Versão Inglês

Ano:  1980  Vol. 46   Ed. 3  - Setembro - Dezembro - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 256 a 261

 

DA VELOCIDADEANGULAR REAL DA COMPONENTE LENTA DO NISTAGMO - PESQUISA VECTO-ELECTRONISTAGMOGRÁFICA.

Autor(es): Pedro Luiz Mangabeira Albernaz*
Maurício Malavasi Ganança **
Alvaro Joji Ito ***

INTRODUÇÃO

De acordo com TOROK (1974), o valor clinico da medida da velocidade angular da componente lenta do nistagmo é indiscutível. Para MULCH (1978), a velocidade angular máxima da componente lenta do nistagmo e a freqüência nistágmica máxima constituem os principais parâmetros de avaliação da função vestibular.

A medida da velocidade angular da componente lenta somente pode ser efetuada através do registro nistágmico. A electronistagmografia (ENG) é o método de registro nistágmico mais empregado em todo o mundo para a avaliação da velocidade da componente lenta do nistagmo horizontal e vertical.

A vecto-electronistagmografia (VENG), introduzida por PANSINI Et PADOVAN (1969), permitiu não apenas uma melhor e mais acurada identificação dos movimentos oculares horizontais e verticais, como também propiciou o perfeito reconhecimento dos movimentos oculares de projeção vectorial oblíqua (nistagmo rotatório, horizonto-rotatório e oblíquo), muito comuns nas síndromes vestibulares periféricas e centrais, segundo MANGABEIRA ALBERNAZ et alli (1980).

PADOVAN Er PANSINI (1972) desenvolveram um método de avaliação da velocidade angular da componente lenta do nistagmo à vectoelectronistagmografia, por intermédio de um computador eletrônico. Examinaram 5000 pacientes, metade à ENG convencional e metade à VENG, concluindo que cometeram muito menos erros diagnósticos com o uso da VENG. GANANÇA (1980), à prova rotatória pendular decrescente e MANGABEIRA ALBERNAZ FILHO (1980), à prova calórica, demonstraram em indivíduos normais a ocorrência muito expressiva de respostas nistágmicas de projeção vectorial oblíqua à VENG e, portanto, não identificáveis à ENG convencional. A prova rotatória pendular decrescente, o nistagmo de projeção vectorial oblíqua foi encontrado em 30,0% dos casos normais, à estimulação dos canais semicirculares laterais. A prova calórica, o nistagmo de projeção vectorial oblíqua foi registrado em 85,0% dos casos normais.

Estes resultados não apenas indicam a necessidade de utilização rotineira da VENG, para a adequada interpretação da direção e sentido dos fenômenos oculares à vestibulometria, como também obrigam ao emprego de um programa matemático para a medida da velocidade angular da componente lenta do nistamo.

0 objetivo deste trabalho é o de apresentar um método simples e prático de efetuar a medida da velocidade da componente lenta por meio de um programa digital introduzido em calculadora eletrônica.

DESCRIÇÃO DO PROGRAMA DIGITAL PARA 0 CALCULO DA VELOCIDADEANGULAR DA COMPONENTE LENTA DO NISTAGMO A VENG.

A figura 1 mostra um esquema dos três canais de registro da VENG e as projeções vectoriais de um nistagmo oblíquo para cima e para a esquerda, como exemplo.



Fig. 1 - Esquema das derivações eletrônicas da VENG apresentando as projeções vectoriais de um nistagmo oblíquo para cima e para a esquerda. (Adaptado de PADOVAN &PANSINI, 1972).



A figura 2 apresenta um esquema do registro das várias direções e sentidos do nistagmo á VENG.





É necessário medir manualmente o valor em graus da amplitude do batimento nistágmico cuja velocidade queremos calcular, nos três canais de registro. Mede-se também o tempo de duração da componente lenta, no traçado vectoelectronistagmográfico. O ângulo p,entre o primeiro e o segundo canais e entre o primeiro e o terceiro canais, é pré-determinado (temos utilizado um ângulo igual a 27,5 graus). 0 ângulo cp é calculado através do programa digital e determina a direção do movimento ocular.

A figura 3 mostra o programa digital para o cálculo da velocidade angular da componente lenta do nistagmo à VENG, para uma calculadora eletrônica programável Texas TI 59.

PROGRAMA DIGITAL



Figura 3 - Programa digital para o cálculo da velocidade angular da componente lenta do nistagmo à VENG, para calculadora eletrônica programável TI 59.



A figura 4 apresenta a utilização seqüencial do programa digital, que permite estimar corretamente o valor em graus por segundo de velocidade angular da componente lenta do nistagmo em cada olho separadamente.
Digitação do programa VENG

Ordem de entrada de dados:
1. Digitar o valor de U1 ........ A
2. Digitar o valor de U2 ........ B
3. Digitar o valor de U3 ........ C
4. Digitar o valor de TL ........ D
5. Digítar o valor de ........ E

Obtençio dos valores (primeira vez):
2nd A' ........ anotar o valor fornecido (D)
R/S ........ anotar o valor fornecido (UD)
R/S . . ...... anotar o valor fornecido (VACLD)
R/S ........ anotar o valor fornecido (E)
R/S ........ anotar o valor fornecido (UE)
R/S ........ anotar o valor fornecido (VACLE)

Obtenção de n valores (vezes seguintes):

Digitar somente os valores que forem diferentes e pressionar a tecla correspondente (A, B, C, D, E)

Figura 4 - Seqüência de utilização do programa digital para o cálculo da velocidade angular da componente lenta do nistagmo à VENG, para a calculadora eletrônica Texas Ti 59.

COMENTÁRIOS

A ENG pode ser considerada como um método de avaliação imprecisa da velocidade angular da componente lenta do nistagmo, porque não permite o reconhecimento da direção exata dos fenômenos oculares. Quando se mede a velocidade dos olhos à ENG, não podemos ter certeza se o fenômeno que estamos medindo é perfeitamente horizontal ou vertical, pois os movimentos oculares rotatórios e oblíquos podem ser registrados como se fossem horizontais ou verticais.

A única forma de avaliação exata da direção do nistagmo é representada pela VENG e somente através deste procedimento poderemos medir adequadamente a velocidade angular de componente lenta, em função das projeções vectoriais do movimento ocular nos três canais de registro e por intermédio de um programa digital analisado por calculador ou computador eletrônico.

No presente trabalho elaboramos um programa digital para avaliação por intermédio de calculadora eletrônica Texas Ti 59, de fácil utilização. Uma vez impresso o programa em cartão magnético específico, o método torna-se prontamente disponível para utilização automática na rotina otoneurológica.

Na Secção de Otoneurologia da Disciplina de Otorrinolaringologia de Escola Paulista de Medicina encontra-se em andamento amplo processo de avaliação da velocidade angular da componente lenta do nistagmo às várias provas labirínticas, em indivíduos normais, nas síndromes vestibulares, periféricas e nas síndromes do sistema nervoso central, 8 vecto-electronistagmografia, empregando extensivamente o programa matemático ora apresentado e cujos resultados deverão ser brevemente divulgados.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ás fonoaudiólogas YASUKO IMASATO, HELENICE DIAS CASTRO FALSETTI e HELOISA HELENA CAOVILLA, vestibulólogas da Secção de Otoneurologia da Disciplina de Otorrinolaringologia da Escola Paulista

de Medicina, pela importante participação no desenvolvimento do programa digital da medida da velocidade angular da componente lenta no nistagmo.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFIA

1. GANANÇA, M. M. - Da estimulação dos canais semicirculares laterais e verticais á prova rotatória pendular decrescente. Pesquisa vecto-electronistagmográfice. São Paulo, 1980 (Tese de Doutorado - Escola Paulista de Medicina).
2. MANGABEIRA ALBERNAZ FILHO, P. - Da direção do nistagmo póscalórico em indivíduos normais, síndromes vestibulares periféricas e síndromes do sistema nervoso central. São Paulo, 1980 (Tese de Doutorado - Escola Paulista de Medicina).
3. MANGABEIRA ALBERNAZ, P. L.; GANANÇA, M. M. Er COSER, P. L. - Vector-nystagmographie as an aid in topographic diagnosis of vestibular disorders. ln: VerhandIungen der Gesellschafï für Neurotologie und Aequilibriometrie E. V. Würzburg, Claussen, 1978.
4. MULCH, G. - Criteria for the evaluation of nystagmus. ORL, 40:263-77, 1978.
5. PADOVAN, I. Et PANSINI, M. - New possibilibés of analysis in electronystagmography. Acta otolaryng, 73.- 121-5, 1972.
6. PANSINI, M. Et PADOVAN, I. - Three derivations in electronystagmography Acta oto-laryng., 67.303-9,1969.
7.TOROK, N. - Quantitative parameters in nystagmography. I. The velocity of the slow phase. ORL, 36: 37-45,1974.




Endereço dos Autores:
Brig. Faria Lima, 830- 3° And.
01452 - São Paulo / SP.

* Professor Titular e Chefe da Disciplina de Otorrinolaringologia da Escola Paulista de Medicina.
** Professor Adjunto da Disciplina de Otorrinolaringologia da Escola Paulista de Medicina.
*** Matemático.

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