Versão Inglês

Ano:  1980  Vol. 46   Ed. 2  - Maio - Agosto - (9º)

Seção: Artigos Originais

Páginas: 169 a 171

ESTRÓGENOS NAS OTITES MÉDIAS SUPURADAS *

Autor(es): Francisco de Andrade Leite **

Resumo:
Foram apresentados 4 (quatro) casos de profusa otorréia em pacientes do sexo feminino, que se beneficiaram consideravelmente com o emprego de estrógeno oral na erradicação do processo otítico.

Há algum tempo atrás, li um trabalho de HARRISON, sobre o emprego de estrógenos no tratamento das telangectesias familiares hereditárias.

Outros textos semelhantes levaram-nos ao interesse sobremodo, de que maneira os efeitos queratinizantes, a longo prazo, se manifestavam determinados pelos estrógenos na mucosa nasal.

Recentemente, tivemos oportunidade de adotar o método em quatro pacientes do sexo feminino apresentando um quadro de otite média supurada, que não cedia com os tratamentos habituais, antibióticos, sistêmicos e tópicos (gotas auriculares). Diante desse problema, utilizamos estrógenos com a finalidade de queratinizar o epitélio respiratório do ouvido médio e suas dependências. Em todos os casos, usamos "Anovlar" (3mg acetato de anidro-hidroxinorpro-gesterona, 0,05 mg de etinil-estradiol). Os pacientes eram examinados semanalmente. Após quatro semanas de tratamento, a otoscopia demonstrou ouvido seco sem supuração. Decorridas doze semanas do emprego do estrógeno, as pequenas perfurações centrais da membrana timpânica foram obliteradas.

O efeito estrogênico se faz sentir no epitélio respiratório do ouvido médio, segundo o trabalho de HARRISON.1

CASO 1: Paciente G.M.N. - Prontuário 213093. Idade 20 anos, solteira. História: Otorréia no ouvido esquerdo, já há algum tempo atrás.

Otoscopia: Observamos perfuração central da membrana timpânica drenando exsudato muco-catarral. A cultura revelou-se estéril. Administramos um comprimido de "Anovlar" diariamente durante quatro meses. Paciente assistida semanalmente para exame otoscópico. Na quarta semana de tratamento, constatamos pelaotoscopia, uma regressão considerável do quadro clínico, ouvido esquerdo sem supuração. Na oitava semana, apresentou-se discreta regeneração da membrana timpânica. Na décima -segunda semana, a otoscopia demonstrou fechamento da perfuração. Terminado o tratamento, a paciente ficou em observação semanal durante seis meses, verificando-se durante este espaço de tempo, que o ouvido permanecia inalterado.

CASO 2: Paciente R.C.C.S. Prontuário: 212636. Idade 25 anos, solteira. História: Otite média supurada direita, que apareceu como complicação de um estado gripal.

Otoscopia: Perfuração quadrante póstero-inferior, membrana timpânica direita drenando exsudato. A cultura não demonstrou germes patogênicos. Aplicação de "Anoviar" de um comprimido diariamente durante quatro meses. A paciente observada semanalmente. Na quarta semana, a otoscopia revelou parada de supuração. Na oitava semana, o exame demonstrou diminuição do diâmetro da perfuração, tendência ao fechamento. Após a décima segunda semana, a otoscopia evidenciou fechamento completo da perfuração da membrana timpánica. Tendo a paciente sob controle semanal otoscópico do ouvido direito durante 6 meses, não se demonstrou nenhum indício de recidiva da otite.

CASO 3: Paciente M.E.O. Prontuário 213338. Idade: 42 anos, casada. Procurou o Serviço de Otorrinolaringologia, com queixa de surtos freqüentes de otorréia no ouvido esquerdo que surgiam quando gripava. Cultura do exsudato negativa.

Otoscopia revelou ampla perfuração central da membrana timpânica, drenando supuração muco-catarral. Administramos "Anoviar" 1 comprimido diariamente durante quatro meses. No fim da quarta semana, a otoscopia revelou ouvido esquerdo seco, sem supuração. Após a oitava semana do uso do citado medicamento, houve discreta regeneração da membrana timpânica. Na décima- segunda semana de tratamento, a otoscopia demonstrou razoável regeneração epitelial conjuntiva da membrana timpânica, forro mucoso da caixa do tímpano sem anormalidade. Não houve fechamento da perfuração. Após seis meses de observação semanal, o ouvido permanecia sem supuração.

CASO 4: Paciente A.L.M. Prontuário: 216755. Idade: 21 anos, solteira. História de otorréia esquerda que não cedia com tratamentos com antibióticos sistêmicos e de uso local (gotas auriculares).

Cultura do exsudato negativa. Otoscopia do ouvido esquerdo drenando supuração e com perfuração central da membrana timpânica. Medicação de "Anoviar" 1 comprimido, ao dia, durante 4 meses. Depois de 4 semanas, o ouvido permanecia sem supuração, com discreta regeneração epitelial conjuntiva da membrana do tímpano. Na décima- segunda semana de tratamento, a otos copia constatou fechamento da perfuração, membrana timpânica brilhante, triângulo luminoso visível. A observação de rotina durante seis meses, garantiu o êxito alcançado pelo tratamento.

SUMMARY

Four cases of profuse otorrea are described in which the exhibition of oestrogens appeared to be of value.

BIBLIOGRAFIA

1. HARRISON, D.F.N., J. Laryng., 71:577,1957.
2. JOWETT, R.E., J. Laryng, 82:

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ENDEREÇO DO AUTOR:
Av. Dom Manoel, 419 69, 1958.60000 Fortaleza - CE.

* Trabalho realizado no Serviço de Otorrinolaringologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Ceará.
** Professor Adjunto da disciplina de Otorrinolaringologia do Departamento de Cirurgia do Centro de Ciências da Saúde da UFC.

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