Versão Inglês

Ano:  1936  Vol. 4   Ed. 5  - Setembro - Outubro - (25º)

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 671 a 678

 

ANEURISMA DA ARTERIA AURICULAR ANTERIOR, RAMO DA TEMPORAL SUPERFICIAL

Autor(es): DR. OCTACILIO LOPES

Resumo:
Si os aneurismas da temporal superficial são raros, excecionais são os de seu ramo auricular anterior. Caso clinico: R. G. apresenta na orelha. esquerda, animado de pulsações um pequeno tumor ligeiramente arroxeado. Assentado o diagnostico de aneurisma cirsoide, foi feita a ligadura da temporal superficial, que, por ter resultados passageiros, foi seguida, dias depois, da extirpação do tumor aneurismatico.

Os aneurismas da arteria temporal superficial são observados muito raramente. Alberto Coutinho (1) fazendo balanço dos casos registrados na literatura medica chegou á conclusão de que o numero deles é apenas de 8:

1 de Burckhard
2 de Moenz
3 de Esb e Hahn
1 de Morley
1 de Alberto Coutinho.

Na estatistica de Simon, feita sobre quasi mil casos de aneurismas, os da arteria temporal superficial concorreram com 0,8% e com 1 % nos casos de aneurismas verificados em feridos da grande guerra, escreve Coutinho citando Hahn.

Na busca bibliografica que procedi, tendo mesmo recorrido á toa vontade de outros colegas, como á de Mangabeira Albernaz, não me foi possivel ampliar a cifra acima citada a não ser com mais um caso e este observado na minha clinica.

Por este facto de se tratar de um, caso de comprovada raridade, resolvi publica-lo, reconhecendo que não ha nisto merito algum.

Minha observação apresenta ainda a particularidade de ser entre as publicadas a unira de aneurisma localizado na arteria auricular anterior, ramo ida temporal superficial, particularidade que, estou certo, aumenta consideravelmente o valor de registro que ora faço.

R. G. (ficha 2728), branco, italiano, casado, com 38 anos de idade e residente em Itajubí; veio á consulta no dia 21 de Janeiro de 1935.

Queixa-se de um carocinho que lhe nasceu na orelha esquerda ao lado da fosseta do ante-helice ha cerca de 3 anos. Esse carocinho que a principio era quasi imperceptivel, tem aumentado ultimamente e é dotado de pulsações perfeitamente verificaveis colocando-se o dedo sobre ele: são Pulsações isocronas com as do coração. O tumor cede á pressão do dedo, sendo dotado de movimentos de expansão.

Apresenta atualmente o tamanho aproximado de um grão de café em côco. A coloração da epiderme do pavilhão no sitio em que se encontra é um tanto arroxeada deixando vêr em relevo um entrelaçamento de capilares.

Como se vê, é um aneurisma cirsoide.

Como tratamento fiz primeiramente a ligadura da arteria temporal superficial certo porém de necessitar depois de extrair o tumor aneurismatico. Realmente, nos primeiros dias, o saco tumoral murchou por completo dando a impressão de que ia desaparecer.

No fim de alguns dias (8 ou 10) ao toque já se podia perceber a volta dos batimentos.

Fiz então a extirpação do saco sob anestesia local no dia 23 de Janeiro. As fotografias anexas ilustram o caso A primeira (fig. 1) mostra a orelha do paciente antes da operação. A segunda (fig. 2) a mesma depois de operada a terceira (fig. 3) reproduz uma gravura do livro de Testut e mostra com clareza os vasos referidos neste pequeno estudo.

COMENTARIOS

Como é sabido, a diferença que existe entre o aneurisma arterio-venoso e o aneurisma cirsoide é que neste existem multiplas comunicações da arteria com as veias ao passo que naqueles a comunicação é unira. Outro caráter distintivo é a preferencia da localização do aneurisma cirsoide fazer-se nos vasos capilares.



Fig. 1



Fig. 2



Fig. 3



O aneurisma cirsoide é constituido por uma dilatação com alongamento dos troncos, ramos e ramusculos de um ou de varios departamentos arteriais e venosos, resultante de uma comunicação anormal e facil entre o sistema arterial e o sistema, venoso (Lecene).

Nesses aneurismas, conforme os estudos histologicos de Malassez e Quéne, observa-se o adelgaçamento das paredes arteriais o espessamento das paredes venosas. As veias tomam a feição de artérias, no dizer de Delbet, enquanto que as arterial, ao contrario, tomam o aspecto de veias sem a elasticidade carateristica dê antes.

Como séde, de predileção dos aneurismas cirsoides Lecene (2) aponta a face e o couro cabeludo e mais raramente os dedos e as mãos.

Ombredanne e Lecourt (3) registraram casos muito raros de aneurismas cirsoides da lingua e do assoalho da boca.

Parece caber ao traumatismo grande responsabilidade na forrmação desses aneurismas, quer produzindo rutura arterial motivando os falsos aneurismas, resultantes da organização do hematoma, quer originando comunicação arterio-venosa e, finalmente, dando ensejo á formação de um verdadeiro aneurisma (Alberto Coutinho).

Além desse fator, outros são apontados. Alguns aneurismas são congénitos, outros têm origem numa arterite localizada determinada por uma embolia séptica, enquanto outros são espotaneos.

A sifilis e o alcoolismo são fatores predisponentes importantes.

No meu caso, não foi possivel ligar a formação do aneurisma nem a um angioma anterior, pois este nunca existiu, nem tão pouco a um traumatismo.

O Bordet-Wassermann (no sangue) do paciente foi negativo e não se pode invocar o fator alcoolismo ausente no caso.

R. G. era portador de um aneurisma espontaneo.

Como vimos atrás, aneurismas cirsoides o tratamento a empregar-se deve ser a extirpação do tumor pois a ligadura da artéria vizinha responsavel, é falha.

BIBLIOGRAFIAS

1) - ALBERTO COUTINHO - "Aneurisma da arteria temporal superficial esquerda" - Revista Brasileira de Cirurgia, 1932 p. 501.
2) - LECENE P. - Maladies des artères" - Precis de Patho. Chirurgicale, Vol. 1. pa. 453, Masson et Cia. Paris, 1924
3) - OMBREDANNE E LECOURT - "Aneurysme cirsoide de la langue et du plancher de Ia bouche" Société de Lar. des Hop. de Paris. - Les Ann. d'Oto-Lar. 1931, p. 358.

COMENTARIOS

Os aneurismas cirsoides são o resultado de multiplas comunicações anormalmente grandes, entre arterias e veias, em suas ultimas ramificações (ao contrario do aneurisma arterio venoso). As arterias e veias que o constituem modificam-se, aproximando-se histologicamente. Sua séde predileta é a cabeça. Geralmente de origem traumatica, por vezes têm como causa uma embolia septica; de outras feitas são congénitos; e em outras vezes, ditos espontaneos.

O caso apresentado, por exclusão, é o de um aneurisma espontaneo.

O tratamento de escolha, conforme comprovado pelo caso em fóco, é o da extirpação.

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