Versão Inglês

Ano:  1959  Vol. 27   Ed. 1  - Janeiro - Fevereiro - ()

Seção: -

Páginas: 07 a 10

 

CONSIDERAÇÕES DE ORDEM PRÁTICA SÔBRE O POST-OPERATÓRIO NAS INTERVENÇÕES CIRURGICAS DA MASTOIDE

Autor(es): DR. HOMERO CORDEIRO - S. Paulo (Brasil)

Neste trabalho vamos apresentar, de um modo prático e sintético, a conduta seguida por nós nos post-operatórios da antrotomia simples (mastoídectomia) e da operação radical (esvasiamento pétro-mastoidêo).

Atualmente, a tendência geral é para a simplificação do postoperatório, evitando tamponamentos exagerados e curativos intempestivos, que só servirão para retardar a marcha regular da boa cicatrizarão.

O decurso favorável do post-operatório, tanto na antrotomia simples como na operação radical, naturalmente depende de duas condições básicas:
1.º) De uma intervenção cirúrgica completa, praticada com todos os detalhes da técnica operatória.
2.º) De curativos cuidadosos feitos com tôdas as regras de antisepsia.

Além dessas duas condições primordiais, achamos de interêsse acrescentar certas precauções que deverão ser tomadas no final do ato cirúrgico, e que, apesar de não estarem própriamente enquadradas no post-operatório, muito concorrerão para o seu bom êxito, e que são:
a) Toilete ela ferida operatória, irrigando-a com água oxigenada e depois com sôro fisiológico, a fim de eliminarmos tôdas partículas ósseas destacadas, bem como granulações, coagulos sanguíneos, fungosidades, restos de massas colesteatomatosas, etc.
b) Eliminação de tecidos mortificados.
c) Inspeção minuciosa dos vários grupos celulares da mastóide, a fim de cientificarmos se não passou desapercebido algum processo de osteite.
d) Na operação radical, não devemos esquecer de provocar a obliteração da trompa, quer curetando-a, quer cauterizando-a com soluções cáusticas (ácido crômico a 3% ou ácido ticloarcético diluído ao terço); em seguida, inspeção ampla da cavidade óssea, com o fim de veifircarmos se ficou bem lisa, sem arestas ou cristas, divertículos ou fundos de saco, principalmente ao nível da parede posterior do cônduto e do maciço do facial; e finalmente constatamos se a plástica do cônduto é ampla e se proporciona boa visão de todos os recantos da cavidade, bem como se os retalhos cutâneos foram bem preparados, livres de cartilagens e de tecido célulo-adiposo, a fim de se adaptarem perfeitamente sôbre o plano ósseo.
e) Hemostasia cios vasos que ainda sangram.

Antes de passarmos ao post-operatório própriamente dito, digamos de passagem, que na antrotomia simples, suturamos com agrafe de Michel, os dois terços superiores da incisão retro-auricular, pois essa prática, além de encurtar o post-operatório pela sua cicatrização "per primam", evita contaminações externas da ferida operatória, bem como as inestéticas depressões retro-auriculares observadas outrora, quando sem sutura, a cicatrização era conseguida por segunda intenção.

Somente deixamos de fazer essa sutura nos casos de complicações graves, como trombose do seio sigmoidêo, de abcesso extradural, de meningite, etc.

Nos nossos operados, tanto de antrotomia, como de radical no dia seguinte ao da intervenção, mudamos o curativo externo, a fim de alivia-los da ação compressiva das gazes endurecidas e enxarcadas de sangue. Se o estado geral do paciente continuar satisfatório, somente no terceiro dia é que fazemos o primeiro curativo.

POST-OPERATÓRIO NA ANTROTOMIA SEMPLES

1.º curativo: Retirada da pequena gaze deixada na cavidade antral e lavagem da mesma com sôro fisiológico, por meio de uma seringa de vidro de 10 cc. com fino e curto tubo de borracha montado no seu bico. Se ainda persistir secreção purulenta, lavagem do antro com líquido de Dakin ao quinto ou solução sulfanilamídica (Colubiazol, p. ex. ou penicilina). Drenagem da cavidade por meio de um pequeno dreno de borracha (4 mil de diâmetro) colocado na parte ainda aberta da incisão, isto é, no seu terço inferior. Se houve exposição do seio sigmoidêo, êsse dreno deverá ser de borracha bem maleável, a fim de evitar, por atrito, erosão de sua parede. Retirada de alguns ou de todos os agrafes, segundo a marcha da cicatrização, da sutura retro-auricular, e asepsia da região com solução de mercúrio-cromo a 2%, ou de mertiolate a 1 :1000. Retirada da mecha de gaze cio cônduto, limpeza do mesmo e colocação de um pequeno tampão de algodão esterilizado na sua entrada. Reposição do curativo externo.

Na primeira semana que se segue, curativos diários idênticos ao primeiro, e a medida que a secreção fôr diminuindo, vamos substituindo os drenos por outros de calibres menores, até a sua supressão completa.

Na segunda semana, os curativos consistem simplesmente na limpeza do cônduto e inspeção da região retro-auricular, praticados cada dois dias.

Damos a alta geralmente na terceira ou quarta semana.
Em alguns casos, talvez devido a abolição precoce do dreno, poderá manifestar-se flutuação sub-cutânea na região da ponta da mastóide. É sinal evidente de retenção de serosidade e que nos obriga a reabrir o terço inferior da incisão e colocar novo dreno por mais algum tempo.

Nas recidivas de retenção, praticamos uma ampla paracentese da membrana timpânica, a fim de tornar mais favorável o escoamento da secreção vinda do antro pela via ático-caixa.

POST-OPERATÓRIO NA OPERAÇÃO RADICAL

1.º curativo: Retirada da gaze colocada dentro da cavidade, lentamente e fazendo irrigação contínua (seringa de borracha tipo Enema) com sôro fisiológico, a fim de facilitar o seu deslocamento e tornar o curativo menos doloroso. Lavagem de todos os recantos da cavidade, primeiramente com sôro fisiológico e depois com líquido de Dakin ao quinto. Êsses líquidos deverão ser levemente aquecidos a fim de evitarmos vertigens rotatórias desagradáveis ao paciente. Secagem completa da cavidade e tamponamento frouxo com gaze simples esterilizada, e apenas ligeiramente compressiva sôbre os retalhos cutâneos, para mantê-los em posição favorável à epidermização. Retirada de alguns ou de todos os agrafes da sutura retro-auricular, conforme o grau da cicratização. Toque dos bordos da incisão com solução de mercúrio-cromo a 2% ou de mertiolate a 1:1000.

No decorrer da primeira semana, fazemos curativos diários idênticos ao primeiro e com minuciosa inspeção da cavidade e eliminando as granulações de crescimento exagerado, bem como bridas ou membranas diafragmáticas, com pequenos toques com solução de ácido crômico a 3% ou de nitrato de prata a 5%.

Na segunda semana, seguimos com os mesmos curativos, mas suprimimos o tamponamento com gaze da cavidade e deixamos apenas uma pequena mecha compressiva na entrada do cônduto.

Geralmente no fim da terceira semana, as secreções vão diminuindo progressivamente. Nessa fase suspendemos as lavagens e os curativos seguintes consistem em simples secagens da cavidade com porta-algodão e insuflação da mesma com ácido bórico finalmente pulverizado ou uma mistura dêsse pó com o de sulfanilamido em partes iguais, aplicados cada dois dias.

Correndo tudo normalmente, no fim da quinta ou sexta semana conseguimos a epidermização completa da cavidade.

Algumas vêzes o post-operatório favorável, tanto na antrotomia como na operação radical, não depende exclusivamente da operação praticada corretamente ou dos curativos perfeitos.

Existem certos fatôres que podem concorrer para a sua marcha desfavorável, quer retardando a cicatrização, quer mantendo focos intermináveis de supuração.

Dentre êsses fatôres destacamos:
1.º) O terreno constitucional: O terreno luético ocupa o primeiro lugar, pois sabemos todos que a sífilis determina alterações humorais persistentes no organismo, criando assim terreno propício à fistulação das feridas. A instituição de tratamento específico resolve brilhantemente tais casos.

Outros terrenos, como o diabético, o tuberculoso, etc., deverão ser levados em conta, pois também acarretaras alterações do terreno constitucional, que prejudicaras o decurso favorável do post-operatório.

2.º) Virulência da infecção: É de absoluta necessidade a colheita de material durante o ato cirúrgico e a rápida identificação pelo analista, do verme ou germens causadores da infecção, a fim do operador poder avaliar o grau de sua virulência e instituir, sem perda de tempo, a terapêutica adequada a cada caso, a fim de evitar complicações graves que possam prejudicar sériamente o post-operatório.

Segundo a estatísticas nossas podemos afirmar que em S. Paulo, as intervenções cirúrgicas da mastoide, quando praticadas em momento oportuno, na grande maioria dos casos têm um decurso post-operatório favorável, sem as complicações graves que tivemos ocasião de verificar em países de além-mar.

Nos tempos atuais, com o advento da sulfanilamida e da penicilina, e de antibióticos, contamos com armas poderosas para combater a virulência da maioria dos germens, afastando assim os receios de complicações graves post-operatórias.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial