Ano: 1979 Vol. 45 Ed. 3 - Setembro - Dezembro - (1º)
Seção: Trabalhos Originais
Páginas: 208 a 214
AVALIAÇÃO AUDIOMÉTRICA DE 840 CASOS DE SURDEZ NA CRIANÇA*
Autor(es):
** Roberto Salerno
*** Victor Tannuri
**** Graziano Stablum
***** Maria José Ceci
Resumo:
Os autores relatam resultados obtidos na avaliação de 840 casos de surdez na criança, no período de janeiro de 1974 a julho de 1979.
Encontram uma predominância significativa das causas pós-natais sobre as neo e pré-natais.
O surto de Meningite no Brasil, ocorrido em 1973, provocou uma sensível elevação de surdez de causas pós-natais (42,8%).
Chamam atenção para o fato de se tomar as devidas precauções no uso indiscriminado de ototóxicos.
Encontram predominância da surdez severa (67,62%) sobre as demais. Observam 54,4% da surdez no sexo masculino e 45,6% no sexo feminino.
I.INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo a divulgação dos resultados obtidos na avaliação das prováveis causas de surdez na criança, no período de janeiro de 1974 a julho de 1979.
Isto foi possível devido à grande afluência que tem o Centro Educacional da Audição e Linguagem - Ludovico oriundos de variadas regiões do País,
Pavoni, de Brasília que recebe pacientes em especial do Norte, Nordeste, Centro Oeste e Sudeste.
II.CASUÍSTICA E MÉTODO
a) Casuistica
Foram estudados 840 casos, atendidos no C. E. A. L.
Quanto à distribuição etária observa-se uma variação de 0 a 12 anos, de ambos os sexos (Fig. 1).
Todos os pacientes foram submetidos a anamnese, ao exame ORL, a testes audiométricos e ao exame clínico-pediátrico e neurológico.
b) Método
O exame audiométrico foi sistematizado da seguinte maneira: 1. Screening
2.Audiometria Condicionada (C.O.R. e Peep Show) 3. E.R.A. (Audiometria de Resposta Evocadas)
4.Impedanciometria
Desenvolvimento do Exame
a) Anamnese
A anamnese é bem minuciosa, pesquisando todas as causas possíveis que poderiam, de algum modo, ter afetado a audição da criança. Antecedentes familiares, de gestação, parto, condições ao nascer, comportamento, ocorrências e desenvolvimento de um modo geral.
Um dos pontos que consideramos de máxima importância é o comportamento vocal ou lingüístico, que consiste verificar o tipo de sons que a criança emite, de voz que ela apresenta, qual a sua intensidade, a sua entonação, se possue alguns fonemas ou palavras e, em caso positivo, saber se a aquisição lingüística é recente e se está havendo regressão ou ampliação.
b) Exame
Para obtermos um bom resultado nos exames, dispomos de 3 salas acusticamente tratadas, onde em seu interior montamos igual número de cabines acústicas.
Nossa bateria consta de:
1. Screening
Muito importante, é uma varredura grosseira que dá subsídios para o seguimento da avaliação. Dependendo das reações ali obtidas, sabemos qual o teste a ser seguido (C.O.R. ou Peep Show) e com que intensidade iniciá-lo.
2. C.O.R. (Reflexo de Orientação Condicionada)
Teste semi-objetivo, muito importante, cujo único inconveniente é não podermos avaliar separadamente os dois ouvidos e ser exclusivamente para via aérea. Temos notado que em casos de perda média ou grave, os resultados não têm sido satisfatórios, principalmente quando a perda é condutiva;
3. Peep Show
É um teste bem mais completo. Pode-se por este exame, avaliar cada ouvido separadamente, além de se obter vias óssea e aérea separadamente, com tom puro ou Narrow Band, apesar de exigir bastante cooperação da criança e paciência de quem o aplica pois em muitos casos temos de repeti-lo vários dias, se possível consecutivos, até obtermos resultados satisfatórios;
4. E. R.A. (Audiometria de Respostas Evocadas)
Foi utilizado Equipamento Amplaid modelo MK-2, em nosso Serviço até 1977 e, no momento, deixamos de usá-lo pelas razões técnicas seguintes:
18. Elétrodos: com o seu uso diário há sempre necessidade de se manter sua polaridade e, para tanto, temos que submetê-lo à eletrólise em solução de cloreto de sódio e prata. O seu fio, muito frágil, parte-se com facilidade o que provoca reparos periódicos.
2° Calibração: É necessário cuidados especiais que nem sempre são fáceis obtê-los em nossa cidade.
3° Exame: Na grande maioria dos casos utilizamos sedativos que seguramente interferem no resultado. O registro gráfico sofre interferência ao simples movimento da cabeça do paciente o que nos obriga reiniciar inúmeras vezes o exame na mesma freqüência e intensidade testadas.
4' Temperatura ambiente: O seu funcionamento requer uma temperatura estável, em torno de 20°C.
5. IMPEDANCIOMETRIA
Exame objetivo, documentado com registrador, obrigatório em todos os pacientes, com exceção daqueles com perfuração timpânica.
Realizamos timpanometria, reflexo estapediano ipsi e contra lateral e testes de permeabilidade tubária.
III. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
As informações que obtivemos para a realização do presente trabalho, para cada paciente examinado, consta das seguintes figuras:
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
IV. COMENTÁRIOS
De 1974 a 1977 foram realizados exames de Audiometria condicionada e Audiometria de Respostas Evocadas (ERA) nos pacientes de maior faixa etária.
A depressão do S.N.C., pela sedação, acarretando um falso limiar auditivo; o excesso de interferência no registro gráfico; as dificuldades de manutenção, regulagem e execução do exame em nossa aparelhagem E.R.A., modelo MK-2, fizeram-nos abandoná-lo, pela falta de fidelidade e confiabilidade em seus resultados quando confrontados com os demais métodos de diagnóstico. Os 113 casos (13,45%) classificados como surdez de causa desconhecida atribuímos que foram devidos à má informação, desconhecimento ou omissão (fig. 1 e 4).
Nas prováveis causas de surdez pré-natais encontramos o elevado percentual de 48,86% devidos à hereditariedade (consangüinidade incluída), (fig. 1 e 4).
Coincidindo com as estatísticas de autores nacionais e estrangeiros a Rubéola apresenta-se com uma causa apreciável (32,16%), (fig. 1 e 4). Encontramos 14 casos (9,79%) de mães que usaram psicotrôpicos na gestação (fig. 1 e 4).
A anóxia e o traumatismo de parto (45,86%) foram as principais causas de surdez neo-natal (fig. 1 e 4).
Dentre as causas pós-natais há predomínio evidente da meningite (42,8%) o que coincide com o surto apresentado a partir de 1973, em nosso País (fig. 4). Vemos que o sarampo contribuiu com 22,39% dos casos. Os Ototóxicos são responsáveis por um significativo percentual (9,53%) (fig. 4).
As causas de surdez pós-natais constituem 62,03°!x, enquanto que as causas pré-natais apresentam um percentual de 18,68% e as neo-natais 18,29% (fig. 5).
A surdez severa predomina as demais (67,62%), (fig. 2 e 3).
O sexo masculino foi o mais afetado em nossa estatística, (fig. 2).
V. CONCLUSÕES
1) A maior causa de surdez pré-natal foi a hereditariedade;
2) O traumatismo de parto é referido como causa predominante na surdez neo-natal;
3) A Meningite contribui significativamente como causa pós-natal;
4) É bastante significativo o percentual de surdez pelo uso indiscriminado de ototóxicos;
5) É muito evidente a predominância das prováveis causas pós natais na surdez da criança, em nossas observações;
6) A surdez severa (maior que 80 dB) constitui 67,62% dos casos examinados;
7) Há pequena predominância de surdez no sexo masculino.
VI. SUMÁRIO
Os autores relatam resultados obtidos na avaliação de 840 casos de surdez na criança, no período de janeiro de 1974 a julho de 1979.
Encontram uma predominância significativa das causas pós-natais sobre as neo e pré-natais.
O surto de Meningite no Brasil, ocorrido em 1973, provocou uma sensível elevação de surdez de causas pós-natais (42,8%).
Chamam atenção para o fato de se tomar as devidas precauções no uso indiscriminado de ototóxicos.
Encontram predominância da surdez severa (67,62%) sobre as demais. Observam 54,4% da surdez no sexo masculino e 45,6% no sexo feminino.
SUMMARY
The authors report their experience of 849 cases of deafness in children availled between January 1974 and July 1979.
They found a significant predominance of after-birth causes over neonates and before -birth causes.
The meningitis epidemy occurred in Brasil in 1973 increased markly the after-birth causes (42,8%). They also report the use of ototoxic drugs.
Severe deafness is predominant (67,6%) over the other causes. 54,4% of deafness are males and 45,6% females.
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ENDEREÇO DOS AUTORES: S.Q.S. 210 - Bloco E, apt° 506 Brasília - DF.
* Trabalho realizado no Centro Educacional da Audição e Linguagem Ludovico Pavoni (C.E.A.L.) - Brasília, DF. Apresentado na III Reunião da Soc. Brasileira de Citologia - BeLo Horizonte, setembro 197p.
** Diretor Médico do C.E.A.L., Médico ORL do Senado Federal
*** Chefe da Unidade de ORL do Hospital de Base do D.F., Chefe da Seção de Cirurgia da Câmara dos Deputados.
**** Audioprotesistado C.E.A.L.
***** Fonoaudióloga de C.E.A.L., Fonoaudióloga do Hospital de Base do F. F.