Versão Inglês

Ano:  1979  Vol. 45   Ed. 1  - Janeiro - Abril - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 57 a 62

 

RECONSTRUÇÃO DA CADEIA OSSICULAR COM COLUMELA DE CARTILAGEM AUTÓGENA

Autor(es): Marny Palludo *
Nilo Lopes **
Marco Antonio Goldani ***
Newton Musa ***

Resumo:
Neste estudo o autor apresenta uma técnica de reconstrução da cadeia ossicular, com columela de cartilagem retirada da cartilagem costal do próprio paciente. (Fig. 11

Fig. 1
Esta técnica é usada especialmente nos casos em que se retira a platina do estribo, ou quando houver abertura da janela oval com exposição ou perda de líquido labiríntico. Poderá ser indicada: 1 - Nas estapedectomias de pacientes anteriormente fenestrados. 2 - Na reconstrução das timpanoescleroses com fixação da bigorna e estribo, quando ambos forem removidos. 3 - Nos casos de reintervenção sobre a janela oval, para recuperação da audição, quando for necessário retirar e substituir próteses, ou enxertos, ocasionando nesta manipulação exposição ou perda de líquido labiríntico. 4 - Nos casos de reconstrução total da cadeia ossicular quando desejamos ou necessitamos utilizar a cartilagem costal autógena.

INTRODUÇÃO

Os peixes podem ouvir ou perceber vibrações, pelo seu órgão auditivo localizado na linha lateral. Células ciliadas sensoriais, em contato íntimo com a água do mar, na linha lateral, são estimuladas diretamente pelo movimento da água circundante. Nos vertebrados mais desenvolvidos, que vivem temporaria ou permanentemente na terra, a condução do som se faz pelo ar; conseqüentemente, eles desenvolvem receptores adequados para transmitir as vibrações do ar externo ao seu organismo, para o fluído do ouvido interno. Estes receptores, catalizadores da impedância entre o ar e o fluído, chamamos de ouvido médio.

O ouvido médio dos mamíferos, é formado por ossículos articulados que transmitem as vibrações sonoras do ar ambiente, para o líquido labiríntico. Nos anfíbios e pássaros, a transmissão do som é feita por uma columela, interposta entre o tímpano e o ouvido interno. (Paparella - Cap. 1 pg. 263) (Fig. 2)

PHYSIOLOGY



Fig. 2



0 emprego de columela de plástico (TORP, ou de homoenxerto de cartilagem (semelhante ao TORP), nas reconstruções da cadeia ossicular, para corrigir a perda total ou parcial de ossículos, imita um processo biológico, isto é, utiliza a mesma columela já existente na natureza, no ouvido médio dos pássaros e anfíbios, como transformador da energia sonora para o ouvido interno. Porém, quanto a histologia e imunologia apresenta deficiências porque utiliza materiais estranhos ao organismo, exigindo artifícios às vezes de complicada execução para evitar a rejeição e outras complicações. Idealizamos por isto, esculpir a columela de cartilagem na mesma cirurgia em que processamos a reconstrução da cadeia ossicular, utilizando a cartilagem costal do próprio paciente.

CASUÍSTICA E MËTODO

Identificação: G.M.D. - 44 anos, fem., brasileira.

Antecedentes: Em maio de 1978 foi feita timpano mastoidectomia OD. para erradicação de colesteatoma. Havia ausência de ossículos. Colocamos homoenxerto de columela de cartilagem entre a janela oval e membrana timpânica para reconstrução da cadeia ossicular. (Fig. 3A e Fig. 38).



Fig. 3A



Fig. 3B



0 audiograma feito em 30.01.79, acusa uma hipoacusia de condução acentuada à direita. (Fig. 41



Fig. 4



Revisão cirúrgica: Através de incisão retroauricular expusemos a cavidade da mastóide, o antro e o ouvido médio. Retiramos o homoenxerto de cartilagem colocado na cirurgia anterior e que apresentava fibrose na sua parte terminal, junto à platina. Ressecamos a fibrose e restos da platina até visualizarmos a coloração azul do labirinto. Acidentalmente rompeu-se a mucosa que revestia a janela oval, ocorrendo perda do liquido labiríntico. Em vista disso, reconstruímos a cadeia ossicular com columela de cartilagem autógena retirada da cartilagem costal da paciente.

Retirada da Cartilagem: Feita a incisão da pele no rebordo costal da 10º costela, foi exposta a mesma, junto ao externo. Por meio de nosso contródomo de corte circular foi ressecada uma porção de cartilagem. (Fig. 5)



Fig. 5



A pequena peça cilíndrica de cartilagem foi submetida a cortes sucessivos em pequena máquina por nós idealizada, (Fig. 6), esculpindo-se assim, uma columela de carti61 lagem com disco de 4 mm de diâmetro e 0,8 mm de espessura, e cilindro de 4,5 mm de comprimento e 0,9 mm de diâmetro.
Colocamos a seguir a columela entre a membrana timpânica e a janela oval, em contato íntimo com o líquido labiríntico.



Fig. 6



DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

A importância desta técnica, reside no fato de não utilizar materiais estranhos ao organismo, tais como, enxertos ou substâncias inorgânicas, mas sim utilizar a cartilagem autógena do próprio paciente.

Além disso apresenta algumas vantagens sobre as técnicas que utilizam a cartilagem autógena do tragus ou septo nasal:

a) a cartilagem costal é mais rígida e produz por esta razão um melhor efeito columelar.

b) A configuração do tamanho da columela é idêntica ao "TORP" apresentando por isto maior capacidade de transformar mecanicamente a energia sonora.

Os cortes da cartilagem são feitos por uma pequena máquina, simplificando bastante a confecção da columela de cartilagem, de grande sofisticação anatômica, em contraposição à difícil execução de formas mais simples de columela, como em T ou em L, obtidas a partir da cartilagem do Tragus.

SUMMARY

This Study Shows a Ossicular Chain Reconstruction technic, with columella of cartilage removed from the costal cartilage of the own pacient.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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5. GLASSCOCK, M.E. and SHEA, M. C. - Tragal Cartilage as an Ossicular substitute. Arch. Otolaryngol: 86: 303-317, 1967.
6. PENNINGTON, C.L. - Incus Interpo sicion Techniques. Ann Otol. Rhinol. and Laryngol. - 82: 518-531 .1973.




Endereço ao autor:
Senhor dos Passos, 251 s/11 - 1º
Telefone: 25.45.86
90.000 - Porto Alegre/RS

* Médico otorrinolaringologista de Porto Alegre
** Prof. Chefe do Serviço de Neurocirurgia do Hospital Lazzarotto
*** Profs. Membro da Equipe de Cirurgia Toráxica e Cardiovascular do Hospital Lazzarotto

Trabalho recebido para publicação em: 10/2/1979

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