Versão Inglês

Ano:  1980  Vol. 46   Ed. 1  - Janeiro - Abril - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 03 a 07

 

DEMONSTRAÇÃO DA PERMEABILIDADE DA TROMPA DE EUSTÁQUIO COM MOLÉCULAS "MARCADAS".

Autor(es): Marcos Grellet *
Nassim lazigi **

Resumo:
A tuba auditiva tem grande importância na fisiopatologia do ouvido médio. Suas funções principais estão relacionadas coma igualdade depressão entre um e o outro lado da membrana timpãnica e drenagem das secreções do ouvido médio para a faringe. Injetamos através de uma agulha ou ponta do aspirador no ouvido médio albumina humana marcada com tecnecio (99 mTc) na dose de 500 uCi em volume de 0,2 ml. Detectamos sua passagem pela trompa de Eustáquio até a faringe, através de uma câmara de cintilação (Gama-Câmara Ohio Nuclear) dotada de um colimador paralelo associado a um osciloscópio para registro de imagem. Tomamos o registro da imagem e radiografias instantâneas com 2, 4, 10 e 20 minutos após injetarmos albumina marcada. A imagem da trompa é oblíqua, para baixo e para frente aparecendo 2 a 3 minutos após a injeção. Na faringe a imagem é mais difusa e com direção vertical. Esse método de exploração tem interesse no controle da drenagem tubária proporcionando orientação terapêutica em particular nas indicações cirúrgicas (estapedectomias e timpanoplastias); avaliação tubária após tratamento clínico ou crenoterapia e no estudo da fisiologia tubária.

A tuba auditiva tem grande importância na fisiopatologia do ouvido médio. Suas funções principais estão relacionadas com a igualdade de pressão entre um e o outro lado da membrana timpânica e a função de drenagem permitindo a eliminação para a faringe das secreções normais e patológicas provenientes do ouvido médio (Bluestone) 1971; Donaldson, 1973; Ross, 1971; Schuknecht, 1967; Van Deshoeck, 1944 e Zollner, 1963).

Esta função de drenagem é permitida pelo mecanismo muco-ciliar protegendo a caixa do tímpano. O muco resulta do transudato e exsudato.

O princípio deste estudo consiste em injetar no ouvido médio substância radioativa e seguir sua progressão pela tuba auditiva em direção ao cavum (Collogny, L.C. e cols., 1977). O emprego dessas moléculas marcadas permitem exploração fiel e quantitativa da trompa. Outros métodos de estudo como a eliminação faringea de fluorescência ou substância radio-opacas injetadas na caixa do tímpano através de uma perfuração ou dreno timpânico são menos eficazes e sua inocuidade não é absoluta.

MATERIAL E MÉTODO

Utilizamos como substância ''radiotraçadora'' albumina humana marcada com tecnecio (99 mTc) na dose aproximada de 500 uCi.

O sistema detector consiste de uma câmara de cintilação (Gama-Câmara Ohio Nuclear) dotada de um colimador paralelo associado a um osciloscópio para registro de imagem.

Sob microscopia verificamos se a membrana timpânica está íntegra ou perfurada.

Se conserva sua integridade introduzimos através de membrana do tímpano, região antero-inferior uma agulha de Raqui n° 7 cuja extremidade fica localizada no hipotímpano.

Se houver perfuração timpânica introduzimos através desta perfuração uma ponta de aspirador delicado até o hipotímpano.

Após fixação do mesmo colocamos o paciente em posição deitada, decúbito dorsal, cabeça virada em posição oblíqua anterior oposta ao ouvido em estudo. A substância "traçadora'' é injetada em volume de 0,2 ml através da agulha diretamente no ouvido médio, região do hípotímpano.

Se a passagem das moléculas marcadas forem insuficientes até um período de observação de cinco minutos, pedimos ao paciente que faça uma série de deglutições.

Desde o momento da injeção até o final do exame registramos as imagens obtidas no osciloscópio da gama-câmara em filme Polaroid, nos tempos de 2, 4, 10 e 20 minutos após a injeção desde a caixa do tímpano até sua possível passagem pela trompa, rino e oro-faringe.

Tomamos registro da imagem e radiografias instantâneas com 2, 4, 10 e 20 minutos após injetarmos a albumina marcada.

Aspectos cintilográficos normal e patológico

Na caixa timpânica a albumina marcada apresenta-se sob forma arredondada que persiste durante todo o exame embora sua intensidade decresça progressivamente.

A imagem normal da trompa é oblíqua, para baixo e para frente aparece alguns minutos após a injeção e é fugaz. No trajeto faringeo a imagem é mais difusa e com direção vertical (Figura I).



Figura I - Transito Tubário Normal. Tempo: 2'



Em determinados pacientes devido à hiperpressão criada pela injeção, detectamos uma imagem tubária imediata.

Entretanto o verdadeiro transito fisiológico surgirá 2 a 3 minutos após.

As referências na exploração desse exame são as seguintes: início de passagem, rapidez e intensidade do transito, retardo no aparecimento do transito faringeo, aspectos de bloqueio (pró-tímpano, trompa, ostio tubário).

Podemos detectar o trânsito tubário nas diferentes patologias: exames sobre tímpanos perfurados com ou sem secreção no ouvido; otites colesteatornatosa, perfurações pós-traumáticas; complicações de timpanoplastias; exames sobre tímpanos não perfurados apresentando catarro tubário crônico em crianças, otite serosa e viscosa; otite fibro-adesiva e tumores do cavum.

Observações: Em presença de perfuração com otorréia ou inflamação intensa existe constantemente alteração maior da função de drenagem.

Em casos de perfuração seca, todos os tipos de anomalias podem ser encontrados.

Tratamento clínico é efetuado sistematicamente antes da exploração tubária, pois a inflamação residual da mucosa tubo-timpânica pode bloquear a função de drenagem com estagnação da "substância traçadora" ao nível do protímpano (Figura II).



Figura II - Trânsito Tubário Bloqueado. Tempo: 20'



Nos casos de alergia naso-sinusal com complicações auriculares o trânsito é fraco e bem retardado.

Interesse desse método de exploração.

1 - Na surdez de transmissão.

O controle da drenagem tubária proporciona orientação terapêutica em particular no momento da cirurgia.

Pode haver perturbação da função de drenagem apesar de Valsalva positivo. No curso de otites crônicas simples a timpanoplastia será efetuada após normalização ou nítida melhora do trânsito tubário. A ausência de passagem em ouvidos com polipos da caixa parece demonstrar um paralelismo das alterações da mucosa tubária e do ouvido médio. Entretanto dependendo do posicionamento da agulha ou ponta do aspirador no hipotímpano, podemos demonstrar que a trompa de Eustáquio está permeável, apesar da presença de polipos no ouvido médio.

2 - Mostra o papel determinante da função de drenagem deficiente nas complicações cirúrgicas e na persistência de supuração crônica nas cavidades radicais.

3 - Controle da eficácia da crenoterapia.

(Curas sulfurosas, carbogasosas etc.) mostrando passagem tubária após crenoterapia).

CONCLUSÃO

Esse exame é inóculo e pode ser repetido sempre que necessário. Seus resultados não parecem superpor à outras técnicas (discordância com Valsalva). Permite:

maior segurança nas estapedectomias e timpanoplastias; - avaliação tubária após tratamento clínico ou crenoterapia; aprofundar o estudo da fisiologia tubária.


ABSTRACT

The auditive tube is of great importance in the physiopathology of the middle ear. Its principal functions are related to the evenness of pressure between the two sides of the tympanic membrane and drainage of the secretions from the middle ear to the pharynx.

We used a needle to inject the middle ear with human albumin marked with technetium (99 mTc) in a 500 uCi volume dose.

We detected its passage through the Eustachian tube as far as the pharynx by means of a scintillation chamber (Ohio Nuclear Gama Chamber) equipped with a parallel colimator associated with an oscitioscope for image recording.

We recorded the image and took instant X-rays at intervals of 2, 4, 10 and 20 minutes after injecting the marked albumin.

The image of the tube is oblique in a downward and forward direction and appears 2 or 3 minutes after injection. In the pharynx, its image is more diffused and has a vertical direction.

This exploration method is relevant to the control of tubal drainage and provides therapeutic orientation, especially in cases of surgery (stapedectomy and tympanoplasty), tubal evaluation after clinical treatment or drainage therapy and in the study of tubal physiology.

BIBLIOGRAFIA CADERNO 1

BLUESTONE, C.D. - Eustachian tube obstruction in the infant with cleft palate. Ann. Otol. (St. Louis) 1971, 80 suppl. n° 2, 1-30.
2. COLLOGNY, L.G. et cols. - Exploration physiologique de Ia trompe d'Eustache par les molécules marquées. Application à Ia surveillance thérapeutique. Ann. Oto-Laryng. (Paris). 1977, 94, n1 4-5, 233-243.
3. DONALDSON, J.A. - Physiologie de Ia trompe d'Eustache. Arch. Oto-Laryng., 1973, n° 1, 9-12.
4.ROSS, A. - Function and anatomy of the tensor palati. Arch. Oto-Laryng.,1971,93,1-18.
5. SCHUCKNECHT, H.F. - La pathologie de Ia trompe d'Eustache. Arch. Oto-Laryng.,1967, 86, n1 5, 497-502.
6. VAN DISHOECK, H,A.E, - Sténosis of the Eustachian tube. Acta Oto-Laryng., 1944, 32, 346.
7.ZOLLNER, F. - Thérapeutique de Ia trompe d'Eustache. Arch. Oto-Laryng., 1963, 78, n° 3, 394399.




Endereço dos Autores: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP. Ribeirão Preto - S.P. - 14.100

* Professor Adjunto e Chefe da Disciplina de Otorrinolaringologia do Dept° de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP.
** Professor Livre-Docente de Clínica Médica e Chefe do Serviço de Medicina Nuclear da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP.

Trabalho recebido em 05.10.79

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