Versão Inglês

Ano:  1980  Vol. 46   Ed. 1  - Janeiro - Abril - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 40 a 46

 

PNEUMO SINUS DILATANS DO SEIO FRONTAL *

Autor(es): José Antonio Pinto **
Washington Luiz Almeida ***
Khalil Fouad Hanna ***
Augusto Pastore Filho ****

Resumo:
Os autores descrevem 2 casos de pneumo sinus dilatans, discutem sua etiopatogenia, quadro clínico radiológico, diagnóstico diferencial e tratamento.

SINONÍMIA

Sinus Frontalis Dilatans

CONSIDERAÇÕES GERAIS

O pneumo sinus dilatans é uma afecção rara, talvez pelo desconhecimento desta patologia pela maioria dos otorrinolaringologistas, sendo poucos os casos descritos na literatura internacional (em torno de 60) e apenas dois, em nosso meio.1

CONCEITO

O pneurno sinus dilatans é uma afecção que acomete quase que exclusivamente o seio frontal, na maioria das vezes unilateral, de caráter evolutivo e lento.

É caracterizado por um abaulamento da região frontal e, radiologicamente, por uma enorme cavidade contendo unicamente ar, ás custas principalmente da parede anterior do seio frontal.

INCIDÊNCIA

O pneumo sinus dilatans acomete o adulto jovem, entre os 20-40 anos de idade e quase que exclusivamente o sexo masculino.

ETIOPATOGENIA

Sua etiopatogenia é ainda desconhecida, porém existem várias teorias que a tentam explicá-la:

1) Traumática - ocorrerá por traumatismo, levando à fragilidade da parede anterior.

2) Hiperpressão por fenômeno de válvula - qualquer obstáculo ao nível do canal naso frontal (pólipo, válvula mucosa) na qual o ar penetraria durante uma expiração forçada (ato de soar o nariz bruscamente); este obstáculo reteria o ar, causando uma hiperpressão no interior do seio, levando a formação do pneumo sinus.

3) Alterações endócrinas - Alguns hormônios são invocados na etiologia do pneumo sinus dilatans, tais como: hormônio sexual masculino, hormônio tireoidianos e hormônios somatotróficos.

O papel do hormónio sexual é o mais discutido, tendo em vista a maior predominància (cerca de 92%) no sexo masculino e que a puberdade parece ser o ponto de partida dessas hipertrofias sinusais.

Quanto ao hormônio somatotrófico, sabe-se que ele age na parede anterior do seio frontal, a qual é responsável pelo abaulamento anterior da região frontal.

QUADRO CLÍNICO

Podemos encontrar indivíduos que apresentam unicamente uma bossa frontal, geralmente unilateral e sem nenhuma sintomatologia.

Outros apresentam cefaléia frontal, a qual pode ser o sintoma inicial do pneumo sinus dilatans, sem característica particular e de intensidade variável de indivíduo para indivíduo.

A cefaléia pode vir acompanhada de náuseas, vômitos e vertigens.

A exoftalmia pode ocorrer devido a delgadez dos planos e da parede superior da órbita. Ela pode vir associada a uma diplopia e ou a uma paralisia do elevador da pálpebra superior.

Raramente uma superinfecção pode acometer esta enorme cavidade, causando uma sinusopatia.

Exame físico

É pobre em dados. Podemos encontrar unicamente um abaulamento frontal geralmente, unilateral e indolor à palpação.

Quando temos comprometimento oftalmológico, podemos observar exoftalmia e paralisia do elevador da pálpebra superior.

Exame rinoscópico

Na maioria das vezes sem alterações.

Exame radiológico

Realizado em P. A., perfil e tomografias.

Observamos uma enorme cavidade aérea, hornogenea, conservando as características radiológicas normais.

As paredes ósseas estão conservadas e deslocadas no sentido horizontal, vertical e antero-posterior.

Na incidência de perfil notamos que a dilatação antero-posterior do pneumo sinus dilatans se faz principalmente às custas da parede anterior.

A tomografia é importante na identificação de uma erosão óssea tanto ao nível da parede posterior, ou da parede orbitária interna, o que é uma raridade radiológica.2

O exame radiológico das outras cavidades parasinusais não evidencia nenhuma alteração.

Exames laboratoriais

Hematológicos, dosagem de hormônio tiroidianos e hipofisários e provas sorológicas dentro dos limites normais.

Diagnóstico diferencial

O diagnóstico diferencial do pneumo sinus dilatans se faz com as seguintes afecções:

1) Os grandes sinus - estes não são de caráter evolutivo como o pneumo sinus dilatans e não apresentam bossa frontal óssea.

2) Tumor ósseo frontal - O tumor ósseo frontal benigno ou maligno é afastado facilmente pelo exame radiológico.

3) Pneumatoceie - pode ser extracraníana, situado entre os tegmentos e o crânio ósseo, dando a impressão de um enfisema subcutâneo. Desaparece à pressão digital. Pode ser intracraniana entre a cortical óssea e a massa encefálica.

Esta entidade é facilmente distingüível do pneumo sinus dilatans e a única dúvida seria no caso do pneumo sinus dilatans formar uma pneumatocele por erosão óssea espontânea ou traumática. Tal complicação jamais foi mencionada.

4) Mucocele - na mucocele encontramos uma opacificação do seio devido ao conteúdo líquido. As paredes do seio estão descalcificadas, contrastando com as do pneumo sinus dilatans, que são normais.

O abaulamento externo da mucocele é órbito-nasal interno e do pneumo sinus dilatans é supraorbitário.

À rinoscopía, na mucocele, encontramos um abaulamento da região etmoi
dal.

Casos clínicos

Caso n° 1 - 17.01.77 - R.M.C.J. - 20 anos, masc. - solteiro, estudante - MG.

O. P. - cefaléia diária e obstrução nasal.

H.D.A. - refere o paciente que há mais ou menos 6 meses vem apresentando cefaléia frontal diariamente, intensa, que não melhora com o uso de analgésicos comuns. Refere ainda, obstrução nasal bilateral constante, tendo que fazer uso de vasoconstrictores nasais diariamente e vem notando abaulamento da região frontal, que está aumentando vagarosamente.

Há mais ou menos 15 anos sofreu traumatismo de face, por acidente. Fez eletroencefalograma que revelou "disrritmia cerebral". Tomou Comital por vários anos, parando há 1 ano. Paciente encontra-se bastante nervoso.

Exame físico

Presença de bossa frontal óssea, arredondada, mais saliente à esquerda, indolor à palpação (fig. 1 e2).








Rinoscopia - pituitária de aspecto normal. Corneto inferior esquerdo hipertrofiado. Presença de esporão alto, posterior na fossa nasal esquerda. O restante do exame ORL, sem alterações.

Exames laboratoriais:

Dosagem hormonal - sem alterações Exame oftalmológico - sem alterações

Radiografia

Seios frontais bastante pneumatizados aumentados no sentido vertical, horizontal e principalmente antero-posterior (fig. 3 e 4).





Diminuição da transparência dos seios maxilares. Desvio de septo.

Sela turcica normal.

25:06.77 - septoplastia, tipo Cottle. 15.01.78 - paciente sem queixas. Conduta- avaliação clínica e radiológica cada 6 meses. 13.07.78 - sem queixas,

Exames radiológicos - inalterado.

Caso n° 2 - 17.01.78 - A.S. - 34 anos - casado - motorista - PR. Q.P. - Cefaléia frontal intensa há mais ou menos 1 ano.

H.D.A. - refere o paciente que há mais ou menos 19 anos, começou a apresentar cefaléia frontal, de intensidade moderada, que cedia ao uso de analgésicos comuns.

Há mais ou menos 12 anos, começou a notar aumento da região frontal. Há mais ou menos 1 ano a cefaléia frontal tornou-se mais intensa à direita. Exame físico - região frontal abaulada, indolor à palpação.

Rinoscopia - após retração dos cornetos, foi visualizado esporão alto, em área 3 de Cottle, da fossa nasal esquerda.

Exame oftalmológico - normal.

Exame radiológico - hiperpneumatização do seio frontal, o qual está aumentado em todas as dimensões; sela turcica de dimensões normais.

Dosagem de hormónios do crescimento - 0,5 nglml (normal). 30.09.78 - sem queixas e com radiologia inalterada.

Tratamento

Em decorrência da imprecisão etiológica desta afecção, recomendamos: um controle evolutivo desses pacientes, quanto ao crescimento ou estabilização da cavidade sinusal; na persistência da sintomatologia dolorosa ou o aparecimento de complicações (infecção, problemas oculares):

1) trataras patologias nasais obstrutivas, que possam eventualmente contribuir para o desenvolvimento de hiperpressão no seio facial, (corrigir desvios de septo alto, hipertrofias de cornetos presença de pólipos, etc.).

2) As intervenções diretas sobre o seio facial correspondem às mesmas aconselhadas nas cirurgias sobre este seio, variando desde a trefinação do ângulo supero-interno da órbita (procedimento de Jacques), até as técnicas de exclusão do seio frontal, através da cirurgia osteoplástica.

Conclusão

O pneumosinus frontalis dilatans é uma afecção rara e que deve ser melhor estudada pelos otorrinolaringologistas.

De etiologia ainda não bem determinada, pode constituir um achado radiológico em suas formas latentes ou então manifestar-se como uma saliência frontal, acompanhada ou não de cefaléia e problemas oculares.

Em nossas observações tratavam-se de pacientes do sexo masculino, jovens (20 e 34 anos), com crises de cefaléia e presença de bossa frontal. Não se determinaram alterações hormonais nos mesmos. Estudos radiológicos revelaram dilatação acentuada dos seios frontais com hiperclaridade, mostrando a parede anterior mais fina, evidenciando ser esta a responsável pela dilatação do seio. Nesses pacientes, atuou-se no sentido de remover os processos obstrutivos nasais, mantendo-se atitude expectante quanto a eventual intervenção sobre os seios frontais, o que não se fez necessário, devido principalmente a ausência de infecção e a melhora dos casos de cefaléia.

Devido seu caráter evolutivo, estes pacientes são mantidos sob observação periódica.

Summary

The autores review the problem of the sinus frontalis dilatans, a rare disorde of ethiology unknown that occurs in the young adult, mainly in the male. Can be discovered only by a radiological surprise or be caracterized by a frontal proeminence and headache or oculars complications. The ways of treatment are discussed. Two new cases are presented: two mate adult, 20 e 34 years old, with frontal lump and cephalgie. They were submited to septoplasty without intervention over the frontal sinus. They are under periodical control.

BIBLIOGRAFIAS

1 . ALBERNAZ, Paulo Mangabeira: Os problemas do sinus frontalis dilatans. Rev. Brasileira de Otorrinolaringologia, 39: 1973.
2. BOURDIAL, J.: Le pneumosinus dilatans do sinus frontal. Ann. Otolaryngo, 1970, (8) n° 7-8 (pág. 405-438).
3. BOURDIAL J., LALLEMANT Y.: VERGON L. et Fliedes J.: pneumosinus dilàtans, Annales 0.R.L., 1968, 7, 726.




Endereço dos autores: Hospital Ibirapuera Av. Rubem Berta, 3350 04074 - São Paulo - SP.

* Trabalho realizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas do Hospital Ibirapuera e apresentado no X Congresso Latino Americano de Otorrinolaringologia e XXIV Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia, Rio de Janeiro, 15121111178.
** Diretor-Clinico do Hospital Ibirapuera.
*** Médicos Residentes do 2° ano do Hospital Ibirapuera.
**** Médico Titular do Hospital Ibirapuera.

Recebido para publicação em 22101180.

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