Versão Inglês

Ano:  1980  Vol. 46   Ed. 2  - Maio - Agosto - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 105 a 108

 

SCHWANOMA POLIPÓIDE DE FOSSA NASAL *

Autor(es): Dr. Arnaldo Egger Altradique **
Dr. Arthur Rosa Passos ***
Dr. Benedito Capistrano Toledo ****
Dr. Carlos Bruno Filho ****
Dr. Ciriaco Cristóvão Tavares Atherino ****

Resumo:
Os autores apresentam um caso de schwanoma intranasal, tecendo comentários sobre a literatura existente.

INTRODUÇÃO

Os schwanomas são tumores originados das células de Schwann, componentes da bainha dos nervos periféricos. São também denominados correntemente neurinomas ou neurilemomas. Sua localização nasal é rara 4,5,6,7, embora Batsakis 1 ache que o pouco n° de casos relatados não reflita a incidéncia real, visto-ter ele operado 5 neurilemomas de nariz e seios paranasais nos últimos 5 anos. No Brasil, temos conhecimento de um caso publicado P

CASO CLÍNICO

Identificação: A.S.M., masc., branco, brasileiro, 71 anos, prontuário n° 325.251.

Q. P.: "Sangramento e má respiração nasal".

H. MA.: O paciente relatava dificuldade respiratória progressiva principalmente pela fossa nasal esquerda, Iniciada há, aproximadamente, 12 anos. Apenas recentemente, devido à piora acentuada de sua respiração, procurou atendimento médico, obtendo o diagnóstico de "polipose nasal" com Indicação cirúrgica. Durante a fase pré-operatória, teve violenta epistaxe, ocasião em que foi atendido pelo Pronto Socorro do Hospital do Andarei.

O paciente foi Internado no Serviço de Otorrinolaringologia do mesmo Hospital em 1416179 portando tamponamento anterior bilateral e tamponamento posterior. Estes foram retirados em 2016179 e, através da rinoscopia anterior, evidenciou-se grande massa tumoral dura, Indolor, de coloração cinzaesbranquiçada, obliterando toda a fossa nasal esquerda. A fossa nasal direita não apresentava anormalidades e o restante do exame ORL Idem.

O estudo radiológico e tomográfico dos seios dá face mostrou opacificação densa e homogénea do seio maxilar esquerdo, erosão de sua parede medial, velamento das células etmoidais e obstrução nasal ipsilateral (Fig. 1). No laudo, o radiologista sugeria biópsia.



Fig. 1: Incidência Mento-Naso mostrando velamento do seio maxilar esquerdo com erosão de sua parede medial e comprometimento da fossa nasal esquerda e células etmoidais do mesmo lado.



Foram realizadas 2 biópsias com resultados inconclusivos. Optou-se, então, pela execução de uma cirurgia ampla para elucidação definitiva do caso. Em 24/10/79, sob anestesia geral, realizou-se a transmaxilonasal de Moure, observando-se grande massa dura, bem encapsulada, destruindo a parede medial do seio maxilar esquerdo e projetando-se para seu interior, destruindo e ocupando as células etmoldais anteriores, destruindo a parede anterior do seio esfenoidal, obliterando-o. No entanto, observou-se que a tumoração se implantava na porção alta da fossa nasal esquerda, não se evidenciando quaisquer aderências com as paredes dos seios ocupados. A peça foi retirada em um único bloco e enviada para exame anátomo-patológico. Em 12/11/79 foi-nos entregue o resultado: schwanoma Antoni tipo A (Fig. 2).



Fig. 2: Esquema em perfil de fossa nasal, mostrando a zona de Inserção e os diversos prolongamentos de massa tumoral.



Até a presente data, o paciente encontra-se bem, completamente livre de sintomatologia.

COMENTÁRIOS

Os schwanomas de Cabeça e Pescoço correspondem a 25% dos neurilemomas que acometem o organismo 6. Foram descritos schwanomas no meato acústico Interno, faringe, espaço parafaríngeo, língua, palato mole, laringe, meato acústico externo e traquéia.7

No caso dos neurilemomas do nariz e seios paranasais, o comprometimento naso-etmoidal é o mais freqüente, seguindo-se, em ordem, seio maxilar, fossa nasal e selo esfenoidal.1 Quase todos os espécimes têm sido tumores solitários.

São considerados tumores benignos de crescimento lento; contudo, malignizaçáes, embora raras, têm sido descritas e bem documentadas. 5

De acordo com Kaufman,5 até 1972 foram descritos apenas 33 casos na literatura mundial, acrescentando-se a estes um caso descrito por Weber e Montgomery8 (neurilemoma de seio maxilar) em 1978, e um caso na literatura nacional relatado por Schemy et cols8 em 1979.

Segundo Batsakis 1, a incidência abrangeria a faixa etária entre 25 e 55 anos, sendo que o caso aqui comentado foge a estes limites.

Geralmente, os tumores são originários de ramos dos nervos oftálmico e maxilar (ramos do trigêmeo) e de ramos do sistema nervoso autônomo. O nervo olfatório pode ser excluído por não possuir bainha de Schwann.1,2.A origem do tumor no presente caso não pôde ser determinada.

Microscopicamente, Antoni dividiu os schwanomas em 2 tipos. No Antoni tipo A observaríamos células fusiformes com arranjos paralelos de núcleos (formação em "palisada"), algumas vezes em espiral. No Antoni tipo B, as células de Schwann e fibras colágenas arranjam-se mais ou menos ao acaso. É comum, num mesmo tumor, observarmos áreas Antoni tipo A e Antoni tipo B 2,3,4,6.

O neurofibroma, emboratambém composto de células de Schwann e colágeno, mostra um arranjo inespecífica destes componentes. As fibras nervosas atravessam o tumor, às vezes em n° considerável 3.Apesar destas características, é facilmente diferenciado dos neurilemomas S.Iwamura et cols4 consideram o termo "neurofibroma" sinônimo de schwanoma, o que não é aceito pela grande maioria dos autores.

Já um "neuroma" é uma massa proliferativa não neoplásica formada no lugar de uma transecção ou ruptura de um nervo. É composto de um emaranhado de axónios, células de Schwann e fibrocitos no interior de um denso arcabouço colágeno.2,5 Como exemplo, temos o caso de neuroma traumático do nariz descrito por Burtner e Goodman2 (1977).

Os sinais e sintomas são inespecíficos e dependem do local comprometido. Epistaxes e obstrução nasal são mais observadas no acometimento da fossa nasai e seio etmoidai; a dor se associa com tumores do seio maxilar.1,2,5,6.

O diagnóstico de certeza é firmado através de biópsia e exame anâtomopatológico.1,2,
O tratamento consiste na exérese cirúrgica adequada, que raramente é seguida de recidiva.1,

SUMMARY

The autores presented a case of intranasal schwannoma and talked about the Iiterature on the subject.

BIBLIOGRAFIA

1. BATSAKIS, J.G.: Tumors of the Headand Neck. 2' ed., The Williams & Wilkins Co., 1979.
2. BURTNER, D.D.; GOODMAN, M.: Traumatic Neuroma of the Nose. Arch Otolaryng 103(2): 108,1977.
3. HINCHCLIFFE, R.; HARRISON, D.: Scientific Foundations of Otolaryngology. Year Book Medical Publishers, 1976.
4. IWMURA, S.; SUGIURA, S; NOMURA, Y.: Schwannoma of the Nasal Cavity. Arch Otolaryng 96(2):176,1972.
5. KAUFMAN, S.M.; CONRAD, L.P.: Schwannoma presenting as a Nasal Polip. Laryngoscope 8.6 (4): 595, 1976.
6. SCHEMY, L.A.B. et cols: Schwanoma do Vestíbulo Nasal. Rev. Bras. ORL 45(1):71, 1979.
7. VERMA, P.L.; MARAWAHA, A.R.: Intranasal Schwannoma. Jour Laryngol and Otol 84(10): 1069,1970.
8. WEBER, A.L.; MONTGOMERY, W.W.: Neurilemmoma of Maxillary Antrum. Ann Otol 87 (3): 436, 1978.




ENDEREÇO DOS AUTORES:
A/C Dr. Ciríaco Cristóvão Tavares Atherino
Rua Aperana 125 / apt. 301
Rio de Janeiro - CEP 22450

* Trabalho realizado no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital do Andaraí, INAMPS-RJ.
*** R 2 do Serviço.
**** R 1 do Serviço. Médicos Otorrinolaringologistas do Serviço. Recebido para publicação em 28.02.80.

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