Versão Inglês

Ano:  1959  Vol. 27   Ed. 1  - Janeiro - Fevereiro - ()

Seção: -

Páginas: 11 a 14

 

COMENTÁRIO SÔBRE A CONDUÇÃO ÓSSEA NO OUVIDO NORMAL E OTOESCLERÓTICO

Autor(es): SÉRGIO DE PAULA SANTOS (*)

(*) - Adjunto da Clínica O.R.L. da santa Casa de Misericórdia de S. Paulo (Serviço do Dr. J. E. Rezende Barbosa).

A fisiologia da percepção óssea do estímulo sonoro está longe de ser completamente conhecida. Analisamos os dados obtidos, aceitando-se as teorias da audição, embora não conheçamos o mecanismo da percepção óssea.

Na prática aceita-se a Condução óssea como sendo expressão do estado do ouvido interno e, a diferença entre a condução aérea e a condução óssea nos daria o componente condutivo de uma hipoacusia.

Embora aceitemos êsse critério "a grosso modo", inúmeros fenômenos mostram-nos a inexatidão dessa regra. O mais conhecido désses fenômenos é, talvez, o entalhe de Carhart (Carhart Notch) que, sendo uma queda da condução óssea nas freqüências de 500 a 4.000, representa uma hiperpressão da endolinfa na cóclea bloqueada por otoesclerose.

Experimentalmente, Naunton (1957), Gröen (1958) e Ranke (1953) verificaram em gatos e cobaios quedas no potencial coclear, usando a via óssea, sem alteração do ouvido interno.

Lüscher, expondo as dificuldades para um mascaramento ideal, concordou que a condução óssea, tal como é medida rotineiramente, não é a expressão do estado do ouvido interno (1955).

O efeito de um vibrador colocado sobre a tábua óssea frontal é condicionado a 3 fatôres:
1 - A condução aérea nas células mastóideas - o som pela tábua óssea seria levado pelo ar contido nas células mastóideas a excitar a cóclea pela via aérea.
2 - A inércia da cadeia ossicular às ondas sonoras, dada pelos ligamentos elásticos e músculos dos ossículos.
3 - O impacto da onda sonora na cápsula óssea do labirinto. Esse impacto seria a pura condução óssea, segundo Von Békesy, sendo que os dois fatôres inicialmente apontados influenciam os valores que se obtêm para a condução óssea, falseando-os.

Experimentalmente, Ranke obteve queda da condução óssea bloqueando a janela redonda (1953) e Gröen e Hoogland (1958), apresentaram um caso de otoesclerose da janela redonda, com acentuado comprometimento da condução óssea. Removido o obstáculo ósseo da janela redonda, houve acentuada elevação na condução óssea.

Fica assim sensivelmente diminuído o valor da condução óssea como expressão do estado do ouvido interno.

Bocca e Wullstein já haviam entrevisto êsse fato ao afirmarem que na mobilização do estribo tem mais importância o valor da curva-aérea que a curva óssea.

Ainda segundo Von Békesy, a onda sonora tocando a rampa vestibular provocaria um movimento direcional em direção ao helicotrema e posteriormente uma onda de refluxo. Esta onda de refluxo, ou expansão na escala vestibular, seria o vibrador passivo. A escala timpânica seria um vibrador passivo, dado seu menor volume.

Na otoesclerose, a ausência dos dois fatôres inicialmente apontados como influentes no valor puro da condução óssea, permite-nos estudar bem a condução óssea.

No ouvido normal, a onda de refluxo escaparia em parte pela platina do estribo, havendo por assim dizer uma perda de energia, enquanto, na otoesclerose, com a fixação da platina na janela oval, tal não se daria, havendo assim um aumento da condução óssea.

Um argumento a favor dessa hipótese é a lateralização do sinal de Weber no ouvido mais afetado.

A hipótese de Voa Békesy, não explica entretanto um fato dos mais importantes na patologia da otoesclerose - a lateralização do sinal de Weber no ouvido fenestrado com sucesso.

Para explicar êsse fato Groöen e Hoogland propõem uma explicação lógica e convincente, e que não está em desacôrdo com as idéias de Von Békesy, apoiados na experimentação de Ranke.

Para êsses autores o principal fator na gênese da condução óssea residiria na diferença de comprimento entre as escalas vestibular e timpânica. Sendo estas duas colunas líquidas de igual comprimento ligadas entre si por uma membrana elástica (helicotrema) não haveria vibração.

Mediram as duas escalas pelo método da corrosão com chumbo a acharam uma diferença de 1,5 mm a favor da escala vestibular. No ouvido otoesclerótico o mecanismo da excitação passa-se como admitiu von Békesy (excitação pela onda de refluxo).

No ouvido fenestrado, a fenestra Nov-Ovalis, colocada na ampola do canal semicircular lateral aumentará a diferença de comprimento entre as duas escalas de 1,5 mm para 6 mm, dando um aumento considerável à condução óssea que se lateralizará para o ouvido fenestrado, o que sempre sucede quando a operação é bem sucedida.

Assim, se admitimos a diferença de comprimento das duas escalas na gênese das duas escalas, melhor seria ainda fenestrar não na ampola, mas no canal, como faz Wuilstein, o que torna a operação muito mais fácil e rápida, pois, abre-se o canal ao nível do antro mastóideo.

A experimentação e a verificação clínica invadindo o ouvido interno, poderão, a exemplo do que aconteceu no conhecimento do ouvido médio, em futuro não longínquo, lançar luzes sôbre um dos capítulos mais obscuros da otologia, o mecanismo intrínseco da audição.

RESUMO

O autor refere ser a condução óssea considerada na prática como correspondente ao estado do ouvido interno citando depois fatos de ordem clínica e experimental que contrapõem-se a sse conceito.

Cita os três fatôres que condicionam a condução óssea no ouvido normal e o mecanismo de excitação das células sensoriais da cóclea, segundo Von Békesy.

Analisa a condução óssea no ouvido otoesclerótico sob o ponto de vista do mesmo autor.

A lateralização do sinal de Weber no ouvido fenestrado com sucesso é discutida, sendo explicada pela diferença de comprimento das escalas vestibular e timpânica, como querem Gröen e Cols.

Termina prevendo que a experimentação no ouvido interno poderá em futuro próximo levar ao conhecimento mais exato do mecanismo da percepção auditiva, tal como aconteceu com o conhecimento da fisiologia do ouvido médio, que foi precedido da experimentação.

SUMMARY

The auhor reports that bone condutcions is generally accepted to give the condictions of the inner ear and points out clinical and experimental faets indisagreement with this idea.

He points out the three factors that determine the borre conductions on the normal and otoesclerotic ear and the excitation mecanism of the sensorial cels from the coclea according to Von Békesy.

The lateralization of Weber sign in the succefull fenestraded ear is dis-cussede, beeing explained by the length difference of vestibular and tympanic scalae, how Gröen and Cols point out.

He finishes predicting that experimentation on the inner will bring us on the future to the knowledge of its function, as it happened with the fisiology of the middel ou witch exact knowledge was preceded vy animal experimentation.

BIBLIOGRAFIA

1) V. BÉKESY, G. - 1932 Ann Physik 13, 111.
2) CARHART, R. - 1950 Arch Otolaryng; 51, 798.
3) GRÖEN, J. J. - 1949 Medische Physica Noordh Vitgevers.
4) GRÖEN, J. J., HOOGLAND - 1958 Arch Otolaryngol. 49, 3, 208.
5) NAWTON R. F. - 1957 A. M. A. A. Arch Otolaryng, 66, 281.
6) RANKE, O. F. E LUILLIES, H. - 1953 - Gehör, Stimme und Sprache pag. 57, Springcr Verlag Berlim.
7) BOCCA, E. - Com. pessoal - 1957
8) WEBER e LAWRENCE - Physiological acusties - Princeton Univer. Press.
9) LÜSCHER, E. (1955) - Acta Otolaring. 45, 5, 402.

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