirou-se. Nunca mais o vi. Ha quatro anos.

Observação n.° 2. - Mme. M. A., matricula n.° 3.055, livro 13. Entrada em 23-7-935.

Sinusite fronto-maxilar cronica com pequenos surtos: nevralgias da face direita, testa e cabeça. Polipos nasaes da fossa direita. Supuração de fistula dentaria nos incisivos direitos. Apresentada pelo ilustre colega Dr. Lourenço da Cunha Filho. Institui primeiramente o tratamento das sinusites em crise aguda. Logo após extrai os polipos, em sessões rapidas, por se tratar de senhora de temperamento emotivo em idade da menopausa. Aconselhei, então, que cuidasse dos dentes como sequência indispensavel. A doente quando se retirou nada mais tinha quanto à sua sinusite dupla. Não a vi mais. Ha cinco anos.

Observação n.° 3. - Senhorita Diva D. A. (14 anos), matricula 3.480, livro 16. Entrada em 1-2-938.

Sinusite etmoido-Pronto-maxilar-direita, ha dois anos. Supurada. Cefaléa frequente. Polipos nasaes pequeninos. já operada dos maiores. Cacosmia. Temperamento sensivel. Corrimento suficiente para ser visto sempre no meato médio. Caso instrutivo. A doente deve à sua Constancia a cura. Ao fim de dez mezes com interrupções frequentes e prolongadas, mas sempre voltando às aplicações fisioterápicas obteve a cura da sinusite e a dos polipos. Penso que o ilustre colega Dr. Cruz Lima poderá confirmar o que assevero acima.

Observação n.° 4. - Mme. Esther P., matricula 3.819, livro 19. Entrada em 29-7-940.

Sinusite catarral aguda post gripal e febre alta. Dôres frontaes violentas. Meato médio quasi seco. A doente é a segunda vez que procura a Clinica. A primeira vez viéra a conselho do ilustre colega professor Aloysio de Castro (disse-me ela) com rebelde nevralgia facial por nevrite do trigêmio tendo-se retirado algum tempo depois completamente curada ha quatro anos. Desta vez, porem, a cura foi rapida porque a sinusite ligeira cedeu à diatermia e à lampada de infra-vermelhos.

Comentario: As quatro observações oferecem ao estudo o seguinte: o tempo de cura entre a primeira e a terceira foi reação individual porquanto era de prever que o resultado fosse mais rapido justamente na terceira com supuração muito menor. O segundo caso mostra a diferença radical entre o tratamento cirurgico e o fisioterápico na operação imediata dos polipos para fazer a sinusite após. Na fisioterapia, troca-se a ordem dos fatores e como sempre não altera o produto. A cura da sinusite, a dos polipos e o tratamento dos dentes, por fim. A 4.ª observação mostra a repetição da nevralgia do segundo ramo do trigêmio curada pela fisioterapia após varios outros metodos - parecendo, pela violência das dôres, surgir no nervo oftálmico de Willís e de origem gripal. Curada igualmente. A 1.ª observação é muito interessante pela rapidez da cura em sinusite cronica - o que é raro.

Observação n.° 5.- Mme. Maria H., matricula 3.741 , livro 18. Entrada em 22-11-939.

Enviada pelo ilustre colega Dr. Carneiro de Mendonça, com forte coriza já em fase decrescente. O estado catarral da mucosa do nariz espalhado por toda a superficie da pituitaria justifica diagnostico de pansinusite catarral sub-aguda post-gripal. Dôres fortes superciliares e na região malar. O tratamento é iniciado pela diatermia fronto-maxilar e sobre o dorso nasal e lampada luminosa de 2.000 velas. Começa logo a dar resultado bom, como sempre. E a cura se obteve em dúzias de aplicações continuadas por dias sucessivos para confirma-la, não abandonando logo às primeiras melhoras francas.

Observação n.° 6. - Thales C. C., matricula 3.772, livro 18. Entrada em 28-2-940.

Sinusite frontal aguda, seca, de vácuo. Não é propriamente um empiema fechado. Não ha pús nem mesmo catarro. Ha absorpção da secreção normal dentro dos antros fronteais retida pela inchação inflamatoria da mucosa do infundibulum nasal, forma-se o vacuo no interior sinusial. D'ai as dôres violentas paroxisticas. Quando diminue o edema, o ar penetra, equilibra a pressão, as dôres cessam, de momento. O doente apresentava ainda rinite sub-aguda hipertrofica em surto. Rapidamente, tudo cedeu, como de costume, porque a diatermia é remédio soberano para as sinusites de vácuo.

Observação n.° 7. - Hildemar F. C., matricula 3.774, livro 19. Entrada em 6-3-940.

Sinusite seca sub-aguda frontal. O mesmo processo que o caso acima citado. E o mesmo resultado satisfatório se deu. Não tão rapido porque o doente estava ha bastante tempo sofredor, nos limites do estado cronico. Cura.

Observação n.° 8. - Senhorita Zélia D. A., matricula 3.794, livro 19. Entrada 16-5-940.

Irmão da doente da observação n.° 3, por isso chega apavorada de que pudesse estar da mesma forma. Felizmente, porem, é uma pan-sinusite catarral aguda e coriza que duram ha quinze dias prontamente debelados.

Observação n.° 9. - Guilherme M., matricula 3.749, livro 18. Entrada em 16-11-939.

Sinusite maxilar cronica, em surto. Nevralgias faciaes sobretudo pela manhã. Corrimento discreto mas franco com meato medio cheio de pús ao exame. Doente muito apreensivo porquanto já fôra operado uma vez quando muito sofreu sem resultado. O tratamento foi metodisado auxiliado por vacinas anti-piogenas e injeções de bismuto e vitaminas, não por haver idéa de sifilis, mas por velho habito meu acreditando que, muitas vezes, as infecções das sinusites são de natureza dos spirochetas do tartaro dentário que contamina o fundo da garganta e o mecanismo se dá por passagem para o naso-faringe e fossa nasal. E a pratica me tem dado otimo resultado. O doente suportou bem as aplicações continuadas que são tão necessarias quando ha fungosidades dentro do antro que precisam de tempo para sarar. Por isso mesmo acha-se ele curado desde Março quando foi consolidar a cura no interior. Para autenticar a observação como procuro fazer sempre, devo dizer que é conhecido industrial da nossa Praça onde possue fabrica de ladrilhos e me foi recomendado pelo ilustre advogado e prezado amigo Dr. Hugo Dunshee de Abranches grande apreciador do metodo que emprégo, pelo que tem visto.

Observação n.° 10. - Mauricio M. L. A., matricula 3.672, livro 17. Entrada em 17-5-939.

O doente chega com uma carta de recomendação ainda do Dr. Carneiro de Mendonça que tem pela fisioterapia o entusiasmo de quem com a sua observação apurada conhece as curas de varios casos. Sinusite aguda gripal. Dôres fortes na nuca e testa. Tosse convulsa, à noite. Tratamento rapido. Sessões de lampada e diatermia duas vezes diarias para mais rapida cura.

Observação n.° 11. - Mme. Ida S. A., matricula 3.688, livro 17. Entrada em 26-6-939.

Procura a Clinica aconselhada pelo ilustre colega Dr. Renato de Andrade. Traz uma sinusite fronto-maxilar aguda direita. Rinite hipertrofica cronica em surto. Submetida ao tratamento costumeiro em pouco tempo retira-se perfeitamente bem das dôres e da antrite de todo curadas.

Observação n.° 12. - Mme. G. C., matricula 3.691, livro 17. Entrada em 29-6-939.

Sinusite aguda fronto-maxilar direita. Tosse gripal. Tratamento duas vezes pela manhã e à noite. Otimo nos fortes estados agudos. Cura rapida.

Observação n.° 13. - D. I. B., matricula 3.695, livro 18. Entrada em 4-7-939.

O ilustre colega Dr. Gastão Sampaio traz a doente. Trata-se de uma sinusite aguda fronto-maxilar esquerda de forte intensidade. Febre alta e dôres violentissimas sobretudo pela manhã. Estado geral máu, abatido. O tratamento habitual, feito disciplinarmente, resolve com rapidez esses cavos agudos. Foi o que se deu.

Observação n.° 14. - Mme. S. S., matricula 3.799, livro 19. Entrada em 28-5-940.

Sinusite sêca frontal cronica. Sem secreção, com meato médio limpo. Radiografia com opacidade. O cortejo de dôres estende-se pela região parietal e maxilar de ambos os lados. Doente abatida por sofrer, ha muito, desse estado nevrálgico após tentativa de varias medicações. Com a metodisação, as melhoras se acentuaram até à cura. Essa observação foi acompanhada de perto pelo erudito professor de Higiene da escola de enfermeiras D. Ana Nery, o ilustre colega Dr. Francisco Sampaio.

Dois casos de sinusite cronica. Doentes impacientes: insucesso.

Observação n.° 15. - Dr. R. Ben., matricula 3.159, livro 13. Entrada em 14-4-936.

Sinusite frontal sêca porquanto nunca houvera secreção sensivel. Fôra operado de uma antrite de Highmore. Entretanto, uma rinite catarral cronica fazia-o gastar um lenço por dia. A transiluminação dos seios frontais mostrava bôa transparência. O que o torturava eram as dôres supra-orbitarias bem localisadas dentro das cavidades e somente matutinas. Homem forte e de bôa saude, engenheiro. Doente disciplinado de começo, impaciente logo após, descrente de terapeuticas, retirou-se com pequenas melhoras para aumentar o numero dos descontentes.

Observação n.° 16. - Milt. Rm., matricula 3.165, livro 13. Entrada em 23-4-936.

Sinusite cronica supurada. De ambas as fossas nasaes corria pús em abundancia. Dificil era dizer, mesmo com a radiografia, qual o seio que não supurava, ha muito. Apesar de tratamento durante algum tempo poucas foram as melhoras e o doente em vez de persistir, retirou-se impaciente e aborrecido para aumentar tambem o grupo dos derrotistas dos metodos novos.

Observação n.° 17. - Cadete J. M. Rom., matricula 3.156, livro 13. Entrada em 11-4-936.

Sinusite sêca. Nevralgias frontaes e parietais mas periodicas, aumentadas quando fazia exercicios militares violentos. Operado de palatinas mas com tecido fibroso na parede posterior do faringe. Muito disciplinado ao tratamento. Retira-se logo após sensiveis melhoras, considerando-se bom.

Oito casos de sinusites agudas: oito curas rápidas.

Observação n.° 18. - Dr. Costa P., matricula 3.122, livro 13. Entrada em 31-1-936.

Das mais dignas de conhecimento. Mostra o valôr fisioterápico. O doente chega em periodo crescente de sinusite aguda generalisada, dôres violentas fronto-parietais. Febre 40°. Dócil às aplicações que, às vezes, tinha de interromper para entregar-se à crise de vomitos. Mesmo assim não desanima. E' preciso haver da parte do medico confiança absoluta no método para incentivar o doente ao resultado final. Dois dias depois está melhor. 15 dias mais tarde teve alta. Trata-se de um dos nossos mais afamados arquitetos com a suficiente energia de homem culto para ter controlado a cura.

Observação n.° 19. - Paulo Cr., matricula 2.996, livro 13. Entrada em 27-3-935.

A mais convincente que possuo. Interessante os detalhes clinico sociais. Sinusite frontal agudíssima, dupla. Dôres violentas. Febre alta. Acamado ha quatro dias. O doente, ator querido dos nossos teatros, havia contraido a infecção dos seios frontaes desde domingo. Quando me chamou a domicilio, tudo estava em preparo para removê-lo para Casa de Saude, onde ia ser operado de urgência por especialista, numa indicação segura e feliz. Era 4.ª feira às dez horas da manhã. O doente tinha de entrar em cena na noite seguinte da 5.ª feira para a inauguração de uma das salas mais queridas de espetáculo da platéia carioca: o Rival. Sem nada lhe prometer porque não se póde em medicina lidar com matematica, submeti-o à diatermia e à lampada, quatro vezes, sessões demoradas, naquelas trinta e quatro horas. E às 8 horas da noite da 5.ª feira estava pronto para representar o seu papel na peça de estréia, na noite da inauguração. Devo dizer, no entanto, que a Empresa desde a vespera havia contratado um substituto, caso de não comparecimento. Preciso notificar este detalhe para que não haja desmentido. A fisioterapia cumpriu a sua esplendida performance. Conto o caso fielmente para provar quarto nos póde salvar de uma situação urgente, os recursos fisioterápicos e insisto nos detalhes para autenticar a veracidade do caso. Os curativos foram, após, continuados até à cura completa. Ha cinco anos.

Observação n.° 20. - Dr. Eduardo de V., matricula 3.698, livro 18. Entrada em 12-7-939.

Caso simples. Cura rapida. Sinusite maxilar dentigena agravada por coriza agudo. O doente, distinto engenheiro arquiteto, me procura debaixo de grande agitação provocada por dôres violentas. Aplicações metodizadas, duas vezes, ao dia. Em poucas sessões a cura.

Observação n.° 21. - Fernando de F., matricula 3.729, livro 18. Entrada em 14-9-939.

O doente funcionario do D. N. do Café chega em estado agudo de sinusite fronto-maxilar direita com fortes dôres oculares e nevralgias faciais matutinas. E' recomendado do seu colega Sr. Aristides Dias Fernandes. Fisioterapia. Cura. .

Observação n.° 22. - Mme. Ch. H., matricula 3.658, livro 17. Entrada em 17-4-959.

Sinusite frontal aguda de pequena violenta. Dôres habituaes na fronte e região parietal direita. Recomendação do ilustre colega Dr. Carneiro de Mendonça. Fisioterapia do costume. Cura rapida.

Observação n.° 23. - Mme.. Ida R., matricula 3.667, livro 17. Entrada em 10-5-939.

Sinusite fronto-maxilar direita, discreta na opacidade radiografica - mas não na forte nevralgia prolongando-se para a região mastoidéa direita desde a região supra orbitária. A mastoide, nada tinha. Dôres insuportáveis. Muito abatida por gripe recente. Pedi hemograma que pouca coisa revelou. Submetida ao tratamento prontamente sarou. Indicação do conhecido e emerito colega da Saude Publica, Dr. Oliveira Borges.

Observação n.° 24. - Menina Emiz Az., 14 anos, matricula 3.671, livro 17. Entrada em 17-5-939.

Sinusites post-gripaes. Nevralgia frontal direita. Otite média catarral aguda. Febre. Fisioterapia. Cura.

Observação n.° 25. - Senhorita Aida F., matricula 3.801, livro 19. Entrada em 30-5-940.

Sinusite catarral aguda fronto-maxilar. E mais obstrução nasal respiratoria, ha quinze dias, de rinite aguda hipertrofica. Caso simples. Cura completa em 15 dias.

Comentarios: Deve-se atender, neste ultimo caso, à rapidez com que a fisioterapia póde resolver, muitas vezes, o difícil problema da obstrução nasal quando não existe polipos, por exemplo.

Essas ultimas observações foram postas em serie para a nitida comprovação da cura rapida das sinusites agudas, sendo as de nºs. 18 e 19 dois casos que sem a fisioterapia, só a operação resolveria.

Observação n.° 26. - D. Onésia de S., matricula 3.721, livro 18. Entrada em 12-9-939.

Sinusite frontal direita e das celulas etmoidais anteriores, dupla, ha um mez. Nevralgias do trigemio nos seus ramos maxilar superior e no oftalmico de Willis. Aplicações fisioterapicas. Dois mezes de tratamento inclusive das palatinas que estavam tóxicas, com massas. Cura.

Observação n.° 27. - Mme. E. Br., matricula 3.619, livro 17. Entrada em 9-12-938.

Sinusite maxilar direita dentigena. Depois da extração do grosso mollar superior o alveolo não mais fechou, constituindo uma grande brecha por onde o pús continuamente saía. Era preciso ter uma rolha de algodão bem apertada para evitar o escoamento na boca. Tornou-se necessario um tratamento prolongado e muito meticuloso para se conseguir a cura após tres mezes. Assim mesmo o alveolo fechou completamente, o meato médio secou, entretanto, tenho a impressão de que a mucosa do antro por sua conta ainda deveria supurar em quantidade minima. A doente, porem, convencida da cura, retirou-se. Não mais tive noticias.

Observação n.° 28. - Mme. L. M., matricula 3.667, livro 17. Entrada em 10-5-939.

Doente excessivamente sensivel. Resfriados frequentes. Naso-faringite cronica com secreção pegajosa d'onde pigarro persistente no conhecido circulo vicioso: quanto mais secreção mais raspa a garganta que mais se irrita e segrega. Tem uma sinusite sphenoidal direita cronica, causa do seu mal, cuja secreção pequena desce grudada à parede posterior do faringe. Tratamento geral em relação à sua idade em época de climatério. A fisioterapia foi seguida com muita Constancia. Sentindo-se quasi bôa foi por mim enviada a convalescer em estação de repouso. Voltou em magnificas condições geraes e mesmo locais mas com o vicio de pigarrear talvez por não ter ainda obtido a cura da sinusite. Esta observação é conhecida pelo ilustre colega da Saude Publica o Dr. Bernardino Maia.

Observação n.° 29. - V. Alves, matricula 3.828, livro 19. Entrada em 14-8-940.

Caso recente. Secreção abundante de ambas as fossas nasaes com polipos grandes. Facil é compreender a obstrução respiratoria. Comecei as aplicações para sanear o meio e operar os polipos. A obstrução nasal melhorou consideravelmente, a supuração cessou. Quando ia operar cirurgicamente os polipos, uma infecção nasal com febre, coriza e cortejo fez, logicamente, voltar a obstrução. Preciso era, então, voltar ao tratamento diatermico e à lampada para curar o estado agudo. Isso era facil. Mas, o que é dificil é convencer ao doente que a culpa não é do especialista se contrae nova gripe e coriza e suas consequencia...

Observação n.° 30. - General H. B., matricula 3.829, livro 19. Entrada em 21.8-40.

Trata-se de eminente oficial do nosso exercito onde pelas suas comissões elevadas pouco tempo tem para as aplicações fisioterapicas. Assim mesmo, fazendo tratamento metodizado com interrupções obrigatórias conseguiu restabelecer-se da sua sinusite fronto-maxilar sub-aguda supurada, curando tambem, as nevralgias faciais e fazer desaparecer do meato médio a secreção que se estendendo pela mucosa nasal o incomodava bastante.

Inutil é continuar a serie monótona de sinusites e tratamentos identicos. Facil é a repetição da infecção nas mesmas cavidades ou continuas. A consequencia clinico-social é termos o doente a se queixar, em outro consultorio, da fisioterapia ou da operação. Tenho imenso prazer em mostrar a colegas credenciados na bôa fé, as fichas dos meus doentes, onde não ha segredo profissional. Por isso, as observações são, às vezes, indiscretas em tema novo para leitura de incrédulos. A fisioterapia bem aplicada resolve satisfatoriamente o problema terapeutico. Nas sinusites agudas de um modo completo: a cura é simples questão de disciplina.
Nas sinusites cronicas, às vezes, cura com surpresa até do medico. Em outros porem, até a cirurgia custa ... A observação n.° 1 é de todo instrutiva: três operações negativas - a fisioterapia cura rapidamente para o caso. Anda nesta questão das sinusites cronicas uma persistência das aplicações: confiança do medico e do doente. Vide a observação n.° 3 que durante dez meses submeteu-se disciplinarmente apesar dos frequentes interregnos de repouso. Mas, taes doentes são de dificil achado.

Nessa sintese que aqui faço sem poder abusar mais de espaça para desenvolver maiores comentarios - termino tendo demonstrado que as observações acima consentem chegar da TESE proposta à seguinte

CONCLUSÃO: AS SINUSITES SÃO CURAVEIS PELA FISIOTERAPIA.

POST-SCRIPTUM CONFIDENCIAL

Honrado com um convite para colaborar neste numero especial da prestigiosa Revista Brasileira de Oto-rino-laringologia "dedicado a ilustre professor" aproveito a oportunidade nas condições especiais do colega-substituto da mesma secção docente universitária para escrever algumas palavras intimas onde transparecem coincidências a notar. Em Petrópolis, fizemos, ambos, as travessuras da meninice. Ambos filhos de amigos, medicos e proprietários de Casa de Saude.

Não me recordo bem da quadra colegial. Mas, do Marinho interno de cirurgia do Oscar Bulhões - afiando as habeis qualidades. Éramos de series diferentes - os dois, porem, a cursar contemporaneos, a mesma Faculdade. Formados pelo mesmo periodo fim de século - foi-se o Marinho a clinicar pelo Brasil interior. Tempos depois, a mesma Especialidade já nos juntava profissionalmente. Sabia-o nas Clinicas famosas de Berlim e Viena: tecnica para que tinha gosto e tempo para aprender devéras. Em 1907, chega da Europa, mas a fama viéra por vapor anterior pois aqui já dos seus méritos cirurgicos se falava. Eu era chefe de um gabinete de Oto-rino na querida e ilustradissima Policlinica de Botafogo: anexa havia uma sala de operação para as clinicas cirurgicas. E puz, logo, o meu serviço à disposição do recemvindo cirurgião. Assim, operou ele, em primeira mão, aqui no meu serviço, uma radical mastoidéa, em doente minha, com a perícia a que nos habituou. E por aquela epoca, reunimo-nos e a alguns colegas, no meu consultório particular, para promover os progressos da Especialidade, na nossa terra.

Com a sua Clinica de Miguel Frias instalada, perguntou-me, um dia, o que achava do convite a fazer a um especialista para seu assistente, pois o lugar estava vago. Respondi que era bôa idéa. Podia bem ser um convite a mim, indireto, mas sempre pequei por independência de modo a preferir ficar só ... à companhia aproveitável de um colega aprimorado nos melhores centros de estudo do mundo que ainda era o melhor. E a vida continuou. . .

Em 1915, fizemos concurso para professor, juntos. Aprovados unanimemente, ambos, graças a Deus, no escrutinio técnico. João Marinho tomou posse imediata de professor substituto. Três anos depois, devido aquela prova publica, tomávamos posse, juntos de novo, ele de promissor catedrático, eu, das funções negativas e aniquiladoras de professor substituto. Foi na terrível epoca da pandemia da Espanhola de 1918. No ano seguinte, começa;vamos, juntos outra vez, a faina didatica.

Era na linguagem sugestiva, esquematica dessa escavação arqueologica. Passados os vinte minutos básicos da preleção, entrava a aprendizagem pratica da clinica. Os doentes nas nove "bóias" (pequenos compartimentos com lampada e instrumental) na expressiva giria zombeteira do estudante, os discipulos em torno ao professor a ensinar o manejo do espelho, a tecnica sui-generis, o diagnostico, o tratamento ...

"Nós éramos assim em 1919" - parodiando o famoso cronista lusitano. Em 1923, o catedrático abriu os alicerces para erguer o edifício do S. Francisco de Assis que ostenta hoje o porte esbelto da sua Escola de cirurgia especializada. O sonho didático do professor substituto - é justo dizê-lo - ficou sob os escombros da esboroada Clinica pré-histórica da nossa veneração. As fibras da sensibilidade do pneumogástrico alem do recorrente (ramos cardiacos) reagem á prova experimental - o test, - do Jubileu que é a festa da mais doce comoção profissional. Servem para brinda-la aqueles esquemas envelhecidos das nossas dissertações de inicio - Árcades Ambos - como pobres exemplares fossilizados de terrenos férteis, outrora iluminados pelas janelas melancólicas da Clinica onde buscamos realizações e deixamos saudades. São inéditos. Têm o sabor de coisa que nunca se viu. Tema limitrofe da Especialidade com a plenitude da Neurologia - Zona Neutra - chama Tapia.

Escrevi dois temas. Um moderno de mais, para ser aceito na totalidade. Outro, antigo em demasia. Merece professor fisiologo-neurologista com argumentos de hoje da ciência de hontem.

Da minha camara obscura (the right mam in the right place) de laringologista e de fisioterapeuta especialisado, vejo, na televisão da alta frequencia, um companheiro de mochila às costas, como eu, a escarpar, desde a mocidade, a montanha pedregosa do ensino superior. Às vezes, jogando um para o outro a poeira barrenta, berrante e birrenta da Estrada que se bifurca. E após as rusgas (chama-as ele) das intempéries, a chuva e o bom tempo forçando, lado a lado, a subida da Montanha onde pôde ele aquartelar o seu acampamento cheio de barracas modernas mourejando jovens escoteiros armados em cavaleiros de sabias insignias e valôr. Eu os estimo, tambem, pelas continencias a mim feitas de imerecida distinção.

A minha mensagem de agora, é, pois, como um presente - de pobre já se vê - oferecido ao colega de bancos escolares, de lutas academicas, de discussões diarias. E esse fato banalissimo na existencia áspera dos homens que batalham na mesma oficina - vida paradoxalmente indissoluvel dos antagonistas profissionais - é que significa o aspecto nobre do sentimento pelo trabalho artistico do companheiro. E provam-no na emergência, já que aplaudem, com prazer sincero, como o faço agora, quando ha o que admirar seja de quem fôr - porque a valorizar o elogio, preciso é esquecer o nome - amigo ou inimigo - para visar a Obra d'Arte, ou, então, não passará de um desvalorizado cumprimento social protocolar. E assim não quero que seja o meu modetso parecer para com a esforçada organização da Clinica de Oto-rino-laringologia da Universidade do Brasil da admiração de todos nós.

Em fim, a manifestação é esta - a que fiz - naturalmente mal feita e mal compreendida, quem sabe? - da minha velha camaradagem - hereditária até - que ronda pelo meio século - horresco referens - mas a gabar-lhe o que ela obteve de João Marinho - observando ele, a meu favor, o conselho da fina escritora que foi Dora Mellegari: ". . . conservemos as velhas amizades com os defeitos que lhes conhecemos. . . " E é só.

Rio de Janeiro, Novembro de 1940.


DISSOCIAÇÃO VAGO ESPINHAL - REGIÃO CERVICAL

O pneumogastrico - Xº par - é somente sensitivo. O espinhal - XIº par - é exclusivamente motor.


CASOS TERALOGICO - R. J. LEE

Monsro á termo - acéfalo sem medula alongada - sem centros do Xº par - XIº par integro - gritou durante duas horas.


CASO EXPERIMENTAL - SECÇÃO DO Xº ACIMA DO GANGLIO PLEXIFORME

a) Mobilidade do Hemi-véo - perfeita
   Moblilidade do hemi-laringe - perfeita
b) anestesia do hemi-véo - completa
   anestesia do hemi-laringe - completa


CASOS CLINICOS - SCHMIDT - SEELIGMULLER - REMAK - LESÕES DO XIº NO CANAL VERTEBRAL OU ANTE-GANGLIO PLEXIFORME

a) Paralisia trapexio e sterno clido
b) Paralisia do heme véo
c) Paralisia do crico arite-noideo posterior do laringe.


CASO EXPERIMENTAL - VAN GEHUCHTEN - VAN BIERVLIET - DE BEULE - SECÇÃO - RAIZES MEDULARES E BULBARES DO XIº

a) degeneração fibras vago espinhal depois do ganglio até o recurrente
b) paralisia do hemi véo
c) paralisia do hemi laringe
d) paralisia trapezio - sterno clido
e) sensibilidade perfeita
f) fibra após o recurrente integras





(*) Professor substituto da Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial